REVISTA VEJA
Lya Luft
Leio com tristeza quanto países como Coréia do Sul e outros estimulam o ensino básico, conseguem excelência em professores e escolas, ótimas universidades, num crescimento real, aquele no qual se fundamenta: a educação, a informação, a formação de cada um. Comparados a isso, parecemos treinar para ser medíocres. Como indivíduos, habitantes deste Brasil, estamos conscientes disso, e queremos – ou vivemos sem saber de quase nada? Não vale, para um povo, a desculpa d menino levado que tem a resposta pronta: “Eu não sabia”, “Não foi por querer”. Pois mesmo com a educação – isto é, a informação – tão fraquinha e atrasada, temos a imprensa a nos informar. A televisão não traz só telenovelas e programas de auditório: documentário, reportagens, notícias, no tornam mais gente; jornais não têm só coluna policial ou fofocas sobre celebridades, mas nos deixam a par e nos integram no que se passa no mundo, no país, na cidade.
Alienação é falta grave; omissão traz burrice, futilidade é um mal. Por omissos votamos errados ou nem votamos, por desinformados não conhecemos nossos direitos, por fúteis não queremos lucidez, não sabemos da qualidade na escola do filho, da saúde de todo mundo, da segurança em nossas ruas. O real crescimento do país e o bem da população passam ao largo de nossos de nossos interesses. Certa vez escrevi um artigo que deu título a um livro: “Pensar é transgredir”. Inevitavelmente me perguntam: “Transgredir o quê?”. Transgredir a ordem da mediocridade, o deixa pra lá, o nem quero saber nem me conte, eu nos dá a ilusão de sermos livres e leves como na beira do mar, pensamento flutuando, isso é que é vida. Será? Penso que não, porque todos, todos sem exceção, somos prejudicados pelo nosso próprio desinteresse.
Nosso país tem tamanhos problemas do que não dá para fingir que está tudo bem, que omos os tais, que somos modelos para os bobos europeus e americanos, que aqui está tudo funcionando bem, e que até crescemos. Na realidade estamos parados, continuamos burros, doentes, desamparados, ou muito menos burros e doentes e desamparados do que poderíamos estar. Já estivemos em situação pior? Claro que sim. Já tivemos escravidão, a mortalidade infantil era assustadora, os pobres sem assistência, nas ruas reinava a imundice, não havia atendimento algum aos necessitados (hoje menos do que deveria, mas existe ). Então, de certa forma, muita coisa melhorou. Mas poderíamos estar melhores, só que não parecemos estar interessados. Queremos, aceitamos. Pão e circo, a Copa, a Olimpíada, a balada, o joguinho, o desconto, o prazo maior para nossas dívidas, o não saber de nada sério: a gente não quer se incomodar. Ou pior: nós temos sensação de que não adianta mesmo.
Na verdade temos medo de sair às ruas, nossas casas e edifícios têm porteiro, guardas, alarme e medo. Nossas escolas são fraquíssimas, as universidades péssimas, e o propósito parece ser o de isso ainda piore. Pois, em lugar de estimularmos os professores e melhorarmos imensamente a qualidade de ensino de nossas crianças, baixamos o nível das universidades, forçando por vários recursos a entrada dos mais despreparados, que naturalmente vão sofrer ao cair na realidade. Mas a esses mais sem base, porque fizeram uma escola péssima ou ruim, dizem que terão tutores no curo superior para poder se equilibrar e participar com todos. Porque nós não lhes demos condições positivas de fazer uma boa escola, pra que pudessem chegar ao ensino superior ela própria capacidade, queremos band-aids ineficientes para fingir que está tudo bem.
Não se deve baixar o nível em coisa alguma, mas elevar o nível em tudo. Todos, de qualquer origem, cor, nível cultural econômico ou ambiente familiar, têm direito à excelência que não lhe oferecemos, num dos maiores enganos de nossa história. Não precisamos viver sob o melancólico da mediocridade que parece fácil e inocente, mas trava nossas capacidades, abafa nossa lucidez, e nos deixa tão agradavelmente distraídos.
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