EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

MANOBRAS COM A EDUCAÇÃO


EDITORIAL ZERO HORA 12/12/2011

Repete-se no Congresso, agora com a educação, o que ocorreu na última semana com a saúde pública. Os parlamentares debatem, sob pressão de entidades de defesa do ensino público, o Plano Nacional de Educação, que definirá quanto o país investirá na área a partir do próximo ano. A intenção de elevar para o equivalente a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) os recursos para a aprendizagem, defendida pelo governo, ou de 8%, pretendida pelo relator da proposta na Câmara, eleva significativamente o atual percentual, estimado em 5,7%. Só haverá ensino de qualidade, porém, se além das verbas necessárias, o setor contar com um projeto coerente e com metas claramente definidas num horizonte de médio e longo prazos.

Mais uma vez, como ocorreu no caso da saúde, debate-se a falta de clareza na destinação dos recursos. O projeto em discussão inclui entre as despesas verbas para entidades privadas, bolsas de estudo e até mesmo contribuições sociais de aposentadoria de trabalhadores da área. É mais uma versão dos truques contábeis, condenados pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, entidade que articula a mobilização em defesa dos recursos.

Se governo e congressistas são capazes de estimular ou se omitir diante de manobras orçamentárias que envolvem a educação, é possível esperar comportamento adequado em relação a outras questões? Certamente, não, o que reforça a importância de um olhar atento e permanente por parte de instituições da área de ensino.

Entidades representativas da sociedade precisam continuar atentas à necessidade de fiscalização e de discussão do Plano Nacional de Educação. Não se pode permitir que se perpetuem na educação os mesmos erros de manipulação de recursos cometidos com a saúde pública.

ENTREVISTA. “O professor pode dar mais atenção aos alunos atrasados”. Jane Squires, uma das autoras do método de avaliação ASQ-3

Convidada pelo Planalto para apresentar no Brasil seu método de avaliação da primeira infância a educadores e agentes públicos, a professora da Universidade do Oregon (EUA) Jane Squires ouviu críticas dos especialistas brasileiros. A americana conversou com Zero Hora sobre a polêmica em torno de sua técnica.

Zero Hora – Como funciona seu método de avaliação?

Jane Squires – O método observa a criança e a cultura em que ela está inserida. Em uma sala de aula, por exemplo, é possível identificar as crianças que não conseguem recortar e escrever no mesmo ritmo dos colegas. Com esse mapa, o professor pode dar mais atenção aos alunos mais atrasados. Também podemos adaptar o currículo escolar para que as crianças exercitem suas deficiências.

ZH – Qual a vantagem da ferramenta?

Jane – É uma técnica naturalista. Você analisa a criança em seu ambiente, em meio às atividades do dia a dia. Você a avalia dentro do seu contexto, sem tirá-la da zona de conforto.

ZH – É viável adaptar esse método à realidade educacional brasileira?

Jane – Claro. Já adaptamos esse instrumento em vários países. Só é preciso conduzir o processo com cuidado e com muita reflexão. No Brasil, haverá um estudo para verificar como irá funcionar, qual deve ser o ponto de partida e quais são seus resultados para uma determinada população.

ZH – Como a senhora encara as críticas contra seu instrumento de avaliação?

Jane – É uma questão política em que, felizmente, não preciso me envolver. As discussões são boas, pois a utilização desse método deve ser feita com bastante consideração e cuidado.

ENTREVISTA. “Não dá para generalizar a evolução da primeira infância”. Carmem Maria Craidy, professora de Educação Infantil da UFRGS

Especialista em Educação Infantil, a professora da UFRGS Carmem Maria Craidy é cética sobre os supostos benefícios do método americano de avaliação da primeira infância. Para ela, os testes propostos pelo governo federal podem ser altamente prejudiciais para as crianças. A seguir, a síntese da entrevista:

Zero Hora – A aplicação desta técnica pode ajudar no desenvolvimento infantil?

Carmem Maria Craidy – O fundamento desta proposta de testar crianças está totalmente superado pelas teorias contemporâneas de desenvolvimento infantil. Essa visão já era criticada lá na década de 1950 e, atualmente, não é mais considerada com seriedade. Uma criança pode se desenvolver mais durante uma fase da vida e menos em outra. Não dá para generalizar a evolução da primeira infância.

ZH – Há risco de prejuízos à primeira infância?

Carmem – Sem dúvida. Essa técnica traz o risco da estigmatização. Os testes serão aplicados por pessoas sem nenhuma qualificação técnica. Além do mais, se a criança não apresenta um desempenho idêntico aos resultados do questionário, ela já é considerada problemática. Esses diagnósticos podem gerar preconceito, levando a criança a ser discriminada.

ZH – Somente o meio acadêmico tem restrições a esse método?

Carmem – Não vi ninguém do MEC no encontro que discutiu o tema com a autora do ASQ-3. Na mesma reunião, o Ministério da Saúde afirmou que recém está tomando conhecimento da ferramenta. Se os ministérios da Educação e da Saúde não estão alinhados com essa metodologia, me pergunto: de quem é essa proposta? Por que os órgãos responsáveis pela educação no país não estão envolvidos?

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