EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 29 de junho de 2014

DEMITIR PROFESSORES INEFICIENTES

REVISTA VEJA ONLINE 29/06/2014 - 15:23

Entrevista: John Deasy

"Demitir professores ineficientes é uma decisão correta"

O responsável pela rede pública de educação de Los Angeles conta por que apoiou a ação judicial que quebrou a estabilidade dos docentes da Califórnia: "A questão é garantir ensino de qualidade às crianças. É um direito constitucional"
Bianca Bibiano
John Deasy, superintendente de educação do distrito de Los Angeles, testemunha na Justiça durante o julgamento do caso "Vergara versus Califórnia"
John Deasy, superintendente de educação do distrito de Los Angeles, testemunha na Justiça durante o julgamento do caso "Vergara versus Califórnia" (Monica Almeida/AP)
Saiba mais sobre o caso A batalha judicial conhecida comVergara versus Califórnia começou em 2012 com uma ação movida por nove estudantes do Estado — entre eles, as irmãs Beatriz e Elizabeth Vergara, alunas de Los Angeles que acabaram cedendo o sobrenome ao caso. Durante o processo, os estudantes foram apoiados pela ONG Student Matter, criada em 2010 pelo magnata das telecomunicações David Welch, que contratou seis advogados de um dos mais renomados escritórios de advocacia dos Estados Unidos para assumir a causa. Antes de proferir o veredicto, a Justiça ouviu depoimento de mais de 30 pessoas.
Em 2012, nove estudantes da Califórnia pediram na Justiça a revogação da lei que dificultava a demissão de professores de escolas públicas do Estado. O objetivo era impedir que maus docentes continuassem atuando em sala de aula. Há três semanas, veio o veredito favorável — e inédito — da Suprema Corte da Califórnia, elogiado pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos e criticado pelos sindicatos. "A questão central não é demitir ou não maus professores, mas garantir ensino de qualidade às crianças. É um direito constitucional", diz John Deasy, superintendente de Educação de Los Angeles, que testemunhou no processo em favor dos estudantes. Deasy chefia a maior rede de escolas públicas da Califórnia e segunda maior dos Estados Unidos, com 1.300 escolas, 27.800 professores e mais de 900.000 alunos (a cidade de São Paulo tem 3.154 escolas, cerca de 59.856 professores e 932.174 estudantes). Apesar da decisão judicial, vai demorar até que o primeiro professor seja demitido por mau desempenho. Antes, sindicatos devem recorrer da decisão e legisladores precisam pavimentar a via legal até a demissão. Isso não diminiu a importância do veredicto, diz Deasy. "Essa é a maior decisão já tomada na área de educação na Califórnia. Faremos o possível para levá-la adiante." Na entrevista a seguir, ele conta por que abraçou a causa e como devem ser avaliados os professores, uma tarefa necessária para apontar quem sabe ou não ensinar.
Por que o senhor testemunhou na Justiça em defesa dos estudantes? Há situações em que precisamos escolher uma verdade e nos apoiar nela. O pedido dos nove estudantes tinha muito mais a ver com a garantia dos direitos dos estudantes do que com a redução dos benefícios dos professores. Por isso, decidi apoiá-los. Os professores querem fazer um bom trabalho, mas não apreciam quando alguém quer observar suas aulas, ainda mais com base em leis e regras que eles acreditam ferir sua autonomia. Ainda assim, não acho que esse seja o único ponto para melhorar a qualidade da educação. Precisamos de bons funcionários ao mesmo tempo em que devemos oferecer boas condições de trabalho a eles. Há um número enorme de professores fazendo um excelente trabalho. Após meu testemunho, recebi apoio de um grande grupo, incluindo pais e estudantes, que ficou feliz com a decisão. Houve, é claro, um grupo que ficou desapontado com o resultado: os sindicatos.
O senhor previa a reação negativa dessas entidades? Sim, sabia do risco. E logo após a decisão, os sindicatos anunciaram que vão recorrer da decisão. Estão em seu direito. Qualquer um pode fazer uma apelação à Suprema Corte, inclusive o Estado, que era o acusado em questão. Até o momento, não fizeram. Acredito, porém, que antes haverá negociação entre as partes, o Estado e os sindicatos, com quem o governo mantém boas relações. Desde que assumi o cargo, em 2011, não enfrentamos greves de professores. Houve uma ameaça em 2012, mas não se efetivou. A relação com esses grupos é boa.
Quando a decisão da Justiça deve começar a ser posta em prática? Infelizmente, não antes de dois ou três anos, uma vez que há margem de apelação de ambas as partes. Se isso acontecer, teremos que percorrer um novo e longo caminho na Justiça. O caso cresceu tanto que não sabemos ao certo quantas organizações nos apoiam e quantas estão dispostas a apelar na Corte.
O que a administração de Los Angeles terá de fazer para colocar a medida em prática?Essa é uma das partes do dilema desse caso: a lei não foi alterada ainda. O embasamento que temos é a decisão da Justiça, mas não sabemos em que situações poderemos usar o embasamento judicial para demitir um professor. Primeiro, precisamos esperar que o Estado mude o código de educação em vigor, para só assim colocar a medida em prática. Os legisladores precisão agora fazer novas leis para que a decisão entre em vigor de fato. Isso toma anos de debates e votações e não há nenhum projeto consistente encaminhado. Considero essa a maior decisão já tomada na área da educação na Califórnia. Faremos o possível para levá-la adiante.
Afinal, do ponto de vista do ensino, qual é o problema com os professores que justifique a luta pela quebra da estabilidade deles? É importante dizer que as dificuldades que enfrentamos com alguns professores não são específicas de Los Angeles. Com as regras vigentes no código de educação da Califórnia, é praticamente impossível demitir um professor, salvo em certas razões específicas como abandono de trabalho ou agressão. E esse processo custa muito caro: 400.000 dólares, em média. Se a demissão for motivada por ineficiência do docente, o processo custará ainda mais e poderá levar anos. Se tentarmos demitir um professor que não sabe ensinar matemática, por exemplo, mesmo sendo essa a sua disciplina, os sindicatos vão apelar incessantemente até esgotarem as possibilidades.
O que o senhor quer dizer exatamente quando fala em ineficiência do professor?Quando falamos de eficiência e ineficiência de um professor precisamos considerar três fatores. Primeiro, ele deve ter conhecimento do conteúdo que irá ensinar. Segundo, ser licenciado para lecionar. Terceiro, saber como proceder para garantir o sucesso da turma, com todos os fatores que cabem nessa questão: como o professor gerencia a aula, como ele apresenta os conteúdos etc. Ineficiência é o oposto disso.
Como Los Angeles mede a eficiência ou ineficiência dos professores? Temos uma avaliação anual que mede as habilidades dos docentes: como ele dá aula, qual o desempenho dos estudantes em sala e outros pontos específicos. No caso dos professores em estágio probatório, período de treinamento que dura dezesseis meses, eles ganham estabilidade no cargo antes da segunda avaliação anual, ainda que passem por um exame final do curso de formação. Esse é um dos pontos questionados no distrito e que devemos revisar em breve.
Nos últimos cinco anos, o desempenho de estudantes de Los Angeles melhorou consideravelmente em avaliações nacionais e estaduais. A que fatores o senhor atribui isso? Estou muito orgulhoso dos resultados. O desemprenho dos estudantes tem melhorado significativamente. Acredito que muito disso se deve ao fato de termos focado em metodologias de ensino, ao sistema de avaliação de professores e à ênfase na necessidade de termos bons docentes nas escolas, que inclui o desenvolvimento profissional desses funcionários. Também tem grande influência na melhora a busca por novos talentos, que fazemos em universidades que formam professores.
Que trabalho é feito para o aprimoramento dos professores? Em geral, são atividades de formação continuada. Em Los Angeles, 97,6% dos estudantes não falam inglês em casa. Em 93,4% dos casos, fala-se espanhol. Ao todo, são 92 idiomas e dialetos usados pelos estudantes das escolas públicas. Por isso, precisamos formar professores para trabalhar tanto o ensino dos conteúdos curriculares quanto o do inglês. Colocamos grande ênfase nesse tipo de trabalho e acredito que essa também é uma das razões de estarmos avançando.

sábado, 28 de junho de 2014

UM PLANO PARA A EDUCAÇÃO



ZERO HORA 28 de junho de 2014 | N° 17843


EDITORIAL




O maior mérito do programa sancionado agora é o de ampliar as oportunidades para brasileiros em idade de aprendizagem e priorizar a valorização dos professores.

