EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

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segunda-feira, 22 de abril de 2013

UNIVERSIDADE ESTADUAL GAÚCHA ABANDONADA


ZERO HORA 22 de abril de 2013 | N° 17410

NÃO DECOLOU

Uergs luta contra o declínio. Falta de investimento e estruturas inadequadas afastam os acadêmicos da universidade estadual



Prestes a completar 12 anos, a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) viu as salas de aula esvaziarem tanto que, em 2009, era quase uma instituição fantasma. Quatro anos depois, com um dos menores orçamentos do país entre as universidades estaduais – R$ 41 milhões –, o cenário ainda é desolador. Comunidades temem perder as unidades da única universidade estadual dos gaúchos. Em Ibirubá, no Noroeste, a Uergs já não existe mais.

Em todas as unidades, os problemas são os mesmos: recursos humanos escassos e instalações improvisadas em espaços emprestados – em São Borja, por exemplo, as aulas ocorrem em um prédio da prefeitura. Nenhuma unidade tem sede própria. Professores enfrentam viagens longas durante a semana, na tentativa de evitar que alunos fiquem sem aulas. Mesmo assim, ainda há a necessidade de suspender ou atrasar disciplinas.

Depois que a unidade de Ibirubá fechou, no ano passado, por falta de estrutura e alunos, dois outros campi estão sob ameaça: Erechim e Sananduva. A proposta de transferir as duas unidades para Passo Fundo foi aprovada pelo Conselho Consultivo Regional, o que alertou as comunidades.

– É apenas uma proposta, estamos analisando. Quem decide é o Conselho Universitário. Não há nada definido – diz o reitor Fernando Guaragna, primeiro eleito na Uergs (até 2010, os reitores eram indicados pelo governo).

Um dos principais idealizadores da instituição, o hoje deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) reconhece que o orçamento da instituição é enxuto, mas defende que as unidades devem permanecer nos municípios:

– A Uergs foi pensada para ser descentralizada e atender o Interior.

Da ascensão ao abandono

Quando nasceu, no governo Olívio Dutra (PT), a instituição tinha planos ambiciosos. A estimativa era chegar a 2012 com 10 mil alunos e orçamento anual de R$ 60 milhões. Mas a queda de investimentos destinou à Uergs um futuro diferente. Hoje, 2.880 alunos estudam na instituição – nem um terço do planejado em 2001. Mesmo com o partido criador da universidade de volta ao governo, ainda faltariam R$ 20 milhões para que a meta orçamentária inicial fosse cumprida.

Em 2005, a Uergs chegou ao ápice em número de alunos – 3.780 alunos, uma alta de 157% em relação a 2002. Em 2007, uma decisão judicial fez a universidade perder corpo docente, composto por contratos emergenciais. Era o início de uma fase de declínio. Hoje, apesar do aumento gradativo no orçamento – passou de R$ 24,11 milhões, em 2011, para R$ 38,89 milhões, em 2012 – a Uergs está longe de alcançar a meta idealizada no nascimento.

Para Maria Beatriz Luce, especialista em Política e Administração da Educação e professora da UFRGS, planejamentos a longo prazo, incluindo recursos e professores, são fundamentais para instituições de Ensino Superior. Ela pondera que o nascimento da Uergs não foi acompanhado de um plano de cargos e salários ou de um orçamento para construir prédios e laboratórios.

FERNANDA DA COSTA



Menos do que o necessário

Enquanto o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Uergs prevê 442 docentes até o fim do ano, a instituição tem 192. Se o plano fosse cumprido à risca, até 2016, seriam necessários 600 professores para atender a demanda e a previsão de novas graduações. O reitor Fernando Guaragna diz que, mesmo com o concurso anunciado esta semana, para contratação de 29 educadores, ainda faltam 57 docentes para suprir a atual necessidade da instituição. O secretário estadual da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, Cleber Cristiano Prodanov, garante que a previsão é autorizar concurso em maio.

Em Alegrete, são apenas dois professores efetivos e dois temporários, para cem alunos de Pedagogia. Na cidade, a Uergs funciona em um espaço cedido pela Superintendência do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e em salas de aula do Centro Profissionalizante Nehyta Ramos. O laboratório de informática tem oito computadores, para uma turma de 35 acadêmicos. Em São Luiz Gonzaga, a situação é semelhante. São apenas três professores efetivos e dois temporários para 119 alunos, de três cursos: Pedagogia, Tecnologia em Agroindústria e Tecnologia em Agropecuária Integrada. Em 2005, a unidade contava com 19 docentes.

Secretário cita avanços nos últimos dois anos

Se por um lado há unidades com déficit de docentes, em outras faltam alunos. Apesar do ensino gratuito, ter vagas de sobra é uma realidade. Em Erechim, das 40 vagas oferecidas neste ano, só 20 foram preenchidas. Em Caxias do Sul, o curso de Tecnologia em Agroindústria tem perto de 10 alunos. Nos dois últimos anos, o campus não abriu vagas. Sananduva tem 71 estudantes. Em 2004, eram 305.

– Em dois anos, avançamos muito. Autorizamos contratação de professores, criamos Plano de Carreira e PDI – argumenta Prodanov.

O secretário ressalta que o orçamento cresceu e não foi usado plenamente pela instituição. O reitor reconhece que a Uergs não utilizou toda a verba no último ano.

– Muitos projetos aguardam autorizações do Estado, como os que envolvem obras, e muitas licitações que realizamos deram vazias – justifica.



ENTREVISTA - “O orçamento é frustrante”

Fernando Guaragna - Reitor da Uergs



Primeiro reitor eleito da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), Fernando Guaragna afirma que a instituição precisa de mais investimentos para desenvolver as unidades. Confira trechos da entrevista:

Zero Hora – Por que muitos docentes abandonaram a Uergs?

Fernando Guaragna – Quando a universidade nasceu, o salário dos docentes era melhor do que nas federais. Com o passar dos anos, a folha de pagamento dos servidores da União foi reajustada, e a dos professores da Uergs permaneceu estável. A remuneração dos nossos educadores chegou a ser 40% menor em relação aos das federais. Isso fez a instituição sofrer uma sangria de professores. A evasão estancou no ano passado, com a criação do Plano de Carreira.

ZH – Há unidades com equipamentos encaixotados há anos. Por que isso ocorre?

Guaragna – Eles foram comprados em outras gestões, sem planejamento. Em Sananduva, os materiais adquiridos não podem ser instalados porque o piso é de madeira. E quando destinamos verba para a reforma, a licitação foi vazia.

ZH – O que é preciso para reerguer a universidade?

Guaragna – Mais investimento, nosso orçamento é frustrante. Enquanto recebemos R$ 41 milhões, as estaduais do Maranhão e de Santa Catarina têm verba superior a R$ 150 milhões. Esperamos receber 0,5% do orçamento estadual, o que representaria cerca de R$ 100 milhões. Precisamos ter um índice fixo de recursos, para planejar os nossos investimentos.






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