EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 28 de janeiro de 2012

LONGE DO PISO

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA - ZERO HORA 28/01/2012

Aumento real, mas longe do piso

O reajuste de 23,5% em três parcelas, oferecido ontem aos professores estaduais, não tem precedente no Rio Grande do Sul desde que a economia se estabilizou, mas como o piso salarial nacional deve ter aumento de 22% em março, o Estado continuará longe de cumprir o mínimo estabelecido em lei. Comparado à inflação, que no ano passado ficou na casa de 6%, o índice é excelente. O problema é que ele incide sobre um básico muito baixo e, por isso, os professores continuarão ganhando pouco.

Se o magistério aceitar a proposta apresentada pelos secretários Carlos Pestana e Jose Clovis Azevedo, receberá em dois anos 36,97%, num período em que o INPC acumulado é de 12,92%. O governo está oferecendo um aumento real que provoca impacto de R$ 800 milhões na folha de pagamento e abrange professores ativos e inativos e servidores de escolas, mas não conseguirá se livrar da pecha de que não paga o piso. Se o índice de correção do piso continuar tão acima da inflação, não pagará tão cedo.

Embora o Piratini tenha corrido a contestar o secretário da Fazenda, Odir Tonollier, quando disse que, se o índice de correção não for alterado, será impossível cumprir a promessa de pagar o piso até 2014, esse é o cenário mais realista. A expectativa no Piratini é de que uma mobilização de governadores em apuros para pagar o piso faça os deputados e senadores aprovarem uma proposta de correção pelo INPC, sob pena de Estados e municípios não conseguirem cumprir o compromisso.

Com o aumento de 22%, o piso nacional, que hoje é de R$ 1.187, deve subir para cerca de R$ 1.450, para uma jornada de 40 horas semanais. Com o reajuste proposto pelo governo, o básico do magistério gaúcho chegará a R$ 977,04 em fevereiro de 2013. Hoje, são cerca de 5 mil os professores que recebem menos do que o piso, mas essa não é a preocupação do Cpers. O que o sindicato quer é o piso como salário básico sobre o qual incidem todas as vantagens. A solução proposta pelo ex-ministro da Educação Fernando Haddad é a adequação do plano de carreira do magistério, uma alternativa que não passa pela cabeça dos dirigentes do Cpers.

ALIÁS - No dia em que o governo ofereceu o reajuste de 23,5% para os professores, o Conselho Estadual de Educação deu sinal verde para as mudanças no Ensino Médio, rejeitadas pelo Cpers.


REAJUSTE EM DEBATE. Governo propõe aumento de 23,5% para magistério. Professores começam a discutir na semana que vem se aceitam reajuste, a ser pago em três parcelas - ZERO HORA 28/01/2012

O governo apresentou ontem uma nova proposta de aumento aos professores da rede pública do Rio Grande do Sul. Divulgado em audiência com o Cpers na Capital, o reajuste oferecido é de 23,5%, dividido em três parcelas. A categoria deve começar a discutir os índices oferecidos pela administração estadual a partir da próxima semana.

Aassembleia dos professores para avaliar a oferta está marcada apenas para março, após as férias escolares. A reunião de ontem ocorreu na sede da Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Sul (Procergs).

A primeira das parcelas, de 9,84%, seria paga em maio. Outra, de 6,08%, no mês de novembro, e a última, de 6%, em fevereiro de 2013. O governo, entretanto, não apresentou um calendário para o pagamento do piso nacional, principal reivindicação da categoria.

O chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, ressaltou que o percentual oferecido foi calculado com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), e que é “um dos maiores já oferecidos nos últimos governos”.

– O valor corresponde a 185,7% a mais do que a inflação acumulada no período de 2010/2011. Somando com o reajuste de 2011, teremos 36,98% de aumento – calculou Pestana.

Cálculo do índice oferecido é questionado

Ao todo, serão desembolsados R$ 800 milhões até fevereiro do ano que vem, provenientes do Caixa Único do Estado. Para o secretário de Educação Jose Clovis de Azevedo, outros pontos de negociação seguem na pauta, como o desconto dos dias parados na última greve, questão que ainda segue sem definição.

Decepcionada com a não apresentação de um calendário para o pagamento do piso nacional, a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, afirmou que o governo está deixando de lado a maior reivindicação da categoria.

– O governo não apresenta um calendário de pagamento do piso porque não sabe de quanto será o reajuste do piso nos próximos anos. Isso para nós é muito grave. Quando alguém quer pagar uma dívida, e diz que vai pagar até 2014, deveria dizer como vai pagar – reclamou.

Rejane questionou, ainda, o índice oferecido pelo governo. Segundo ela, o aumento real em 2012 será de apenas 6,08%, menor do que os 10,91% pagos em 2011:

– Em maio, é incorporação do abono, que representa R$ 38,91. Isso não muda exatamente nada na nossa categoria, apesar de ser uma reivindicação. Mas, em termos de valorização profissional, é seis por meia dúzia. Isso já está no nosso contracheque.


PROPOSTA - Confira como fica o vencimento básico dos professores com o aumento proposto pelo governo:

PARA 20 HORAS SEMANAIS
- Atualmente – R$ 395,54
- Maio – R$ 434,46
- Novembro – R$ 460,87
- Fevereiro de 2013 – R$ 488,52

PARA 40 HORAS SEMANAIS
- Atualmente – R$ 791,08
- Maio – R$ 868,92
- Novembro – R$ 921,75
- Fevereiro de 2013 – R$ 977,05

Fonte: Fonte: governo do Estado

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

BRADO CONTRA O POLITICAMENTO CORRETO


Cleber Benvegnú, Advogado e jornalista - ZERO HORA 26/01/2012

A Globo conseguiu a proeza de produzir uma minissérie que enfrenta a dominação intelectual da cultura brasileira. O Brado Retumbante provoca a patacoada de uma parcela de políticos, artistas, militantes, acadêmicos e ongueiros que, por formação marxista, se arvoram portadores universais dos anseios populares. Zomba de uma turma cujo discurso ainda não saiu da Guerra Fria, que quer recontar a história e constranger a tudo e a todos em nome de suas escolhas ideológicas. Sedizentes vítimas do capitalismo e da ditadura, decidiram-se credores políticos e muitas vezes pecuniários da humanidade. Aparelham o Estado e aparelham-se dele. De apartamento cinco estrelas, ar-condicionado ligado e carrão na garagem, cantam loas ao socialismo e dizem defender os pobres. Elogiam Cuba, criticam os EUA, flertam com Hugo Chávez e rançam contra empresários. Mas não resistem a um bom McDonald’s com Coca-Cola para aliviar a tensão da jornada. São os suprassumos da contradição, mas expiram ares de erudição.

