DIÁRIO GAÚCHO 06/06/2014 | 08h02
Cristiane Bazilio
Escola municipal de Gravataí retoma as atividades suspensas por conta da violência. Escola Olenca Valente ficou fechada três dias por vandalismo e ameaça aos professores
Apenas a metade dos alunos voltou às atividades escolaresFoto: Cristiane Bazílio / Diário Gaúcho
Recomeçaram ontem as aulas na Escola Municipal Professora Olenca Valente, no Bairro Vila Rica, em Gravataí, após três dias de atividades suspensas por conta de ataques de vandalismo e ameaças sofridas pelos professores. Mas, se os portões foram abertos novamente, a quantidade de alunos que passaram por eles mal chegou a 50% do total de cada turma. Otimista, a diretora, Silvana Madeira Splett, acredita que o fato não está relacionado à insegurança da comunidade.
- Temos que levar em conta que foi um dia de muita chuva, e o bairro fica debaixo d'água quando chove. Os pais estão do nosso lado, nos deram todo apoio. Eles compareceram à assembleia e se tranquilizaram com as medidas que foram estabelecidas - afirmou.
A assembleia, realizada na manhã de quarta-feira, foi convocada pela direção por carta aberta enviada às autoridades do município após o colégio sofrer, no sábado passado, o décimo ataque desde o início do ano. Ironicamente, na madrugada de quarta, a escola foi novamente invadida e depredada - duas invasões em quatro dias. Em ambas,
portões foram quebrados, um muro destruído, um colchão queimado e salas de aula arrombadas. Paredes foram pichadas com palavrões e ameaças.
A reunião com representantes da prefeitura, das secretarias Municipal da Educação e da Segurança e da Guarda Municipal tranquilizou a comunidade. A Smed informou que reforçou as medidas de segurança do local, anunciou a instalação de alarmes e que, nos próximos meses, será aberto um concurso público para o cargo de vigia.
- O muro destruído foi levantado novamente, o portão lateral está sendo recolocado, e um guarda já está fazendo a segurança da escola até as 19h. Está tudo dando certo - comemorou Silvana no primeiro dia de retomada das aulas.
Ameaça de morte instaurou o medo
A vice-diretora, Márcia Helena Frohlich, afirmou que, depois dos últimos dois ataques, o medo tomou conta de toda a equipe de profissionais da escola. O motivo foram as pichações. Além de palavrões, havia ameaças de morte aos professores. "Morram, professores", "isto é só o começo", "professores de b...", foram alguns dos insultos.
- Já perdemos televisão, computador, rádio, ventilador, micro-ondas... Desta vez, não houve roubos, só destruição. Inclusive, queimaram um colchão dentro de uma sala de aula. Mas o baque maior foi causado pelas ameaças, isso nunca tinha acontecido. Por isso, decidimos parar até que algo fosse feito para garantir nossa segurança - disse.
Mas, enquanto a secretaria cuida das obras maiores, os reparos menores, como pintura das salas de aula para apagar as pichações, conserto das fechaduras, reposição de cadeados, entre outros, saem da verba da escola.
- Já foram mais de R$ 2 mil. É mais do que a média da verba que recebemos. Isso sem contar que não repusemos nada do que foi roubado, porque não temos condições financeiras pra isso - diz a diretora Silvana.
"A comunidade sabe, mas não temos como provar"
Para a vice-diretora, os ataques de sábado não têm a mesma autoria de outros que já acometeram a escola desde janeiro. Para ela, enquanto as invasões com roubos podem estar relacionadas ao tráfico da região, as depredações e ameaças recentes aos professores vêm de dentro da própria escola.
- São alunos da comunidade, quatro ou cinco pessoas que fazem esse tipo de coisa por algum acontecimento pontual, alguma insatisfação. Com a ajuda da nossa orientadora, vamos tentar ir atrás das famílias desses jovens e tentar resgatá-los.
Márcia diz que a comunidade sabe quem são os autores dos roubos e, também, quais os alunos envolvidos. Mas ninguém fala. O delegado Paulo Costa Prado, da 2ª DP de Gravataí, credita o silêncio da comunidade ao medo, o que dificulta as investigações.
- É a velha história da lei do silêncio. Ninguém quer se comprometer. Mas a equipe de investigação está trabalhando para identificar suspeitos, ao menos extraoficialmente. Podem ser alunos insatisfeitos, ex-alunos e pessoas ligadas ao tráfico. Não descartamos nenhuma hipótese – disse.
Enquanto isso, a Brigada Militar garante que intensifica o patrulhamento no local para coibir a ação dos bandidos.
- Atendendo a esta demanda, estamos intensificando o patrulhamento à noite. Estamos tendo todo o cuidado para que isso não vire uma epidemia – salientou o comandante do 17º BPM, Vanderlei Mayer Padilha.
Retorno vigiado
Funcionária da escola Olenca Valente e mãe de um aluno portador de autismo, Lenise Santos de Brito admite que o clima é de tensão após os ataques.
- A sensação é de medo, de insegurança, mas, antes de tudo, de muita tristeza cada vez que chegamos para trabalhar e vemos a escola que cuidamos com tanto carinho destruída - diz ela.
A mãe de Rhamises Marcos Brito dos Santos, sete anos, revela que só permitiu que seu filho retornasse à escola porque poderá vigiá-lo de perto.
- Se eu não trabalhasse aqui, não deixaria ele vir sozinho.