O novo Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado nesta semana pela presidente Dilma Rousseff, é um conjunto de 20 metas e 254 estratégias destinado a superar desafios históricos do país. O mais importante não é a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, uma quantia astronômica até mesmo na relação com países mais desenvolvidos, mas, sim, a introdução de mecanismos sociais que permitirão aos contribuintes acompanhar e fiscalizar a correta aplicação desses recursos. Para dar certo, uma iniciativa desta dimensão depende muito da vigilância dos cidadãos e da pressão constante sobre os governantes, para que os recursos não sejam mal direcionados.

Essa preocupação é importante, entre outras razões, para evitar que o PNE tenha um encaminhamento semelhante ao aprovado para vigorar entre 2001 e 2010. Do total de metas definidas, apenas 35% delas foram cumpridas. O atual plano surge com um atraso de no mínimo quatro anos, tempo exigido para discussão com representantes da sociedade e para aprovação nas duas casas do Senado. Um dos diferenciais é o reforço no volume de recursos, o que desafia o governo federal a gerenciar melhor o seu orçamento, mesmo com o aporte previsto pela exploração do pré-sal, e também administradores nas demais instâncias da federação, que precisam definir logo seus planejamentos regionais.

O maior mérito do programa sancionado agora é o de ampliar as oportunidades para brasileiros em idade de aprendizagem e priorizar a valorização dos professores. O país não tem mais como se conformar com níveis tão elevados de analfabetismo. E alfabetização não pode ser entendida apenas por saber ler e escrever, pois envolve habilidades mais amplas. Daí a importância da maior ênfase em todas as etapas da educação, a começar pela pré-escola, e da qualificação dos professores, para que possam responder ao desafio de proporções inéditas definido agora para os próximos anos.

Assim como em qualquer área de responsabilidade do poder público, educação precisa de dinheiro em volume suficiente, mas sobretudo de projetos realistas e controles eficientes sobre sua aplicação. Aspectos como esses devem ser preocupação permanente até o PNE alcançar seus objetivos.


sexta-feira, 27 de junho de 2014

58 MILHÕES DE CRIANÇAS NÃO TÊM ACESSO À ESCOLA



ZERO HORA 27 de junho de 2014 | N° 17842


RELATÓRIO


A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) alertou ontem para a existência de 58 milhões de crianças entre seis e 11 anos sem escolaridade, o que torna impossível alcançar a meta de uma educação primária universal até 2015. O número deve-se em grande parte ao elevado crescimento demográfico na África subsaariana, onde existem atualmente 30 milhões de crianças sem escolaridade, indica relatório da Unesco divulgado ontem em Paris.

Segundo a organização, no caso de se manter a atual tendência, cerca de 43% dos menores sem escolaridade em todo o mundo – 15 milhões de meninas e 10 milhões de meninos – nunca pisarão em uma sala de aula. O documento cita, por outro lado, que 17 países reduziram em 86% o número de crianças sem escolaridade em pouco mais de uma década, como Burundi, Marrocos, Nepal, Nicarágua e Vietnã.

É possível conseguir mudanças positivas com medidas como a adequação do currículo escolar e o apoio financeiro às famílias necessitadas, aponta o estudo.

Diretora-geral da Unesco, a búlgara Irina Bokova considera que os novos dados confirmam a impossibilidade de se conseguir educação primária universal até 2015. Nesse sentido, defende ser preciso fazer “soar o alarme e reunir a vontade política necessária” para garantir o respeito pelo “direito à educação para todas as crianças do mundo”.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

O MALABARISMO DOS PROFESSORES

ZERO HORA 26 de junho de 2014 | N° 17841

NILSON MARIANO

EDUCAÇÃO

RETRATO ESCOLAR

PESQUISA INTERNACIONAL traça perfil dos educadores ao redor do mundo e mostra que os profissionais do ensino no Brasil apresentam menor percentual em contratos de trabalho de tempo integral e precisam lidar com classes mais numerosas



O professor brasileiro larga em desvantagem na comparação com educadores de outros países se o assunto for relação de trabalho. Apenas 40,3% do magistério tem contrato de tempo integral com as escolas, enquanto a média mundial chega a 82,4% – mais do que o dobro.

A situação é mostrada na Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), divulgada ontem pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que examinou 34 países no ano passado. O levantamento traça o perfil do magistério brasileiro, dominado por mulheres (71,1%), com idade média de 39,2 anos e 13,6 anos de experiência (veja quadro abaixo).

O baixo número de contratos de tempo integral preocupa especialistas, por forçar o professor a buscar outras fontes de renda e interferir no regime de dedicação exclusiva. A gerente de projetos do movimento Todos Pela Educação (TPE), Andrea Bergamaschi, diz que a pesquisa confirma as dificuldades da carreira. Se o educador procurar o segundo emprego, precisará se desdobrar nos horários de trabalho.

– Compromete o tempo que deveria dispor para planejar as aulas, corrigir temas, analisar as especificidades de cada aluno, cuidar de atividades fundamentais – observa Andrea.

A gerente do TPE lembra que o professor ganha 50% menos que outros profissionais brasileiros com a mesma formação. Destaca que o piso salarial é reduzido para um ofício indispensável ao desenvolvimento do país. Sugere que se adote o modelo da Finlândia, onde o magistério é tão atraente e valorizado como a Medicina.

– Essas situações têm impacto direto no aprendizado do aluno – avisa Andrea.

Para a pesquisadora Tania Beatriz Iwaszko Marques, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), contratos insatisfatórios sobrecarregam o professor. Reforça que educadores precisam de tempo, fora da classe, para a preparação de aulas.

– Se não conseguir organizar uma aula de forma adequada, isso se refletirá no desempenho dos alunos – diz Tania.

A professora da UFRGS atribui a condição nacional dos contratos a questões políticas e de falta de investimento. Afirma a especialista que os discursos de prioridade à educação, ao longo dos anos, não se concretizam.


A sobrecarga no número de alunos no país


O professor brasileiro também é sobrecarregado pela quantidade de alunos em sala de aula. Tem 30,8 estudantes em classe – acima da média mundial de 24,1 aferida pela pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Pesquisadora da Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, Regina Sílvia Pacheco alerta que o número inadequado de alunos pode atrapalhar o ensino principalmente nas séries iniciais. Já seria preocupante nos anos intermediários, mas torna-se grave no começo do aprendizado.

– Uma saída seria ter dois professores em aula, do primeiro ao quinto ano – diz Regina.

A professora da FGV/SP destaca que uma das soluções, para o país, seria a implantação massiva de escolas de tempo integral. Se os estudantes ficarem mais tempo nos colégios, os professores também seriam beneficiados com melhores contratos. Quem ganharia seria a qualidade do ensino.

A gerente de projetos do movimento Todos Pela Educação (TPE), Andrea Bergamaschi, diz que o acúmulo de alunos em sala decorre da falta de professores com formação específica. Menos de 20% lecionam Física sem ter formação superior na matéria. Com pequenas variações, a distorção também ocorre em Matemática, Química, História e Geografia.

Se as turmas fossem menores, Andrea diz que os educadores poderiam dispensar maior atenção aos alunos. A média brasileira é de 30,8, segundo a OCDE, mas há escolas com até 50 alunos por classe.

– Se trabalhar com menos alunos, poderá dar uma atenção mais específica – diz a gerente do TPE.



sexta-feira, 20 de junho de 2014

FURTO DEIXA ESCOLA NO SERASA E SEM VERBA FEDERAL

DIÁRIO GAÚCHO 19/06/2014 | 08h01

Furto leva escola de Cachoeirinha ao Serasa. Uma série de arrombamentos na Escola Municipal Portugal fez com que a instituição perdesse até verba federal



Projetos como Mais Educação e Escola Aberta estão sem verba porque cheques da escola foram furtados e o nome ficou sujo na praçaFoto: Lívia Stumpf / Agencia RBS


Érico Fabres


Um passeata realizada ontem por direção, professores e alunos foi a forma de protestar contra os furtos que a Escola Municipal Portugal, na Vila Fátima, em Cachoeirinha vem sofrendo. De agosto do ano passado até hoje, foram quatro arrombamentos. Um prejuízo de quase R$ 20 mil somente em valores e materiais, entre eles uma tevê, duas máquinas de xerox, um ar-condicionado, dois notebooks e um monitor. 