Numa das passagens da minissérie, a primeira-dama Antônia (Maria Fernanda Cândido) descobre armações no Ministério da Educação e fica indignada com o que chama de “pedagogia da ignorância”. Ao ler livros didáticos distribuídos com verbas públicas, ela se choca:

– Não é possível: Tiradentes, o mártir agrário da Inconfidência Mineira, foi um precursor do MST? Que é isso? A devastação de terras no Brasil começou no século 16, com a colonização portuguesa, capitalista e predatória? Meu Deus do céu! Pelo menos 10% do território nacional pertence aos descendentes dos quilombolas, vítimas e heróis da escravidão no Brasil... Paulo [dirigindo-se ao presidente], estão distribuindo esse absurdo nas escolas! É a pedagogia da ignorância! [...] Crianças bombardeadas por discurso ideológico e fanático, você tem que fazer alguma coisa!

Ela descobre que uma ex-colega, de nome Neide, militante esquerdista, fatura milhões com o projeto e entrega uma parte ao partido. A primeira-dama vai ao seu encontro num apartamento gigante, de frente para o mar, e a enfrenta:

– Como você teve a cara de pau de escrever esse livro? [...] Você chama de livro didático, ensinando uma história do Brasil totalmente falsa, que só existe na sua cabeça panfletária, e defendendo a ideia de que não existe certo e errado na língua portuguesa?

– E não existe mesmo! Isso que vocês chamam de falar corretamente é só mais um instrumento de dominação das elites, é só um preconceito linguístico.

– Nem vem com essa ideologia de quinta, Neide, que eu sei muito bem o que está por trás de suas nobres intenções educativas.

Os diálogos acima dão conta de uma linha absolutamente original na dramaturgia brasileira, pelo menos nas últimas décadas. Em primeiro lugar, por abordar política em horário nobre – tão mais afeito ao futebol ou ao BBB – e, além disso, por contrariar a lógica de um pensamento dominante. Mais que uma minissérie, O Brado Retumbante é um verdadeiro oásis no deserto do politicamente correto.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

EM BUSCA DE UMA EDUCAÇÃO IGUALITÁRIA

Deivison Ávila - JORNAL DO COMÉRCIO, 25/01/2012

Integrado ao Fórum Social Temático, evento começou ontem no Campus Centro da Ufrgs
Centenas de educadores e ativistas de diversos cantos do País e do mundo participaram ontem pela manhã da abertura do Fórum Mundial da Educação (FME), evento que faz parte da programação do Fórum Social Temático (FST) 2012. Em pauta, a crise do capitalismo e suas causas, impactos e consequências para o mundo da educação. O debate que discute o futuro da educação frente à crise econômica se estende até a próxima sexta-feira e está sendo realizado no Campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

O presidente da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT/RS), Celso Woyciechowski, destacou a importância da construção coletiva de um pensamento a partir da individualidade de cada participante na busca de um mundo melhor, com mais educação e planejamento ambiental. O vice-reitor da Ufrgs, Rui Oppermann, seguiu a mesma linha de pensamento, enaltecendo a construção de um debate plural em um espaço público e democrático como uma universidade federal. “Abrigar o FME faz parte do nosso DNA”, diz Oppermann.

O economista e doutor em Educação Sérgio Haddad, membro da coordenação do Fórum Social Mundial (FSM), acredita que este é o momento central para a reflexão sobre o papel do educador frente à crise que atinge alguns países desenvolvidos. “Há 11 anos, a sociedade civil vem se mobilizando na busca constante por um mundo mais digno e com uma educação igualitária para todos”, recorda Haddad. Ele ressalta ainda que países emergentes como Brasil, África do Sul, China e Índia devem debater soluções para minimizar os impactos dessa crise, que, em algum momento, deverá atingi-los.

Haddad reforça o pensamento de que a crise não é apenas econômica, mas também - e principalmente - social. “O aumento do número de pessoas pobres, em paralelo ao crescimento de bilionários, aponta um modelo de consumo e produção que precisa ser revisto”, avalia o economista. Segundo ele, uma mudança conceitual, na qual as pessoas “sejam reconhecidas pelo que elas representam, e não apenas pelo que elas possuem” deve ser revista imediatamente.

Para Haddad, o educador deve buscar, em conjunto com outros atores educacionais, o seu papel diante do atual cenário mundial. “Devemos encontrar um modelo ou uma forma integrada de ação entre o ser humano e a natureza. Nós devemos buscar alternativas para tentar superar essa crise civilizatória. Não podemos continuar fazendo o mesmo”, sinaliza.

Os debates propostos pelo FME devem encaminhar algumas soluções que serão apresentadas na Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), que irá ocorrer de 20 a 22 de junho deste ano, no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

AS CONFUSÕES DO ENEM

OPINIÃO, O Estado de S.Paulo - 23/01/2012


Em resposta à decisão da primeira instância da Justiça Federal do Ceará, que permitiu aos estudantes acesso às cópias das provas de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o ministro da Educação, Fernando Haddad, fez dois comentários infelizes. Depois de classificar a decisão como um "atentado" contra o sistema de seleção unificado das universidades federais, ele disse que as liminares concedidas pelo Judiciário estão levando a máquina administrativa do MEC "à fadiga", inviabilizando a realização de duas provas por ano, como pretendia o governo.

"Não podemos recuar diante dessa covardia que é cometida contra o Exame. Temos de ter coragem de perseverar na direção de consolidar o sistema", disse Haddad, durante o programa Bom Dia, ministro, onde fez um balanço de sua gestão, despedindo-se do cargo. Segundo ele, ao gerar "problemas novos", os recursos interpostos pela Procuradoria da República em favor de estudantes e as decisões favoráveis a eles dadas pelo Poder Judiciário vêm dificultando a implementação das mudanças que prometeu fazer no Enem. Haddad também classificou, textualmente, como "covardia" os problemas causados pelo vazamento de questões por dois funcionários do Colégio Christus, de Fortaleza.

