ITAMAR MELO
RETRATO DO RS. Mal nas escolas, bem no trabalho
Pesquisa do IBGE mostra que Rio Grande do Sul tem proporção menor de crianças e adolescentes na escola na comparação com a média nacional
A rotina de estatísticas preocupantes sobre a situação do ensino no Rio Grande do Sul ganhou novo capítulo ontem, com a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O levantamento do IBGE, com dados de 2012, mostra que o Estado apresenta proporção de crianças e adolescentes na escola inferior à média do país.
A Pnad vem se somar a uma série de estudos, indicadores e avaliações que, nos últimos anos, diagnosticaram o fraco desempenho do Rio Grande do Sul. Na pesquisa publicada ontem, os resultados modestos apareceram em várias áreas. Entre as 27 unidades da federação, o Rio Grande do Sul é o 23º colocado em proporção de crianças de quatro ou cinco anos na escola, o 15º na faixa dos 6 aos 14 anos e o 16º dos 15 aos 17 anos. Essa última fatia, correspondente ao Ensino Médio, é a mais preocupante. O índice de adolescentes matriculados caiu no Estado. Era de 85,3% em 2009. Foi de 83,1% no ano passado.
A Pnad também permite vislumbrar o percentual de brasileiros com mais de 10 anos de idade que têm baixa ou alta escolaridade. Ainda que esse universo inclua crianças e adolescentes em plena formação, trata-se de um indicador capaz de mostrar em que Estados a população passa mais anos em sala de aula. Também aí o Rio Grande do Sul se destaca negativamente. Entre os gaúchos, 51,46% têm oito ou mais anos de estudo, ante 53,3% da média nacional. Isso coloca o Estado na 12ª posição nacional. Em 2001, era o oitavo.
Ao mesmo tempo em que caiu no ranking dos que estudam mais, o Rio Grande do Sul subiu no dos que estudam menos. No Estado, 48% da população acima de 10 anos tem no máximo sete anos de escolaridade, índice pior do que o nacional, de 46%. Os gaúchos ocupam a 15ª posição entre os que estudam menos.
O professor da Faculdade de Educação da UFRGS Fernando Becker entende que a educação decai, em comparação com outros Estados, porque não existe um projeto:
– O Estado sempre nadou na fama de ser um dos melhores e acabou ficando para trás. Qual é o projeto para o ensino? Quais as diretrizes? Para onde vai a educação? Não temos isso. O que temos é cada novo governo fazendo suas aprontações.
Becker entende que a educação pública gaúcha sofre há décadas com um clima de briga política entre governo do Estado e professores, que emperra melhorias.
– Não sobra energia para melhorar o cotidiano escolar.
RETRATO DO RS. Mal nas escolas, bem no trabalho
Pesquisa do IBGE mostra que Rio Grande do Sul tem proporção menor de crianças e adolescentes na escola na comparação com a média nacional
A rotina de estatísticas preocupantes sobre a situação do ensino no Rio Grande do Sul ganhou novo capítulo ontem, com a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O levantamento do IBGE, com dados de 2012, mostra que o Estado apresenta proporção de crianças e adolescentes na escola inferior à média do país.
A Pnad vem se somar a uma série de estudos, indicadores e avaliações que, nos últimos anos, diagnosticaram o fraco desempenho do Rio Grande do Sul. Na pesquisa publicada ontem, os resultados modestos apareceram em várias áreas. Entre as 27 unidades da federação, o Rio Grande do Sul é o 23º colocado em proporção de crianças de quatro ou cinco anos na escola, o 15º na faixa dos 6 aos 14 anos e o 16º dos 15 aos 17 anos. Essa última fatia, correspondente ao Ensino Médio, é a mais preocupante. O índice de adolescentes matriculados caiu no Estado. Era de 85,3% em 2009. Foi de 83,1% no ano passado.
A Pnad também permite vislumbrar o percentual de brasileiros com mais de 10 anos de idade que têm baixa ou alta escolaridade. Ainda que esse universo inclua crianças e adolescentes em plena formação, trata-se de um indicador capaz de mostrar em que Estados a população passa mais anos em sala de aula. Também aí o Rio Grande do Sul se destaca negativamente. Entre os gaúchos, 51,46% têm oito ou mais anos de estudo, ante 53,3% da média nacional. Isso coloca o Estado na 12ª posição nacional. Em 2001, era o oitavo.
Ao mesmo tempo em que caiu no ranking dos que estudam mais, o Rio Grande do Sul subiu no dos que estudam menos. No Estado, 48% da população acima de 10 anos tem no máximo sete anos de escolaridade, índice pior do que o nacional, de 46%. Os gaúchos ocupam a 15ª posição entre os que estudam menos.
O professor da Faculdade de Educação da UFRGS Fernando Becker entende que a educação decai, em comparação com outros Estados, porque não existe um projeto:
– O Estado sempre nadou na fama de ser um dos melhores e acabou ficando para trás. Qual é o projeto para o ensino? Quais as diretrizes? Para onde vai a educação? Não temos isso. O que temos é cada novo governo fazendo suas aprontações.
Becker entende que a educação pública gaúcha sofre há décadas com um clima de briga política entre governo do Estado e professores, que emperra melhorias.
– Não sobra energia para melhorar o cotidiano escolar.
RETRATO DO RS
“Não sei explicar”
ZH encaminhou à Secretaria de Educação os dados da Pnad. A secretaria designou a diretora-adjunta do departamento pedagógico, Rosa Mosna, para comentar a pesquisa.
ZH – Os dados indicam que a proporção de gaúchos na escola em diferentes faixas etárias está abaixo da média nacional. Qual a explicação?
Rosa Mosna – Não saberia explicar que fenômeno está acontecendo.