Além disso, projetos federais como o Mais Educação e Escola Aberta foram cancelados em função de cheques que foram levados junto com o cofre e descontados, o que causou a inscrição do CNPJ do colégio no Serasa, invibializando o repasse das verbas.

Projetos cancelados

De acordo com Rosana Coronel Paulo, 47 anos, seis deles como diretora da escola, mais do que as perdas materiais que aos pouco estão sendo repostas com o repasse municipal e com o dinheiro da cantina, o mais sentido é a perda dos recursos federais que eram utilizados em projetos que atendiam alunos mais carentes e também em turno inverso, tirando as crianças da rua.

– Até o final do ano passado conseguimos manter os oficineiros dos projetos, este ano, em função da perda das verbas, tivemos que cancelar – resignou-se a diretora.

Ela relata que os arrombamentos ocorrem à noite, quando não há guardas municipais no local, já que a Secretaria Municipal de Educação disponibiliza-os somente em horário de aulas, pela manhã e tarde. O protesto de ontem pedia que fosse levado em conta que a escola é uma das maiores de Cachoeirinha, com 1,1 mil alunos, e que o horário deles fosse estendido para 24 horas. A reportagem tentou contato com a Smed na tarde de ontem, porém não teve sucesso.

Enquanto isso, a burocracia

– Enquanto aguardamos uma solução para os arrombamentos, a Procuradoria Geral do Município solicita por via judicial a retirada do CNPJ, para que ano que vem, se possível, os projetos sejam retomados – finaliza a diretora.

Rosana afirmou que a escola conta com um sistema de vigilância que é contratado pelo município, porém que nem ele tem evitado os furtos. De acordo com a Polícia Civil, não há suspeitos.

RESUMO DA ÓPERA


ZERO HORA 20 de junho de 2014 | N° 17834


ARTIGO

POR GILBERTO SCHWARTSMANN*




No Brasil, ele é humilhado. Um professor do ensino básico ganha, em média, mil e poucos reais mensais. É inconcebível. Não há estímulo financeiro, tampouco uma política de qualificação do professor.

Nosso sistema educacional é uma piada. Investimos em educação básica menos de um terço do que investem os países desenvolvidos.

Em 2012, em uma avaliação do ensino básico incluindo 65 países, ficamos entre os 10 piores em todos os itens estudados. Nossos adolescentes fazem apenas as operações mais simples. São ruins em matemática, não sabem nada de ciências e são incapazes de interpretar o conteúdo simbólico de um texto.

Olhem no que virou o país. Além de campeões em analfabetismo funcional, ostentamos uma das mais absurdas concentrações de renda do planeta e um dos piores índices de desenvolvimento humano.

O povo brasileiro não lê. No mensalão, um dos políticos condenados saiu com esta: “Só a elite se interessa por este processo! O povão não quer saber de nada, não lê jornal, só assiste à novela das oito!”.

Triste ouvir isto de quem nos representa. Nossa classe política, com raríssimas exceções, reflete nossas escolhas e o baixo nível educacional. Não conheço nada mais deprimente do que uma sessão da Câmara dos Deputados, em Brasília. Um simples retrato das ruas.

Para livrar o Brasil dos políticos medíocres, devemos investir em escolas e bons educadores. Não vejo alternativa civilizada para mudar este cenário, que não seja pelo ensino e pelo voto.

Seria ingenuidade esperar por mudanças de um dia para o outro. Contando com a ignorância, o empreguismo e o paternalismo, os maus políticos levam muita vantagem nas urnas.

Sem educação, o povo continuará manipulado por líderes corruptos.

O Brasil de nossos sonhos virá de sucessivos avanços e boas escolhas nas urnas. Temos os políticos mais caros do mundo e os professores mais baratos.

Trata-se de educar ou continuar vendo o povo botar o voto na lata do lixo. O resumo da ópera brasileira é a falta de educação. Temos os políticos mais caros do mundo e os professores mais baratos.


*Médico e professor

terça-feira, 17 de junho de 2014

PROTESTO DE ESTUDANTES E MORADORES POR SEGURANÇA EM ESCOLA ACABA EM ATROPELAMENTO


ZERO HORA 17 de junho de 2014 | N° 17831


CARLOS ISMAEL MOREIRA


Motorista atropela seis pessoas e foge

ESTUDANTES E MORADORES participavam de um protesto nas proximidades de uma escola no bairro Igara. Eles foram atingidos por um condutor de uma Montana vermelha, sofreram fraturas e tiveram de ser socorridos no HPS de Canoas



O pedido de alunos por mais segurança nas proximidades da Escola Estadual de Ensino Médio Erico Verissimo, no bairro Igara, em Canoas, terminou de forma trágica ontem à noite. Seis pessoas foram atropeladas durante a manifestação, realizada em frente à escola, que contou com moradores da região.

Matheus da Costa Gonzales, 16 anos, José Bruno Cardoso dos Santos, 20 anos, Marcus Huriel Borges, 17 anos, Leonardo Motta da Silva, 15 anos, Vagner Aurélio de Chaves Fischer, 16 anos, e Raíssa da Silva Martinelli, 15 anos, foram atropelados por uma Montana vermelha durante o protesto. O motorista não prestou socorro e fugiu do local.

Segundo a BM, eles foram socorridos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e encaminhados ao Hospital de Pronto-Socorro da cidade. Conforme o coordenador de enfermagem da instituição, enfermeiro Gustavo Correa, todos chegaram ao hospital em estado grave e passaram por exames.

– Estou horrorizado com a cena que vi. Bloqueávamos a rua por cinco minutos, mas depois liberávamos por outros cinco minutos, para não trancar o trânsito. Um motorista não quis esperar e passou por cima – contou o estudante Lucas de Oliveira, 16 anos, que presenciou o atropelamento.

O caso mais grave é de Matheus, que sofreu uma fratura no fêmur e deveria passar por uma cirurgia. O pai do garoto, Sérgio Gonzales, disse que a segurança nas proximidades da escola é precária e que sabia do protesto, mas ficou surpreso quando recebeu a ligação de uma professora sobre o acidente:

– Vim correndo para o HPS. O menino teve uma fratura exposta, estava de costas para o carro e não teve tempo de reagir. Quando ele viu, já estava no chão.

Até as 23h de ontem, só um dos jovens feridos, Leonardo Motta da Silva, 15 anos, havia recebido alta do hospital. Segundo Hermínio Farinha, avô de uma estudante que participou do ato, “o motorista simplesmente ignorou o protesto e passou por cima dos colegas dela”.

– Eles estavam lá pedindo mais segurança, isso é um absurdo – lamentou Farinha.

Polícia investiga o caso como tentativa de homicídio


A ocorrência foi registrada como tentativa de homicídio qualificado contra seis vítimas e será investigada pela Delegacia de Homicídios de Canoas.

— Identificamos um suspeito pela placa do veículo, mas precisamos confirmar se o proprietário do carro estava na direção no momento do atropelamento — disse o delegado Marco Antônio Arruda Guns, responsável pelo caso.

O delegado ressalta ainda que o atropelamento seria evitado se os estudantes tivessem aceitado uma orientação da Brigada Militar. Conforme Guns, os adolescentes pediram apoio da corporação para acompanhar o protesto, mas a Brigada afirmou que só poderia monitorar a manifestação na terça-feira e orientou que o ato fosse adiado.



segunda-feira, 16 de junho de 2014

PAI BUSCA O FILHO EM PROTESTO

TV GLOBO, FANTÁSTICO Edição do dia 15/06/2014


'Preocupação era a integridade física', diz pai que buscou filho em protesto. O Fantástico conversou com os pais que, ao reconhecerem o filho na TV em protesto em SP, foram até o local para convencê-lo a voltar pra casa.




Uma cena se destacou no dia da abertura da Copa. Em um protesto em São Paulo, um pai deu uma bronca no filho, para que o jovem saísse da manifestação.

Pai e filho discutindo a relação para o Brasil inteiro ver! O Fantástico foi conhecer essa família da zona leste de São Paulo.

Pai: Renan, vamos pra casa, por favor, Renan!
Renan: É meu direito, deixa eu ir atrás dos meus direitos.
Pai: Não, chega! Por favor, Renan. Você tem 16 anos, você é meu filho.

