EDITORIAL JORNAL DO COMERCIO 30/04/2012
É triste quando os brasileiros não possam aprender a não ser sofrendo e praticando injustiças. É que o mal é o preceptor mais eficaz e que, com suas lições incisivas e penosa, nos confere juízo e prudência. Além disso e o melhor de tudo, dirige a Nação para o exercício da liberdade que prezamos, mas nem sempre praticamos. Ao contrário, muitos usam as liberdades legais e individuais para aumentar a miséria e a desgraça nacionais. Então, foi bem o Supremo Tribunal Federal (STF), considerando, por 10 a zero, constitucional o sistema de cotas raciais para ingresso de alunos afrodescendentes em universidades públicas. Estabelecer e manter cotas não é o ideal, no longo prazo. No entanto, o atalho é a maneira mais prática para se buscar um mínimo de nivelamento e diminuir a distância entre os negros e brancos e que surge, feito um fantasma dos séculos passados, a todo momento, nos diversos segmentos socioeconômicos. Ou as cotas ou manteríamos milhões de negros no obscurantismo. Somos responsáveis pela segregação de fato que ocorre com pobres e negros. Não podemos olhar para o lado e ignorar que são os pobres e negros que lotam cadeias, não frequentam escolas e não conseguem cursar uma faculdade, com exceções. Obter um bom emprego, então, é mais difícil, fechando um ciclo vicioso e que mantém na marginalidade tantos patrícios. Sem educação formal, sem acesso a empregos, passando necessidades e vivendo em meio à marginalidade das cidades, o que podemos esperar, amanhã, das crianças de hoje que vivem chafurdando em esgotos a céu aberto, em casebres que se desmancham nas chuvas fortes? Apenas o caminho inexorável da criminalidade.
Não temos ônibus para negros e brancos. Não temos banheiros separados. O Brasil não é um “Mississippi em chamas”, onde a Ku Klux Klan matava negros e pregava o ódio racial. No entanto, desde 13 de maio de 1888, quando a escravidão foi abolida pela princesa Isabel, os negros foram abandonados à própria sorte. A maioria era analfabeta, não sabia fazer nada além de trabalhos na fazenda ou na plantação e não tinha onde morar. Tanto que outros milhares continuaram a trabalhar para os mesmos senhores apenas por casa e comida. No século XX, os negros foram mantidos em um tipo de segregação natural. Sem alarde, mas não menos impiedosa de quando eram escravos oficialmente. O problema é que a situação constituída, o mal, seja qual for, não atinge a brancos e negros da mesma forma. Na pirâmide socioeconômica, quem frequenta o que há de melhor que o Estado pode oferecer são os que vêm de famílias abastadas. Por isso, sem ações afirmativas, como as cotas nas universidades e o Prouni, o Brasil não encurtaria o caminho rumo a um mínimo de igualdade para os mais pobres e os negros, geralmente as mesmas pessoas. Entretanto, não esperam os brasileiros, por maior que seja a boa intenção do sistema de cotas, que chegaremos a uma igualdade em pouco tempo nem a conhecer as verdades capitais e primitivas sobre a essência e natureza das coisas. É que mudarão os erros, as fábulas e teorias, mas nunca poderão alcançar conhecimentos tais no País que hajam de mudar a nossa natureza como povo e nos fazer diversos daquilo que fomos e do que somos.
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
domingo, 29 de abril de 2012
EDUCAÇÃO E LIBERDADE
Eliani Gracez, Filósofa clínica - ZERO HORA 29/04/2012
Entre os seres que vivem neste planeta, os humanos nascem sem identidade própria, sua identidade é construída a partir do modelo social vigente. O instinto de preservação e de identidade nos animais está interiorizado, e de si eles retiram seu próprio agir e modo de ser. Mas com a espécie humana não acontece o mesmo. Um exemplo disso são as meninas lobas encontradas em 1920 na Índia. Elas foram criadas pelos lobos e desenvolveram características de lobos e não de humanos. Isso justifica a importância da educação, e dos bons exemplos, porque os humanos não sabem tirar de si sua própria identidade, e por isso necessitam de um modelo para se desenvolver.
O que os jovens veem é corrupção, violência social, injustiça, impunidade, desrespeito às leis, e na televisão assistem a programas que não contribuem em nada com sua formação. Fácil está de perceber a inexistência de um modelo de Ser Humano para jovens e crianças se identificarem. O líder do rebanho não é mais um homem ou uma mulher, mas, sim, o computador.
Em uma época onde a moral e os valores são duvidosos, e o honesto é chamado de “boboca”, o indivíduo perde seu referencial, causando desestrutura pessoal. Ao culpar a família pela desestrutura da educação, é preciso lembrar que este modelo foi, desde longa data, opressor, e, muitas vezes, violento. Homens construíram uma estrutura machista em cima de uma base não sólida, por isso, mais cedo ou mais tarde, a casa teria que desabar. O moralismo do passado já não serve mais. E agora não sabemos o que fazer para estabelecer uma nova ordem. Em meio à desordem, as drogas estão se tornando uma epidemia. Mas o que leva uma pessoa a se tornar um consumidor de drogas? Talvez seja insegurança, imaturidade, irresponsabilidade, ausência de valores, falta de um ideal, desestrutura pessoal e familiar, curiosidade, fuga, modismo, e, sobretudo, problemas na educação. Um jovem bem educado sabe que a escolha certa é dizer não às drogas.
E agora, como restabelecer a ordem em meio ao caos? O fato é que este mundo já não é mais o mesmo, este velho planeta mudou. A mulher mudou, a criança mudou, o homem também mudou. E onde estão nossos idosos? Estão em um processo contrário, estão rejuvenescendo. A tecnologia tomou conta da vida. Computadores, máquinas informatizadas, inúmeros satélites rodeando o planeta. Tornamo-nos ciborgues e nos movemos simultaneamente no real e no virtual.
Com toda essa mudança que perpassa o planeta, nos esquecemos de nossas crianças, nos esquecemos de que elas também mudaram e não querem mais ser tratadas como no passado. A vida cheira a liberdade. Liberdade de ação, de expressão, de credo etc. Somos livres, sim.
E, com isso, deparamos com um grande desafio. O desafio de fazer uso da liberdade para o desenvolvimento, e não para a destruição. O problema tornou-se claro quando vemos jovens que não sabem administrar sua liberdade, usando drogas. O problema reside no conceito de liberdade, pois tem quem pense que liberdade é fazer o que bem entende da vida. Um prisioneiro só é prisioneiro porque não tem liberdade de escolha. Se tivesse, não seria prisioneiro, escolheria ser livre. Isso nos faz pensar que o lugar da liberdade reside no ato de fazer escolhas. Mas poucas são as pessoas educadas para compreender que cada escolha tem uma consequência. Para cada ação, existe uma consequente reação. Quem não pensa nas consequências não é livre, é prisioneiro de suas escolhas. Você já se perguntou o que seu filho fará com a liberdade dele? Sim, seu filho tem liberdade.
Como podemos pensar que jovens educados a partir de um conceito de liberdade equivocado, e com um modelo social corrupto, possam ter boa educação.
Entre os seres que vivem neste planeta, os humanos nascem sem identidade própria, sua identidade é construída a partir do modelo social vigente. O instinto de preservação e de identidade nos animais está interiorizado, e de si eles retiram seu próprio agir e modo de ser. Mas com a espécie humana não acontece o mesmo. Um exemplo disso são as meninas lobas encontradas em 1920 na Índia. Elas foram criadas pelos lobos e desenvolveram características de lobos e não de humanos. Isso justifica a importância da educação, e dos bons exemplos, porque os humanos não sabem tirar de si sua própria identidade, e por isso necessitam de um modelo para se desenvolver.
O que os jovens veem é corrupção, violência social, injustiça, impunidade, desrespeito às leis, e na televisão assistem a programas que não contribuem em nada com sua formação. Fácil está de perceber a inexistência de um modelo de Ser Humano para jovens e crianças se identificarem. O líder do rebanho não é mais um homem ou uma mulher, mas, sim, o computador.
Em uma época onde a moral e os valores são duvidosos, e o honesto é chamado de “boboca”, o indivíduo perde seu referencial, causando desestrutura pessoal. Ao culpar a família pela desestrutura da educação, é preciso lembrar que este modelo foi, desde longa data, opressor, e, muitas vezes, violento. Homens construíram uma estrutura machista em cima de uma base não sólida, por isso, mais cedo ou mais tarde, a casa teria que desabar. O moralismo do passado já não serve mais. E agora não sabemos o que fazer para estabelecer uma nova ordem. Em meio à desordem, as drogas estão se tornando uma epidemia. Mas o que leva uma pessoa a se tornar um consumidor de drogas? Talvez seja insegurança, imaturidade, irresponsabilidade, ausência de valores, falta de um ideal, desestrutura pessoal e familiar, curiosidade, fuga, modismo, e, sobretudo, problemas na educação. Um jovem bem educado sabe que a escolha certa é dizer não às drogas.
E agora, como restabelecer a ordem em meio ao caos? O fato é que este mundo já não é mais o mesmo, este velho planeta mudou. A mulher mudou, a criança mudou, o homem também mudou. E onde estão nossos idosos? Estão em um processo contrário, estão rejuvenescendo. A tecnologia tomou conta da vida. Computadores, máquinas informatizadas, inúmeros satélites rodeando o planeta. Tornamo-nos ciborgues e nos movemos simultaneamente no real e no virtual.
Com toda essa mudança que perpassa o planeta, nos esquecemos de nossas crianças, nos esquecemos de que elas também mudaram e não querem mais ser tratadas como no passado. A vida cheira a liberdade. Liberdade de ação, de expressão, de credo etc. Somos livres, sim.
E, com isso, deparamos com um grande desafio. O desafio de fazer uso da liberdade para o desenvolvimento, e não para a destruição. O problema tornou-se claro quando vemos jovens que não sabem administrar sua liberdade, usando drogas. O problema reside no conceito de liberdade, pois tem quem pense que liberdade é fazer o que bem entende da vida. Um prisioneiro só é prisioneiro porque não tem liberdade de escolha. Se tivesse, não seria prisioneiro, escolheria ser livre. Isso nos faz pensar que o lugar da liberdade reside no ato de fazer escolhas. Mas poucas são as pessoas educadas para compreender que cada escolha tem uma consequência. Para cada ação, existe uma consequente reação. Quem não pensa nas consequências não é livre, é prisioneiro de suas escolhas. Você já se perguntou o que seu filho fará com a liberdade dele? Sim, seu filho tem liberdade.
Como podemos pensar que jovens educados a partir de um conceito de liberdade equivocado, e com um modelo social corrupto, possam ter boa educação.
É POSSÍVEL TRANSFORMAR A EDUCAÇÃO PÚBLICA?
Claudia Costin, Secretária de Educação do Rio de Janeiro - ZERO HORA 29/04/2012
Num recente estudo da egípcia Mona Morshed, da McKinsey, a pesquisadora evidencia que diferentes redes de escolas públicas têm sucesso quando adotam medidas compatíveis com o estágio de avanço de seus sistemas escolares. Em outros termos: o receituário atual da Finlândia ou da Coreia não é o indicado para o Brasil.
O Brasil investiu pouco e tardiamente em Educação Básica. Em 1930, enquanto a Argentina tinha 62% das suas crianças nas escolas e o Chile chegava a 73%, nosso país contava com apenas 21,5%. Apenas em 1997 conseguimos universalizar o acesso das crianças de sete a 14 anos ao Ensino Fundamental. Mas, logo em seguida, um sério problema de qualidade colocou-se no processo de ensino. Finalmente haviam entrado nas escolas os filhos dos não letrados ou de pais com baixa escolaridade. Naércio Menezes, da Insper-SP, mostrou, em artigos recentes, que o sucesso escolar depende, em grande medida, da escolaridade dos pais. Este é o grande desafio da educação brasileira: como ensinar crianças cujos familiares, em muitos casos, não concluíram as séries iniciais do Ensino Fundamental. Certamente não é copiando fórmulas da Finlândia, país em que boa parte da população tem formação universitária.