Na realidade, o que o ministro pretendia com essas declarações era eximir-se de responsabilidade pelos problemas que desfiguraram o Enem e comprometeram o sistema de avaliação escolar. Por inépcia do MEC, as edições do Enem de 2010 e 2011 foram marcadas por vários problemas - da falta de um sistema de informática eficiente a denúncias de irregularidades na licitação das gráficas encarregadas de imprimir os cadernos de questões, além de enviesamento ideológico na formulação de perguntas.

A falta de critérios objetivos para a correção dessas provas foi evidenciada em pelo menos dois casos. No primeiro, por um estudante do Colégio Lourenço Castanho, de São Paulo, considerado o melhor aluno de sua turma, que tirou zero na redação do último Enem. Em resposta a um pedido de esclarecimento formulado pela escola, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) alegou que a prova havia sido anulada por "conter impropérios". E, quando o estudante e seus professores solicitaram cópia da prova, o MEC se negou a fornecê-la, mas aumentou a nota de zero para 880 pontos. No segundo caso, uma professora de um cursinho de Campinas, que se inscreveu no Enem de 2011 só para obter o caderno de questões, entregou em branco os cartões de resposta e, mesmo assim, obteve em todas as provas - com exceção da de matemática - notas maiores do que as notas mínimas divulgadas pelo Inep. "Nos dois dias, assinei meu nome, respondi à frase de verificação de presença e dormi", relatou. Ela pediu esclarecimento sobre os critérios de correção e a resposta do MEC veio com erros de português.

Com o precedente aberto pela mudança na nota de redação do aluno do Colégio Lourenço Castanho, outros alunos também pediram ao Inep a reavaliação de suas provas. No início, o órgão se recusou a atender aos pedidos. Em seguida, alterou a nota de redação de 129 candidatos. Na semana passada, o Inep informou que colocará cópias das redações na internet, a partir do Enem de 2012. Além disso, o MEC assinou com o Ministério Público Federal um Termo de Ajustamento de Conduta, comprometendo-se a automatizar os pedidos de vista das provas. Na ocasião, as autoridades educacionais alegaram não ter condição técnica de adotar a medida com relação ao Enem de 2o11. Mesmo assim, na terça-feira, o juiz Luís Praxedes Vieira, da 1.ª Vara Federal de Fortaleza, determinou que o MEC mostre a prova de redação a todos os candidatos que a requererem, o que levou Haddad a afirmar que o Enem estaria sofrendo um "atentado".

Exagero à parte, o que se pode concluir é que a reforma do Enem foi conduzida de modo açodado, a gestão administrativa do MEC é ineficiente e, como reconhecem os especialistas, a correção das provas de redação peca pelo excesso de subjetividade dos corretores e pela falta de critérios uniformes.

SEMPRE O PISO

Juremir Machado da Silva - correio do povo, 23/01/2012

Parte da mídia fala muito e esclarece pouco. Há um ódio explícito ao Cpers e quase desprezo pelo magistério. A carreira dos professores do Estado do Rio Grande do Sul está estruturada em seis classes (A-F) com seis níveis (N1 a N6) em cada um delas. Quem chega ao topo do topo é F6. Todo mundo entra como A1. Em 2009, tínhamos 74.869 professores na ativa, sendo que 40.189 estavam na classe A, a inicial (básico, pelos valores de hoje, entre R$ 395,54 e 791,08 para 20 horas). Na época, 82% do magistério estavam nos níveis 5 e 6, predominando, como já foi dito, a classe A (básico hoje nos níveis dessa maior aglomeração de R$ 731,75 a 791,08). Fala-se em 20 horas porque se faz concurso para isso. Depois, em geral, com uma segunda matrícula, se chega a 40 horas. Avança-se do nível 1 ao 6 de cada classe por formação. O N1 é para quem tem ensino médio. N6 é para quem tem pós-graduação.

Avança-se de uma classe para outra por merecimento ou antiguidade, se houver vagas, com 10% de aumento de uma classe para outra. Durante anos, não houve progressão. O governador Tarso Genro promoveu recentemente mais de 9 mil professores, desbloqueando um gargalo entupido. Em 2009, havia 15.395 docentes na classe B, 11.382 na classe C, 5.815 na classe D, 1.542 na classe E, com míseros 546 nos seis níveis da Classe F. Quantos seriam F6 (básico de 40 horas de R$ 2.373,24)? Uma centena? Uma dezena? Não há marajás no magistério. A maioria esmagadora continua nos níveis 5 e 6 das classes A e B. Há muitos "penduricalhos"? As gratificações são: gratificação de difícil acesso, gratificação de direção e vice-direção, de Classe Especial, de unidocência e de risco de vida. Para a maioria, em sala de aula, é difícil acesso e risco de vida. A unidocência só aplica a A1. O difícil acesso pode aumentar a remuneração de 20% a 100%, mas isso incide sobre uma parcela mínima das escolas e dos professores, pois, para ter 100%, é preciso que o estabelecimento se encontre longe de tudo mesmo e o professor possa não voltar vivo.

O Plano de Carreira do Magistério, que alguns tecnocratas decidiram chamar de atrasado ou anacrônico, é o que, mal ou bem, impede que todos os professores ganhem salários de indigentes. O governo pode dizer: tudo bem, mas não temos dinheiro para pagar. Volta a questão: por que não? Juízes, deputados, promotores, ascensoristas da Assembleia Legislativa, todo mundo ganha mais do que a maioria dos professores. São mais importantes socialmente? Por que um juiz seria mais importante do que um professor? A verdade é que, por serem os professores mais numerosos, tem-se pedido a eles que se sacrifiquem, sem contar que há implicitamente um desdém por professores de ensino fundamental e médio, algo como "qualquer um pode ser", "é fácil", "exige conhecimentos limitados", esse imaginário da ignorância arrogante.