Em meio a tantas manifestações contra a Copa do Mundo, que começou na quinta-feira (12), uma chamou a atenção em São Paulo: uma cena comovente em que os pais de um menino de 16 anos, desesperados, foram até o protesto para tentar convencê-lo a voltar para casa.

Foram quase dez minutos de discussão em família no meio do protesto.

Pai: Quando ele pagar as contas dele, ele pode protestar.

No dia seguinte à confusão, o Fantástico encontrou a família reunida em casa, em um clima mais tranquilo.

Seu Osvaldo, motorista. Dona Edilene, professora. Dois filhos: Raquel, de 11 anos, e Renan, 16 anos. Uma família como tantas outras.

Edilene Molina Ruz Paldi, funcionária pública: Na noite anterior, ele disse para mim que numa pista de skate aqui perto de casa. A gente levantou um pouco mais tarde, tomou café e sentou pra ver o jornal. Eles começam a falar sobre o protesto que estava tendo no Metrô Carrão. Aí eu já fiquei esperta...

Fantástico: Metrô carrão, aqui perto, né, aqui na zona leste, você já ficou ligada.

O estádio onde aconteceu a partida inaugural da Copa fica próximo à casa da família. E pra lá estavam voltados os olhos e a atenção de todos naquela quinta-feira, dia da estreia do Brasil e de algumas manifestações.

Mãe: Eu olhei, pela roupa que ele estava, eu reconheci meu filho.

Os pais, preocupados, foram atrás.

Pai: Ele é meu filho, ele é meu filho.
Ranan: Eu estou no meu direito, deixa eu protestar.
Pai: Você é meu filho, você não foi criado pra isso, eu trabalho para te sustentar, não é pra você esconder a cara.

Fantástico: Não foi a primeira vez que você participou de manifestação?
Renan Molina Ruz Paldi, estudante: Não. Sempre participei.
Pai: Minha preocupação, qual que era? A integridade física dele. Por isso que a gente foi.

Renan: Deixa eu ir atrás, você não estava falando comigo, por você veio falar agora?
Pai: Eu me preocupo com você, porque eu te amo, cara
Renan: Eu tô vendo, deixa eu ir ali.
Pai: Porque você mora aqui, eu não quero que você se machuque

Renan: No movimento do passe livre, dos vinte centavos, minha mãe chegou até a ir em manifestações comigo.
Mãe: É, quando era aquela coisa pacífica, né? Eu vendo esse protesto, eu achei que ele já se descaracterizou. Ele já se perdeu.

Pai: A partir do momento que cobre o rosto e parte pro vandalismo, eu sou totalmente contrário, eu sou totalmente contrário. Não foi essa educação que a gente deu pra ele.

Pai: Não é você que vai mudar o mundo meu filho.
Renan: Mas eu tento, eu tô fazendo a minha parte.

Mãe: É, enquanto a gente vê que tem muito adolescente que não tá nem aí pra o que tá acontecendo, nós temos um em casa que tá totalmente preocupado com o que tá acontecendo ao nosso redor, né?

Renan: Eu vou fazer o quê Deixar passar da hora? Eu quero uma coisa digna.
Pai: Não vai passar da hora.

Renan: O que eu faço é de uma forma rebelde. Meu pai não gosta de rebeldia.
Fantástico: Você não vai desistir do seu filho?
Mãe: Não, eu já falei isso pra ele. Aconteça o que acontecer, eu não desisto dele.
Fantástico: Você confia na educação que eles estão te dando?
Renan: Confio. Querendo ou não, é pai e mãe. Eles estão sempre certos.

Mas, apesar de concordar com os pais, Renan deixa uma incerteza no ar.

Fantástico: O que você pretende dizer a eles em relação a isso se você já viu o susto e o sufoco que eles passaram vendo você ali?
Renan: Meu, pra mudar isso aqui, eu faço tudo.
Fantástico: É, então é complicado.
Pai: É complicado.

domingo, 15 de junho de 2014

RESPEITO E AUTORIDADE

REVISTA VEJA 18 de junho de 2014


LYA LUFT


Nem sempre é possível dialogar com uma criança enfurecida  ou um adolescente confuso, e uma dose de rigor pode pôr a coisas de novo em ordem, aliviando a situação.




































COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não é a toa que Lya Luft é uma das mais brilhantes colunistas do Brasil. Sua colocações nos levam a refletir atos e consequências do dia dia. O respeito e a autoridade estão em falta no Brasil pela condescendência exagerada diante de atos de desrespeito, desordem, afrontas, insultos, agressões, vandalismo, pichação, lesões corporais e homicídios e demais ilicitudes, especialmente os considerados de menor potencial ofensivo.  O educador perdeu sua autoridade para o aluno que desrespeita as minimas regras de educação e disciplina. Os vândalos e os pichadores não respeitam os proprietários, pois sabem que autoridade é fraca para coibir seus atos. O mesmo ocorre com os hooligans que agridem e promovem desordens em estádios de futebol, sabedores da leniência, descontrole e permissividade das leis e da justiça. E segue esta sensação de impunidade nos demais delitos, inclusive crimes passionais e hediondos, pela perda da autoridade e respeito às leis e à justiça por um Estado arrecadador, assistemático e negligente que quebrou o contrato social e que se lixa para as vítimas.

sábado, 14 de junho de 2014

NUNCA FOI TÃO FÁCIL FAZER UMA UNIVERSIDADE

REVISTA ISTO É N° Edição: 2325 | 14.Jun.14 - 00:30


Oferta de bolsas para instituições privadas e de financiamento estudantil bate recorde, mas especialistas questionam a qualidade dos cursos

Camila Brandalise



O vestibular e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) selecionam quem chega ao ensino superior. Uma vez superadas essas barreiras, permanecer na faculdade está deixando de ser problema para quem tem de arcar com as mensalidades em instituições particulares. A ampla oferta de bolsas de estudo e de financiamento estudantil bancados pelo governo federal, aliada aos subsídios de instituições privadas, tem permitido que o País tenha um contingente crescente de universitários. Dos cerca de cinco milhões de alunos matriculados em universidades particulares, no início do ano, um terço usufruía desses benefícios. Na semana passada, ocorreu a inscrição para a nova edição do Programa Universidade para Todos (Prouni) do governo federal. O número de bolsas cresceu 28% e o objetivo é colocar mais 115 mil brasileiros em instituições privadas no segundo semestre. Subiu também a procura: desta vez foram cerca de 600 mil inscrições contra 437 mil na metade de 2013. Somando as bolsas ofertadas para os dois semestres de 2014, mais de 300 mil pessoas serão beneficiadas com ajuda integral ou de 50% do valor da mensalidade. Na mesma linha, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), também do governo federal, possibilitou que mais de 1,7 milhão de brasileiros fizessem faculdade desde 1999, quando foi concebido. Em um ano, os contratos cresceram 47%.


BENEFICIADO
Cristiano Dantas faz medicina: ele conseguiu bolsa
integral para a mensalidade de R$ 5 mil

A bolsa não só torna mais fácil o acesso como pode ser a única chance de se chegar a uma graduação, pois é destinada a alunos de baixa renda. No caso do estudante de medicina Cristiano Dantas, 35 anos, uma boa nota no Enem e na redação garantiu a vaga no curso sonhado e na sua primeira opção, a Universidade Católica de Brasília. A mensalidade é de quase R$ 5 mil e sua bolsa pelo Prouni é integral. “Venho de escola pública e de família carente”, diz Dantas. “Não tinha a mesma formação do aluno de escola particular para conseguir entrar em uma universidade federal, extremamente concorrida, nem dinheiro para bancar uma instituição privada.”



O programa de fato amplia o acesso ao ensino superior – a quantidade de alunos beneficiados pelo Prouni ou pelo Fies se aproxima do número de matriculados em universidades públicas. Nem por isso deixa de suscitar dúvidas entre os especialistas. “A discussão entre os educadores é sobre a qualidade da formação, e em relação a isso ainda parece ser cedo para ter certezas”, afirma Renato Hyuda de Luna Pedrosa, pesquisador em educação superior pela Universidade Estadual de Campinas. Para Célio da Cunha, professor da Universidade Católica de Brasília e ex-assessor da Unesco, o desafio está mesmo ligado à qualidade. “O melhor caminho é fazer avaliações, tanto pelo poder público quanto pelos próprios centros de ensino”, diz.

Foto: Adriano Machado

quinta-feira, 12 de junho de 2014

ASSALTOS TRANSTORNAM COLÉGIOS TRADICIONAIS EM PORTO ALEGRE

ZERO HORA 12/06/2014 | 06h01

por Humberto Trezzi

Série de roubos teve caso mais grave na terça-feira, com tiroteio entre bandidos e Brigada em escola




Diante do ambiente de ameaça, instituições educacionais buscam reforçar a segurançaFoto: Fernando Gomes / Agencia RBS


A tranquilidade de uma das áreas de Porto Alegre que concentra colégios de renome tem sido abalada pela ação de ladrões. Uma série de assaltos nos últimos meses marcou o triângulo formado pelas escolas Anchieta, Monteiro Lobato e Província de São Pedro, no bairro Boa Vista, na Zona Norte.

Em abril, houve duas ocorrências. Numa, ladrões armados levaram um carro. Noutra, roubaram a bolsa de uma mulher, em frente à criança de cinco anos que ela levava para a escola. Os dois casos ocorreram na Rua 14 de Julho e próximo à Praça Ephrain Pinheiro Cabral, entre os colégios Monteiro Lobato e Província de São Pedro.

O mais recente se deu nesta semana. Na manhã de terça, um tiroteio entre bandidos e Brigada Militar ocorreu a menos de cem metros do Província de São Pedro. Dois ladrões tentaram roubar o carro de uma mulher que chegava ao local para deixar seus dois filhos na escola. Ao presenciar o crime, um policial militar à paisana deu voz de prisão aos assaltantes, que começaram a disparar. O PM revidou. Ninguém ficou ferido.

Uma mulher que testemunhou o assalto postou seu pavor numa rede social: "Depois de deixar M. (a filha) na escola, presencio um tiroteio na Marechal Andrea com 14 de Julho. Foi tudo na minha frente, não tinha como fugir, pois estava tudo engarrafado. O ladrão passou ao meu lado de arma em punho e se escorou ao meu lado! Achei que ia pegar meu carro para fugir!"

O colégio prestou assistência à mãe vítima do assalto e solicitou que os pais tenham cuidado nas ruas próximas à escola na hora de estacionar para deixar os filhos.

– Nossa preocupação maior é a vida, ensinar para a vida. Agora, da porta para fora, vemos esse ambiente de ameaça. Infelizmente, algo tem de ser feito – desabafa o diretor-administrativo da escola, Guilherme Peretti.

Comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, que patrulha esta área da Zona Norte, o tenente-coronel Eduardo Biacchi Rodrigues admite que a região é alvo preferencial de ladrões de automóveis. Foram 895 veículos roubados na área do batalhão nos cinco primeiros meses de 2013, número reduzido para 692 no mesmo período deste ano.

Contribuíram para a diminuição a criação de uma patrulha escolar e também o patrulhamento feito por policiais à paisana. Com relação ao bairro Boa Vista, não está entre os mais visados pelos criminosos: somente 2% dos veículos foram roubados ali.

– Vamos reforçar o policiamento da região – diz Biacchi.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

EFEITO MARACANÃ

O GLOBO 09/06/2014 6:00

ANTONIO GOIS


De 1950 a 2014, nossa educação viveu fenômeno oposto ao dos estádios padrão Fifa: massificou-se, mas perdeu qualidade


‘Me chama de Copa e investe em mim. Assinado: educação.” Nas manifestações de junho do ano passado, esse foi um dos cartazes mais replicados pelo país entre aqueles que cobravam para nossas escolas o mesmo padrão Fifa de qualidade que estava sendo entregue aos estádios.

Tanto no futebol quanto na educação, há quem sinta saudade dos tempos em que o Brasil sediou seu primeiro Mundial. O curioso é que, de lá para cá, nossas escolas públicas sofreram uma espécie de efeito Maracanã ao contrário: perderam qualidade, mas ficaram mais democráticas.

No dia mais triste do futebol brasileiro, quando perdemos a Copa de 1950 para o Uruguai, 200 mil torcedores sofreram mal-ajambrados no recém-inaugurado Maracanã. Depois de sucessivas reformas que consumiram mais e mais recursos públicos, a lotação caiu para 79 mil pessoas, e o estádio foi se elitizando até chegar ao atual padrão Fifa, em que poucos têm acesso aos jogos, mas com conforto incomparável ao que se via no passado.

Enquanto isso, a educação pública trilhava caminho oposto. Há 64 anos, segundo estatísticas do IBGE, havia 4,9 milhões de alunos matriculados no que hoje chamamos de ensinos fundamental e médio. Considerando que a população de 5 a 19 anos, em 1950, era de 19 milhões de brasileiros, podemos estimar que apenas um em cada quatro crianças ou jovens estudava. Atualmente, nessa mesma faixa etária, há 49 milhões de brasileiros, e 87% deles estão matriculados em algum nível de ensino.

O atraso brasileiro na educação não foi fruto do acaso. Em 1950, 51% da população adulta não sabiam ler e escrever. Nos Estados Unidos daquele mesmo ano, essa proporção era de apenas 3%, patamar que até hoje não conseguimos alcançar. A taxa mais recente de analfabetismo divulgada pelo IBGE foi de 9%.

Não há dados objetivos para comparar a qualidade do ensino de meados do século passado com a de agora, mas, pelos relatos de quem estudou nas escolas públicas daquele período e por circunstâncias que nunca mais se repetiram em nossa História, é razoável supor que tivemos uma época de ouro na educação, ao menos para uma minoria de alunos.

Um dos fatores que contribuíram para isso foi o perfil dos professores. Em 1950, o magistério era ainda uma profissão de prestígio e uma das poucas a abrir suas portas para as mulheres. Aos poucos, no entanto, a carreira foi ficando menos atrativa em termos salariais. Além disso, uma parcela da força de trabalho feminina que antes tinha como única opção ser professora foi superando barreiras e conquistando espaço em outras profissões universitárias.

Esse movimento veio acompanhado do aumento das matrículas. A educação pública foi ficando menos excludente, e nela passaram a ingressar mais filhos de pais de instrução precária e dos mais pobres entre os pobres do país. Ainda estamos longe de garantir um ensino universal de qualidade, mas nas escolas públicas, ao menos no nível fundamental, há espaço para todos.

Vai ter Copa, e minha camisa do Brasil já está separada. O fato de confrontarmos os investimentos no esporte chamado de paixão nacional com a situação do ensino público é um sinal positivo de que estamos amadurecendo e, aos poucos, colocando as prioridades em seus devidos lugares. É hora mesmo de cobrar um padrão alto de qualidade na educação. Para todos.

sábado, 7 de junho de 2014

A PROVA DA EDUCAÇÃO


ZERO HORA 7 de junho de 2014 | N° 17821


EDITORIAL


O aumento de recursos aprovado agora será insuficiente para qualificar o ensino, se o Brasil não corrigir também as sérias deficiências de gestão.


O Brasil será submetido a um novo teste anual na área da educação, sem o direito de ser reprovado, sob pena de comprometer também metas e performances econômicas e sociais. Trata-se do compromisso, que o Congresso transformou em lei, de aplicar, daqui a cinco anos, pelo menos 7% do PIB em educação, ampliando este índice para 10% até 2024. É um objetivo a ser perseguido por União, Estados e municípios, para que o país quase duplique, em uma década, o que destina hoje ao ensino formal. Num primeiro momento, pode parecer que, por força legal, o país se encaminha finalmente para a resolução de todas as deficiências no setor. Mas será preciso bem mais do que verbas para fazer correções num sistema de ensino que evolui aquém das suas possibilidades.

A decisão dos parlamentares de aprovar o Plano Nacional de Educação, com ênfase no aporte financeiro, tem o poder de explicitar uma prioridade que Executivo e Congresso passam a compartilhar. Fica evidente que governos e congressistas finalmente concordam com a constatação de que o Brasil é retardatário, mesmo em relação aos vizinhos, em investimentos em educação. Mas também está claro, a partir da análise de especialistas, que o aumento automático de recursos não será suficiente para se traduzir na qualificação do ensino. Alguns dados comprovam essa observação, feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que tem avaliado o desempenho de um conjunto de países e a relação entre PIB e ensino.

Um exemplo concreto é o que permite uma tentativa de comparação entre Brasil e Suíça. O Brasil investe em torno de 5,7% do PIB em educação, e a Suíça, 5,5%. A semelhança acaba aqui. A Suíça aplica, em termos absolutos, quatro vezes mais por aluno da rede pública. A verdadeira medida da prioridade deve, portanto, levar em conta também outros fatores, como o tamanho efetivo do PIB em relação à população, a renda e a idade médias e as estruturas existentes. Um país como o Brasil, com muito ainda a ser feito, não pode cair no erro dos que, por pressa ou desinformação, tentam confrontar nossos investimentos com os de nações altamente desenvolvidas. O que deve ser feito, como recomenda a OCDE, é o confronto da qualidade das aplicações, e é nisso que o Brasil tem sido reprovado.

São muitos os exemplos de deficiências. Ainda investimos pouco e mal no ensino básico, em relação à prioridade dos últimos anos no Ensino Superior. Temos carências crônicas de acesso à pré-escola. Formamos mal os professores que, em muitos casos, são precariamente remunerados. Além de aumentar o volume de recursos, o país precisa priorizar a qualificação da gestão do ensino, dos grandes programas à administração escolar. Melhorar a educação é também combater o desperdício, potencializar estruturas subaproveitadas, adequar métodos e tecnologias aos novos tempos e valorizar concretamente quem ensina.

EM RESUMO

Editorial reconhece decisão de governo e Congresso de dar prioridade à educação, com a ressalva de que a relação entre PIB e investimentos não dá a medida exata dos resultados.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

ESCOLA RETORNA AS ATIVIDADES SUSPENSAS PELA VIOLÊNCIA

DIÁRIO GAÚCHO 06/06/2014 | 08h02

Cristiane Bazilio

Escola municipal de Gravataí retoma as atividades suspensas por conta da violência. Escola Olenca Valente ficou fechada três dias por vandalismo e ameaça aos professores



Apenas a metade dos alunos voltou às atividades escolaresFoto: Cristiane Bazílio / Diário Gaúcho



Recomeçaram ontem as aulas na Escola Municipal Professora Olenca Valente, no Bairro Vila Rica, em Gravataí, após três dias de atividades suspensas por conta de ataques de vandalismo e ameaças sofridas pelos professores. Mas, se os portões foram abertos novamente, a quantidade de alunos que passaram por eles mal chegou a 50% do total de cada turma. Otimista, a diretora, Silvana Madeira Splett, acredita que o fato não está relacionado à insegurança da comunidade.

- Temos que levar em conta que foi um dia de muita chuva, e o bairro fica debaixo d'água quando chove. Os pais estão do nosso lado, nos deram todo apoio. Eles compareceram à assembleia e se tranquilizaram com as medidas que foram estabelecidas - afirmou.

A assembleia, realizada na manhã de quarta-feira, foi convocada pela direção por carta aberta enviada às autoridades do município após o colégio sofrer, no sábado passado, o décimo ataque desde o início do ano. Ironicamente, na madrugada de quarta, a escola foi novamente invadida e depredada - duas invasões em quatro dias. Em ambas,
portões foram quebrados, um muro destruído, um colchão queimado e salas de aula arrombadas. Paredes foram pichadas com palavrões e ameaças.

A reunião com representantes da prefeitura, das secretarias Municipal da Educação e da Segurança e da Guarda Municipal tranquilizou a comunidade. A Smed informou que reforçou as medidas de segurança do local, anunciou a instalação de alarmes e que, nos próximos meses, será aberto um concurso público para o cargo de vigia.

- O muro destruído foi levantado novamente, o portão lateral está sendo recolocado, e um guarda já está fazendo a segurança da escola até as 19h. Está tudo dando certo - comemorou Silvana no primeiro dia de retomada das aulas.

Ameaça de morte instaurou o medo

A vice-diretora, Márcia Helena Frohlich, afirmou que, depois dos últimos dois ataques, o medo tomou conta de toda a equipe de profissionais da escola. O motivo foram as pichações. Além de palavrões, havia ameaças de morte aos professores. "Morram, professores", "isto é só o começo", "professores de b...", foram alguns dos insultos.

- Já perdemos televisão, computador, rádio, ventilador, micro-ondas... Desta vez, não houve roubos, só destruição. Inclusive, queimaram um colchão dentro de uma sala de aula. Mas o baque maior foi causado pelas ameaças, isso nunca tinha acontecido. Por isso, decidimos parar até que algo fosse feito para garantir nossa segurança - disse.

Mas, enquanto a secretaria cuida das obras maiores, os reparos menores, como pintura das salas de aula para apagar as pichações, conserto das fechaduras, reposição de cadeados, entre outros, saem da verba da escola.

- Já foram mais de R$ 2 mil. É mais do que a média da verba que recebemos. Isso sem contar que não repusemos nada do que foi roubado, porque não temos condições financeiras pra isso - diz a diretora Silvana.

"A comunidade sabe, mas não temos como provar"

Para a vice-diretora, os ataques de sábado não têm a mesma autoria de outros que já acometeram a escola desde janeiro. Para ela, enquanto as invasões com roubos podem estar relacionadas ao tráfico da região, as depredações e ameaças recentes aos professores vêm de dentro da própria escola.

- São alunos da comunidade, quatro ou cinco pessoas que fazem esse tipo de coisa por algum acontecimento pontual, alguma insatisfação. Com a ajuda da nossa orientadora, vamos tentar ir atrás das famílias desses jovens e tentar resgatá-los.

Márcia diz que a comunidade sabe quem são os autores dos roubos e, também, quais os alunos envolvidos. Mas ninguém fala. O delegado Paulo Costa Prado, da 2ª DP de Gravataí, credita o silêncio da comunidade ao medo, o que dificulta as investigações.

- É a velha história da lei do silêncio. Ninguém quer se comprometer. Mas a equipe de investigação está trabalhando para identificar suspeitos, ao menos extraoficialmente. Podem ser alunos insatisfeitos, ex-alunos e pessoas ligadas ao tráfico. Não descartamos nenhuma hipótese – disse.

Enquanto isso, a Brigada Militar garante que intensifica o patrulhamento no local para coibir a ação dos bandidos.

- Atendendo a esta demanda, estamos intensificando o patrulhamento à noite. Estamos tendo todo o cuidado para que isso não vire uma epidemia – salientou o comandante do 17º BPM, Vanderlei Mayer Padilha.

Retorno vigiado

Funcionária da escola Olenca Valente e mãe de um aluno portador de autismo, Lenise Santos de Brito admite que o clima é de tensão após os ataques.

- A sensação é de medo, de insegurança, mas, antes de tudo, de muita tristeza cada vez que chegamos para trabalhar e vemos a escola que cuidamos com tanto carinho destruída - diz ela.

A mãe de Rhamises Marcos Brito dos Santos, sete anos, revela que só permitiu que seu filho retornasse à escola porque poderá vigiá-lo de perto.

- Se eu não trabalhasse aqui, não deixaria ele vir sozinho.


DIÁRIO GAÚCHO

terça-feira, 3 de junho de 2014

LIÇÃO DE MÁ GESTÃO



ZH 03 de junho de 2014 | N° 17817


EDITORIAL



Os gestores que autorizaram os gastos com as lousas digitais sem o devido planejamento deveriam ser responsabilizados.

Ocaso das lousas digitais adquiridas pelo Ministério da Educação (MEC) e há mais de um ano sem uso na maioria das escolas contempladas por falta de preparo dos educadores é um exemplo didático de má gestão e desperdício de dinheiro público. Só na rede estadual gaúcha, foram investidos mais de R$ 3 milhões no material, distribuído em sua maioria na Região Metropolitana. A questão é que o treinamento dos professores, de responsabilidade da Secretaria Estadual da Educação, só está previsto para começar na segunda quinzena deste mês. Enquanto isso, equipamentos capazes de propiciar um salto tecnológico em sala de aula e, também, de se tornarem obsoletos em pouco tempo, continuam em grande parte guardados em armários, sem uso, o que evidencia, no mínimo, inépcia dos administradores públicos.

Uma das razões mais citadas para justificar o crescente desinteresse dos alunos em relação aos conteúdos didáticos é a falta de uso de recursos mais próximos de seu cotidiano, como os que estão acostumados a acessar por computadores ou por equipamentos móveis. Entre as vantagens da novidade, semelhante a um grande monitor, inclui-se justamente o fato de transformar o que é projetado na parede da sala de aula em uma tela sensível ao toque, com a alternativa de permitir interação com o conteúdo projetado. Além disso, a inovação assegura acesso à internet, o que abre caminho para uma série de vantagens em relação ao giz e ao quadro-negro, como o uso de vídeos e a realização de viagens virtuais a museus, por exemplo.

