ARTIGOS
Por Suzana Schwartz
“...é preciso não se basear, como normalmente se faz, em características mais vistosas... é necessário examinar os pormenores mais negligenciáveis...” (Ginzburg, 1989:144)
No Brasil, o ensino básico está se universalizando, no entanto a qualidade das aprendizagens produzidas nas escolas ainda está deixando muito a desejar. Ler e escrever são construções sociais e a aprendizagem da leitura e da escrita é base fundamental para outras aprendizagens. Nessa aprendizagem, pode estar a síntese dos problemas de ensino e de aprendizagem no nosso país. Como a escrita é um objeto cultural e histórico, ler e escrever hoje demandam habilidades e competências muito diferentes das de antigamente. As solicitações da cultura escrita, quando a maioria dos professores alfabetizadores aprendeu a ler e a escrever, eram muito diferentes das de hoje, as funções sociais da escrita eram mais restritas e o acesso a qualquer tipo de informação, por outros meios, que não a escola, era quase inexistente. Na escola a que poucos tinham acesso e em que as demandas eram diferentes das de hoje, era coerente, por exemplo, que o ensino da letra cursiva fosse considerado prioridade e tivesse importância. Acreditava-se, então, que para aprender era preciso copiar, repetir, memorizar informações e a escrita cursiva favorecia esse processo. Com ela se copia mais e mais rápido. Hoje, esse tipo de escrita só existe na escola, os portadores de texto que estão nas ruas, na realidade, na internet, no mundo em geral não utilizam esse tipo de letra. E, está comprovado que na alfabetização essa aprendizagem tem se revelado um agente complicador, que dificulta o processo.
Nos Estados Unidos, por exemplo, acabar com letra cursiva faz parte de movimento de padronização da educação. A decisão de transformar a letra cursiva em prática do passado está inserida em um movimento que tenta padronizar, avaliar e tornar os sistemas de ensino dos Estados Unidos mais competitivos internacionalmente. A partir de 2012, as escolas americanas foram autorizadas a abandonar o ensino da letra cursiva para se concentrar em “áreas mais importantes”, como definiu o Departamento de Educação americano. Percebe-se então que o uso simples e “natural” desse tipo de escrita tem merecido atenção e desencadeado ações no sentido de acabar com ela, por não serem percebidos acréscimos qualitativos nas aprendizagens, pelo contrário.
No Brasil, não existe legislação que obrigue o uso da letra cursiva e nem seu ensino ou aprendizagem. Nada que determine que o sujeito deva usar esse tipo de letra nem em sua assinatura. No entanto, em alguns Estados do país pessoas são impedidas de fazer documentos de identidade se não souberem assinar seu nome com letra cursiva e, acreditem: alunos são reprovados por não saber escrever com esse tipo de caligrafia! Essa aprendizagem não é obrigatória, não contribui e nem qualifica o estudo, dificulta a compreensão do que está escrito e, no entanto, dificilmente é questionada sua necessidade. Parece ser óbvia, mas não é. Nada é. Sugiro que, na busca de respostas para a educação do Brasil, seja repensada a contribuição desse tipo de escrita e que se canalize a energia despendida nela para outros aspectos muito mais importantes ao ensino e à aprendizagem da leitura e da escrita. Existem inúmeros relatos de professores que alfabetizam todos os seus alunos com intervenções coerentes com o mundo em que vivemos hoje, comprovando essa ideia.
*ProfessoraSUZANA SCHWARTZ*
“...é preciso não se basear, como normalmente se faz, em características mais vistosas... é necessário examinar os pormenores mais negligenciáveis...” (Ginzburg, 1989:144)
No Brasil, o ensino básico está se universalizando, no entanto a qualidade das aprendizagens produzidas nas escolas ainda está deixando muito a desejar. Ler e escrever são construções sociais e a aprendizagem da leitura e da escrita é base fundamental para outras aprendizagens. Nessa aprendizagem, pode estar a síntese dos problemas de ensino e de aprendizagem no nosso país. Como a escrita é um objeto cultural e histórico, ler e escrever hoje demandam habilidades e competências muito diferentes das de antigamente. As solicitações da cultura escrita, quando a maioria dos professores alfabetizadores aprendeu a ler e a escrever, eram muito diferentes das de hoje, as funções sociais da escrita eram mais restritas e o acesso a qualquer tipo de informação, por outros meios, que não a escola, era quase inexistente. Na escola a que poucos tinham acesso e em que as demandas eram diferentes das de hoje, era coerente, por exemplo, que o ensino da letra cursiva fosse considerado prioridade e tivesse importância. Acreditava-se, então, que para aprender era preciso copiar, repetir, memorizar informações e a escrita cursiva favorecia esse processo. Com ela se copia mais e mais rápido. Hoje, esse tipo de escrita só existe na escola, os portadores de texto que estão nas ruas, na realidade, na internet, no mundo em geral não utilizam esse tipo de letra. E, está comprovado que na alfabetização essa aprendizagem tem se revelado um agente complicador, que dificulta o processo.
Nos Estados Unidos, por exemplo, acabar com letra cursiva faz parte de movimento de padronização da educação. A decisão de transformar a letra cursiva em prática do passado está inserida em um movimento que tenta padronizar, avaliar e tornar os sistemas de ensino dos Estados Unidos mais competitivos internacionalmente. A partir de 2012, as escolas americanas foram autorizadas a abandonar o ensino da letra cursiva para se concentrar em “áreas mais importantes”, como definiu o Departamento de Educação americano. Percebe-se então que o uso simples e “natural” desse tipo de escrita tem merecido atenção e desencadeado ações no sentido de acabar com ela, por não serem percebidos acréscimos qualitativos nas aprendizagens, pelo contrário.
No Brasil, não existe legislação que obrigue o uso da letra cursiva e nem seu ensino ou aprendizagem. Nada que determine que o sujeito deva usar esse tipo de letra nem em sua assinatura. No entanto, em alguns Estados do país pessoas são impedidas de fazer documentos de identidade se não souberem assinar seu nome com letra cursiva e, acreditem: alunos são reprovados por não saber escrever com esse tipo de caligrafia! Essa aprendizagem não é obrigatória, não contribui e nem qualifica o estudo, dificulta a compreensão do que está escrito e, no entanto, dificilmente é questionada sua necessidade. Parece ser óbvia, mas não é. Nada é. Sugiro que, na busca de respostas para a educação do Brasil, seja repensada a contribuição desse tipo de escrita e que se canalize a energia despendida nela para outros aspectos muito mais importantes ao ensino e à aprendizagem da leitura e da escrita. Existem inúmeros relatos de professores que alfabetizam todos os seus alunos com intervenções coerentes com o mundo em que vivemos hoje, comprovando essa ideia.
*ProfessoraSUZANA SCHWARTZ*
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