EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

QUANDO A CULPA TAMBÉM É DO PROFESSOR

Quando a culpa também é do professor, por Cleber Benvegnú, advogado e jornalista - Zero Hora, 13/01/2011

Vi meu pai, em idos tempos, ser convidado à mesa de autoridades simplesmente porque ostentava, no pequeno lugarejo em que morávamos, o título de professor. E, naquela época, tal qual hoje, o salário não era algo que enricasse alguém. Longe disso. O que lhe garantia essa condição, a mesma que tantos mestres de outrora ostentavam, era tão somente uma postura de quem respeitava e se dava por respeitar. De quem conhecia, moderava e ponderava. De quem tinha consciência da profissão que escolheu e, apesar das agruras, a ela se dedicava de corpo e alma.

Sim, esta é minha pauta: o magistério. Ocorre, porém, que não vou reproduzir odes às virtudes e à importância social da categoria – isso já fazem às pampas. Quero é reclamar do professor, mesmo sabendo que necessariamente desagradarei. Como desagrada o que foge ao politicamente correto e ao coro das multidões. Como desagrada o que contraria imexíveis zonas de conforto e grandes grupos de interesse – principalmente se escorados em influentes sindicatos.

Não importa. É hora de colocar na berlinda também os professores, pessoas físicas com nome e sobrenome. Não todos, por óbvio, mas aqueles que se encaixam num estereótipo decadente que tenho visto aumentar nos últimos anos. Aqueles que têm parcela significativa de culpa no cartório dos maus resultados da educação, apesar de quase sempre se esconderem nas supostas injustiças do sistema.

Reclamo do professor que só reclama, a ponto de transformar seu cotidiano numa lamúria permanente. Um chororô insuportável. Um fardo para si e para os outros – para os alunos, especialmente. Reclamo do professor que perdeu o charme, que não lê sequer o jornal do dia, não entra em biblioteca, vai dar aula com roupa de ginástica e só entende de novela. Daquele que jamais prepara uma aula e nunca tentou sequer ligar um computador. Daquele que não gosta do que faz e, por isso mesmo, não cria, não se valoriza. Só se lamuria, só choraminga. É triste e entristece.

Reclamo daquele que a tudo culpa o baixo salário. Explica sua muita preguiça na pouca cifra que recebe, como se isso justificasse a incompetência latente. Como se o magistério fosse a vítima escolhida para todos os males possíveis. A fila anda, ora bolas. Tem gente querendo esse lugar. E o dinheiro do povo é que paga essa conta, inclusive os interessantes dois meses de férias por ano. É preciso honrar o concurso por que passou. Fazer jus ao emprego público que escolheu – até porque já sabia das condições antes de nele entrar. Amar a profissão, apesar dos pesares. Ou dela desistir.

Não, não proponho parar de lutar ou abdicar da consciência crítica. Lutem por seus direitos, tudo bem. Protestem. Mas o professor tem de recuperar o autoconceito para além dos vencimentos. Para além do clichê sindicalista, que nada inova, nada propõe, nada desafia. Falo em fazer o que está ao seu alcance para melhorar a jornada, sem culpar os outros durante todo o tempo. Falo em superar essa cultura do coitadismo que se instalou em muitos corações e mentes. Afastar o baixo-astral. Falo, enfim, em vontade própria, em autoestima e, principalmente, em autocrítica – virtude indispensável a qualquer profissional.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Concordo em parte com este artigo. Antigamente, no tempo do pai do autor do artigo, o professor tinha um ganho considerável e era visto como uma autoridade municipal valorizado pela comunidade e respeitado pelos pais e alunos. Juízes, professores, Oficiais e graduados da Brigada Militar, outros servidores públicos e profissionais liberais ficavam honrados quando recebiam o convite para ministrar aulas. Professores como este eu até hoje lembro, pelo ensinamento de vida e pela qualidade do conteúdo e forma que ministravam.

Ocorre que hoje, o professor concursado passou a ser desvalorizado perdendo a auto-estima, a autoridade e o respeito de pais e alunos diante de um sociedade que afrouxou a disciplina, esqueceu as normas educacionais, desprezou as condições de trabalho e se limitou a ministrar conteúdo ao invés de ensinamentos e lições para o futuro.

A cultura do coitadismo não pode ser aplicado ao professor. Se isto fosse verdade, o Brasil não teria professores.

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