Mesmo com a perspectiva de abrir esse mundo de possibilidades, são raríssimos os casos em que, por iniciativa própria da escola ou de professores, as lousas estão sendo utilizadas – ainda assim, sem a plena capacidade. Há relatos de que o equipamento é usado como um simples projetor ou de que estragou e até hoje não foi consertado. Todos eles confirmam a falta de planejamento que costuma estar associada a decisões oficiais em diferentes áreas. E na educação, como se sabe, o Estado não pode mais vacilar, pois vem perdendo sucessivas posições no ranking nacional.

No caso específico das lousas digitais, a intenção é elogiá- vel, pois o equipamento tem potencial tanto para facilitar o trabalho de quem educa quanto para ampliar o interesse dos alunos pelo que é ministrado em sala de aula. Por isso, os gestores que autorizaram os gastos sem o devido planejamento – do ministro aos secretários de Educação – devem explicações à sociedade.



EM RESUMO

Editorial critica o fato de equipamentos adquiridos para escolas há mais de um ano se encontrarem sem uso por falta de treinamento dos professores.


segunda-feira, 2 de junho de 2014

AJUDAR NAS LIÇÕES DOS FILHOS PODE PREJUDICAR RENDIMENTO

REDE GLOBO, FANTÁSTICO 01/06/2014 22h15

Estudo afirma que ajudar nas lições dos filhos pode prejudicar rendimento. Ajudar na lição de casa pode mascarar dificuldade ou dúvida das crianças. Especialistas dão algumas dicas de como os pais podem ajudar os filhos.




“Isso, ponto. Acabou a frase coloca o ponto.”, diz a mãe Fernanda Greco.

Poucos pais conseguem participar tanto assim da vida escolar.

Fantástico: Quem que você gosta mais que te dê aula?
Manuela Greco, 7 anos: A minha mãe.

A Fernanda é uma mãe que tem tempo para fazer a lição junto com as filhas.

Fantástico: Você consegue todos os dias, dar essa atenção?
Fernanda Greco: todos os dias, de segunda a sexta-feira.

Fernanda é fotógrafa, só trabalha nos fins de semana. Já ajudou muito a filha Carol, de 14 anos. Principalmente, quando ela passou de um colégio considerado fraco para outro muito mais puxado.

“Ela estava ruim mesmo em história e eu também não sabia da matéria. Eu falei: me dá o livro aqui, eu vou aprender. Aprendi, estudei com ela, foi a melhor nota da sala de aula”, diz Fernanda.

Fantástico: Carol, se a mamãe não ficar cobrando você estuda assim mesmo?
Carolina Greco, 14 anos: Não tanto
Fantástico: Não tanto, né? Quer dizer, é importante também ela pegar no pé.
Carolina Greco, 14 anos: É.

Sociólogos avaliaram dados do governo americano sobre a participação dos pais

Mas será que acompanhar o ensino tão de perto é um jeito infalível de melhorar as notas dos filhos? Segundo um estudo feito nos Estados Unidos, a resposta é quase nunca!

Os sociólogos Keith Robinson e Angel Harris avaliaram dados do governo americano sobre a participação dos pais na vida escolar de 10 mil famílias de estudantes e cruzaram com o rendimento das crianças em leitura e matemática. O resultado foi surpreendente. Eles descobriram que ajudar na lição de casa pode prejudicar as notas. E isso também se aplica aos alunos brasileiros.

“Fazer, muitas vezes, a lição de casa junto com o filho mascara, por exemplo, para o professor que vai corrigir a lição, se foi ele mesmo que fez. Que dúvida ele está tendo, se ele não está tendo dificuldade naquele conteúdo”, explica Luciana Fevorini, doutora em psicologia da educação.

Pais podem ter aprendido as matérias de uma forma diferente

O professor Angel Harris, um dos autores do estudo, acrescenta um outro complicador: é que os pais podem ter aprendido as matérias de uma forma diferente. Então, mesmo com boas intenções, eles podem piorar as coisas.

Dicas para ajudar os filhos

Apesar das conclusões do estudo, isso não significa que a responsabilidade por um bom desempenho deva recair, totalmente, sobre o aluno. Os especialistas concordam que os pais podem e devem ajudar, e dão algumas dicas:

- Mostrar interesse pela vida escolar
- Ler para os filhos
- Conversar sobre a escola
- Valorizar o conhecimento

É o que faz a família Gotardo. Meu papel na verdade é mais checar se eles fizeram. ‘Rodrigo, fez? Tá tudo certo? Falta alguma coisa?’”, conta Andréa Gotardo, dentista.

“Minha maior dificuldade mesmo é a pergunta que eu às vezes não presto muita atenção”, revela Rodrigo Gotardo, de 11 anos.

Os pais só ajudam quando os filhos pedem.

"Outro dia ele falou: ‘pai, o que é ditongo’, eu falei: também não sei o que é ditongo. Eu estudei isso há muito tempo, não sei. Vamos procurar, quem sabe?”, diz o pai de Rodrigo.

Importância de estar interessado na vida escolar do filho

“Quando você mostra que tá interessado na vida escolar, você pergunta sobre o dever de casa, participa da reunião de pais, você mostra que seu filho é importante pra você. Isso se reflete também na motivação para estudar, no desejo de aprender mais, até na vontade de ir pra escola, para poder chegar em casa e poder mostrar notas melhores”, diz a educadora Andrea Ramal.

“Eu tirei tudo A, então não teria outro jeito de tirar melhor” diz Rafaela Gotardo, de 8 anos.

E se os pais não têm todas as respostas, não devem se sentir culpados.

“É importante que a educação seja compartilhada entre família e escola. Nem a escola pode achar que a responsabilidade é inteiramente da família ou inteiramente dela, nem a família vice versa”, explica Luciana Fevorini.

AS LOUSAS CHEGARAM. O TREINAMENTO, NÃO


ZERO HORA 02 de junho de 2014 | N° 17816

KAMILA ALMEIDA

EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA QUASE SEM USO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO gastou cerca de R$ 3 milhões na compra de 1,6 mil equipamentos para escolas da rede pública estadual, mas professores não sabem como utilizar


Uma sacada tecnológica para tornar as aulas mais atraentes nas escolas públicas jaz em armários do Rio Grande do Sul. A lousa digital, distribuí- da há mais de um ano, tem tido pouca ou nenhuma utilidade nos colégios. O governo federal investiu cerca de R$ 3 milhões somente na rede estadual gaúcha, segundo Estado que mais recebeu equipamentos no país, conforme levantamento do Ministério da Educação (MEC) – o primeiro foi Minas Gerais.

Do total de 2,6 mil lousas digitais, 1,6 mil foram entregues há mais de um ano, principalmente na região metropolitana de Porto Alegre. O restante foi para a rede municipal de algumas cidades ou ainda não foi distribuído pelo MEC. Outras 490 serão distribuídas nas áreas rurais, ainda em 2014. É dever das secretarias estaduais formarem o corpo docente para trabalhar com a lousa. No Estado, os primeiros cursos devem ser ministrados a partir da segunda quinzena deste mês.

Indicada pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc) e pelo MEC como exemplo, a escola Paulo da Gama, no bairro Partenon, desistiu do uso em razão da complexidade do equipamento. Quando recebeu a lousa digital, Guy Barcellos, professor de biologia e seminários integrados e projetos para Ensino Médio, empolgou-se. Montou a estrutura e até tentou dar algumas aulas. Mas foi vencido pelas dificuldades. A lousa entregue pelo governo serviu apenas para terem a ideia de comprar outra mais funcional, por R$ 3 mil, com recursos do próprio ministério.

– Ela não funcionou direito. Nós estamos utilizando apenas para projeção, principalmente de filmes e documentários, pois tem um bom áudio, mas o recurso de interatividade, de tela digital, é canhestro – avalia Barcellos.

Em outra escola citada pelos órgãos federal e estadual como exemplo, o equipamento foi elogiado. A professora de matemática Maria Rosane Casanova é a única que opera a lousa digital na escola Aurélio Reis, no bairro Jardim Floresta, e afirma que “é muito viável e bastante necessária”, mas aprendeu a manuseá-la “na marra” e sozinha.

