EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

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sábado, 18 de abril de 2015

O DIREITO DOS SEM ESCOLA

REVISTA ISTO É N° Edição: 2368 | 17.Abr.15


Caso de jovem que estudou em casa e obteve na Justiça a sua vaga na faculdade coloca em evidência a falta de proteção legal a quem aprende fora das instituições de ensino. E joga luz sobre um novo método de educação domiciliar, ainda mais radical


Fabíola Perez




A turismóloga Lis Maria Silvério de Oliveira, de 32 anos, decidiu tirar o filho Thor, 5 anos, da escola em 2012, quando se mudou de São Lourenço para Belo Horizonte (MG). Na capital mineira, chegou a procurar opções para matricular o filho, mas nada que estivesse de acordo com sua filosofia pessoal. “Procurei um tipo de pedagogia que respeitasse o ritmo de cada criança”, diz. Desanimada com as instituições que visitou, a turismóloga resolveu abandonar o ensino formal e praticar o unschooling, método no qual as crianças aprendem de acordo com suas aptidões. É uma alternativa ainda mais radical que o homeschooling, sistema em que os pais levam os currículos da escola para a casa. Muito praticados nos Estados Unidos (leia quadro), esses métodos voltaram à discussão na semana passada por causa da jovem Lorena Dias, de 17 anos, que conseguiu na Justiça, em decisão inédita, o direito de cursar faculdade depois de estudar em casa por quatro anos. Dados da Associação Nacional de Educação Familiar (ANED) mostram que mais de 2,5 mil famílias praticam o método alternativo atualmente. “Queremos oferecer uma educação com mais qualidade, valorizar o aprendizado de cada indivíduo e as escolas não conseguem trabalhar as dificuldades individualmente”, afirma Ricardo Dias, presidente da ANED.


LIBERDADE
Lis e os filhos Thrud e Thor: “procurei um tipo de pedagogia
alternativa e vou seguir assim até a faculdade”

Menos difundido no País, mas também em crescimento, o unschooling é entendido como uma negação ao modo de ensino das instituições. “Ao invés de ajudar, a metodologia criada pelas escolas pode engessar as crianças e o unschooling propõe que cada um aprenda conforme o seu interesse e aptidões”, diz Édison Prado de Andrade, doutor em educação domiciliar pela Universidade de São Paulo (USP). Thor, filho de Lis, está aprendendo a partir dessa prática. “Ele gosta de robótica, então não costumo cobrar matemática dele. Meu filho absorve assistindo vídeos de construção de aviões e drones, deixando a criatividade e o interesse fluir”, diz a mãe, que pretende manter o método até a faculdade.



O problema é que ambas as práticas não estão regulamentadas na legislação brasileira. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases determinam que os pais matriculem os filhos na rede regular de ensino a partir dos seis anos. Além disso, o Código Penal configura como crime de abandono intelectual deixar de prover a instrução primária de filho em idade escolar. Mas atualmente tramita no Congresso o Projeto de Lei número 3179/12 para legalizar o homeschooling no País. “Essas famílias vivem num vácuo porque não é uma atividade proibida nem permitida”, diz Alexandre Magno, diretor Jurídico da ANED. “Hoje não há um acompanhamento de como a educação se dá em casa e a qualidade da instrução não é avaliada pelo Estado.” Outro aspecto polêmico da educação domiciliar é a socialização. “Na escola, as crianças aprendem a enfrentar problemas e desenvolver experiências de igualdade, isso nunca vai ocorrer apenas no ambiente familiar porque as relações são estáveis”, diz Telma Vinha, pedagoga, especialista em psicologia da educação pela Unicamp.


VITÓRIA
Depois de quatro anos estudando em casa, Lorena (segunda à esq.)
ganhou na Justiça o direito de ingressar na faculdade

Fotos: Leo Drumond/Nitro; Pedro Ladeira/Folhapress

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