Os dados educacionais brasileiros são reveladores: na última aplicação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) com resultados divulgados, constataram-se avanços importantes em relação aos exames anteriores, mas, entre os alunos do 5º ano, apenas 34,2% aprenderam o que deveriam em língua portuguesa e 32,6%, em matemática. No 9º ano, em língua portuguesa, a situação é pior: 26,3% dos alunos aprenderam o que deveriam e, em matemática, só 14,8%. No Ensino Médio, 28,9% dos estudantes dominam os conhecimentos em português. Em matemática, o pior resultado: 11%.
No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), teste organizado pela OCDE que permite avaliar a qualidade da educação oferecida aos jovens de 15 anos, o Brasil também tem mostrado avanços, desde sua primeira participação em 2000 até a mais recente, em 2009, quando fomos o terceiro país que mais avançou. Mas, mesmo assim, estamos apenas em 53º lugar, abaixo da Romênia e do México.
Quais são as nossas tarefas nesse contexto desafiador? Em primeiro lugar, estabelecer um currículo nacional claro, que deve ser adotado em todo o país e complementado com conteúdos regionais. Alfabetizar as crianças aos seis anos, como fazem as boas escolas privadas e, nos três primeiros anos, concentrar-se em ensino da língua e de matemática. Investir no professor, valorizando-o, capacitando-o e dando-lhe instrumentos para o processo de ensino. Manter um bom sistema de reforço escolar, voltado às crianças com mais dificuldade em aprender. Adequar a educação a cada fase do desenvolvimento da criança e do adolescente e evitar excesso de disciplinas com carga horária diminuta, fenômeno que assola o Ensino Médio.
Mais do que tudo, é fundamental termos persistência estratégica nos caminhos a serem seguidos para transformar a educação. Esta é uma área que apresenta resultados no médio e no longo prazo. Mas, para obtê-los, é fundamental afastar o fisiologismo vigente na máquina em muitos Estados e municípios e manter continuidade e consistência técnica nas políticas educacionais. É possível!
Num recente estudo da egípcia Mona Morshed, da McKinsey, a pesquisadora evidencia que diferentes redes de escolas públicas têm sucesso quando adotam medidas compatíveis com o estágio de avanço de seus sistemas escolares. Em outros termos: o receituário atual da Finlândia ou da Coreia não é o indicado para o Brasil.
O Brasil investiu pouco e tardiamente em Educação Básica. Em 1930, enquanto a Argentina tinha 62% das suas crianças nas escolas e o Chile chegava a 73%, nosso país contava com apenas 21,5%. Apenas em 1997 conseguimos universalizar o acesso das crianças de sete a 14 anos ao Ensino Fundamental. Mas, logo em seguida, um sério problema de qualidade colocou-se no processo de ensino. Finalmente haviam entrado nas escolas os filhos dos não letrados ou de pais com baixa escolaridade. Naércio Menezes, da Insper-SP, mostrou, em artigos recentes, que o sucesso escolar depende, em grande medida, da escolaridade dos pais. Este é o grande desafio da educação brasileira: como ensinar crianças cujos familiares, em muitos casos, não concluíram as séries iniciais do Ensino Fundamental. Certamente não é copiando fórmulas da Finlândia, país em que boa parte da população tem formação universitária.
Os dados educacionais brasileiros são reveladores: na última aplicação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) com resultados divulgados, constataram-se avanços importantes em relação aos exames anteriores, mas, entre os alunos do 5º ano, apenas 34,2% aprenderam o que deveriam em língua portuguesa e 32,6%, em matemática. No 9º ano, em língua portuguesa, a situação é pior: 26,3% dos alunos aprenderam o que deveriam e, em matemática, só 14,8%. No Ensino Médio, 28,9% dos estudantes dominam os conhecimentos em português. Em matemática, o pior resultado: 11%.
No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), teste organizado pela OCDE que permite avaliar a qualidade da educação oferecida aos jovens de 15 anos, o Brasil também tem mostrado avanços, desde sua primeira participação em 2000 até a mais recente, em 2009, quando fomos o terceiro país que mais avançou. Mas, mesmo assim, estamos apenas em 53º lugar, abaixo da Romênia e do México.
Quais são as nossas tarefas nesse contexto desafiador? Em primeiro lugar, estabelecer um currículo nacional claro, que deve ser adotado em todo o país e complementado com conteúdos regionais. Alfabetizar as crianças aos seis anos, como fazem as boas escolas privadas e, nos três primeiros anos, concentrar-se em ensino da língua e de matemática. Investir no professor, valorizando-o, capacitando-o e dando-lhe instrumentos para o processo de ensino. Manter um bom sistema de reforço escolar, voltado às crianças com mais dificuldade em aprender. Adequar a educação a cada fase do desenvolvimento da criança e do adolescente e evitar excesso de disciplinas com carga horária diminuta, fenômeno que assola o Ensino Médio.
Mais do que tudo, é fundamental termos persistência estratégica nos caminhos a serem seguidos para transformar a educação. Esta é uma área que apresenta resultados no médio e no longo prazo. Mas, para obtê-los, é fundamental afastar o fisiologismo vigente na máquina em muitos Estados e municípios e manter continuidade e consistência técnica nas políticas educacionais. É possível!
sábado, 28 de abril de 2012
IGUALDADE E DIFERENÇAS
CLÁUDIA LAITANO - ZERO HORA 28/04/2012
Há um desconforto incontornável com relação à política de cotas raciais nas universidades. Por um lado, as cotas obrigam o Brasil a admitir o apartheid soft que vigora em instituições universitárias (dou um doce para quem se formou na UFRGS com, digamos, 10% de colegas negros na turma). Por outro, as cotas são, em essência, uma confissão de fracasso: não conseguimos resolver nossos problemas de outro jeito, então vai como dá. Meritocracia é para quem pode.
Uma solução bem menos polêmica, mas muito mais complicada, seria corrigir as injustiças quando elas começam: na barriga da mãe (durante o pré-natal), na creche (quando ela é oferecida) ou na alfabetização, já que saúde e educação são, em tese, direitos garantidos pela Constituição. Às vezes, quando prendem um gênio do tráfico que montou uma complexa rede de negócios aos 17 ou 18 anos, fico pensando que a derrota nesses casos é dupla: ganhamos um criminoso, desperdiçamos um moleque empreendedor.
Imagine um país em que os alunos com mais talento para o estudo pudessem ser identificados e valorizados desde cedo, onde quer que estivessem. Na Alemanha, uma sociedade muito mais homogênea do que a nossa, as diferenças entre os alunos são levadas em conta na hora de encaminhá-los para a vida acadêmica. Quando termina o primário, a criança começa a definir a sua orientação profissional conforme o desempenho dos primeiros anos. Há três opções: a Hauptschule, em que os alunos são preparados para o ensino profissionalizante, a Realschule, que habilita a frequentar cursos superiores, e o Gymnasium, que propicia uma base mais avançada para a vida acadêmica. Há ricos e pobres em todos os níveis, em princípio (embora lá, como aqui, ricos tenham muito mais chances de driblar a falta de talento para os estudos do que os pobres).
O que o sistema alemão explicita é que há diferenças na aprendizagem, como em todas as habilidades humanas: há os com talento para ganhar dinheiro, há os que sabem lidar com pessoas, há os que são bons nos esportes, há os que vão revolucionar a física nuclear – e nem todos precisam estudar no mesmo lugar.
Vai bem o país que consegue oferecer as condições para que cada criança possa ser encaminhada a desenvolver (e identificar) seu potencial da melhor forma possível, independentemente de cor ou classe social.
Bom, esse é o sonho. Mas como é que a gente diz para um guri de 18 anos para esperar um pouquinho porque, quem sabe, daqui a 50 anos, se tudo mudar radicalmente agora, seu neto estará indo para a universidade por méritos próprios porque teve um ótimo ensino básico?
A melhor universidade brasileira, a USP, não está nem entre as 150 melhores do mundo. O país com mais universidades nesse ranking, os EUA, pratica ações afirmativas desde os anos 70. O Ensino Superior no Brasil é fraco e injusto há muito tempo (ou é justo a classe média estudar de graça e o pobre pagar?), e a culpa não é das cotas.
Há um desconforto incontornável com relação à política de cotas raciais nas universidades. Por um lado, as cotas obrigam o Brasil a admitir o apartheid soft que vigora em instituições universitárias (dou um doce para quem se formou na UFRGS com, digamos, 10% de colegas negros na turma). Por outro, as cotas são, em essência, uma confissão de fracasso: não conseguimos resolver nossos problemas de outro jeito, então vai como dá. Meritocracia é para quem pode.
Uma solução bem menos polêmica, mas muito mais complicada, seria corrigir as injustiças quando elas começam: na barriga da mãe (durante o pré-natal), na creche (quando ela é oferecida) ou na alfabetização, já que saúde e educação são, em tese, direitos garantidos pela Constituição. Às vezes, quando prendem um gênio do tráfico que montou uma complexa rede de negócios aos 17 ou 18 anos, fico pensando que a derrota nesses casos é dupla: ganhamos um criminoso, desperdiçamos um moleque empreendedor.
Imagine um país em que os alunos com mais talento para o estudo pudessem ser identificados e valorizados desde cedo, onde quer que estivessem. Na Alemanha, uma sociedade muito mais homogênea do que a nossa, as diferenças entre os alunos são levadas em conta na hora de encaminhá-los para a vida acadêmica. Quando termina o primário, a criança começa a definir a sua orientação profissional conforme o desempenho dos primeiros anos. Há três opções: a Hauptschule, em que os alunos são preparados para o ensino profissionalizante, a Realschule, que habilita a frequentar cursos superiores, e o Gymnasium, que propicia uma base mais avançada para a vida acadêmica. Há ricos e pobres em todos os níveis, em princípio (embora lá, como aqui, ricos tenham muito mais chances de driblar a falta de talento para os estudos do que os pobres).
O que o sistema alemão explicita é que há diferenças na aprendizagem, como em todas as habilidades humanas: há os com talento para ganhar dinheiro, há os que sabem lidar com pessoas, há os que são bons nos esportes, há os que vão revolucionar a física nuclear – e nem todos precisam estudar no mesmo lugar.
Vai bem o país que consegue oferecer as condições para que cada criança possa ser encaminhada a desenvolver (e identificar) seu potencial da melhor forma possível, independentemente de cor ou classe social.
Bom, esse é o sonho. Mas como é que a gente diz para um guri de 18 anos para esperar um pouquinho porque, quem sabe, daqui a 50 anos, se tudo mudar radicalmente agora, seu neto estará indo para a universidade por méritos próprios porque teve um ótimo ensino básico?
A melhor universidade brasileira, a USP, não está nem entre as 150 melhores do mundo. O país com mais universidades nesse ranking, os EUA, pratica ações afirmativas desde os anos 70. O Ensino Superior no Brasil é fraco e injusto há muito tempo (ou é justo a classe média estudar de graça e o pobre pagar?), e a culpa não é das cotas.
COTAS RACIAIS
EDITORIAL ZERO HORA 28/04/2012
Amelhor política afirmativa para a educação superior seria, sem dúvida, a qualificação do ensino básico. O ideal seria que todos os estudantes, ricos e pobres, negros e brancos, tivessem oportunidades iguais de se preparar para a universidade e para o mercado de trabalho. Mas a realidade brasileira não é essa. Todos sabemos que as parcelas mais carentes da população, em especial os negros, reconhecidamente segregados pelo racismo explícito do passado e pela discriminação velada do presente, só poderão recuperar parte do prejuízo se receberem compensações da sociedade e do poder público. Neste contexto, não poderia ser outra a decisão do Supremo Tribunal Federal, que, por votação unânime de seus ministros, considerou constitucional o critério de seleção por cotas raciais para o ingresso nas universidades públicas do país. O STF julgou na última quinta-feira que políticas afirmativas não violam o princípio da igualdade nem institucionalizam a discriminação racial, como defendiam os proponentes da ação.
A decisão é mais complexa do que a unanimidade dá a entender. Num país em que apenas 6,1% da população se autodefine como negra, conforme o censo do IBGE, os 45,1% que se autodeclaram pardos correm o risco de serem discriminados pelo próprio sistema de cotas. Além disso, como a inscrição dos cotistas depende muitas vezes da autodeclaração, algumas universidades chegaram até a criar verdadeiros tribunais raciais para coibir fraudes. Outra questão difícil de resolver é a queixa de candidatos brancos e pobres que se sentem prejudicados pela escolha baseada na cor da pele e defendem ações afirmativas condicionadas a critérios socioeconômicos – o que algumas instituições já observam.
Apesar das controvérsias, as políticas compensatórias ainda são necessárias em nosso país, embora não devam ser vistas como solução permanente para as disparidades. São, apenas, atenuantes, que devem funcionar enquanto as disparidades não forem corrigidas pelo desenvolvimento e pelas oportunidades de ascensão social da população. Ações afirmativas de autoestima também precisam ser desenvolvidas, para que as minorias beneficiadas por medidas legais não se sintam constrangidas nem tentadas a incorporar a benesse temporária. Como disse a ministra Cármen Lúcia em seu voto, “para ser igual e livre, é preciso respeitar as diferenças, mas não fazer das diferenças algo que possa ferir nossa dignidade”.
Ao dar o seu aval para que as universidades brasileiras continuem reservando vagas para negros e índios em seus processos de seleção de alunos, o Supremo Tribunal Federal indica aos legisladores brasileiros que a busca da igualdade e o combate a qualquer forma de preconceito e discriminação têm que ser objetivos permanentes – até para que não se precise mais apelar à desigualdade como forma de compensar injustiças.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Quem defende a democracia e o princípio da igualdade não pode concordar com cotas raciais em qualquer setor. O tratamento diferenciado deveria ser estabelecido na condição financeira e não na cor das pessoas. Há afrodescendentes que são ricos e podem usar a cota e pessoas brancas que são pobres e não conseguem brechas para cursar e se manter numa universidade. O Editorial acerta em defender uma qualificação do ensino básico. No blog defendemos o ensino multidisciplinar (conhecimentos científicos, artísticos, desportivos, técnicos e sociais) e profissionalizante (sobrevivência financeira e inclusão no mercado de trabalho), com a sociedade exigindo CONTRAPARTIDAS de todo universitário formado as expensas do Estado. Ou seja, a prestação de serviços comunitários de quatro horas na área de formação por um tempo mínimo de dois anos, será a retribuição ao povo nas áreas vitais como educação, saúde, social, saneamento, justiça, etc, com um potencial humano qualificado, aumentado e renovado todos os anos.
Amelhor política afirmativa para a educação superior seria, sem dúvida, a qualificação do ensino básico. O ideal seria que todos os estudantes, ricos e pobres, negros e brancos, tivessem oportunidades iguais de se preparar para a universidade e para o mercado de trabalho. Mas a realidade brasileira não é essa. Todos sabemos que as parcelas mais carentes da população, em especial os negros, reconhecidamente segregados pelo racismo explícito do passado e pela discriminação velada do presente, só poderão recuperar parte do prejuízo se receberem compensações da sociedade e do poder público. Neste contexto, não poderia ser outra a decisão do Supremo Tribunal Federal, que, por votação unânime de seus ministros, considerou constitucional o critério de seleção por cotas raciais para o ingresso nas universidades públicas do país. O STF julgou na última quinta-feira que políticas afirmativas não violam o princípio da igualdade nem institucionalizam a discriminação racial, como defendiam os proponentes da ação.
A decisão é mais complexa do que a unanimidade dá a entender. Num país em que apenas 6,1% da população se autodefine como negra, conforme o censo do IBGE, os 45,1% que se autodeclaram pardos correm o risco de serem discriminados pelo próprio sistema de cotas. Além disso, como a inscrição dos cotistas depende muitas vezes da autodeclaração, algumas universidades chegaram até a criar verdadeiros tribunais raciais para coibir fraudes. Outra questão difícil de resolver é a queixa de candidatos brancos e pobres que se sentem prejudicados pela escolha baseada na cor da pele e defendem ações afirmativas condicionadas a critérios socioeconômicos – o que algumas instituições já observam.
Apesar das controvérsias, as políticas compensatórias ainda são necessárias em nosso país, embora não devam ser vistas como solução permanente para as disparidades. São, apenas, atenuantes, que devem funcionar enquanto as disparidades não forem corrigidas pelo desenvolvimento e pelas oportunidades de ascensão social da população. Ações afirmativas de autoestima também precisam ser desenvolvidas, para que as minorias beneficiadas por medidas legais não se sintam constrangidas nem tentadas a incorporar a benesse temporária. Como disse a ministra Cármen Lúcia em seu voto, “para ser igual e livre, é preciso respeitar as diferenças, mas não fazer das diferenças algo que possa ferir nossa dignidade”.
Ao dar o seu aval para que as universidades brasileiras continuem reservando vagas para negros e índios em seus processos de seleção de alunos, o Supremo Tribunal Federal indica aos legisladores brasileiros que a busca da igualdade e o combate a qualquer forma de preconceito e discriminação têm que ser objetivos permanentes – até para que não se precise mais apelar à desigualdade como forma de compensar injustiças.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Quem defende a democracia e o princípio da igualdade não pode concordar com cotas raciais em qualquer setor. O tratamento diferenciado deveria ser estabelecido na condição financeira e não na cor das pessoas. Há afrodescendentes que são ricos e podem usar a cota e pessoas brancas que são pobres e não conseguem brechas para cursar e se manter numa universidade. O Editorial acerta em defender uma qualificação do ensino básico. No blog defendemos o ensino multidisciplinar (conhecimentos científicos, artísticos, desportivos, técnicos e sociais) e profissionalizante (sobrevivência financeira e inclusão no mercado de trabalho), com a sociedade exigindo CONTRAPARTIDAS de todo universitário formado as expensas do Estado. Ou seja, a prestação de serviços comunitários de quatro horas na área de formação por um tempo mínimo de dois anos, será a retribuição ao povo nas áreas vitais como educação, saúde, social, saneamento, justiça, etc, com um potencial humano qualificado, aumentado e renovado todos os anos.
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA
Eleane Facco Mattiazzi, professora - ZERO HORA 28/04/2012
Cheguei à sala de aula cheia de entusiasmo. Lidar com a situação de aprendizagem e com o conhecimento me faz sentir viva. O contexto escolar exerce um fascínio em minha vida. A prática do ensino-aprendizagem é um desafio e o dia a dia com os alunos me torna aprendiz. O contato com eles me desperta o desejo de aprender.
Nesse dia, iríamos discutir sobre a forma de composição do código de barras, que, passado em um leitor óptico, gera informação – como o valor da mercadoria em um estabelecimento comercial. O código de barras foi criado nos Estados Unidos e chegou ao Brasil em 1984. É composto de um sistema de numeração binário e, daquela data até nossos dias, já sofreu inúmeras atualizações e transformações.
De repente, deparei com a brutal realidade! Um aluno pediu licença para usar o seu celular, pois o mesmo possuía leitor óptico. Espantei-me! “O seu celular faz isso?” Aí, ele mostrou. A surpresa me reportou à infância.
Conheci a luz elétrica aos seis anos de idade. A televisão, aos 10. E o computador, há 22 anos. Seria desnecessário dizer que uma revolução no mundo tecnológico aconteceu. E nós, educadores? E eu, educadora, de que maneira conti- nuar somente com o quadro e o giz? Com certeza, existem momentos em que tais recursos são indispensáveis, porém não posso me considerar o centro das atenções, expondo um conteúdo no quadro ou com auxílio bibliográfico quando o meu aluno (a etimologia da palavra já não condiz com o contexto), já não é mais aluno. Ele é, sim, uma pessoa portadora de conhecimentos – os quais, às vezes, nem imaginamos que detém. Principalmente no que se refere à ciência tecnológica. Por isso, não temos mais que dar aulas, e sim construir o conhecimento junto com nossos alunos.
O nosso ensino engatinha atrás das tecnologias disponíveis. As escolas já disponibilizam laboratórios de informática. A banda larga também está lá, o Datashow, a televisão... E, muitas vezes, são negligenciados e não configuram a prática do professor. Então, como aprendizes que somos, urge que nos apossemos de tais recursos, pois os educandos são conhecedores e exploradores desse universo tecnológico e midiático.
Nós, educadores, só seremos proficientes quando estivermos aptos a utilizar em nosso cotidiano pedagógico um mínimo das tecnologias disponíveis. Até mesmo um celular (podendo ser de um aluno) com leitor óptico, que seja capaz de ler um código de barras.
Cheguei à sala de aula cheia de entusiasmo. Lidar com a situação de aprendizagem e com o conhecimento me faz sentir viva. O contexto escolar exerce um fascínio em minha vida. A prática do ensino-aprendizagem é um desafio e o dia a dia com os alunos me torna aprendiz. O contato com eles me desperta o desejo de aprender.
Nesse dia, iríamos discutir sobre a forma de composição do código de barras, que, passado em um leitor óptico, gera informação – como o valor da mercadoria em um estabelecimento comercial. O código de barras foi criado nos Estados Unidos e chegou ao Brasil em 1984. É composto de um sistema de numeração binário e, daquela data até nossos dias, já sofreu inúmeras atualizações e transformações.
De repente, deparei com a brutal realidade! Um aluno pediu licença para usar o seu celular, pois o mesmo possuía leitor óptico. Espantei-me! “O seu celular faz isso?” Aí, ele mostrou. A surpresa me reportou à infância.
Conheci a luz elétrica aos seis anos de idade. A televisão, aos 10. E o computador, há 22 anos. Seria desnecessário dizer que uma revolução no mundo tecnológico aconteceu. E nós, educadores? E eu, educadora, de que maneira conti- nuar somente com o quadro e o giz? Com certeza, existem momentos em que tais recursos são indispensáveis, porém não posso me considerar o centro das atenções, expondo um conteúdo no quadro ou com auxílio bibliográfico quando o meu aluno (a etimologia da palavra já não condiz com o contexto), já não é mais aluno. Ele é, sim, uma pessoa portadora de conhecimentos – os quais, às vezes, nem imaginamos que detém. Principalmente no que se refere à ciência tecnológica. Por isso, não temos mais que dar aulas, e sim construir o conhecimento junto com nossos alunos.
O nosso ensino engatinha atrás das tecnologias disponíveis. As escolas já disponibilizam laboratórios de informática. A banda larga também está lá, o Datashow, a televisão... E, muitas vezes, são negligenciados e não configuram a prática do professor. Então, como aprendizes que somos, urge que nos apossemos de tais recursos, pois os educandos são conhecedores e exploradores desse universo tecnológico e midiático.
Nós, educadores, só seremos proficientes quando estivermos aptos a utilizar em nosso cotidiano pedagógico um mínimo das tecnologias disponíveis. Até mesmo um celular (podendo ser de um aluno) com leitor óptico, que seja capaz de ler um código de barras.
A ILUSÃO DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR
Maria Aparecida Marques da Rocha, Coordenadora do curso de Serviço Social da Unisinos - ZERO HORA 28/04/2012
O sistema de educação brasileiro, especificamente o Ensino Superior, necessita da criação e gerenciamento de políticas públicas socioeducacionais consistentes, em que sejam levadas em conta não apenas as necessidades reais dos jovens que buscam na universidade a possibilidade de ascensão social, mas também a garantia de seu direito ao desenvolvimento como ser integral, que busca conhecimento e realizações mediante a continuidade dos estudos. O fato de uma considerável parcela da população brasileira ter baixo poder aquisitivo faz com que os jovens que a integram não tenham como escapar de tal situação, necessitando de auxílio como bolsas de estudos, bem como auxílio para locomoção e/ou alimentação. Ainda assim, para muitos, essas condições não seriam suficientes. Provavelmente, se estivessem estudando em universidades públicas permaneceriam com algumas dessas dificuldades.
A democratização do Ensino Superior tem apresentado alguns avanços. Entretanto, as formas de acesso e permanência do jovem nesse nível de ensino apresentam limitações, principalmente daqueles oriundos das classes populares. Mesmo com iniciativas do MEC como Prouni, Reuni, ações afirmativas, entre outras, ainda assim a exclusão universitária mostra-se presente. A permanência na universidade e sua conclusão com sucesso, tanto na universidade pública quanto privada, apresentam exigências de custeio que vão além do pagamento de matrícula e mensalidades, ficando, então, mais acessível àqueles que provêm das classes média e alta da sociedade. Cabe aos demais, devido à insuficiência de recursos financeiros, buscar apoios no sistema de benefícios aos estudos superiores oferecidos pelo governo federal, estadual, municipal, ou mesmo as próprias IES de cunho privado, convertidos em programas de financiamento ou bolsas de estudos parciais ou integrais. Nota-se que os recursos existentes são insuficientes para o grande contingente de estudantes dos cursos de graduação que buscam tal recurso.
Enfim, a necessidade de incremento substancial de recursos financeiros em políticas socioeducacionais mais efetivas para a melhoria da qualificação do sistema de Ensino Superior pode ser o caminho possível para a reversão de tal realidade, a médio e longo prazos. Fato que só poderá ocorrer com decisões políticas realmente comprometidas com o desenvolvimento do país e que visem à concretização da justiça social.
O sistema de educação brasileiro, especificamente o Ensino Superior, necessita da criação e gerenciamento de políticas públicas socioeducacionais consistentes, em que sejam levadas em conta não apenas as necessidades reais dos jovens que buscam na universidade a possibilidade de ascensão social, mas também a garantia de seu direito ao desenvolvimento como ser integral, que busca conhecimento e realizações mediante a continuidade dos estudos. O fato de uma considerável parcela da população brasileira ter baixo poder aquisitivo faz com que os jovens que a integram não tenham como escapar de tal situação, necessitando de auxílio como bolsas de estudos, bem como auxílio para locomoção e/ou alimentação. Ainda assim, para muitos, essas condições não seriam suficientes. Provavelmente, se estivessem estudando em universidades públicas permaneceriam com algumas dessas dificuldades.
A democratização do Ensino Superior tem apresentado alguns avanços. Entretanto, as formas de acesso e permanência do jovem nesse nível de ensino apresentam limitações, principalmente daqueles oriundos das classes populares. Mesmo com iniciativas do MEC como Prouni, Reuni, ações afirmativas, entre outras, ainda assim a exclusão universitária mostra-se presente. A permanência na universidade e sua conclusão com sucesso, tanto na universidade pública quanto privada, apresentam exigências de custeio que vão além do pagamento de matrícula e mensalidades, ficando, então, mais acessível àqueles que provêm das classes média e alta da sociedade. Cabe aos demais, devido à insuficiência de recursos financeiros, buscar apoios no sistema de benefícios aos estudos superiores oferecidos pelo governo federal, estadual, municipal, ou mesmo as próprias IES de cunho privado, convertidos em programas de financiamento ou bolsas de estudos parciais ou integrais. Nota-se que os recursos existentes são insuficientes para o grande contingente de estudantes dos cursos de graduação que buscam tal recurso.
Enfim, a necessidade de incremento substancial de recursos financeiros em políticas socioeducacionais mais efetivas para a melhoria da qualificação do sistema de Ensino Superior pode ser o caminho possível para a reversão de tal realidade, a médio e longo prazos. Fato que só poderá ocorrer com decisões políticas realmente comprometidas com o desenvolvimento do país e que visem à concretização da justiça social.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
PISO: JUSTO, MAS INCOERENTE
PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA - ZERO HORA, 27/04/2012
Justo, mas incoerente
Noves fora a incoerência entre o discurso que o PT sustentou durante o governo de Yeda Crusius, o pagamento de uma parcela complementar a 31 mil professores que ganham salário básico inferior ao piso nacional é uma medida justa. Não tem sentido continuar punindo os professores que recebem no contracheque menos que o piso em nome da manutenção da diferença entre os degraus, prevista no plano de carreira do magistério. Pelo acordo com o Ministério Público, que ainda depende de homologação pela Justiça, nenhum professor estadual do Rio Grande do Sul ganhará menos do que o piso nacional, fixado em R$ 1.451. Para os que estão no início da carreira, nível A-1, significa quase dobrar a remuneração. Hoje, o básico é de R$ 791.
O fato de ser justo para os 35,6 mil professores que ganham menos de R$ 1.451 não significa que o governo esteja cumprindo a lei do piso. O site do Palácio Piratini estampou a manchete “Governo do Estado anuncia pagamento do piso nacional do magistério”. Falso. O piso, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal - e que o governo Tarso não contesta -, é o salário básico sobre o qual incidem todas as vantagens. O governo está pagando um abono para alcançar o piso e sobre esse complemento não incidem vantagens como adicionais de tempo de serviço.
O arranjo lembra uma proposta feita em 2010 pela então governadora Yeda Crusius e que não prosperou porque o PT e o Cpers bombardearam. Yeda ofereceu remuneração mínima de R$ 1,5 mil aos professores, mas, como isso igualava o salário inicial de quem só tem Ensino Médio aos detentores de curso superior, o sindicato reagiu e o projeto morreu na casca. Com a proposta de Tarso, ocorre o mesmo, mas o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, rejeita a comparação com a proposta de Yeda.
Pestana diz que a proposta de Yeda beneficiava cerca de 3 mil professores e a de Tarso representará aumento para mais de 35 mil. Na interpretação do Palácio Piratini, o projeto de Yeda, por ser definitivo, acabava com o plano de carreira. O acordo firmado com o Ministério Público é provisório. O secretário reconhece, no entanto, que no início da carreira os professores do nível 1 (que só têm o Ensino Médio) terão no contracheque remuneração idêntica à do colega de nível 5 (com diploma de curso superior). Diz que o pagamento que está sendo feito agora servirá como adiantamento diante da futura decisão judicial sobre o pagamento do piso.
Justo, mas incoerente
Noves fora a incoerência entre o discurso que o PT sustentou durante o governo de Yeda Crusius, o pagamento de uma parcela complementar a 31 mil professores que ganham salário básico inferior ao piso nacional é uma medida justa. Não tem sentido continuar punindo os professores que recebem no contracheque menos que o piso em nome da manutenção da diferença entre os degraus, prevista no plano de carreira do magistério. Pelo acordo com o Ministério Público, que ainda depende de homologação pela Justiça, nenhum professor estadual do Rio Grande do Sul ganhará menos do que o piso nacional, fixado em R$ 1.451. Para os que estão no início da carreira, nível A-1, significa quase dobrar a remuneração. Hoje, o básico é de R$ 791.
O fato de ser justo para os 35,6 mil professores que ganham menos de R$ 1.451 não significa que o governo esteja cumprindo a lei do piso. O site do Palácio Piratini estampou a manchete “Governo do Estado anuncia pagamento do piso nacional do magistério”. Falso. O piso, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal - e que o governo Tarso não contesta -, é o salário básico sobre o qual incidem todas as vantagens. O governo está pagando um abono para alcançar o piso e sobre esse complemento não incidem vantagens como adicionais de tempo de serviço.
O arranjo lembra uma proposta feita em 2010 pela então governadora Yeda Crusius e que não prosperou porque o PT e o Cpers bombardearam. Yeda ofereceu remuneração mínima de R$ 1,5 mil aos professores, mas, como isso igualava o salário inicial de quem só tem Ensino Médio aos detentores de curso superior, o sindicato reagiu e o projeto morreu na casca. Com a proposta de Tarso, ocorre o mesmo, mas o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, rejeita a comparação com a proposta de Yeda.
Pestana diz que a proposta de Yeda beneficiava cerca de 3 mil professores e a de Tarso representará aumento para mais de 35 mil. Na interpretação do Palácio Piratini, o projeto de Yeda, por ser definitivo, acabava com o plano de carreira. O acordo firmado com o Ministério Público é provisório. O secretário reconhece, no entanto, que no início da carreira os professores do nível 1 (que só têm o Ensino Médio) terão no contracheque remuneração idêntica à do colega de nível 5 (com diploma de curso superior). Diz que o pagamento que está sendo feito agora servirá como adiantamento diante da futura decisão judicial sobre o pagamento do piso.
quinta-feira, 26 de abril de 2012
ESPORTE E LEITURA AFASTAM JOVENS DA VIOLÊNCIA
Roger Spode Brutti, Delegado da Polícia Civil/RS - JORNAL DO COMÉRCIO, 26/04/2012
Tranquilamente, na praia, lá estava eu, aproveitando a natureza. Após um banho de mar, voltei para o apartamento, troquei de roupa e resolvi ir para a academia de ginástica com minha esposa. O carro estava estacionado na rua. Ao aproximarmo-nos dele, percebi um grande risco na sua lateral, de sinaleira a sinaleira.
Certamente havia sido intencional. Um morador próximo afirmou que uma turma de jovens acabara de passar pelo local, fazendo algazarras. Pensei: o que passaria na mente de uma pessoa dessa estirpe? Isso não seria algo doentio? Não seria essa mesma anomalia que ora os impulsiona a deteriorar o patrimônio alheio, por simples prazer e satisfação, aquela que também os impulsionaria, mais tarde, ao cometimento de crimes maiores, como furtos, roubos e estupros? Qual seria a origem desse mau-caráter?
Após resolver o problema do dano patrimonial por meio de um polimento localizado, passei a refletir sobre o caso. Lembrei, então, de um pensamento que minha falecida mãe sempre repetia: “o mal se corta pela raiz”. Se desejarmos ver nossos filhos polidos de caráter, precisamos cortar o mal pela raiz, ou seja, tornar fértil de condutas saudáveis o campo das suas atividades rotineiras de hoje. O ócio é um dos maiores malefícios à mente de qualquer um, mormente dos jovens que estão em plena formação do seu caráter. A leitura é uma alternativa sempre sadia, assim como a prática de esportes. Similares habitualidades aqui descritas potencializam um desenvolvimento saudável em nossos jovens, tanto de jaez físico como intelectual.
Tranquilamente, na praia, lá estava eu, aproveitando a natureza. Após um banho de mar, voltei para o apartamento, troquei de roupa e resolvi ir para a academia de ginástica com minha esposa. O carro estava estacionado na rua. Ao aproximarmo-nos dele, percebi um grande risco na sua lateral, de sinaleira a sinaleira.
Certamente havia sido intencional. Um morador próximo afirmou que uma turma de jovens acabara de passar pelo local, fazendo algazarras. Pensei: o que passaria na mente de uma pessoa dessa estirpe? Isso não seria algo doentio? Não seria essa mesma anomalia que ora os impulsiona a deteriorar o patrimônio alheio, por simples prazer e satisfação, aquela que também os impulsionaria, mais tarde, ao cometimento de crimes maiores, como furtos, roubos e estupros? Qual seria a origem desse mau-caráter?
Após resolver o problema do dano patrimonial por meio de um polimento localizado, passei a refletir sobre o caso. Lembrei, então, de um pensamento que minha falecida mãe sempre repetia: “o mal se corta pela raiz”. Se desejarmos ver nossos filhos polidos de caráter, precisamos cortar o mal pela raiz, ou seja, tornar fértil de condutas saudáveis o campo das suas atividades rotineiras de hoje. O ócio é um dos maiores malefícios à mente de qualquer um, mormente dos jovens que estão em plena formação do seu caráter. A leitura é uma alternativa sempre sadia, assim como a prática de esportes. Similares habitualidades aqui descritas potencializam um desenvolvimento saudável em nossos jovens, tanto de jaez físico como intelectual.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
USO DA INTERNET PARA ATACAR, AMEAÇAR E HUMILHAR PROFESSORES
Ataques que humilham e ameaçam professores se espalham com as redes sociais. Paula Filizola - CORREIO BRAZILIENSE, 23/04/2012 07:42
O acesso fácil e quase sempre sem o controle dos pais transformou redes sociais como Twitter, Facebook e Orkut em uma poderosa ferramenta sem filtro para as agressões e ameaças a professores. Cada vez mais conectados, crianças e adolescentes irritados com seus professores usam seus perfis na internet como principal plataforma para xingar e até ameaçar docentes. O cyberbullying, como é conhecido o fenômeno de humilhar e ridicularizar pessoas na grande rede, já é considerado uma forma de agressão que também preocupa educadores. Porém, por ser uma prática relativamente nova, especialistas explicam que ainda não há diagnósticos consistentes para avaliar o problema. Segundo eles, é ainda mais difícil coibir e punir os infratores no mundo virtual.
Professores afirmam que já foram vítimas ou conhecem pessoas que foram alvo de agressões na internet. O docente Hudson Paiva, de 33 anos, vê as redes sociais como um estímulo para as agressões físicas na escola. “O alcance é muito grande. Quando a agressão, a discriminação e a falta de respeito começam na rede, logo geram comentários e podem influenciar atitudes reais”, avalia. As motivações para o cyberbullying são corriqueiras, a exemplo de muitas agressões físicas. Os alunos reclamam de notas baixas, aulas chatas, broncas recebidas em sala de aula.
O acesso fácil e quase sempre sem o controle dos pais transformou redes sociais como Twitter, Facebook e Orkut em uma poderosa ferramenta sem filtro para as agressões e ameaças a professores. Cada vez mais conectados, crianças e adolescentes irritados com seus professores usam seus perfis na internet como principal plataforma para xingar e até ameaçar docentes. O cyberbullying, como é conhecido o fenômeno de humilhar e ridicularizar pessoas na grande rede, já é considerado uma forma de agressão que também preocupa educadores. Porém, por ser uma prática relativamente nova, especialistas explicam que ainda não há diagnósticos consistentes para avaliar o problema. Segundo eles, é ainda mais difícil coibir e punir os infratores no mundo virtual.
Professores afirmam que já foram vítimas ou conhecem pessoas que foram alvo de agressões na internet. O docente Hudson Paiva, de 33 anos, vê as redes sociais como um estímulo para as agressões físicas na escola. “O alcance é muito grande. Quando a agressão, a discriminação e a falta de respeito começam na rede, logo geram comentários e podem influenciar atitudes reais”, avalia. As motivações para o cyberbullying são corriqueiras, a exemplo de muitas agressões físicas. Os alunos reclamam de notas baixas, aulas chatas, broncas recebidas em sala de aula.
VIOLÊNCIA: FALTA PROFISSIONAIS PARA SOLUÇÃO DE CONFLITOS
Secretaria de Educação alega haver profissionais para solução de conflitos. Agência Brasil - correio braziliense, 22/04/2012 16:45
Brasília – As prefeituras do Rio de Janeiro e de Niterói, bem como o governo estadual alegaram que prestam auxílio psicológico a alunos e professores da rede pública no intuito da solução de conflitos. Mas os técnicos das secretarias de Educação evitaram comentar o resultado de pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF), que revelou a ocorrência de casos constantes de violência em 68% das instituições pesquisadas na capital e nos municípios de Niterói e São Gonçalo.
A pesquisa também identificou a ausência de psicólogos em 85% das escolas pesquisadas, particulares e públicas. O resultado do levantamento será apresentado amanhã (23) em ciclo de debates da Faculdade de Educação da UFF.
A diretora do Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Mércia Cabral de Oliveira, não quis comentar a pesquisa, alegando não ter tido acesso ao seu conteúdo na íntegra, mas informou que a prefeitura conta com dez equipes interdisciplinares, divididas por áreas, com professores, assistentes sociais e psicólogos para atender às 1.069 escolas do município.
“Temos cerca de 250 profissionais, incluindo 87 psicólogos. As escolas podem acionar essas equipes por meio das coordenadorias. Além disso, as equipes elaboram planos anuais de ação, de acordo com sua área, que incluem atividades, visitas às escolas, estudo de situações, capacitação de profissionais e acompanhamentos de casos”, relata Mércia Cabral.
Quase 70% das escolas no estado do Rio sofrem com a violência Servidores das universidades federais vão parar na quarta-feira Pesquisas recentes revelam que 80% dos professores enfrentaram violência.
Segundo ela, o número de equipes tem se mostrado suficiente para atender às escolas. “Há momentos, para ações específicas, em que a equipe precisa permanecer na escola para permitir as melhores tomadas de decisão e medidas de prevenção de violência”.
A Secretaria Municipal de Educação de Niterói informou, por e-mail, que não há assistentes sociais nem psicólogos nas escolas e, sim, 14 profissionais concursados na equipe central, que trabalham junto com as famílias e os alunos e auxiliam os professores quando eles precisam de apoio técnico.
A equipe realiza também “visitas frequentes nas escolas, com trabalhos voltados para a saúde, meio ambiente, trânsito, diversidade, violência, entre outros”. Ainda segundo a secretaria, há um impedimento legal para a presença de psicólogos nas unidades escolares, já que a natureza de trabalho dos mesmos é de ordem clínica. Sobre a pesquisa da UFF, a secretária municipal de Educação de Niterói, Maria Inês Azevedo de Oliveira, ela disse que só pode se pronunciar quando tiver acesso aos dados.
Também por e-mail, a Secretaria Estadual de Educação informou que não há concursos ou contratos para profissionais de saúde, mas quando identificada a necessidade de psicólogos ou assistentes sociais, as escolas estaduais são orientadas a procurar, por meio das diretorias Regionais, a Diretoria de Desenvolvimento, Saúde e Bem-Estar da secretaria, que envia equipes pedagógicas e de recursos humanos para prestar auxílio a alunos e funcionários. Após análise, é feito encaminhamento ao sistema público de saúde e/ou parceiros na localidade, que acolhem voluntariamente esses casos. Ainda segundo a secretaria, em situações mais graves, são acionados os centros de Atenção Psicossocial (Capes) do Ministério da Saúde.
Brasília – As prefeituras do Rio de Janeiro e de Niterói, bem como o governo estadual alegaram que prestam auxílio psicológico a alunos e professores da rede pública no intuito da solução de conflitos. Mas os técnicos das secretarias de Educação evitaram comentar o resultado de pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF), que revelou a ocorrência de casos constantes de violência em 68% das instituições pesquisadas na capital e nos municípios de Niterói e São Gonçalo.
A pesquisa também identificou a ausência de psicólogos em 85% das escolas pesquisadas, particulares e públicas. O resultado do levantamento será apresentado amanhã (23) em ciclo de debates da Faculdade de Educação da UFF.
A diretora do Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Mércia Cabral de Oliveira, não quis comentar a pesquisa, alegando não ter tido acesso ao seu conteúdo na íntegra, mas informou que a prefeitura conta com dez equipes interdisciplinares, divididas por áreas, com professores, assistentes sociais e psicólogos para atender às 1.069 escolas do município.
“Temos cerca de 250 profissionais, incluindo 87 psicólogos. As escolas podem acionar essas equipes por meio das coordenadorias. Além disso, as equipes elaboram planos anuais de ação, de acordo com sua área, que incluem atividades, visitas às escolas, estudo de situações, capacitação de profissionais e acompanhamentos de casos”, relata Mércia Cabral.
Quase 70% das escolas no estado do Rio sofrem com a violência Servidores das universidades federais vão parar na quarta-feira Pesquisas recentes revelam que 80% dos professores enfrentaram violência.
Segundo ela, o número de equipes tem se mostrado suficiente para atender às escolas. “Há momentos, para ações específicas, em que a equipe precisa permanecer na escola para permitir as melhores tomadas de decisão e medidas de prevenção de violência”.
A Secretaria Municipal de Educação de Niterói informou, por e-mail, que não há assistentes sociais nem psicólogos nas escolas e, sim, 14 profissionais concursados na equipe central, que trabalham junto com as famílias e os alunos e auxiliam os professores quando eles precisam de apoio técnico.
A equipe realiza também “visitas frequentes nas escolas, com trabalhos voltados para a saúde, meio ambiente, trânsito, diversidade, violência, entre outros”. Ainda segundo a secretaria, há um impedimento legal para a presença de psicólogos nas unidades escolares, já que a natureza de trabalho dos mesmos é de ordem clínica. Sobre a pesquisa da UFF, a secretária municipal de Educação de Niterói, Maria Inês Azevedo de Oliveira, ela disse que só pode se pronunciar quando tiver acesso aos dados.
Também por e-mail, a Secretaria Estadual de Educação informou que não há concursos ou contratos para profissionais de saúde, mas quando identificada a necessidade de psicólogos ou assistentes sociais, as escolas estaduais são orientadas a procurar, por meio das diretorias Regionais, a Diretoria de Desenvolvimento, Saúde e Bem-Estar da secretaria, que envia equipes pedagógicas e de recursos humanos para prestar auxílio a alunos e funcionários. Após análise, é feito encaminhamento ao sistema público de saúde e/ou parceiros na localidade, que acolhem voluntariamente esses casos. Ainda segundo a secretaria, em situações mais graves, são acionados os centros de Atenção Psicossocial (Capes) do Ministério da Saúde.
VIOLÊNCIA É ENFRENTADA POR 80% DOS PROFESSORES
Pesquisas recentes revelam que 80% dos professores enfrentaram violência. Paula Filizola - correio braziliense, 22/04/2012 09:38
Os vestígios de um trauma vivido há 13 anos em uma escola, em Ceilândia, não conseguiram tirar a professora Edielza Figueiredo, de 44 anos, das salas de aula. Entretanto, o episódio de agressão deixou marcas profundas, que são lembradas com clareza até hoje. Grávida de oito meses de seu terceiro filho na época, ela foi vítima de um aluno, supostamente drogado, que jogou uma mesa escolar contra sua barriga. “Na hora, eu mantive a calma e consegui até resolver o problema. Mas, quando cheguei em casa, comecei a sentir muito medo. Até contrações eu tive. Me senti vulnerável, não queria voltar”, relembra.
Histórias como as de Edielza são rotineiras nas escolas da rede pública brasileira. Dados de uma pesquisa da Unesco, de 2006, revelam que 80% dos professores das principais capitais brasileiras enfrentaram, em algum momento, a violência no trabalho. No Distrito Federal, um terço dos profissionais já foi agredido em sala de aula. A falta de políticas públicas educacionais formuladas pelo Ministério da Educação (MEC) e por secretarias estaduais reforça o cenário assustador, que preocupa sindicatos e especialistas.
Os vestígios de um trauma vivido há 13 anos em uma escola, em Ceilândia, não conseguiram tirar a professora Edielza Figueiredo, de 44 anos, das salas de aula. Entretanto, o episódio de agressão deixou marcas profundas, que são lembradas com clareza até hoje. Grávida de oito meses de seu terceiro filho na época, ela foi vítima de um aluno, supostamente drogado, que jogou uma mesa escolar contra sua barriga. “Na hora, eu mantive a calma e consegui até resolver o problema. Mas, quando cheguei em casa, comecei a sentir muito medo. Até contrações eu tive. Me senti vulnerável, não queria voltar”, relembra.
Histórias como as de Edielza são rotineiras nas escolas da rede pública brasileira. Dados de uma pesquisa da Unesco, de 2006, revelam que 80% dos professores das principais capitais brasileiras enfrentaram, em algum momento, a violência no trabalho. No Distrito Federal, um terço dos profissionais já foi agredido em sala de aula. A falta de políticas públicas educacionais formuladas pelo Ministério da Educação (MEC) e por secretarias estaduais reforça o cenário assustador, que preocupa sindicatos e especialistas.
O GARGALO DO PERFIL DOCENTE
EDITORIAL ZERO HORA 23/04/2012
Enseja preocupação o levantamento da ONG Todos pela Educação sobre o número de docentes com curso superior no Brasil e no Rio Grande do Sul. Ainda que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) tolere formação de magistério em nível médio para os que trabalham com Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, o recomendado pela mesma lei é a formação em curso superior de licenciatura. Ora, tanto o país quanto o Estado estão distantes do cumprimento dessa meta.
Em todo o Brasil, praticamente metade dos professores (49,9%) do segundo ciclo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio das escolas da zona rural não tem a formação mínima em licenciatura recomendada pela LDB. No caso gaúcho, o principal foco de preocupação também reside no elevado número de professores com as mesmas atribuições a apresentar formação insuficiente nas zonas rurais.
O Plano Nacional de Educação estabelece 2020 como ano-limite para que os professores da Educação Básica tenham obrigatoriamente formação em licenciatura. Até aquela data, esses profissionais poderão exercer suas funções tendo concluído apenas o magistério em nível médio. Não se trata de uma meta irrealizável, especialmente se forem levadas em conta as facilidades disponibilizadas hoje pelo Estado e por boa parte dos municípios para que os professores possam cursar a universidade.
Os dados, obtidos com base no Censo Escolar de 2010 – o mais recente em poder do governo federal –, reforçam a ideia de que será preciso investir fortemente na qualificação de professores, especialmente nas áreas rurais, nos próximos anos. Deficiências na infraestrutura das escolas e na definição de linhas pedagógicas são outros desafios a serem enfrentados nos próximos anos no âmbito do Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo), do Ministério da Educação (MEC). Lançado no mês passado, esse plano tem por objetivo reverter as carências do Brasil rural, que dispõe hoje de 76 mil escolas e 6,2 milhões de alunos.
Enseja preocupação o levantamento da ONG Todos pela Educação sobre o número de docentes com curso superior no Brasil e no Rio Grande do Sul. Ainda que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) tolere formação de magistério em nível médio para os que trabalham com Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, o recomendado pela mesma lei é a formação em curso superior de licenciatura. Ora, tanto o país quanto o Estado estão distantes do cumprimento dessa meta.
Em todo o Brasil, praticamente metade dos professores (49,9%) do segundo ciclo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio das escolas da zona rural não tem a formação mínima em licenciatura recomendada pela LDB. No caso gaúcho, o principal foco de preocupação também reside no elevado número de professores com as mesmas atribuições a apresentar formação insuficiente nas zonas rurais.
O Plano Nacional de Educação estabelece 2020 como ano-limite para que os professores da Educação Básica tenham obrigatoriamente formação em licenciatura. Até aquela data, esses profissionais poderão exercer suas funções tendo concluído apenas o magistério em nível médio. Não se trata de uma meta irrealizável, especialmente se forem levadas em conta as facilidades disponibilizadas hoje pelo Estado e por boa parte dos municípios para que os professores possam cursar a universidade.
Os dados, obtidos com base no Censo Escolar de 2010 – o mais recente em poder do governo federal –, reforçam a ideia de que será preciso investir fortemente na qualificação de professores, especialmente nas áreas rurais, nos próximos anos. Deficiências na infraestrutura das escolas e na definição de linhas pedagógicas são outros desafios a serem enfrentados nos próximos anos no âmbito do Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo), do Ministério da Educação (MEC). Lançado no mês passado, esse plano tem por objetivo reverter as carências do Brasil rural, que dispõe hoje de 76 mil escolas e 6,2 milhões de alunos.
domingo, 22 de abril de 2012
AVANÇAMOS OU REGREDIMOS?
Rogério Mendelski - CORREIO DO POVO, 22/04/2012
Estamos em 1960. Joãozinho não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba o ambiente. É mandado à secretaria da escola e fica esperando até o diretor dar-lhe uma advertência com a sugestão de uma suspensão e até expulsão da escola. Joãozinho esconde o ocorrido dos pais com medo de alguns "cascudos" em casa, mas voltou a se comportar e nunca mais perturbou a classe.
Vamos para 2012. Joãozinho é mandado para a psicóloga da escola, o diagnóstico fala de hiperatividade com transtornos de ansiedade e déficit de atenção e recomendado a tomar Rivotril. O garoto transforma-se num zumbi e os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz e ainda processam a escola.
Voltamos para 1960. Luizinho quebra o farol de um carro, no seu bairro. O pai tira a cinta e lhe aplica um corretivo no traseiro. Luizinho sentiu o poder paterno, nunca mais foi vândalo, cresceu, entrou na universidade e hoje é um profissional de sucesso.
Estamos em 2012. O pai de Luizinho é processado por maus-tratos e fica proibido de ver o filho. Luizinho volta-se para as drogas, delínque e é colocado numa casa de recuperação para adolescentes.
Outra volta a 1960. Paulinho cai no pátio da escola e machuca o joelho. A professora encontra o garoto chorando e o abraça para confortá-lo. Rapidamente, Paulinho se sente melhor e continua brincando.
Pátio em 2012. A professora é acusada de não cuidar das crianças e Paulinho tem cinco anos de terapia pelo susto, seus pais processam a escola por danos psicológicos e a professora, por negligência. A professora renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida.
Retorno a 1960. Qualquer bagunça na aula era motivo de repreensão do professor com advertência aos pais e em casa sabíamos o que nos esperava...
Em 2012, bagunça na aula resultava no professor pedindo desculpas por alguma palavra áspera. Mas os pais vão à escola, registram queixa contra o mestre e trocam o notebook do filho para evitar algum trauma futuro. Onde foi que erramos?
Estamos em 1960. Joãozinho não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba o ambiente. É mandado à secretaria da escola e fica esperando até o diretor dar-lhe uma advertência com a sugestão de uma suspensão e até expulsão da escola. Joãozinho esconde o ocorrido dos pais com medo de alguns "cascudos" em casa, mas voltou a se comportar e nunca mais perturbou a classe.
Vamos para 2012. Joãozinho é mandado para a psicóloga da escola, o diagnóstico fala de hiperatividade com transtornos de ansiedade e déficit de atenção e recomendado a tomar Rivotril. O garoto transforma-se num zumbi e os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz e ainda processam a escola.
Voltamos para 1960. Luizinho quebra o farol de um carro, no seu bairro. O pai tira a cinta e lhe aplica um corretivo no traseiro. Luizinho sentiu o poder paterno, nunca mais foi vândalo, cresceu, entrou na universidade e hoje é um profissional de sucesso.
Estamos em 2012. O pai de Luizinho é processado por maus-tratos e fica proibido de ver o filho. Luizinho volta-se para as drogas, delínque e é colocado numa casa de recuperação para adolescentes.
Outra volta a 1960. Paulinho cai no pátio da escola e machuca o joelho. A professora encontra o garoto chorando e o abraça para confortá-lo. Rapidamente, Paulinho se sente melhor e continua brincando.
Pátio em 2012. A professora é acusada de não cuidar das crianças e Paulinho tem cinco anos de terapia pelo susto, seus pais processam a escola por danos psicológicos e a professora, por negligência. A professora renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida.
Retorno a 1960. Qualquer bagunça na aula era motivo de repreensão do professor com advertência aos pais e em casa sabíamos o que nos esperava...
Em 2012, bagunça na aula resultava no professor pedindo desculpas por alguma palavra áspera. Mas os pais vão à escola, registram queixa contra o mestre e trocam o notebook do filho para evitar algum trauma futuro. Onde foi que erramos?
sexta-feira, 20 de abril de 2012
FÚRIA EM ESCOLA
Menino de sete anos agride professora em Santa Maria. Estudante deu chutes, socos, pontapés e puxões de cabelo na educadora - LÚCIO CHARÃO, zero hora 19/04/2012
Um ataque de fúria de um menino de sete anos, que chutou, deu pontapés, unhadas e puxões de cabelo em uma professora de 51 anos virou caso de polícia em Santa Maria. Segundo a educadora Marli de Medeiros Texeira, que foi agredida, o fato foi registrado na Polícia Civil para que os pais tomem alguma providência quanto ao comportamento do aluno.
Ontem, ela fez exame de corpo de delito. Na terça, por volta das 16h20min, a educadora quase foi atingida com uma classe e com uma cadeira na Escola Municipal de Ensino Fundamental Pinheiro Machado.
– Estou arranhada e toda dolorida.Ele chorava de raiva. Era uma fúria impressionante. Estou há um ano e meio aqui na escola, mas nunca tinha dado aulas para ele – conta.
Segundo Marli, ela foi à sala 10 após o recreio, para fazer uma atividade de educação ambiental. O menino teria se negado a participar, ela teria insistido. Quando a professora se aproximou, ele a teria agredido. A diretora, Lazi Alves Martins, conta que, em conversas com os pais do estudante, ofereceu apoio psicológico:
– Cheguei, e ele estava batendo na professora. Segurei-o pelo braço, com uma funcionária. Ele não será penalizado. Precisa de ajuda.
Ontem, os pais do aluno foram à escola para uma reunião com a direção. O pai do menino, um construtor de 40 anos, afirma que hoje, às 9h, o aluno irá a um psicólogo. Ivanise Jann de Jesus, promotora da Infância e da Juventude, informa que, se o menino tivesse mais de 12 anos, poderia responder criminalmente pelo ato, por meio de serviço comunitário, por exemplo.
Um ataque de fúria de um menino de sete anos, que chutou, deu pontapés, unhadas e puxões de cabelo em uma professora de 51 anos virou caso de polícia em Santa Maria. Segundo a educadora Marli de Medeiros Texeira, que foi agredida, o fato foi registrado na Polícia Civil para que os pais tomem alguma providência quanto ao comportamento do aluno.
Ontem, ela fez exame de corpo de delito. Na terça, por volta das 16h20min, a educadora quase foi atingida com uma classe e com uma cadeira na Escola Municipal de Ensino Fundamental Pinheiro Machado.
– Estou arranhada e toda dolorida.Ele chorava de raiva. Era uma fúria impressionante. Estou há um ano e meio aqui na escola, mas nunca tinha dado aulas para ele – conta.
Segundo Marli, ela foi à sala 10 após o recreio, para fazer uma atividade de educação ambiental. O menino teria se negado a participar, ela teria insistido. Quando a professora se aproximou, ele a teria agredido. A diretora, Lazi Alves Martins, conta que, em conversas com os pais do estudante, ofereceu apoio psicológico:
– Cheguei, e ele estava batendo na professora. Segurei-o pelo braço, com uma funcionária. Ele não será penalizado. Precisa de ajuda.
Ontem, os pais do aluno foram à escola para uma reunião com a direção. O pai do menino, um construtor de 40 anos, afirma que hoje, às 9h, o aluno irá a um psicólogo. Ivanise Jann de Jesus, promotora da Infância e da Juventude, informa que, se o menino tivesse mais de 12 anos, poderia responder criminalmente pelo ato, por meio de serviço comunitário, por exemplo.
GRADUAÇÃO PRECÁRIA
Faltam professores capacitados. Pesquisa aponta que 10% dos profissionais não têm formação mínima para lecionar em escolas de Educação Básica no RS -MARCELO GONZATTO, Colaborou Juliana Gomes - ZERO HORA 19/04/2012
Um levantamento inédito demonstra que quase um em cada 10 professores não tem a formação mínima exigida para lecionar em escolas de Educação Básica nas zonas urbanas no Rio Grande do Sul.
Asituação é ainda pior na zona rural, onde a proporção de educadores em desacordo com o que recomenda a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) chega a 18,7%.
Desde 1996, a LDB prega a formação em curso superior de licenciatura para os professores – embora, ainda hoje, seja tolerado o Magistério em nível Médio para quem trabalha com Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Mesmo assim, cerca de 10% do magistério gaúcho não apresenta o nível desejado nas áreas urbanas, conforme estudo da ONG Todos Pela Educação.
Na faixa da Educação Infantil até o 5º ano do Fundamental, 9,73% dos educadores não têm curso superior em licenciatura ou de Magistério em nível Médio, o que representa 4,8 mil profissionais. Do 6º ano até o final do Médio, quando se exige a formação universitária, 10,46% não ostentam nível superior ou não têm licenciatura – ou 5,5 mil professores.
– Uma formação adequada traria resultados melhores. Em um curso superior, os professores estão em contato com conhecimento, em um ambiente que propicia reflexão – sustenta a gerente dos cursos de Licenciatura da Unisinos, Maria Cecília Bueno Fischer.
A zona rural ostenta os índices mais preocupantes – quase um quinto de quem dá aulas nas áreas mais longínquas do Estado, entre as séries finais do Ensino Fundamental e o final do Médio, precisaria aprimorar os estudos.
O desempenho gaúcho, porém, ainda é melhor do que a média nacional: nas séries finais do Fundamental e no Médio, a inadequação atinge 14,8% do magistério nas áreas urbanas e 49,9% nas zonas rurais do país. Um dos fatores que dificultam o aprimoramento dos mestres distantes das grandes cidades é que também estão mais afastados das opções de curso superior.
O Plano Nacional de Educação prevê, até 2020, que os professores da Educação Básica contem com formação em licenciatura. A Secretaria Estadual da Educação (SEC) não se manifestou sobre esse assunto ontem.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Também, com este saláro oferecido...
Um levantamento inédito demonstra que quase um em cada 10 professores não tem a formação mínima exigida para lecionar em escolas de Educação Básica nas zonas urbanas no Rio Grande do Sul.
Asituação é ainda pior na zona rural, onde a proporção de educadores em desacordo com o que recomenda a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) chega a 18,7%.
Desde 1996, a LDB prega a formação em curso superior de licenciatura para os professores – embora, ainda hoje, seja tolerado o Magistério em nível Médio para quem trabalha com Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Mesmo assim, cerca de 10% do magistério gaúcho não apresenta o nível desejado nas áreas urbanas, conforme estudo da ONG Todos Pela Educação.
Na faixa da Educação Infantil até o 5º ano do Fundamental, 9,73% dos educadores não têm curso superior em licenciatura ou de Magistério em nível Médio, o que representa 4,8 mil profissionais. Do 6º ano até o final do Médio, quando se exige a formação universitária, 10,46% não ostentam nível superior ou não têm licenciatura – ou 5,5 mil professores.
– Uma formação adequada traria resultados melhores. Em um curso superior, os professores estão em contato com conhecimento, em um ambiente que propicia reflexão – sustenta a gerente dos cursos de Licenciatura da Unisinos, Maria Cecília Bueno Fischer.
A zona rural ostenta os índices mais preocupantes – quase um quinto de quem dá aulas nas áreas mais longínquas do Estado, entre as séries finais do Ensino Fundamental e o final do Médio, precisaria aprimorar os estudos.
O desempenho gaúcho, porém, ainda é melhor do que a média nacional: nas séries finais do Fundamental e no Médio, a inadequação atinge 14,8% do magistério nas áreas urbanas e 49,9% nas zonas rurais do país. Um dos fatores que dificultam o aprimoramento dos mestres distantes das grandes cidades é que também estão mais afastados das opções de curso superior.
O Plano Nacional de Educação prevê, até 2020, que os professores da Educação Básica contem com formação em licenciatura. A Secretaria Estadual da Educação (SEC) não se manifestou sobre esse assunto ontem.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Também, com este saláro oferecido...
ARMA NA ESCOLA
Estudante de 13 anos é pego com revólver - 20/04/2012
Além de cadernos e lápis, um aluno de 13 anos da Escola Estadual de Ensino Médio Ayrton Senna da Silva, na Vila Augusta, em Viamão, tinha ontem na mochila um revólver calibre 22. Levado à 2ª DP, o garoto alegou que estava armado para se defender.
Na noite de quarta-feira a direção da escola foi comunicada por um grupo de pais de que três estudantes estariam portanto armas dentro da escola. Ontem à tarde, assim que começaram as aulas, a família deles foi chamada. Os responsáveis de dois alunos compareceram e na revista ao material foi descartada a existência do objeto.
Porém, a família de um dos estudantes não foi localizada e, por orientação da Coordenadoria Regional da Educação, a Brigada Militar (BM) foi acionada. Dentro da mochila, os policiais constataram que o adolescente levava um revólver calibre 22.
Há três anos como diretora da escola, Naiara Nunes Cardoso, considera a ocorrência um caso raro.
– Nos 20 anos em que trabalho aqui, lembro que tivemos um caso parecido há muitos anos – diz.
Antes de os policias chegarem à Escola Ayrton Senna, uma moradora de uma residência próxima da escola ligou para a BM avisando que alguém passou em frente a sua casa e jogou uma arma em seu pátio. Ao chegar ao local, eles encontraram um revólver calibre 32, com munição.
Pouco depois das 16h, foram atender ao chamado no colégio. Foi então que encontraram um revólver calibre 22, desmuniciado, na mochila do aluno de 13 anos. Em um dos bolsos, ele levava ainda 10 munições de calibre 38. O garoto foi levado pela diretora da escola à 2ª Delegacia da Polícia Civil local.
Na delegacia, o adolescente contou que estava armado para se defender. E que teria sido ameaçado de morte pela pessoa que jogou o revólver 32 no pátio vizinho à escola. As ameaças seriam por conta de problemas com o irmão do garoto.
Além de cadernos e lápis, um aluno de 13 anos da Escola Estadual de Ensino Médio Ayrton Senna da Silva, na Vila Augusta, em Viamão, tinha ontem na mochila um revólver calibre 22. Levado à 2ª DP, o garoto alegou que estava armado para se defender.
Na noite de quarta-feira a direção da escola foi comunicada por um grupo de pais de que três estudantes estariam portanto armas dentro da escola. Ontem à tarde, assim que começaram as aulas, a família deles foi chamada. Os responsáveis de dois alunos compareceram e na revista ao material foi descartada a existência do objeto.
Porém, a família de um dos estudantes não foi localizada e, por orientação da Coordenadoria Regional da Educação, a Brigada Militar (BM) foi acionada. Dentro da mochila, os policiais constataram que o adolescente levava um revólver calibre 22.
Há três anos como diretora da escola, Naiara Nunes Cardoso, considera a ocorrência um caso raro.
– Nos 20 anos em que trabalho aqui, lembro que tivemos um caso parecido há muitos anos – diz.
Antes de os policias chegarem à Escola Ayrton Senna, uma moradora de uma residência próxima da escola ligou para a BM avisando que alguém passou em frente a sua casa e jogou uma arma em seu pátio. Ao chegar ao local, eles encontraram um revólver calibre 32, com munição.
Pouco depois das 16h, foram atender ao chamado no colégio. Foi então que encontraram um revólver calibre 22, desmuniciado, na mochila do aluno de 13 anos. Em um dos bolsos, ele levava ainda 10 munições de calibre 38. O garoto foi levado pela diretora da escola à 2ª Delegacia da Polícia Civil local.
Na delegacia, o adolescente contou que estava armado para se defender. E que teria sido ameaçado de morte pela pessoa que jogou o revólver 32 no pátio vizinho à escola. As ameaças seriam por conta de problemas com o irmão do garoto.
terça-feira, 10 de abril de 2012
ESCOLA PÚBLICA
Antonio Augusto d´Avila - Economista,JORNAL CO COMERCIO, 10/04/2012
O Estado Democrático de Direito tem o dever de propiciar ensino aos menos favorecidos; o Estado totalitário tem o direito de educar todos os súditos. Aqui no Brasil estamos a meio caminho: diz a Constituição que o ensino é direito de todos (dos mais ricos inclusive) e persegue-se o ensino público básico universal; mas permite-se o ensino particular. Entretanto, como não há “almoço grátis”, a estrutura tributária determina quem paga pelo ensino público. Abstraída a ineficiência estatal e admitida uma distribuição justa da carga tributária, definida, ao menos, pela sua proporcionalidade em relação à renda pessoal, se todo o ensino fosse público e se todos o cursassem do início ao fim, não haveria perdas e ganhos financeiros, exceto pelo número de filhos. Ocorre que a carga tributária é regressiva. Em proporção à renda, os mais pobres pagam muito mais impostos que os mais ricos, além disso, quanto mais pobre, menor a permanência na escola pública, ou seja, apesar de os mais ricos utilizarem bem menos o ensino público básico, são eles que mais usufruem dos cursos nobres das universidades de ponta.
Importante, também, a situação de boa parcela da classe média que paga pelo ensino público mas, em razão da sua baixa qualidade, é obrigada a se socorrer do ensino privado, ou seja, suporta uma carga duplamente pesada (ao contrário da classe A, para a qual a educação particular pouco representa em termos financeiros e o ônus tributário é bem menor). Aliás, nesses moldes, a escola pública só funciona porque é ruim, se fosse de boa qualidade seria inviável. Em resumo, além de serem obrigados a financiar o próprio ensino básico, aos pobres ainda são impostas duas opressivas cargas adicionais: a brutal ineficiência econômica desse ensino e o caríssimo e esbanjador ensino universitário, necessariamente elitista. Mas isso não basta, queremos um ensino de qualidade! Assim, o discurso politicamente correto exige que deles, dos mais pobres, sejam extraídos mais recursos para a educação de todos. Tinha razão o velho Marx: as ideias dominantes são as ideias da classe dominante.
O Estado Democrático de Direito tem o dever de propiciar ensino aos menos favorecidos; o Estado totalitário tem o direito de educar todos os súditos. Aqui no Brasil estamos a meio caminho: diz a Constituição que o ensino é direito de todos (dos mais ricos inclusive) e persegue-se o ensino público básico universal; mas permite-se o ensino particular. Entretanto, como não há “almoço grátis”, a estrutura tributária determina quem paga pelo ensino público. Abstraída a ineficiência estatal e admitida uma distribuição justa da carga tributária, definida, ao menos, pela sua proporcionalidade em relação à renda pessoal, se todo o ensino fosse público e se todos o cursassem do início ao fim, não haveria perdas e ganhos financeiros, exceto pelo número de filhos. Ocorre que a carga tributária é regressiva. Em proporção à renda, os mais pobres pagam muito mais impostos que os mais ricos, além disso, quanto mais pobre, menor a permanência na escola pública, ou seja, apesar de os mais ricos utilizarem bem menos o ensino público básico, são eles que mais usufruem dos cursos nobres das universidades de ponta.
Importante, também, a situação de boa parcela da classe média que paga pelo ensino público mas, em razão da sua baixa qualidade, é obrigada a se socorrer do ensino privado, ou seja, suporta uma carga duplamente pesada (ao contrário da classe A, para a qual a educação particular pouco representa em termos financeiros e o ônus tributário é bem menor). Aliás, nesses moldes, a escola pública só funciona porque é ruim, se fosse de boa qualidade seria inviável. Em resumo, além de serem obrigados a financiar o próprio ensino básico, aos pobres ainda são impostas duas opressivas cargas adicionais: a brutal ineficiência econômica desse ensino e o caríssimo e esbanjador ensino universitário, necessariamente elitista. Mas isso não basta, queremos um ensino de qualidade! Assim, o discurso politicamente correto exige que deles, dos mais pobres, sejam extraídos mais recursos para a educação de todos. Tinha razão o velho Marx: as ideias dominantes são as ideias da classe dominante.