Os professores ganham mal, mesmo os que ganham melhor. Pagar o Piso sem mexer no plano de carreira é uma forma de revalorizar a profissão. Certo mesmo seria mexer no plano de carreira para que mais docentes pudessem aceder rapidamente às classes superiores. O Cpers está de parabéns por não se comportar como correia de partido.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O ROLO DO PISO

Juremir Machado da Silva - CORREIO DO POVO, 20/01/2012

O governador Tarso Genro esteve ontem no "Esfera Pública". Garantiu que vai pagar o Piso do magistério. Tenho refletido sobre isso como se tivesse de explicar tudo para um marciano. Como ministro da Educação, Tarso conseguiu aprovar uma lei federal estabelecendo um piso para os professores estaduais. Fixou-se, como critério de reajuste, o chamado custo-aluno do Fundeb, o que dá, hoje, mais de 22%. O presidente Lula sancionou a lei, contrariando recomendações da sua equipe econômica, e mandou imediatamente um projeto para a Câmara de Deputados alterando o índice de reajuste para o INPC, que daria, hoje, em torno de 6,5%, a inflação. O marciano pergunta: por que o presidente não vetou se o critério de reajuste não lhe parecia adequado? Por que os deputados, maioria governista, já não votaram a mudança do índice se isso arranjaria os governadores da base aliada? Porque pode ser devastador diante dos professores eleitores.

Segunda parte do rolo para o marciano: o candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e seu partido, o PT, acusaram a governadora Yeda Crusius de não ter tido vontade política de pagar o Piso. Isso rendeu votos. Tarso prometeu pagar ao longo do seu mandato, mas ainda não apresentou um calendário de pagamento. O Cpers, depois de esperar quase um ano, foi à greve. Perdeu. O governo descontou os dias não trabalhados pelos grevistas. Recentemente, o secretário da Fazenda, Odir Tonollier, afirmou que, com o aumento pelo índice custo-aluno do Fundeb, não será possível pagar o Piso até 2014. Em cartazes pela cidade, o Cpers chama Tarso de mais um "inimigo da educação". Acusa o governo de querer aquilo que criticava quando era oposição: alteração no plano de carreira dos professores. O que isso significa de fato?

Significaria dar com uma mão e tirar com a outra. Para dar aumento ao andar inferior, o andar superior teria de aceitar uma redução salarial. Como? Diminuindo-se a diferença salarial entre os andares existentes na carreira. Como se faria isso? Aplicando-se o Piso à parte inferior da tabela e não à parte de cima, o que acarretaria automaticamente um realinhamento e um achatamento. Em bom português, os níveis mais altos aceitariam abrir mão de um aumento que já lhes é garantido por lei. Por que fariam isso? Para não tomar calote e por civismo. O Judiciário, por exemplo, aceitaria uma proposta semelhante? Seria uma maneira de aplicar o Piso sem que ele surtisse totalmente os seus efeitos ou uma forma de não aplicá-lo. Ou de impor um teto. Um teto baixo. O básico do nível 1 (classe A), 20 horas, é de R$ 395,54 (por 40 horas, R$ 791,08). O básico do patamar mais alto, classe F, nível 6 (F6), 40 horas, topo absoluto da carreira, com triênios, é R$ 2.373,24.

A isso se pode acrescentar o difícil acesso e risco de vida, o que pode elevar o salário de alguns a, digamos, R$ 3 mil ou um pouco mais. Existe a gratificação de unidocência de 50 ou 100%, que só se aplica a professores da classe A1. O marciano pode ficar tranquilo. O governador reafirmou que pagará o Piso. Não cogita alteração no plano de carreira. Em março, promete aumento dos bons.

MINISTRO REPROVADO

EDITORIAL CORREIO DO POVO 20/01/2012


Se houvesse uma aferição para ministro, quem sabe um Exame Nacional de Experimentação de Ministros (Enem), possivelmente o da Educação (MEC), Fernando Haddad, estaria reprovado. São tantas as trapalhadas que vêm ocorrendo no verdadeiro exame, o real, o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), que fica difícil de entender como uma estrutura montada para submeter milhões de alunos a uma jornada de testes, com muitos sacrifícios, tanto individuais como familiares, não tenha a eficiência e a organização necessárias.

São incontáveis os problemas registrados em todas as edições do Enem. Vazamento de provas, informações erradas para os candidatos, questões mal elaboradas são apenas alguns deles, tudo isso aliado ao desrespeito com os milhões de inscritos na prova, que ficam reféns de barbaridades de um órgão que tem o encargo de melhorar a educação, mas que, infelizmente, tem se mostrado incapaz de cumprir essa tarefa.

Para piorar o quadro, repercutiu como grande chantagem a afirmação do ministro Haddad de que a decisão judicial que obriga o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) a dar vistas das provas a todos os alunos poderá impedir que haja duas edições do Enem neste ano, como está previsto. O Judiciário, a pedido do Ministério Público, nada mais fez do que dar efetividade à Constituição, que determina que os atos emanados do poder público devem ser públicos e transparentes.

O ministro Haddad, mais uma vez, tenta transferir para outros responsabilidades que são suas. Na sua condição, deve observar as leis e preparar-se de antemão para cumpri-las. O seu caso é ilustrativo do amadorismo com que tem sido gerenciada a educação no país. Nunca o poema de Gregório de Matos foi tão atual: "A cada canto um grande conselheiro,/ Que nos quer governar cabana e vinha,/ Não sabem governar sua cozinha,/ E podem governar o mundo inteiro".

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

DESESTÍMULO CONTAGIANTE


EDITORIAL ZERO HORA 17/01/2012

Com salários que variam entre R$ 395 e R$ 1.186, estão abertas as inscrições do concurso do magistério da Secretaria de Educação do Estado para selecionar 10 mil professores para a rede pública. Embora os valores constantes no edital do concurso não sejam os reais, até mesmo porque ninguém pode receber menos do que o salário mínimo, basta uma singela comparação com profissões que sequer exigem qualquer formação para se perceber por que a educação brasileira ocupa colocações tão ruins nas aferições internacionais. O ciclo vicioso começa por aí: a baixa remuneração não só é desestimulante para quem está na profissão como também passa a atrair apenas pessoas que não conseguem outra colocação melhor no mercado de trabalho; e profissionais desestimulados, com raras exceções, executam de forma deficiente suas atividades. O resultado dessa cascata de problemas é bem conhecido: educação de má qualidade.

Não é uma equação simples de resolver. Se fosse apenas pela vontade política dos governantes, certamente todos estariam pagando o piso nacional do magistério, que, com o recente reajuste anunciado pelo governo federal, deve ultrapassar R$ 1,5 mil. No mínimo, colheriam os dividendos políticos da medida. Mas a verdade insofismável é que a maioria dos Estados e municípios não dispõe de recursos orçamentários para fazer frente à despesa, principalmente em situações em que o contingente de professores é numeroso e a quantidade de aposentados rivaliza com os profissionais em atividade.

Ainda assim, não há outro caminho para a qualificação do ensino no país que não passe pela remuneração justa aos profissionais de educação como ponto de partida para a revalorização do ofício. A ideia generalizada de que docência é sacerdócio precisa ser superada, pois também serve de combustível para o desânimo. Professor é um profissional diferenciado, tem formação específica e conhecimento didático para formar pessoas. Merece ser reconhecido e valorizado por isso. Esse deveria ser o atrativo maior aos candidatos que buscam o concurso do magistério.

domingo, 15 de janeiro de 2012

ESCOLA, FAMÍLIA E RESPONSABILIDADES

MAIRA SOFIA WARPECHOWSKI LAMAISON, PEDAGOGA E EDUCADORA DAS SÉRIES INICIAIS - ZERO HORA 15/01/2012

Sem extirpar das costas do professor o seu quinhão de responsabilidade, analisemos a situa-ção atual da educação brasileira, que, diante de diversos resultados de testagens (em geral, com resultados negativos e preocupantes), aponta para as causas que podem estar muito além do ambiente escolar, onde a aprendizagem formal deve acontecer.

Com certeza, a culpa também é do professor (deixando claro: culpa não é dolo!), pois não tem oportunidades de se atualizar ou não aplica as metodologias defendidas nos cursos de formação, está desmotivado, perdeu seu papel e espaço como autoridade, sem falar nos salários vergonhosos. E ainda existem mesmo aqueles (raríssimos) casos de professores infrequentes e negligentes que, além de faltarem levianamente ao trabalho, não preparam aula, tornam-se reféns dos livros didáticos, pois tudo lhes é considerado esforço em demasia.

Mas existe uma dúvida em relação à suposta culpa exclusiva do professor, pois ela é sugerida ao longo dos últimos anos devido ao fracasso escolar – estranhamente em uma época em que a sociedade vive a desestruturação dos valores familiares e o assistencialismo material a pais relapsos – e, por isso, ficou sobre os ombros do docente o dever de sanar ausências paternas ocorridas desde o período pré-escolar, sendo que isto significa não apenas cinco anos anteriores à alfabetização, mas as outras 20 horas diárias em que a criança está fora da escola, com (ou sem) sua família, bem como fins de semana, férias e feriados. Isto significa que quatro horas-aula diárias, durante 200 dias por ano (isto se o aluno não faltar) devem ser suficientes para cobrir lacunas de oportunidades que alguns indivíduos não tiveram em seus lares, socializá-los como cidadãos em potencial, que são, e ainda prepará-los para serem testados em uma avaliação formal e escrita quanto a sua leitura, compreensão de texto e raciocínio lógico-matemático!

Será que a sociedade e as autoridades competentes ainda não perceberam? Permanecem batendo na mesma tecla, criticando e responsabilizando os professores que têm diante de si um tempo e recurso mínimos para um trabalho máximo? Será que não percebem que os familiares que convivem e conhecem a criança desde que nasceu têm a obrigação de educá-la para o convívio na escola e na sociedade? Têm a obrigação de dar-lhe atenção, cuidados, estímulos, afeto, além do exemplo da leitura e escrita (ainda que rasa) e da matemática? Como um professor em parcas quatro horas poderá competir com seis (ou mais) anos de experiência negativa na vida familiar da criança? Afinal, se as horas extraclasse das crianças não influenciassem em sua aprendizagem, todos os alunos de professores pesquisadores, criativos, objetivos e compromissados com o processo de ensino-aprendizagem obteriam sucesso. Mas infelizmente, para alguns educandos (e educadores também!), somente o esforço e a dedicação do docente não têm sido suficientes para que aprendam tanto quanto necessitam e merecem aprender.

Dentre muitos casos presenciados ao longo dos anos de magistério público estadual, poderia destacar vários exemplos curiosos que comprovam que o compromisso da família é o primeiro e essencial passo a ser dado antes de a criança entrar na idade escolar. Teria vários relatos para comprovar que a escola por si não é suficiente para alfabetizar quem quer que seja, afinal, o indivíduo é um ser cognitivo, social, cultural, emocional, físico e afetivo, e estas partes não se separam em gavetas, como muitos podem pensar. Elas interagem entre si e influenciam o desempenho umas das outras; e, por isso, toda sociedade (família, escola, governos) deve se responsabilizar para garantir que o frágil ser em formação tenha o equilíbrio necessário para que a aprendizagem aconteça naturalmente e com sucesso.

ZEROHORA.COM - Autora reclama maior participação da família na aprendizagem escolar. Você concorda? Opine em www.zerohora.com

sábado, 14 de janeiro de 2012

EDUCAR PARA A JUSTIÇA E A PAZ


DOM ODILO P. SCHERER, CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO - O Estado de S.Paulo - 14/01/2012

A educação das novas gerações é decisiva para o futuro da sociedade. Pode parecer um lugar-comum e a coisa mais sabida do mundo; na prática, porém, as coisas não são tão óbvias assim. Não se põe em dúvida a necessidade de todas as crianças e todos os jovens terem acesso à escola, mas é bom que nos perguntemos sobre a qualidade da educação que lhes é proporcionada.

O dia 1.º de janeiro é, para a Igreja Católica, o Dia Mundial da Paz e o papa envia todos os anos à Igreja, aos governantes e responsáveis por organizações internacionais uma Mensagem, na qual ele aborda algum aspecto importante para a edificação e a preservação da paz. Neste ano, o tema da Mensagem foi: educar os jovens para a justiça e a paz.

Há algum tempo, o ano novo vem se iniciando em meio a crises e incertezas quanto ao futuro; novas tensões e situações de guerra surgem entre povos, ou no interior de nações. Enquanto a crise econômica e financeira mundial balançou economias que pareciam tão sólidas, no Brasil, finalmente, se respira com certo alívio; mas há quem diga que a crise global ainda está longe da solução.

Bento XVI diz que os jovens têm o direito de sonhar e de esperar por um futuro bom; e eles próprios podem, com seu entusiasmo, oferecer nova esperança para o mundo. E convida pais e famílias, com os diversos âmbitos da vida religiosa, social, econômica, política e cultural, a prestarem especial atenção ao mundo juvenil, valorizando as suas possibilidades de contribuírem para um futuro de justiça e de paz.

Muitos jovens, no entanto, olham o futuro com apreensão e se perguntam sobre as razões que dariam sentido e esperança à vida. Seu idealismo se choca, muitas vezes, com a dura realidade do meio em que vivem, onde os sonhos altos parecem carecer de fundamento; podem, então, ser tentados a amoldar-se ao vazio de valores, enredados nas tensões primitivas do individualismo, da ganância e da sede de poder e vaidades, passando a respirar os mesmos ares intoxicados que lhes causavam, no despertar de sua consciência juvenil, fortes arrepios de indignação e horror. Tentação sempre próxima é o gozo ávido e inconsequente da vida, até nos vícios suicidas da droga e do álcool.

Como evitar que eles percam cedo o entusiasmo juvenil e a sua fé no futuro bom? Algumas questões são fundamentais. A primeira de todas elas é educar para a verdade, sem ceder à tentação do relativismo absoluto ou da redução de todos os valores à utilidade e à vantagem pessoal. Atenção especial merece a verdade sobre a pessoa humana, para descobrir o valor e a dignidade de si mesma e da própria vida. Isso é necessário para desenvolver atitudes construtivas diante da dignidade e dos direitos inalienáveis das outras pessoas. A pessoa humana é um bem em si mesma e não pode ser sacrificada em função de bens particulares, sejam eles econômicos ou sociais, individuais ou coletivos.

Outra questão crucial é formar para a liberdade autêntica - "valor precioso, mas delicado, pois pode ser mal entendida e também usada mal". A educação leva a compreender que a liberdade não se identifica com a ausência de vínculos, nem com o império do arbítrio, nem ainda com o egocentrismo subjetivo. Quando o homem crê ser um senhor absoluto, que não depende de ninguém e pode tudo o que lhe apetece, acaba prisioneiro de si mesmo e perde a própria liberdade. Esta é um bem relacional, que se mede constantemente com a liberdade dos outros e com Deus.

Risco insidioso na educação é o relativismo absoluto, que não reconhece nenhuma instância, fora de si, ou valor definitivo, e tem como última referência apenas o próprio eu, com os seus desejos. Sob a ilusão de liberdade, a pessoa pode estar levantando os muros da própria prisão e do fechamento total em si mesma, separada dos outros, incapaz de se relacionar com o mundo de forma adequada. E aí, cedo ou tarde, chegam a angústia e a dúvida sobre a bondade da própria vida e de qualquer projeto a ser edificado em comum com os outros.

Mais um aspecto, que não pode ser subestimado na educação, é a formação acerca dos valores. Há uma norma, que o homem não criou para si nem é imposta de fora, mas que lhe cabe reconhecer e acatar; ela é natural e está inscrita na consciência, fazendo distinguir o bem do mal. Com seu imperativo silencioso, mas forte, manda escolher o bem e evitar o mal. Formar para a consciência moral é indispensável para o bom exercício da liberdade, para o reconhecimento da dignidade do outro e para a convivência justa, respeitosa e pacífica entre as pessoas.

Justiça e paz não são fatos dados e prontos, mas o fruto de uma busca denodada e conjunta, em que as pessoas compartilham valores e atitudes. Paz não existe sem justiça, como não existe justiça sem honra à dignidade humana. E esses bens são a fina-flor do esforço de gerações que acreditam neles; por isso também os passam às novas gerações pelo processo da educação. Pais e famílias, apesar de tudo o que se possa dizer em contrário, ainda são os grandes agentes desse processo. E o papa os encoraja a assumirem seu papel, apesar de todas as dificuldades. Mas também são poderosos agentes de educação a escola e outras estruturas educativas formais e informais, bem como os meios de comunicação social.

Se a qualidade da educação for boa, haverá justiça e paz. E os jovens não deixarão de fazer a parte que lhes cabe. Para eles Bento XVI volta o seu apelo, já no final da Mensagem: "Jovens, sois um dom precioso para a sociedade! Não desanimeis, nem confieis em falsas soluções para superar os problemas. Sabei que vós mesmos também servis de exemplo e estímulo para os adultos, quando vos esforçais para superar injustiças e corrupção e vos comprometeis com a construção de um futuro melhor!".

SENHOR DIRETOR

NOILI DEMAMAN, PROFESSORA DA UERGS, EX-PROFESSORA ESTADUAL - ZERO HORA 14/01/2012

A escritora Lygia Fagundes Telles tem um conto com este título. Trata-se de uma personagem – professora aposentada – que vai passando pelas ruas do bairro paulista onde mora e ficando abismada com o que vê no cenário urbano: nas capas das revistas expostas, no comportamento dos jovens, nas notícias de jornais. Isso tudo faz com que elabore, mentalmente, o vocativo da carta que pretende mandar ao diretor do Jornal da Tarde. Acontece que a cada quadra vê um motivo diferente para o assunto de que trataria, pois a mudança de cenário, entrelaçada às lembranças do que vê na televisão, tira-a do foco.

Pois há tempos estou aqui – como a Maria Emília – a esboçar também uns escritos, sempre por motivos diferentes. Agora acredito ser um caso sério demais para deixar morrer a vontade. Um motivo muito pontual me leva a sair do silêncio: a enormidade de bobagens que estão sendo ditas quando os professores querem somente fazer cumprir a lei do pagamento do piso do magistério. Por vários dias, acompanhei desatenta e sem muita perspectiva que saíssem do senso comum: o Estado não tem como pagar os professores.

Mas na noite de quinta-feira, no programa da TVCOM Conversas Cruzadas, um debatedor superou qualquer expectativa ao sugerir que o Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers) – o sindicato que deve cuidar dos interesses dos professores – desencadeie uma campanha contra a sonegação de impostos no Estado. Antes que a população desavisada faça coro com esse chamado totalmente absurdo, revelo minha total indignação. (Desculpem-me, mas nestas horas a indignação da Maria Emília me domina; há bom tempo descobri que a indignação às vezes é um ótimo recurso que nos impulsiona para mudanças.)

