ENTREVISTA
“A sociedade civil tem um grande papel na educação”
JAANA PALOJÄRVI, Ministra de Educação da Finlândia
O país tem a metade da população do Rio Grande do Sul e ostenta um dos melhores sistemas educacionais do mundo. Na Finlândia, as crianças estudam menos que no Brasil, mas aprendem e se divertem mais. Qual o segredo do sucesso? Em entrevista a Zero Hora, feita por e-mail, a ministra de Educação da Finlândia, Jaana Palojärvi, conta como foi o processo que colocou o país nórdico em posição de destaque nos rankings do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).
Zero Hora – A Finlândia é exemplo mundial de que é possível ter educação gratuita e de qualidade. Como se chegou a esse modelo?
Jaana Palojärvi – Na Finlândia, há muito tempo se considera importante oferecer oportunidades iguais e de qualidade para todos os cidadãos, que são o maior recurso que um país pequeno pode ter. Acreditamos que, independentemente da origem socioeconômica, todos devem participar e avançar no caminho da educação. Para que isso acontecesse, foi preciso focar especialmente em um desenvolvimento de longo prazo. A reforma do Ensino Fundamental na Finlândia prolongou a obrigação do estudo e acabou com uma prática que existia antes, de as crianças serem divididas em dois grupos: as que continuavam e as que encerravam os estudos. Hoje, todos têm a oportunidades de continuar. E os resultados são excelentes tanto para alunos que antes tinham desempenho inferior quanto para os “melhores” alunos.
ZH – Qual a contribuição do engajamento da sociedade no processo de desenvolvimento da educação?
Jaana – Na Finlândia, existe uma tradição de educação popular voluntária que continua até hoje. Os adultos finlandeses também são os mais capazes de utilizar, no dia a dia, os conhecimentos e as competências que adquiriram ao longo da vida. Grande parte desta educação acontece em associações e centros de ensino voluntários voltados para adultos. A sociedade civil tem um grande papel na educação e contribui por meio da legislação, financiamento e planos de desenvolvimento. Além disso, nas escolas finlandesas, investe-se muito na cooperação entre escola e família.
ZH – Como a sociedade pode fazer com que essas diferenças entre escolas públicas e privadas sejam amenizadas?
Jaana – Garantindo recursos para escolas públicas, na tentativa de diminuir as diferenças entre as escolas. A escola pública deve se tornar uma opção atrativa para que pais possam optar por ela em vez da particular. Diminuir a desigualdade entre os alunos gera melhores resultados para todos.
ZH – Que medidas implantadas na educação finlandesa poderiam ser aplicadas em um país como o Brasil?
Jaana – Antes de mais nada, deveria se investir fortemente no desenvolvimento do sistema público de ensino e na diminuição das diferenças entre escolas. Outro passo importante no modelo finlandês, que poderia ser aplicado em outros locais, é a inserção de crianças de origem socioeconômica diferente na mesma sala de aula.
23/05/2013
Palestra abordou principais pilares da educação finlandesa
Como resultado da valorização da Educação, profundas transformações ocorreram na área ao longo da história da Finlândia, baseadas em alguns princípios norteadores. Para falar sobre os pilares da educação do país, Jaana Palojärvi, diretora de Relações Internacionais do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, ministrou a palestra "Visão geral sobre o Sistema Educacional Finlandês".
Jaana Palojärvi apresentou palestra sobre principais pilares da educação finlandesa
O entendimento de que a educação e o conhecimento são primordiais para o desenvolvimento da sociedade foi ressaltado por Jaana Palojärvi. Os investimentos na capacitação do professor fazem com que a profissão seja uma das mais desejadas do país. A Finlândia investe 6,8% (2012) de seu PIB na área, ocupando a 5ª posição na lista da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, dentre 65 países. No país, 98% da educação é financiada pelo estado.
De maneira eficiente, os valores investidos em educação resultam em posições de destaque alcançadas em diversas avaliações: o país alcançou o topo do ranking do exame do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), da OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development), que tem por objetivo avaliar a capacidade dos jovens no uso de seus conhecimentos, para enfrentarem os desafios da vida real.
A Finlândia ocupa, ainda, o primeiro lugar no Índice Global de Habilidades Cognitivas e Realizações Educacionais, divulgado pela Pearson, com base em três avaliações internacionais: o PISA, o documento Tendências em Estudo Internacional de Matemática e Ciência - TIMSS e o Progresso no Estudo Internacional de Alfabetização - PIRLS, que abrangem o aprendizado de matemática, leitura e ciências durante o ciclo fundamental do 1º ao 9º ano. O país aparece em terceiro lugar no Relatório de Competitividade Global 2012-2013, baseado no Índice de Competitividade Global, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial.
Os pilares educacionais incluem, ainda: a descentralização do sistema educacional finlandês, que proporciona maior liberdade e poder para municípios e escolas; o fim da inspeção nacional das escolas e a produção de material livre; e investimento em educação vocacional de qualidade.
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