DIÁRIO GAÚCHO
Escola municipal de Gravataí retoma as atividades suspensas por conta da violência. Escola Olenca Valente ficou fechada três dias por vandalismo e ameaça aos professores
Apenas a metade dos alunos voltou às atividades escolaresFoto: Cristiane Bazílio / Diário Gaúcho
Recomeçaram ontem as aulas na Escola Municipal Professora Olenca Valente, no Bairro Vila Rica, em Gravataí, após três dias de atividades suspensas por conta de ataques de vandalismo e ameaças sofridas pelos professores. Mas, se os portões foram abertos novamente, a quantidade de alunos que passaram por eles mal chegou a 50% do total de cada turma. Otimista, a diretora, Silvana Madeira Splett, acredita que o fato não está relacionado à insegurança da comunidade.
- Temos que levar em conta que foi um dia de muita chuva, e o bairro fica debaixo d'água quando chove. Os pais estão do nosso lado, nos deram todo apoio. Eles compareceram à assembleia e se tranquilizaram com as medidas que foram estabelecidas - afirmou.
A assembleia, realizada na manhã de quarta-feira, foi convocada pela direção por carta aberta enviada às autoridades do município após o colégio sofrer, no sábado passado, o décimo ataque desde o início do ano. Ironicamente, na madrugada de quarta, a escola foi novamente invadida e depredada - duas invasões em quatro dias. Em ambas,
portões foram quebrados, um muro destruído, um colchão queimado e salas de aula arrombadas. Paredes foram pichadas com palavrões e ameaças.
A reunião com representantes da prefeitura, das secretarias Municipal da Educação e da Segurança e da Guarda Municipal tranquilizou a comunidade. A Smed informou que reforçou as medidas de segurança do local, anunciou a instalação de alarmes e que, nos próximos meses, será aberto um concurso público para o cargo de vigia.
- O muro destruído foi levantado novamente, o portão lateral está sendo recolocado, e um guarda já está fazendo a segurança da escola até as 19h. Está tudo dando certo - comemorou Silvana no primeiro dia de retomada das aulas.
Ameaça de morte instaurou o medo
A vice-diretora, Márcia Helena Frohlich, afirmou que, depois dos últimos dois ataques, o medo tomou conta de toda a equipe de profissionais da escola. O motivo foram as pichações. Além de palavrões, havia ameaças de morte aos professores. "Morram, professores", "isto é só o começo", "professores de b...", foram alguns dos insultos.
- Já perdemos televisão, computador, rádio, ventilador, micro-ondas... Desta vez, não houve roubos, só destruição. Inclusive, queimaram um colchão dentro de uma sala de aula. Mas o baque maior foi causado pelas ameaças, isso nunca tinha acontecido. Por isso, decidimos parar até que algo fosse feito para garantir nossa segurança - disse.
Mas, enquanto a secretaria cuida das obras maiores, os reparos menores, como pintura das salas de aula para apagar as pichações, conserto das fechaduras, reposição de cadeados, entre outros, saem da verba da escola.
- Já foram mais de R$ 2 mil. É mais do que a média da verba que recebemos. Isso sem contar que não repusemos nada do que foi roubado, porque não temos condições financeiras pra isso - diz a diretora Silvana.
"A comunidade sabe, mas não temos como provar"
Para a vice-diretora, os ataques de sábado não têm a mesma autoria de outros que já acometeram a escola desde janeiro. Para ela, enquanto as invasões com roubos podem estar relacionadas ao tráfico da região, as depredações e ameaças recentes aos professores vêm de dentro da própria escola.
- São alunos da comunidade, quatro ou cinco pessoas que fazem esse tipo de coisa por algum acontecimento pontual, alguma insatisfação. Com a ajuda da nossa orientadora, vamos tentar ir atrás das famílias desses jovens e tentar resgatá-los.
Márcia diz que a comunidade sabe quem são os autores dos roubos e, também, quais os alunos envolvidos. Mas ninguém fala. O delegado Paulo Costa Prado, da 2ª DP de Gravataí, credita o silêncio da comunidade ao medo, o que dificulta as investigações.
- É a velha história da lei do silêncio. Ninguém quer se comprometer. Mas a equipe de investigação está trabalhando para identificar suspeitos, ao menos extraoficialmente. Podem ser alunos insatisfeitos, ex-alunos e pessoas ligadas ao tráfico. Não descartamos nenhuma hipótese – disse.
Enquanto isso, a Brigada Militar garante que intensifica o patrulhamento no local para coibir a ação dos bandidos.
- Atendendo a esta demanda, estamos intensificando o patrulhamento à noite. Estamos tendo todo o cuidado para que isso não vire uma epidemia – salientou o comandante do 17º BPM, Vanderlei Mayer Padilha.
Retorno vigiado
Funcionária da escola Olenca Valente e mãe de um aluno portador de autismo, Lenise Santos de Brito admite que o clima é de tensão após os ataques.
- A sensação é de medo, de insegurança, mas, antes de tudo, de muita tristeza cada vez que chegamos para trabalhar e vemos a escola que cuidamos com tanto carinho destruída - diz ela.
A mãe de Rhamises Marcos Brito dos Santos, sete anos, revela que só permitiu que seu filho retornasse à escola porque poderá vigiá-lo de perto.
- Se eu não trabalhasse aqui, não deixaria ele vir sozinho.
DIÁRIO GAÚCHO
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