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domingo, 6 de novembro de 2011
ESTUDANTES NA MIRA DO CRIME
ALVO EM POTENCIAL - MARCELO GONZATTO, ZERO HORA 06/11/2011
Imediações de escolas na Capital viraram área de ação de assaltantes que acreditam que atacar alunos é uma maneira rápida e fácil de conseguir dinheiro, roupas de marca e aparelhos eletrônicos
Estudantes da Capital se transformaram em alvo de roubos praticados nas imediações de escolas, quando termina a aula e tem início o caminho de volta para casa.
A vizinhança de colégios particulares é a área de ação preferida dos assaltantes que veem nos alunos uma maneira rápida e fácil de conseguir dinheiro, roupas de marca e aparelhos eletrônicos como celulares e tocadores de música. Conforme a Polícia Civil, uma das principais razões do cerco aos adolescentes é a busca de recursos para o consumo de drogas como o crack.
A estudante do 3º ano do Ensino Médio Paula Scherer, 17 anos, no final do último ano letivo aprendeu a dura lição que a criminalidade vem impondo ao universo escolar. Em um final da tarde, ela saiu do colégio onde estuda, na Zona Norte, e começou a andar em direção à parada de ônibus onde pegaria condução para casa. A caminhada foi interrompida pelo cano de uma arma.
– Entra nessa rua – ordenou um criminoso, pressionando o revólver na cintura da aluna.
Ele determinou que a adolescente entregasse a mochila escolar, onde imaginava que se encontravam objetos de valor. Tinha razão: Paula carregava, além de cadernos e livros, um celular e um aparelho de MP3. A adolescente ainda implorou:
– Deixa eu ficar com os livros, por favor. Tenho prova amanhã.
O bandido tirou os livros da mochila, mas, antes de sair correndo, arrancou uma corrente de ouro que a vítima trazia no pescoço – presente da família pelo aniversário de 15 anos.
– Já tinha sabido de outros colegas que foram roubados, mas foi a primeira vez em que eu fui assaltada. Passei a me cuidar mais – afirma a adolescente.
Pequena parcela registra queixa
A repetição de casos como esse não é representada nas estatísticas oficiais porque se estima que apenas uma pequena parcela das vítimas registra queixa. Conforme o delegado Cleber Ferreira, diretor da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre, a carência de dados fidedignos dificulta a elaboração de investigações mais profundas. A Divisão de Planejamento e Coordenação da Polícia Civil registra 42 “roubos a pedestre escolar” este ano em todo o Estado – dos quais 19 na Capital (45%). Acredita-se, porém, que o número real seja muito superior.
– Muitas vezes, fica sem o registro (de ocorrência). Aí não tem estatística para poder desenvolver um trabalho – avalia Ferreira.
Apesar dessa limitação, o acúmulo de relatos semelhantes feitos nos últimos anos por famílias já colocou em alerta a Federação das Associações de Pais e Mestres das Escolas Particulares do Rio Grande do Sul (Federapars).
– Os estudantes viraram uma opção certa para o meliante, pelo fato de carregarem objetos de valor. É uma coisa contagiosa porque, se está rendendo, só tende a aumentar se não houver formas de coação – sustenta o presidente da Federapars, Richer Kniest.
ALVO EM POTENCIAL. Jovem foi assaltada na parada de ônibus
Nem mesmo a luz do sol ou a presença de outras pessoas livra estudantes do cerco dos criminosos. A estudante Bruna, 19 anos (prefere não ser identificada por sobrenome ou foto), é uma testemunha da ousadia dos bandidos que agem nas proximidades de colégios.
Por volta das 17h de um dia de aula, ainda com a roupa da educação física recém-concluída e mochila às costas, ela imaginava estar segura em uma parada de ônibus da Avenida Assis Brasil onde havia pelo menos uma dezena de outras pessoas. Atraído pelo perfil da vítima – mulher, adolescente, recém-saída do colégio –, um homem jovem se aproximou e perguntou se ela tinha algum dinheiro para dar a fim de que ele pudesse voltar para casa.
– Ingenuamente, eu falei que não tinha nem R$ 1, mas que, se tivesse, daria com certeza – conta Bruna.
