ZERO HORA 23 de outubro de 2012 | N° 17231. ARTIGOS
José Alberto Wenzel*
Instalado na proa do catamarã Rondônia, o biólogo Fábio Rendeiro filma as margens do Rio Paranau, no Estreito de Breves, Arquipélago de Marajó. À força de remadas vigorosas, mulheres com os filhos se lançam das casas ribeirinhas para junto do barco. Entoam um pedido indígena por comida e roupa, que são jogadas generosamente em sacos plásticos em sua direção. Como vieram, voltam para junto dos buritis, que escondem, à primeira vista, a devastação interior da floresta. Árvores que são abatidas por R$ 15 e rendem cinco metros cúbicos de madeira nobre são desdobradas nas serrarias e transformadas em móveis e pisos, valorizados em mais de R$ 25 mil.
– Vês a mata vazia? – pergunta o biólogo.
Como resposta, aponto para mais uma balsa dupla carregada de toras de “pau”, como diz a marajoara ao meu lado.
– Só a educação salva isto aqui! – continuou o pesquisador.
A grande questão é que tipo de educação. Estrangeiros e gente do Sul e Sudeste brasileiro são aqui considerados os novos mandantes da devastação. Na esteira da mata abatida, vêm o gado e a soja, impulsionados por pessoas “instruídas”.
Na região de Breves, três universidades públicas, entre outras particulares, já estão instaladas. As pessoas, aqui, permanecem quatro anos na escola, em período de meio turno, e as universidades ainda significam um patamar difícil de ser alcançado. Entender a educação a partir da Amazônia é diferente. O arquipélago permite este olhar crítico. Não será a educação formal adotada mundo afora que salvará a Amazônia. Nós aprendemos a estudar por disciplinas e somos cobrados por conhecimentos estanques, como biologia ou matemática. Se aqui for derrubada uma árvore e seco um igarapé, não serão dois entes sacrificados: são centenas de insetos e outros animais que perdem seu hábitat, que por sua vez nutrem milhares de outros seres e condicionam o conjunto de água, muita água, terra, ar, fauna e flora. Uma boiada não substitui uma onça, nem hectares de soja, um mogno. Replantar e repovoar está muito longe de se equiparar à originalidade integrada da Amazônia.
Na esteira da devastação, abre-se um círculo vicioso, que vai além da destruição da natureza. Combatidas com a repressão, pessoas habituadas, de pai para filho, a extrair, caçar e derrubar árvores agora se sentem marginalizadas e recorrem, em preocupante número, a atividades como a pirataria fluvial. Na calada da noite, hora preferida dos balseiros de madeira, viajantes e embarcações são assaltados. Muitas destas pessoas que antes conseguiam sobreviver se percebem agora despossuídas, despreparadas e sem instrução para um novo tempo.
A educação que brotará da compreensão da verdadeira Amazônia não salvará apenas a si mesma, poderá redimir o resto do mundo.
*Geólogo, ex-secretário estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário