EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 14 de janeiro de 2012

SENHOR DIRETOR

NOILI DEMAMAN, PROFESSORA DA UERGS, EX-PROFESSORA ESTADUAL - ZERO HORA 14/01/2012

A escritora Lygia Fagundes Telles tem um conto com este título. Trata-se de uma personagem – professora aposentada – que vai passando pelas ruas do bairro paulista onde mora e ficando abismada com o que vê no cenário urbano: nas capas das revistas expostas, no comportamento dos jovens, nas notícias de jornais. Isso tudo faz com que elabore, mentalmente, o vocativo da carta que pretende mandar ao diretor do Jornal da Tarde. Acontece que a cada quadra vê um motivo diferente para o assunto de que trataria, pois a mudança de cenário, entrelaçada às lembranças do que vê na televisão, tira-a do foco.

Pois há tempos estou aqui – como a Maria Emília – a esboçar também uns escritos, sempre por motivos diferentes. Agora acredito ser um caso sério demais para deixar morrer a vontade. Um motivo muito pontual me leva a sair do silêncio: a enormidade de bobagens que estão sendo ditas quando os professores querem somente fazer cumprir a lei do pagamento do piso do magistério. Por vários dias, acompanhei desatenta e sem muita perspectiva que saíssem do senso comum: o Estado não tem como pagar os professores.

Mas na noite de quinta-feira, no programa da TVCOM Conversas Cruzadas, um debatedor superou qualquer expectativa ao sugerir que o Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers) – o sindicato que deve cuidar dos interesses dos professores – desencadeie uma campanha contra a sonegação de impostos no Estado. Antes que a população desavisada faça coro com esse chamado totalmente absurdo, revelo minha total indignação. (Desculpem-me, mas nestas horas a indignação da Maria Emília me domina; há bom tempo descobri que a indignação às vezes é um ótimo recurso que nos impulsiona para mudanças.)

Não que não possamos – como cidadãos – combater a sonegação, mas quando vemos o dinheiro ir pelo ralo da forma que dispensa exemplificações, aqui, parece piada querer dar aos professores mais essa missão. Será que a população sabe do cotidiano e das responsabilidades de um professor estadual? Pois o Cpers, como associada há 30 anos sinto-me legitimada a sugerir, deveria: a) urgentemente fazer o que fazem outras categorias – impedir que não formados exerçam a atividade; b) incrementar o site para que o mundo digital seja o veículo de comunicação entre professores; c) conseguir subsídios para que professores estaduais possam se inscrever em fóruns do quilate do Fronteiras do Pensamento, nos quais os debates do mundo atual acontecem; c) divulgar a atuação dos professores que transcendem as suas obrigações: cada escola deve ter uma história por semana em que atende alunos em demandas que não se relacionam ao ensino.

Em dezembro mesmo, fiquei sabendo de uma professora da periferia de Porto Alegre que, diante do pé machucado do seu aluno e da falta de ação da família, levou-o ao Posto de Saúde mais próximo, onde, como previsto, não conseguiu atendimento; ao pronto-socorro municipal, onde não obteve atendimento por não se tratar de trauma recente; com seus recursos, é claro, levou-o ao Hospital Conceição, onde obteve atendimento e, junto com ele, uma solene chamada de atenção pelo fato de a escola ter deixado o menino tantos dias nas condições em que estava. Nem precisa dizer que as professoras se cotizaram para comprar o antibiótico e o leite que deveria acompanhar a ingestão do medicamento receitado ao aluno. E vem alguém dizer que esses professores devem também assumir incumbência de fiscais do Estado? Elevemos o nível, por favor.

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