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Há um fenômeno preocupante em curso no país, que evolui na contramão da estabilização econômica e do pleno emprego. É o crescimento do número de jovens do sexo masculino que não têm nenhuma ocupação e tampouco estudam. O contingente cresceu em 1,1 milhão de pessoas em uma década, de 2000 a 2010. No mesmo período, o número de mulheres jovens na mesma situação caiu 389 mil. O que causa perplexidade e exige interpretação, para posterior interferência do setor público, é o fato de que os jovens de até 29 anos definidos como os “nem-nem” pela Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, um instituto do governo, estão desperdiçando oportunidades.
Há perdas pessoais e para o país, quando homens em idade de produzir e de estudar não fazem nem uma coisa nem outra, quando poderiam se dedicar às duas atividades – como fazem milhões de brasileiros. O Ipea, que analisou os dados a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, percebeu uma mudança no perfil do desocupado voluntário. Mesmo que o maior número dos que não trabalham nem estudam ainda seja de mulheres, vem caindo o índice de jovens do sexo feminino nessas circunstâncias. Uma explicação óbvia é a de que, ao contrário do que ocorria até as últimas décadas do século 20, as mulheres estão cada vez mais no mercado de trabalho.
O crescimento de desocupados homens ainda depende de estudos mais aprofundados. Sabe-se apenas que a maior parte mora em periferias e é sustentada por famílias de baixa renda. O fenômeno exige a abordagem de políticas públicas, que os resgatem para uma vida produtiva. O argumento de que cada um determina suas vontades é precário quando estão envolvidas graves questões sociais. Um país com carência de mão de obra qualificada, que atrai cada vez mais profissionais estrangeiros, que se moderniza e oferece oportunidades de emprego em várias frentes não pode aceitar passivamente que parcela de sua população desperdice a juventude na ociosidade.
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