Em um levantamento aleatório com escolas estaduais de Porto Alegre, alguns professores disseram que receberam o equipamento mas aguardam instruções sobre como usar. Outros negaram. Na Escola Técnica Parobé também houve dificuldade. A lousa digital foi usada por três meses, mas uma peça do computador que projeta as imagens estragou e até hoje não houve conserto.

– Ela tem um uso interessante, mas não é fácil de lidar. Até os professores de informática tiveram dificuldades para montar – afirma a diretora Carmen Ângela Straliotto de Andrade.

Em Alvorada, a Escola Stella Maris recorreu a uma empresa particular para instruir os professores. Mara Rosane Noble Tavares, assessora do Núcleo de Tecnologia Educacional da coordenadoria da Seduc responsável pela Capital, confirma que os equipamentos ainda estão sem uso e há desconhecimento entre os diretores:

– Quando fizemos o pré-planejamento das formações, a maioria dos professores dizia que ainda não tinha recebido. Aí, eu dizia que ela deve ter sido entregue na época tal, parece uma caixinha de camisa. E eles respondiam: “Ah, sim, recebi”. Então, eu avisava para deixar à mão que, quando chamarmos para formação, saberiam como usá-la”.

Para o MEC, no entanto, já ocorreram treinamentos. Em nota, o ministério informou que há uma coordenação estadual para orientar e capacitar os professores e que em 2013 foram realizadas diversas oficinas pedagógicas com o objetivo de estimular e ensinar os professores a usarem as lousas digitais.




Aulas podem passar a incluir recursos como vídeos e mapas


Na escola Aurélio Reis, no bairro Jardim Floresta, além do dispositivo encaminhado pelo Ministério da Educação, há outras cinco lousas digitais à disposição para as aulas dos 210 alunos de Ensino Fundamental compradas com a verba que a própria direção pode decidir como gastar. Para a diretora Nássara Brum Pires, a tecnologia ajuda a organizar também a vida do professor, que pode preparar a aula e levá-la pronta, de casa, no pendrive.

De acordo com Maria Cristina Villanova Biasuz, coordenadora do curso de pós-graduação em Informática na Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), qualquer tecnologia inserida na sala de aula é interessante no momento em que o professor estiver preparado para usá-la e para tirar o melhor proveito. Por isso, a formação docente não deve ser pontual.

– Há necessidade de maior preparo para o professor, com formação continuada, mas não só para um equipamento específico. Não é simplesmente transpor a página do livro didático para um site sem conhecimento das possibilidades que a tecnologia agrega. Além de saber usar, tem que compreender que pode dar acesso a vídeos, mapas e imagens que agreguem informação em sala de aula.

BENEFÍCIOS NA PRÁTICA

O QUE É -Equipamento que transforma a parede onde a imagem é projetada em uma grande tela sensível ao toque, permitindo a interação com o conteúdo projetado. A lousa complementa o computador interativo, um dispositivo de projeção portátil. Além de ser um projetor, o equipamento tem teclado, mouse, portas USB, porta para rede wireless e unidade leitora de DVD. Permite acesso a internet, apresentação de materiais digitais armazenados no servidor da escola, compartilhamento de arquivos, gravação das aulas e apresentação de conteúdos gravados pelos professores em pendrive e exibição de vídeos em DVD.

COMO PODE SER USADA - A projeção interativa ajuda a tornar os desenhos mais atraentes e os conteúdos interessantes. Em uma aula de história do Rio Grande do Sul sobre a Revolução Farroupilha, por exemplo, é possível fazer a conexão com a internet a partir do computador. No meio da aula, surge uma dúvida: quem foi Anita Garibaldi? Uma pesquisa pode ajudar a contar a história da heroína farroupilha e fazer a ligação com o que está sendo estudado na sala de aula. A lousa deve ser aproveitada para conteúdos interativos, apresentando mapas, vídeos e imagens que agreguem à aula. Permite o acesso ao acervo de museus internacionais via internet.

domingo, 1 de junho de 2014

NÃO TOQUEM EM MACHADO DE ASSIS

REVISTA ÉPOCA,  29/05/2014 12h48





É uma hipocrisia apoiar adaptações de textos literários para facilitar a leitura. Porque ler nunca é fácil

LUÍS ANTÔNIO GIRON





Chego tarde à discussão sobre a legitimidade de adaptações de obras literárias do passado para facilitar a leitura das novas gerações. Mas não tenho como desviar de um assunto que só se torna relevante porque o Brasil continua a ser o país dos vira-latas (ou do neo-viralatismo) , dos espertalhões e do triunfo da ignorância. As adaptações de livros clássicos não passam de uma camada do aterro sanitário que entulha a cultura do país desde que os portugueses rezaram a Primeira Missa em Porto Seguro e constataram que a população local se mostrava dócil à evangelização. Dá asco pensar no tema, mas vou tapar o nariz e tentar manter a lucidez.

As políticas do livro e da educação nacionais são infames e parece que não irão melhorar nunca. Dessa forma, o futuro de nossa cultura já está traçado: caímos na tentação da visão antropológica que rebaixa o indivíduo a sua condição primitiva e não permite que ele saia do estágio folclórico e étnico a que está condenado desde o início dos tempos. Bons selvagens,os brasileiros são obrigado a celebrar as “manifestações culturais” mais primárias como se a população estivesse condenada sumariamente à fogueira de São João e ao trio elétrico.

Ora, esse ambiente sulfúrico torna coerente e até elogiável a facilitação da leitura - prefiro chamá-la de vulgarização. Afinal, para que submeter os jovens leitores ao sacrifício de ler Homero, Cervantes, Graciliano Ramos e Machado de Assis quando tudo pode ser resolvido numa narrativa direta e concisa no estilo? A vulgarização poupa trabalho do aluno e rende uma boa grana às editoras e aos autores das adaptações de obras de domínio público – que, do contrário, sairiam de graça para o leitor. A ideia de que rebaixar o ato de ler é um gesto culturalmente correto constitui um dos dois argumentos em confronto hoje na discussão das adaptações. O outro preconiza que os textos clássicos não podem ser alterados, pela própria sacralidade artística que eles contêm.

Obviamente, defendo o segundo argumento – embora não acredite na arte como religião. Se valer um testemunho, perdi muito tempo na minha infância e adolescência lendo Homero, Cervantes, Jack London e outros autores clássicos em adaptações de medalhões brasileiros como Clarice Lispector e Carlos Heitor Cony. Isso porque eu deveria ter lido os textos originais, ou pelo menos as traduções diretas. Acabei lendo bons textos de segunda mão de Cony e Clarice que não substituíram os originais. Antes, desviaram minha atenção.

É claro que não havia naquele tempo (como não há agora) edições didáticas desses textos. A produzir introduções, ensaios e notas sobre obras canônicas em edições críticas, as editoras brasileiras sempre preferiram a lei do menor esforço. Em vez de preparar e orientar o jovem leitor, as editoras lhe entregam edições embonecadas e facinhas. O resultado é o que vemos: cada vez mais jovens lendo baboseiras para jovens leitores – a chamada literatura para jovens adultos, uma literatura-salgadinho. O resultado é que os jovens adultos (e crianças) ignoram com crescente soberba os autores importantes. Afinal, para que enfrentar a dieta pesada de Guimarães Rosa se é possível devorá-lo em versão nacho com queijo?

Os jovens nutridos nessa formação rala e prejudicial ignoram também que ler é difícil. Trata-se de uma atividade que precisa ser elaborada ao longo dos anos. Envolve aprendizado, treinamento e, no caso do texto literário, vivência, intimidade com a natureza humana. Se a maior arte dos professores do ensino fundamental e médio do Brasil gostasse mesmo de ler, os estudantes entenderiam que o esforço vale a pena. Mais, que ler é mais compensador que jogar videogame ou assistir a uma série de televisão.

Tudo isso me faz pensar em postar as hashtags #NãoToqueemMachado, #NãoToqueemHomero e #NãotoqueemCervantes e assim por diante. Só de pensar que alguém possa alterar os textos canônicos me dá calafrios. Que dizer quando um professor apresenta um projeto desses ao governo federal e ganha milhões para executar Machado de Assis em praça pública em nome do consumo fácil das tribos autóctones analfabetas funcionais? É o último círculo do inferno. Não toquem na sutileza de Machado de Assis, na concisão de Graciliano Ramos e na complexidade de Guimarães Rosa. Tirem suas mãos porcas da pouca literatura que nos resta!

Luís Antônio Giron escreve às quintas-feiras