DIÁRIO GAÚCHO 08/09/2014 | 07h01
Jeniffer Gularte
Falta de funcionários prejudica ensino de alunos com deficiência em Canoas. Na Escola de Ensino Fundamental João Palma da Silva, no Bairro Mathias Velho, alunos com deficiência enfrentam dificuldade para aprender devido à falta de monitores
Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
O ambiente que deveria ser de inclusão para pessoas com deficiência (PCDs) acaba excluindo alunos que precisam de atenção especial para aprender. Por falta de estagiários auxiliares, a Escola de Ensino Fundamental João Palma da Silva, no Bairro Mathias Velho, em Canoas, não consegue atender de forma adequada aos 47 estudantes PCDs e a outros 80 que têm parecer pedagógico que aponta limitações para aprender.
Os números indicam que 12% dos 1.020 matriculados na escola são PCDs. A briga da escola para conseguir estagiários para auxiliar os professores é antiga, mas o problema se agravou com a saída de duas das quatro monitoras que se revezavam nas turmas.
Enquanto isso, na sala de aula, os professores enfrentam um malabarismo diário para dar atenção aos PCDs e ao restante da turma - entre 25 e 30 alunos -, o que acaba comprometendo o aprendizado de todos.
- Temos crianças com dificuldades diferentes na mesma sala. A gente não sabe a quem atender primeiro - conta a professora das séries iniciais Luciane Damasceno Machado, que dá aulas pela manhã e à tarde para turmas com alunos PCDs.
- Têm alunos que gritam, saem porta afora. Em alguns casos, o professor precisa trancar a porta da sala - relata a diretora Isabela Schmitz.
Alunos ajudam-se entre si
Em média, há de um a três PCDs por turma, entre os quais há casos de autismo, síndrome de Down e dificuldade de fala, hiperatividade, paralisia cerebral, déficit intelectual e baixa visão. Segundo a professora Patrícia Ribeiro Rossato, estes alunos precisam de atenção individual, trabalho diferenciado e currículo adaptado. Sem falar na necessidade de ajuda para deslocamento para o banheiro e o recreio.
Na semana passada, a reportagem flagrou alunos auxiliando uma cadeirante do sexto ano a se deslocar até o banheiro. No corredor, eles tentavam achar alguém que pudesse ajudar a estudante no sanitário. Enquanto isso, a professora de Ciências, Caroline Weber, não podia deixar os outros 32 alunos sozinhos na sala:
- Não é fácil, eles precisam de 100% de atenção. Mas aqui na turma ela se dá bem com todo mundo, sempre tem alguém disposto a ajudar.
Menos tempo na sala de aula
Sem alternativas, muitos alunos PCDs acabam reduzindo o tempo de permanência na escola. É o caso de Arthur Ferreira Bello, oito anos, que devido a um aneurisma tem o lado esquerdo do corpo paralisado. A mãe, Nara Ferreira Bello, conta que ele fica apenas uma hora e meia na aula do terceiro ano, período em que a monitora está na sala.
- Meu filho não tem problema de integração, mas sei que ele não vai passar de ano porque não sabe pintar, não reconhece formas - lamenta Nara.
- Como a criança vai se desenvolver se não investem nela agora? Quando meu filho for adulto, espero que ele tenha condições de se manter. Falta olhar com outros olhos para eles - opina a pizzaiola Vera Lúcia Zeferino, 49 anos, mãe de Felipe, 12 anos, aluno do terceiro ano que tem síndrome de Down.
Vera endossa a luta da escola por mais monitoras, pois percebe os avanços do menino:
- Meu filho já escreve (a palavra) maçã e isso é uma vitória para mim.
Todas as 36 turmas da escola tem alunos PCDs. O ideal, segundo a diretora Isabel, seria que cada uma delas tivesse um monitor.
- Alguns alunos demonstram progresso mas isso (falta de estagiários) compromete o aprendizado. O que estamos solicitando é direito deles e obrigação da mantenedora oferecer - alega a diretora Isabela Schmitz.
Secretário promete concurso e mais estagiários
O concurso público da Secretaria da Educação de Canoas - que terá edital aberto ainda neste mês - é a promessa de solução para o problema. O secretário de Educação, Eliezer Pacheco, explica que será criado o cargo de agente de apoio, profissional com formação de ensino médio que irá auxiliar o professor a lidar com alunos deficientes. Isso, segundo ele, não irá dispensar a contratação de estagiários.
A expectativa é de que a prova ocorra entre os meses de outubro e novembro, e os servidores sejam nomeados antes do início do próximo ano letivo. O número de vagas ainda não está fechado, mas Eliezer explica que serão, em média, dez alunos PCDs por profissional. Atualmente, as 43 escolas de ensino fundamental e as 25 de educação infantil possuem cerca de 2 mil alunos com necessidades especiais. O secretário adianta que o total de vagas não chegará a 200.
A respeito da falta de estagiários na Escola João Palma da Silva, Eliezer afirma que a secretaria já abriu processo seletivo para contratar dois novos monitores que devem chegar à escola nos próximos dias.
- Estagiário tem muita rotatividade porque o salário é simbólico e o trabalho é duro, penoso. Mas ele não fica permanentemente com a criança, o estagiário fica a disposição para auxiliar por isso consegue atender dez alunos. O professor é preparado para atender estes estudantes.
O salário de um estagiário é de cerca de R$ 800,00. Normalmente são contratados estudantes dos cursos de Psicologia e Pedagogia através do CIEE.