ZH – E com relação à faixa dos 15 aos 17 anos, equivalente ao Ensino Médio, em que a proporção de gaúchos matriculados caiu nos últimos anos?
Rosa – Em alguns outros Estados também diminuiu. É um fenômeno que não consigo entender. A gente está com as crianças na escola, a gente está melhorando o fluxo, há demanda por Ensino Médio. Como é que o Ensino Médio cai? Não sei explicar. É estranho. Alguém tem de pesquisar isso.
ZH – Os dados apontam que os gaúchos que passam mais de oito anos na escola são proporcionalmente menos numerosos que os brasileiros. A posição do Estado nesse ranking piorou nos últimos anos. Há uma razão para isso?
Rosa – Teria dificuldade de dizer neste momento. Para nós, essas análises não são importantes. No departamento pedagógico, essa não é nossa principal idade. A nossa preocupação é garantir que tenha vagas. Também fazemos um trabalho agressivo de combate à infrequência. Estamos fazendo esse trabalho, e é estranho que venham esses dados do estudo. Tem coisas que são difíceis de entender. Não tenho como explicar.
Dificuldade na hora de contratar
CADU CALDAS
Os trabalhadores gaúchos têm uma renda mensal média 16% acima da brasileira. Mas essa diferença – que era de 19% um ano antes – vem caindo de forma sistemática há algum tempo, mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número chama atenção porque Porto Alegre tem registrado as menores taxas de desemprego entre as regiões metropolitanas. Em agosto passado, a capital gaúcha teve a menor taxa para o mês em 11 anos, 3,4%. Mais vagas, no entanto, não representaram melhorias na remuneração dos trabalhadores.
Professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Giácomo Balbinotto Neto explica que isso ocorre porque os setores em que há maior oferta de empregos são aqueles que não exigem muita qualificação.
– Esse é o motivo de ter mais gente trabalhando e a média de salários não crescer. A lei da oferta e da procura não se cumpre plenamente porque os profissionais não têm exatamente o mesmo perfil. Uma coisa é ter opção de emprego para operários da construção civil e comerciários. Outra é ter geração de vagas para especialistas, como engenheiros ou cientistas. Porto Alegre vai muito bem na primeira, mas não tem dado grandes saltos na segunda categoria – afirma.
O levantamento do IBGE mostra que, em 2012, mais de 70% da população gaúcha ganhava até R$ 1.356, equivalente a dois salários mínimos. No Brasil, a média chega a 75%. As dificuldades em contratar aumentam quando há vagas com salários mais atrativos e que exigem mais preparação dos candidatos. José Zortea, diretor regional do Senai, conta que está cada vez mais difícil admitir instrutores para ministrar aulas. Das 30 vagas oferecidas em 2012, apenas 17 foram preenchidas, apesar de o números de candidatos chegar a 600. Este ano, o cenário foi ainda pior. Das 30 vagas, apenas 12 acabaram ocupadas.
– As dificuldades também são grandes para selecionar os alunos. Nos cursos técnicos, antes de começar a ensinar uma profissão, os professores precisam ensinar português, matemática, geografia. E não é minoria. Cerca de 75% dos alunos que chegam precisam de aulas de reforço. A baixa atenção dos governos à educação básica vai cobrar seu preço daqui alguns anos – afirma Zortea.
Alta rotatividade afeta qualificação
Motivo de comemoração, o baixo desemprego no Estado também pode trazer efeitos indesejados para o mercado de trabalho. O professor Giácomo explica que, como a oferta de trabalho se dá em grande parte em empregos com baixos salários, a rotatividade entre os profissionais é alta:
– Os empresários se adaptam a essa movimentação contínua e acabam não investindo em capacitação. Ninguém quer investir em um funcionário que vai embora daqui a seis meses. Acabam pagando pouco por isso e cria-se um círculo vicioso.
A economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Bruna Kasprzak Borges tem uma avaliação parecida:
– Com mais oportunidades, o empregado sente menos necessidade de procurar especialização. Pode gerar uma certa acomodação. Por isso, é importante que os indicadores de educação também avancem. Caso contrário, a produtividade ficará cada vez menor, e o desemprego vai voltar a subir.
ÂNGELA RAVAZZOLO
Alerta estatístico
Os números divulgados ontem pelo IBGE colocam o Rio Grande do Sul em uma posição, no mínimo, incômoda: estamos abaixo da média nacional no percentual da população com oito anos de estudos ou mais e também no grupo com 11 anos ou mais. As estatísticas certamente não dão conta de explicar e contextualizar o complexo cenário educacional do país e do Estado, mas é preciso prestar atenção nos números, como uma sirene.
Recentemente, em Brasília, durante congresso promovido pelo movimento Todos pela Educação, especialistas de diferentes áreas concordaram que o Brasil chegou a um momento em que os debates, as pesquisas, as ideias, mesmo fundamentais, precisam se transformar em práticas de transformação.
Esse alerta estatístico da Pnad deve provocar os gestores, aqueles que estão à frente das políticas públicas da educação, mas pouco adianta se não tirar o sono também de toda a sociedade, pais, estudantes, professores, diretores. O aprendizado dos estudantes, razão de ser da escola, depende desse envolvimento conjunto. Mais do que um incômodo que se transforma em notícia, os números precisam provocar uma reação prática, concreta, que se reflita no dia a dia da sala de aula e consiga reverter o quadro de estagnação.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Enquanto tivermos uma educação voltada apenas ao ensino científico sem foco no futuro (ensino técnico, esportivo, artístico) capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação dos alunos, sem disciplina, destituído da autoridade dos diretores e professores, sem investimentos em escolas e desvalorizando o potencial docente, o Brasil continuará com uma educação precária, desmotivadora e fomentadora de evasão e violência.
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