Quando se deu conta, um segundo homem aparentando 20 e poucos anos se uniu ao primeiro e apontou um revólver para a cintura da aluna do 3º ano de uma escola particular. O primeiro rapaz anunciou o assalto e ordenou que ela entregasse todo o dinheiro que tinha sem manifestar qualquer tipo de reação. Como realmente não tinha dinheiro, ela ofereceu que levassem a mochila – o que não foi aceito.
A dupla então determinou que a jovem embarcasse em um ônibus com eles. Bruna disse que não iria, o que levou os criminosos a se contentarem em levar um telefone celular e um aparelho MP4 que se encontravam dentro da mochila da escola. Os dois mandaram que ela permanecesse imóvel, sem chorar ou gritar, enquanto eles pegaram o primeiro ônibus e foram embora.
– Eles disseram que se eu chorasse ou demonstrasse qualquer reação, iriam atirar em mim de dentro do ônibus mesmo – recorda a vítima.
Quando os bandidos enfim partiram, ela ao menos pôde cair no choro. Aí teve uma segunda surpresa: nenhuma das pessoas que estavam na parada e perceberam o ataque à adolescente se aproximou para prestar qualquer auxílio. Em prantos, esperou outro ônibus e se refugiou na casa da avó:
– Eu chorava bastante e ninguém me ajudou. Não cheguei a ficar traumatizada, mas hoje tomo muito mais cuidado.
Caminho rápido para as drogas
Quando criminosos tiram dinheiro, roupas ou aparelhos eletrônicos de adolescentes, na verdade não estão em busca de dinheiro, roupas ou equipamentos modernos. Buscam apenas um caminho rápido para a boca de fumo mais próxima, onde entregam o fruto dos roubos em troca de doses de droga.
Conforme o delegado Cleber Ferreira, diretor da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre, quando o assaltante busca dinheiro ou objetos de valor, quase sempre a intenção do crime é garantir recursos para a compra de tóxicos. O crack é a principal alavanca desse tipo de crime, na avaliação da polícia.
– Depois de assaltar, trocam por maconha, cocaína, mas, principalmente, crack – avalia Ferreira.
Assim, quando se intensifica a fissura pela droga, o assaltante vê o adolescente como uma espécie de “caixa-rápido” para financiar a dependência ao entorpecente. Por essa razão, a delegada da 17ª Delegacia da Polícia Civil, Shana Luft Hartz, responsável por uma área onde se localizam alguns estabelecimentos privados da cidade, afirma que é fundamental a vítima manter a calma em caso de assalto.
– Nos casos em que o ladrão está sob efeito da droga, pode atirar por qualquer razão. É muito importante ficar tranquilo – observa.
Além do tóxico, outro fator que motiva os ataques aos escolares é o desejo de ostentação de roupas e acessórios da moda. Nesse caso, é mais comum o roubo de peças de vestuário, tênis e artigos como bonés e relógios para serem usados pelos próprios assaltantes. Na maior parte das vezes, quem comete esse tipo de ação é mais jovem e pode agir em conjunto com outros comparsas, em uma espécie de arrastão.
Para reduzir o risco de se transformar em vítima desses tipos de ataque, os policiais orientam os alunos a não andar com objetos de valor à mostra, evitar comportamentos como falar ao celular enquanto caminham ou andar sozinhos por áreas remotas ou mal iluminadas.
A orientação
- Federação das Associações de Pais e Mestres das Escolas Particulares do Rio Grande do Sul costuma orientar as associações de pais de cada escola para que, em caso de problemas envolvendo assaltos à saída das aulas, procurem a unidade de policiamento ostensivo mais próxima a fim de buscar uma solução específica para cada região da cidade.
- O comandante do 11° Batalhão de Polícia Militar (BPM) da Brigada Militar, tenente-coronel Toni Robilar Pacheco, responsável por uma área onde se encontram algumas das principais escolas particulares da Capital, afirma que os colégios fazem parte das rondas.
– Não recebemos muitas denúncias sobre isso, mas fazemos policiamento em volta das das escolas – afirma.
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