Não que não possamos – como cidadãos – combater a sonegação, mas quando vemos o dinheiro ir pelo ralo da forma que dispensa exemplificações, aqui, parece piada querer dar aos professores mais essa missão. Será que a população sabe do cotidiano e das responsabilidades de um professor estadual? Pois o Cpers, como associada há 30 anos sinto-me legitimada a sugerir, deveria: a) urgentemente fazer o que fazem outras categorias – impedir que não formados exerçam a atividade; b) incrementar o site para que o mundo digital seja o veículo de comunicação entre professores; c) conseguir subsídios para que professores estaduais possam se inscrever em fóruns do quilate do Fronteiras do Pensamento, nos quais os debates do mundo atual acontecem; c) divulgar a atuação dos professores que transcendem as suas obrigações: cada escola deve ter uma história por semana em que atende alunos em demandas que não se relacionam ao ensino.

Em dezembro mesmo, fiquei sabendo de uma professora da periferia de Porto Alegre que, diante do pé machucado do seu aluno e da falta de ação da família, levou-o ao Posto de Saúde mais próximo, onde, como previsto, não conseguiu atendimento; ao pronto-socorro municipal, onde não obteve atendimento por não se tratar de trauma recente; com seus recursos, é claro, levou-o ao Hospital Conceição, onde obteve atendimento e, junto com ele, uma solene chamada de atenção pelo fato de a escola ter deixado o menino tantos dias nas condições em que estava. Nem precisa dizer que as professoras se cotizaram para comprar o antibiótico e o leite que deveria acompanhar a ingestão do medicamento receitado ao aluno. E vem alguém dizer que esses professores devem também assumir incumbência de fiscais do Estado? Elevemos o nível, por favor.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

SE A EDUCAÇÃO FOSSE PRIORIDADE...


LUIZ FERNANDO ODERICH, PRESIDENTE DA ONG BRASIL SEM GRADES - ZERO HORA 12/01/2012

Se a educação fosse prioridade, deixaria de ser moeda de troca nas negociações político-partidárias. A Secretaria de Educação seria extinta, e, no seu lugar, criaríamos uma nova instituição, à semelhança do Ministério Público, do Poder Judiciário ou do Exército. Seria um corpo profissional, dirigido exclusivamente por membros da própria instituição. A exata personalidade jurídica ainda seria estudada. Por via de consequência, as delegacias regionais, com seus malfadados CCs (Consciências Compradas), seriam extintas também, impedindo-se qualquer ingerência eleitoral. Em seu lugar, nasceriam diretorias distritais, sem muita burocracia, para aproximar os problemas de suas soluções.

Os alunos seriam exigidos a dar o seu máximo. Os melhores seriam transferidos, com toda assistência, para as melhores escolas das regiões, fossem elas públicas ou privadas. Dar-se-iam aos mais inteligentes as melhores condições. Desse modo, haveria uma grande possibilidade de gerarmos diferenciais competitivos para o nosso desenvolvimento sustentável.

Também deixaríamos de lado essa linda palavra (que eu amo) – professor – e usaríamos esse ascético – trabalhador em educação (que eu detesto). Há uma pequena vantagem na troca. Professor traz uma aura de santidade e respeito. É duro maltratar um mestre. Como ensino de qualidade exige um profissional de alto nível, pago de acordo com seus méritos, os trabalhadores enganadores, os desmotivados, os incompetentes seriam simplesmente demitidos.

Quase 100% da verba para obter-se esse elevado padrão de qualidade seria destinada aos salários de quem ensina e ao provimento das necessidades das escolas. Se, em determinado momento, as pessoas se considerassem estressadas e sem condições de lecionar, seriam transferidas para outros órgãos da administração pública e aproveitadas em outras funções, até completarem seu tempo de serviço para aposentadoria.

Se educação fosse prioridade, os deputados teriam sempre em mente a maioria silenciosa, que não tem tempo para lotar galerias, e que seria o alvo maior de todas as mudanças. Gente como aquele agricultor que todos os dias, seja domingo, seja feriado, alimenta seus animais, ordenha suas vacas e paga imposto.

Mas isso tudo, apenas se quiséssemos mesmo que nossas façanhas servissem de exemplo a toda terra e se a educação fosse prioridade...

ARMA FATAL



ALEXANDRE FRASSON, GERENTE DE OPERAÇÕES E PAI DE VESTIBULANDA - ZERO HORA 12/01/2012

Sou pai de uma jovem vestibulanda da UFRGS e fiquei estarrecido com a complexidade do tema de redação proposto por esta tão concei-tuada universidade e aplicado na última segunda-feira. É quase inacreditável que uma instituição de ensino desse naipe, através dos seus “elaboradores”, possa estar tão distanciada da realidade cultural e educacional de nosso pobre/enorme país.

Li atentamente o texto-base para a redação e estou chegando à lamentável conclusão de que a banca que elabora as provas da UFRGS vive em outra “rea- lidade” ou então a explicação é, digamos, patológica de quem mira aquele exército, na sua maioria de adolescentes, como um alvo para o bombardeio do mais puro sadismo “intelectualoide”. Será que sentem prazer em ver os rostos tristes, frustrados e desorientados desses jovens em busca de seus sonhos?

Esses adolescentes, pelo menos aqueles que se prepararam, passaram o ano ligados nas notícias sobre o perigo de um acidente nuclear no Japão, fontes de energia alternativas para preservar o meio ambiente, quebradeira econômica na Europa, a “primavera” árabe, as manifestações de “ocupem Wall Street”, o paradoxo entre corrupção desenfreada e crescimento econômico brasileiro, as inovações tecnológicas etc., etc. Todos, temas bastante complexos para quem está à flor da pele, imaturo, transbordando de hormônios, pensando na namorada ou no namorado. Mesmo assim, ligados e conectados ao mundo através da internet, do celular etc.

Mas, para os “encastelados” e iluminados da banca da UFRGS, isto não bastava e preferiram aplicar um texto sobre o qual muitos professores, jornalistas e tantos outros profissionais das letras teriam muitas dificuldades de dissertar, pois se trata de um texto para especialistas no assunto, ou estou errado?

Com isso, se aprofunda de forma mais cruel a “exclusão”. Será que esse é o grande objetivo das provas da UFRGS, a exclusão?

Para dividir as tarefas de eliminação, nos anos anteriores podem ter sido as questões de física, matemática, química ou todas elas juntas... Este ano, tudo indica que o destaque será a redação, mas tem que parecer politicamente correto, de preferência exaltando nossa nacionalidade, nossas origens lusófonas, quem sabe, a nossa língua!

A arma fatal que promove a exclusão normalmente é apresentada de forma camuflada, desta vez utilizou-se o gigante mitológico Adamastor e uma flor, a flor do Lácio.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Acredito que a banca quer escolher pelo qualificador de inteligência e não pelo conhecimento da gramática da língua portuguesa. É mais fácil eliminar pelo desvio do tema do que pelos erros de elaboração, ortografia, coordenação e pontuação.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

ENEM SEM TRANSPARÊNCIA

EDITORIAL CORREIO DO POVO, 11/01/2012

É extremamente preocupante o fato de que o Ministério da Educação (MEC) dificulte aos alunos que fazem o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) o acesso à correção das provas. Nada pode justificar que eles não possam verificar seus erros e acertos e, até mesmo, se for o caso, elaborar recursos de questões que porventura apresentem uma resposta com a qual eles não tenham concordância. Essa falta de transparência é inaceitável e compromete a credibilidade do poder público e dos gestores do setor de educação, que se mostram incapazes de realizar uma aferição de conteúdos sem contratempos.

Não é de hoje que os dirigentes do MEC se revelam como despreparados na condução do Enem. Já houve vários incidentes, como furto de provas, vazamentos, questões mal elaboradas, informação errada dos lugares da aplicação dos exames, entre outros. É um festival de trapalhadas tão grande que os inscritos chegam a sentir saudades dos tempos em que as regras dos vestibulares eram mais claras e precisas. Diante de tantos equívocos acumulados, muitas universidades acabam por desistir de usar a nota do Enem, porque existe a insegurança acerca de um resultado confiável e fornecido em tempo hábil.

No Brasil, é comum que um edital valha mais que a Constituição e que as leis. A Carta Magna garante o direito de petição e criou o habeas data para que o cidadão tenha acesso ao que consta sobre ele em arquivos públicos ou assemelhados. Também a recente Lei de Acesso a Informações Públicas, que fulmina o sigilo eterno de documentos públicos, aponta nesse sentido. Entretanto, paralelamente, a simples consulta a uma prova feita por milhões de estudantes tende a ser negada de forma inexplicável. Trata-se de um contrassenso, uma ignomínia. O MEC não pode fazer provas secretas porque isso é algo sem justificativa nos dias de hoje e porque fere as garantias e as prerrogativas individuais dos alunos, atingindo a sociedade por reflexo. Fazem bem o Ministério Público e algumas defensorias públicas em propugnar pela publicidade das avaliações.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

HÁ VAGAS

EDITORIAL ZERO HORA 06/01/2012

Em meio a um cenário externo ainda de incertezas, o país começa 2012 com perspectivas particularmente promissoras para quem precisa trabalhar e tem formação adequada. A taxa de desemprego – que, um ano depois da crise financeira deflagrada em 2008, era de 7,4% – encontra-se hoje em 5,2%, a menor da história. E, ainda que o novo ano comece com a perspectiva de desaceleração econômica em relação a 2011, as estimativas dos brasileiros são positivas até dezembro. Cresce, com isso, a responsabilidade dos formuladores de políticas econômicas, que precisarão encontrar formas de manter a atividade produtiva e o nível de ocupação em alta.

Pesquisa divulgada agora pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que o Índice de Expectativa das Famílias (IEF) subiu para 67,2 pontos em dezembro último, ante 63,7 pontos em novembro e 64,6 em dezembro de 2010. O otimismo é atribuído em boa parte à segurança em relação ao emprego, manifestada por nada menos de 78,9% dos consultados, particularmente na faixa da população de menores ganhos. Trata-se de uma percepção diversa da registrada logo depois da crise que se seguiu à queda do grupo financeiro Lehman Brothers. Na época, grandes conglomerados brasileiros apressaram-se em reduzir quadros, numa decisão que, pouco depois, se mostraria equivocada, pois houve dificuldade para recontratar.

Hoje, graças ao acerto da ênfase ao mercado interno e à expansão do crédito, há milhares de vagas disponíveis em empresas privadas e no setor público, nas diferentes esferas de governo. Só uma empresa de consultoria, responsável pela seleção de trabalhadores para 1,7 mil empresas particulares, garante ter 40 mil oportunidades de empregos à espera de candidatos em seu banco de dados. Os setores de turismo e tecnologia também começam a se preparar para o aumento de demanda decorrente dos eventos esportivos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. O resultado é que a corrida por contratações na largada deste ano equivale na prática à registrada no mesmo período de 2011, quando a economia era caracterizada por um superaquecimento.

As condições especialmente favoráveis do mer- cado de trabalho no país reforçam a importância de maior atenção à qualificação da mão de obra e à adoção de medidas capazes de manter em alta as oportunidades de ocupação com carteira assinada. Cada vez mais, as melhores chances no mercado formal são para quem tem mais anos de escola e maior habilitação para o exercício de funções específicas. Mas é importante que a massa de trabalhadores já em atividade e o contingente dos que se preparam para ingressar nele daqui para a frente não venham a se frustrar com uma eventual retração do mercado interno, que até agora conseguiu preservar o país do impacto da crise externa.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Esta na hora dos governantes brasileiros repensarem a forma como enxergam a educação e aplicam as políticas educacionais. É preciso que o aprendizado vá muito além da cultura científica. É vital que os professores sejam valorizados e tenham todos os recursos e tecnologia para melhor educar, formar um cidadão consciente de seus deveres e direitos e identificar talentos em todas as áreas técnicas, científicas, desportiva e artística, de forma a orientar as escolhas certas da profissão que irá garantir a sobrevivência no mercado de trabalho, a felicidade e o sucesso nas relações sociais.