Falta de funcionários prejudica ensino de alunos com deficiência em Canoas. Na Escola de Ensino Fundamental João Palma da Silva, no Bairro Mathias Velho, alunos com deficiência enfrentam dificuldade para aprender devido à falta de monitores
Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
O ambiente que deveria ser de inclusão para pessoas com deficiência (PCDs) acaba excluindo alunos que precisam de atenção especial para aprender. Por falta de estagiários auxiliares, a Escola de Ensino Fundamental João Palma da Silva, no Bairro Mathias Velho, em Canoas, não consegue atender de forma adequada aos 47 estudantes PCDs e a outros 80 que têm parecer pedagógico que aponta limitações para aprender.
Os números indicam que 12% dos 1.020 matriculados na escola são PCDs. A briga da escola para conseguir estagiários para auxiliar os professores é antiga, mas o problema se agravou com a saída de duas das quatro monitoras que se revezavam nas turmas.
Enquanto isso, na sala de aula, os professores enfrentam um malabarismo diário para dar atenção aos PCDs e ao restante da turma - entre 25 e 30 alunos -, o que acaba comprometendo o aprendizado de todos.
- Temos crianças com dificuldades diferentes na mesma sala. A gente não sabe a quem atender primeiro - conta a professora das séries iniciais Luciane Damasceno Machado, que dá aulas pela manhã e à tarde para turmas com alunos PCDs.
- Têm alunos que gritam, saem porta afora. Em alguns casos, o professor precisa trancar a porta da sala - relata a diretora Isabela Schmitz.
Alunos ajudam-se entre si
Em média, há de um a três PCDs por turma, entre os quais há casos de autismo, síndrome de Down e dificuldade de fala, hiperatividade, paralisia cerebral, déficit intelectual e baixa visão. Segundo a professora Patrícia Ribeiro Rossato, estes alunos precisam de atenção individual, trabalho diferenciado e currículo adaptado. Sem falar na necessidade de ajuda para deslocamento para o banheiro e o recreio.
Na semana passada, a reportagem flagrou alunos auxiliando uma cadeirante do sexto ano a se deslocar até o banheiro. No corredor, eles tentavam achar alguém que pudesse ajudar a estudante no sanitário. Enquanto isso, a professora de Ciências, Caroline Weber, não podia deixar os outros 32 alunos sozinhos na sala:
- Não é fácil, eles precisam de 100% de atenção. Mas aqui na turma ela se dá bem com todo mundo, sempre tem alguém disposto a ajudar.
Menos tempo na sala de aula
Sem alternativas, muitos alunos PCDs acabam reduzindo o tempo de permanência na escola. É o caso de Arthur Ferreira Bello, oito anos, que devido a um aneurisma tem o lado esquerdo do corpo paralisado. A mãe, Nara Ferreira Bello, conta que ele fica apenas uma hora e meia na aula do terceiro ano, período em que a monitora está na sala.
- Meu filho não tem problema de integração, mas sei que ele não vai passar de ano porque não sabe pintar, não reconhece formas - lamenta Nara.
- Como a criança vai se desenvolver se não investem nela agora? Quando meu filho for adulto, espero que ele tenha condições de se manter. Falta olhar com outros olhos para eles - opina a pizzaiola Vera Lúcia Zeferino, 49 anos, mãe de Felipe, 12 anos, aluno do terceiro ano que tem síndrome de Down.
Vera endossa a luta da escola por mais monitoras, pois percebe os avanços do menino:
- Meu filho já escreve (a palavra) maçã e isso é uma vitória para mim.
Todas as 36 turmas da escola tem alunos PCDs. O ideal, segundo a diretora Isabel, seria que cada uma delas tivesse um monitor.
- Alguns alunos demonstram progresso mas isso (falta de estagiários) compromete o aprendizado. O que estamos solicitando é direito deles e obrigação da mantenedora oferecer - alega a diretora Isabela Schmitz.
Secretário promete concurso e mais estagiários
O concurso público da Secretaria da Educação de Canoas - que terá edital aberto ainda neste mês - é a promessa de solução para o problema. O secretário de Educação, Eliezer Pacheco, explica que será criado o cargo de agente de apoio, profissional com formação de ensino médio que irá auxiliar o professor a lidar com alunos deficientes. Isso, segundo ele, não irá dispensar a contratação de estagiários.
A expectativa é de que a prova ocorra entre os meses de outubro e novembro, e os servidores sejam nomeados antes do início do próximo ano letivo. O número de vagas ainda não está fechado, mas Eliezer explica que serão, em média, dez alunos PCDs por profissional. Atualmente, as 43 escolas de ensino fundamental e as 25 de educação infantil possuem cerca de 2 mil alunos com necessidades especiais. O secretário adianta que o total de vagas não chegará a 200.
A respeito da falta de estagiários na Escola João Palma da Silva, Eliezer afirma que a secretaria já abriu processo seletivo para contratar dois novos monitores que devem chegar à escola nos próximos dias.
- Estagiário tem muita rotatividade porque o salário é simbólico e o trabalho é duro, penoso. Mas ele não fica permanentemente com a criança, o estagiário fica a disposição para auxiliar por isso consegue atender dez alunos. O professor é preparado para atender estes estudantes.
O salário de um estagiário é de cerca de R$ 800,00. Normalmente são contratados estudantes dos cursos de Psicologia e Pedagogia através do CIEE.
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