EDITORIAL INTERATIVO ZERO HORA 18/12/2011
O Brasil ficou diante de um falso dilema com a divulgação de estudos recentes sobre a situação da educação. A partir de uma conclusão do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), de que o país precisa de mais dinheiro para melhorar o ensino público, ampliou-se o debate entre os que apoiam o apelo por mais verbas e os que entendem que a prioridade é a melhoria da gestão, com racionalização na utilização dos recursos, da formação dos professores e da atualização de currículos e da assimilação pelas escolas dos avanços da tecnologia. Os dois lados estão certos quando, ao discordarem no detalhe, convergem para a grande prioridade nacional: chegou o momento de investir com determinação na qualificação do ensino básico, desde a pré-escola, para recuperar o tempo perdido em décadas de omissão.
Pelos estudos do Ipea, o Brasil deveria aumentar os investimentos em educação de 5% para 7% do PIB. A dotação ideal provoca discussões intermináveis. Argumenta-se, por exemplo, que países desenvolvidos aplicam menos e conseguem melhores resultados. Contrapõe-se a esse raciocínio o de que nações ricas consolidaram suas estruturas de ensino, enquanto a educação pública brasileira ainda é precária. O debate avança então na direção das causas, para além da carência de verbas, e os diagnósticos e as soluções não têm como se desviar do fortalecimento do ensino para crianças e adolescentes. O próprio Ipea admite que esse é o caminho a seguir e tem o reforço de estudos como o realizado pelo Centro de Microeconomia Aplicada da Fundação Getulio Vargas, que analisou a importância dos primeiros anos de escola.
Segundo o Centro, o Brasil descuidado com a educação na pré-escola faz com que sejam subtraídos de muitas crianças mais de três anos de escolaridade. O estudo comprova que crianças em atividade pré-escolar a partir dos três anos terão, mais adiante, maior desenvoltura para aprender e são as menos vulneráveis à repetência e à evasão. Junte-se a esse estudo outras conclusões sobre o descaso também com os ensinos Fundamental e Médio e chegaremos ao consenso. A educação pode de fato precisar, em muitas áreas, de mais investimentos, mas necessita ao mesmo tempo de melhorias de gestão, para se dedicar a prioridades inadiáveis. E a prioridade número 1 agora, depois de anos de dedicação ao Ensino Superior, deve ser a educação básica.
Um dado do Banco Mundial denuncia nosso atraso: em países desenvolvidos, com modelos de ensino consolidados, as despesas com um estudante universitário é duas vezes superior às destinadas a um aluno do ciclo fundamental. No Brasil, a relação cresce para seis por um. Essa é a desigualdade a ser corrigida. Nos últimos anos, o país ampliou, com programas públicos, o acesso ao ensino universitário, enquanto a educação fundamental e média não acompanha o mesmo ritmo. Calcula-se que dois em cada 10 jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola. É preciso melhorar as formas de acesso, atualizar currículos, conter evasões e valorizar o magistério, sempre com o foco no estudante e sem as dispersões provocadas por debates corporativos. O Plano Nacional de Educação, em debate no Congresso, com metas ambiciosas para até 2020, acena com a correção de rumos, mas somente será efetivo se não se transformar em apenas mais um documento de intenções. Depois da atenção ao ensino universitário, é inadiável a prioridade à educação básica, com foco no aluno, melhor gestão de recursos e sem os debates dispersivos das pressões corporativas.
A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Você concorda com o editorial que defende prioridade ao ensino básico em relação à educação universitária?
O leitor concorda
Concordo, porque já está provado que, sem uma base sólida, o aluno se forma na universidade e estaciona; considera-se aí a grande quantidade de cursos sem qualidade no país, principalmente, ensino à distância. Há deficiências no Ensino Fundamental que os alunos levam para o resto da vida, principalmente nos aspectos relativos à aquisição da linguagem; isso ocorre por falta de valorização dos professores e por um sistema de ensino que não exige e não reprova os alunos. Dirnei Bandeira Livramento (RS)
O nome já diz tudo: o ensino básico é básico. Básico significa aquilo que está na base, significa fundamento. Básico é o que dá sustentação àquilo que for construído por cima. Investir no Ensino Superior com um ensino básico pífio e jogado às traças é desperdício, é fazer uma construção que, cedo ou tarde, vai ruir. A situação que se vê hoje demonstra isso claramente: a educação básica é ignorada ao ponto de professores serem hostilizados por alunos. Não existe respeito e, muito menos, valorização do ensino. Qual a dúvida de que, apesar do grande aumento no número de vagas no Ensino Superior, os graduandos sejam cada vez menos preparados? Educação só demonstra resultado quando apresenta constância; é uma realidade que, se iniciada hoje, apresentará seus resultados daqui a 15, 20 anos. O fato é que educação não rende votos, quanto mais se fale em educação básica. Mesmo porque é essa mesma educação básica que ensina um povo a pensar e deixar de ser explorado. Renan Espinoza Porto Alegre (RS)
Concordo. Falta base aos estudantes em geral, o que acaba afetando o desempenho daqueles que chegam à universidade mais tarde. E sabemos que nem todos chegarão lá. Não é mais correto que o ensino básico, que é obrigatório a todos, tenha então todo o apoio? Beatriz Villanova Porto Alegre (RS)
Com certeza a prioridade ao ensino básico mudaria toda a estrutura da sociedade. Principalmente em exercer sua cidadania, onde muitos, por desconhecerem o que é ser cidadão, fazem parte dos excluídos sociais de hoje. A mudança de paradigma se faz necessária e urgente, para diminuirmos o caos que se encontra na sociedade. A educação básica é a salvação para um futuro melhor para o Brasil. Claudia Guiel Porto Alegre (RS)
Concordo, pois o Ensino Médio, se cursado com seriedade e principalmente se for profissionalizante, prepara o estudante para ser um bom profissional, que poderá depois cursar uma universidade com grande conhecimento, além de poder pagá-la e comprar os livros técnicos requeridos, não lendo apenas cópias xerox de alguns capítulos, exigidos pelos professores. Eloi Laufer
O leitor discorda
Com certeza é importantíssimo investir na educação básica. Mas não se pode sacrificar a educação universitária, que pode gerar inovação, indispensável para podermos crescer como nação. Devemos, sim, aumentar os investimentos na educação em todos os níveis, realocando os recursos que atualmente são distribuídos para apadrinhados políticos em todas as esferas e destinando-os para quem realmente precisa e, por lei, tem direito. Guilherme Napp – Porto Alegre (RS)
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
domingo, 18 de dezembro de 2011
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