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No momento em que o país atinge as menores taxas de desemprego dos últimos 10 anos, a escassez de mão de obra especializada evidencia-se como uma barreira para a competitividade e para o desenvolvimento. E o mais desafiador é que não faltam apenas profissionais para áreas estratégicas, como ciência e tecnologia. Também há uma carência crescente de trabalhadores domésticos, que estão encontrando colocação e vantagens trabalhistas em empresas que optam por treinar colaboradores pouco qualificados.
O lado bom desta realidade é o pleno emprego, com a abertura de oportunidades para pessoas sem formação profissional. O lado ruim – e preocupante – é a ausência de mão de obra qualificada para assegurar o salto de desenvolvimento que o país pode e precisa dar. Recente seminário sobre Inovação e Desenvolvimento Econômico, promovido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pelo jornal Valor Econômico, alinhou a escassez de mão de obra especializada ao lado da inexistência de marco regulatório em alguns setores da economia e de deficiências de infraestrutura como principais entraves à competitividade nacional.
Embora falte uma política governamental mais agressiva de formação profissional e de qualificação da educação, essa responsabilidade também precisa ser compartilhada pelos setores empresariais interessados na contratação de trabalhadores qualificados. Mesmo considerando-se que os empresários contribuem para o Sistema S (Sesi, Senai, Senac, Sesc e Senar), que é o maior formador de profissionais através de seus cursos regulares, a disponibilidade de vagas é insuficiente diante da demanda. E isso que o crescimento do país está represado.
Pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria indica que a falta de mão de obra qualificada afeta 69% das empresas. Muitas mantêm cursos internos de capacitação, mas não conseguem formar trabalhadores na velocidade necessária, até mesmo porque a maioria tem deficiências de formação básica. Por isso, também, é indispensável a melhora de qualidade do ensino – e essa é uma atribuição do poder público.
Num cenário de crise mundial, o Brasil tem potencial para se tornar um fornecedor de produtos e serviços para muitos países, pois dispõe de matéria-prima, energia e alimentos em abundância. Mas, para transformar esses serviços em riqueza, necessita de cientistas, técnicos e profissionais com especialização. E não há como fazer isso de um dia para o outro, pois o preparo de um bom profissional exige conhecimento, treinamento e prática. Difícil. O Brasil está entre os países que mais têm dificuldade em encontrar profissionais para vagas especializadas, conforme levantamento da empresa Manpower, que atua na área de recursos humanos. Superar este gargalo do desenvolvimento é um desafio que precisa ser assumido por todos os setores da sociedade.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Cresce no Brasil a mão de obra desqualificada que, sem conhecimento e sem prática para sobreviver no mercado de trabalho, passam a viver na informalidade e na vadiagem. A origem desta "desqualificação" está na educação precária oferecida pelo Estado onde só se aprende conhecimento científico sem serem apresentadas e estimuladas às práticas em áreas reconhecidas pela vocação identificada no talento que possuem. O reflexo está aí no imenso número de vagas sem serem preenchidas por pura falta de mão obra qualificada, obrigando as empresas buscarem especialistas em outros países.
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