GANGUE AMEDRONTA ALUNOS
ESCOLA CONFLAGRADA. Gangue do isqueiro amedronta alunos - ZERO HORA 10/04/2012
A professora agredida foi vítima de um grupo de estudantes que começa a criar má fama na escola e na comunidade. Eles se intitulam a “gangue do isqueiro”. Tudo teria começado quando um estudante de oito anos teve parte do cabelo queimado por dois alunos, de 12 e 13 anos, com um isqueiro. A mãe reclamou à direção e todos ficaram alertas.
O problema é que a ideia se multiplicou rapidamente. Alguns estudantes confirmam que já há um grupo de alunos amedrontando os menores, usando os isqueiros acompanhados de desodorantes de spray, que, devido ao álcool na fórmula, viram lança-chamas.
Os confrontos na escola reproduziriam ao menos um conflito do Morro da Cruz, entre rivais do tráfico do alto e do baixo morro. Em contrapartida, a presença de guardas municipais diminui – eram três no ano passado, e agora há apenas um. Os professores acabaram virando mediadores – e alvos.
– Qualquer um consegue entrar como quer e a hora que quer. Entram pelo portão, pelos muros. É um risco para todos – preocupa-se a mãe de uma estudante de 14 anos, que prefere não ser identificada.
Se a violência vem das ruas, o ambiente que recebe os estudantes na escola não ajuda muito a melhorar a autoestima. Uma vala com esgoto a céu aberto corre no pátio onde ficam os estudantes mais novos.
– Na formatura do ano passado, deu para ver até os ratos correndo de um lado para o outro no pátio – lembra um aluno.
A agressão à professora aconteceu neste setor antigo da escola, onde as salas ainda são de madeira, com algumas portas fixadas por barras de segurança, praticamente todos os vidros quebrados e dois banheiros fora de uso há bastante tempo.
VIOLÊNCIA CANCELA AULAS
ESCOLA CONFLAGRADA. Desde o início do ano letivo, colégio da rede pública da Capital contabiliza mais de 20 casos de agressões - EDUARDO TORRES, ZERO HORA 10/04/2012
Uma faixa na entrada da Escola Municipal Morro da Cruz define: “Educar é proteger”. Desde o início do ano, porém, essa é uma missão quase impossível para quem se dedica a ensinar os aproximadamente 1,1 mil alunos do colégio da zona leste de Porto Alegre.
– Temos de agradecer o dia em que conseguimos chegar em casa tranquilos depois do trabalho – resume a vice-diretora Ana Cláudia Lopes.
Em apenas um mês, desde o início das aulas, mais de 20 casos de agressões graves contra professores ou entre alunos já foram registrados. A gota d’água aconteceu na semana passada e forçou o cancelamento das aulas de quinta-feira, como protesto, e uma assembleia entre pais, professores e alunos, realizada ontem. A expectativa é de que as aulas sejam retomadas hoje.
Na terça passada, uma professora do 1º ano do Ensino Fundamental tentou defender uma aluna de sete anos contra a fúria de outro estudante, de 12 anos. Ele ameaçava incendiar o cabelo da menina. A educadora foi ameaçada pelo garoto e acabou agredida pela mãe dele. Desde então, a professora está afastada, em licença, completando uma lista de 14 professores afastados por problemas semelhantes.
– Infelizmente, a escola está no meio de um contexto de violência bem maior, que vem das ruas, e não estamos preparados para esse tipo de controle. Os professores aprendem a educar, não a contornar conflitos – desabafa Ana Cláudia, que atualmente não conversa com os alunos sem pelo menos uma testemunha.
Aluna quase foi golpeada com barra de ferro na cabeça
No mesmo dia em que a professora foi agredida, por exemplo, a direção da escola registrou outras duas agressões. Em uma delas, um professor evitou que um aluno agredisse uma colega com uma barra de ferro na cabeça. No outro caso, uma estudante teria tentado esganar um colega.
Para a diretora pedagógica da Secretaria Municipal da Educação, Eliane Meleti, a agressão da semana passada foi um caso isolado. A mãe teria entrado no pátio alegando ao porteiro que iria à secretaria.
– O estudante foi matriculado este ano, aos 12 anos, no 1º ano. Em 2010, ele teria cursado a 1º ano, mas evadiu – explica.
A secretaria já teria feito contato com o Conselho Tutelar para acompanhar a família do garoto, que não foi localizada ontem. A diretora promete avaliar a situação da segurança na escola. O caso também é acompanhado pela Polícia Civil. Nos próximos dias, o delegado Adilson Carrazzoni pretende ouvir os envolvidos.
sábado, 7 de abril de 2012
A ESCOLA E A FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO FORMAL
PAULO CÉSAR PEREIRA MACHADO, PROFESSOR DE HISTÓRIA E SUPERVISOR EDUCACIONAL - ZERO HORA 07/04/2012
Muitas são as atribuições e responsabilidades confiadas aos professores envolvidos com a educação formal, pública e privada. Há toda uma legislação que perpassa as esferas federal, estadual e municipal na regulamentação, normatização e regulação das atividades educacionais. A simples menção soa enfadonha e repetitiva.
Ocorre que o mundo hoje, definido por alguns como pós-moderno, exige uma participação “ecumênica” no processo pedagógico, para além das expectativas que possamos ter sobre a capacidade profissional dos “operadores do conhecimento”. É fundamental a atitude proativa assumida pela família.
Pelo menos cinco aspectos são essenciais no comportamento familiar comprometido com o processo educacional escolar, os quais destaco a seguir, de forma um tanto imperativa, mas pertinente.
Procure estimular seu filho a praticar esportes ou realizar atividades que exercitem o “trabalho em equipe”, pois esta é umas das habilidades mais exigidas no mundo do trabalho.
O sucesso pessoal, escolar e profissional é conquistado mais rapidamente por pessoas que apresentam soluções criativas aos problemas do cotidiano. Incentive seu filho a estimular a imaginação a partir da leitura, do exercício da opinião sobre assuntos os mais variados, bem como assistindo a programas educativos, culturais ou de viés social.
A autodisciplina e a organização do tempo para estudar, sair com os amigos, ajudar nos afazeres domésticos, navegar na internet etc. devem ser um exercício compartilhado entre pais e filhos. Organização do tempo para realizar uma ação e autodisciplina são as competências mais facilmente associadas a responsabilidade.
É fundamental ter capacidades básicas como saber falar e escutar. Muito provavelmente o sucesso ou o fracasso social de nossos filhos estarão diretamente relacionados à importância que dermos ao exercício dessas habilidades em suas vidas.
Por fim, é fundamental contribuir com o exercício da iniciativa nos jovens. Iniciativa se refere à capacidade de buscar soluções não com a nossa interferência, mas com o nosso acompanhamento. Iniciativa para estudar, realizar tarefas que lhe são atribuídas e se engajar em atividades que exijam comprometimento, coletivo e pessoal.
De resto, dificilmente a escola poderá cumprir bem o seu papel agindo isolada na tarefa de formar cidadãos autônomos e capazes de gerir e mudar o mundo para melhor. Ainda que essa intenção nos pareça irrelevante, o sucesso social de nossos filhos não pode ser atribuição apenas da educação escolar. Deve ser nossa meta, nosso compromisso, nossa tática e nossa estratégia.
Muitas são as atribuições e responsabilidades confiadas aos professores envolvidos com a educação formal, pública e privada. Há toda uma legislação que perpassa as esferas federal, estadual e municipal na regulamentação, normatização e regulação das atividades educacionais. A simples menção soa enfadonha e repetitiva.
Ocorre que o mundo hoje, definido por alguns como pós-moderno, exige uma participação “ecumênica” no processo pedagógico, para além das expectativas que possamos ter sobre a capacidade profissional dos “operadores do conhecimento”. É fundamental a atitude proativa assumida pela família.
Pelo menos cinco aspectos são essenciais no comportamento familiar comprometido com o processo educacional escolar, os quais destaco a seguir, de forma um tanto imperativa, mas pertinente.
Procure estimular seu filho a praticar esportes ou realizar atividades que exercitem o “trabalho em equipe”, pois esta é umas das habilidades mais exigidas no mundo do trabalho.
O sucesso pessoal, escolar e profissional é conquistado mais rapidamente por pessoas que apresentam soluções criativas aos problemas do cotidiano. Incentive seu filho a estimular a imaginação a partir da leitura, do exercício da opinião sobre assuntos os mais variados, bem como assistindo a programas educativos, culturais ou de viés social.
A autodisciplina e a organização do tempo para estudar, sair com os amigos, ajudar nos afazeres domésticos, navegar na internet etc. devem ser um exercício compartilhado entre pais e filhos. Organização do tempo para realizar uma ação e autodisciplina são as competências mais facilmente associadas a responsabilidade.
É fundamental ter capacidades básicas como saber falar e escutar. Muito provavelmente o sucesso ou o fracasso social de nossos filhos estarão diretamente relacionados à importância que dermos ao exercício dessas habilidades em suas vidas.
Por fim, é fundamental contribuir com o exercício da iniciativa nos jovens. Iniciativa se refere à capacidade de buscar soluções não com a nossa interferência, mas com o nosso acompanhamento. Iniciativa para estudar, realizar tarefas que lhe são atribuídas e se engajar em atividades que exijam comprometimento, coletivo e pessoal.
De resto, dificilmente a escola poderá cumprir bem o seu papel agindo isolada na tarefa de formar cidadãos autônomos e capazes de gerir e mudar o mundo para melhor. Ainda que essa intenção nos pareça irrelevante, o sucesso social de nossos filhos não pode ser atribuição apenas da educação escolar. Deve ser nossa meta, nosso compromisso, nossa tática e nossa estratégia.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
CALARAM O PROFESSOR
Jocelaine Serro Polita, Professora estadual - ZERO HORA 05/04/2012
Há poucos dias, li sobre o papel do professor como coadjuvante na educação. Pois é! Economistas, políticos, pais entendem do ofício e sabem dizer como devemos agir. Por que não estão nas salas de aula, então? A resposta é simples: salário baixo, condições de trabalho precárias, alunos desestimulados.
Além da questão salarial, há que se verificar o porquê de se dar voz a tantos “entendidos” em educação e não ao professor. Acredito que os períodos de desmoralização por que passamos tenham influenciado nessa situação. Lembram de ouvir em meios de comunicação sobre nossa atuação e sobre os exageros de nossas reivindicações? Essas falas, com certeza, ajudaram a fazer com que o professor perdesse credibilidade. E o que falar, então, da culpa pelos resultados em avaliações (Saers, Enem, Prova Brasil...)?
Acredito que sejamos culpados por não “treinarmos” nossos alunos para esses testes, por anos e anos em que sucumbimos e andamos para lá e para cá nas mudanças de políticas educacionais de um governo para outro e por ficarmos calados frente a tanto que foi dito sobre educação e não nos consultarem quando decidiam o que e como fazer. Fomos muito obedientes, deveríamos ter nos rebelado.
Hoje nossa “voz” está sufocada. Os alunos (em sua maioria) não querem aprimorar-se, aprender. Tentamos diferentes métodos, pedimos, imploramos, pois queremos crianças e jovens que valorizem o conhecimento, estabeleçam relações, compreendam o outro, o meio e os respeitem. Isso não é querer demais. Mas não se discute com o professor na elaboração de propostas e de testes, a conversa vem na hora da aplicação e quando os resultados não são satisfatórios.
Precisamos mudar a imagem do professor, que apresenta um semblante cansado, enfraquecido, sem brilho no olhar. Lembrem-se de que ainda não desistimos de lutar por educação de qualidade, essa sempre foi a nossa bandeira e junto a ela está a questão salarial que proporcionaria coisas tão simples: comprar livros, para lê-los e depois contagiar os alunos nesse hábito; descansar, para recebermos alegres e dispostos os jovens, e não cansados e esgotados, após nos desdobrarmos em várias escolas; preparar boas aulas; estudar (gostamos muito de estudar).
Bom salário sustenta a “voz” do professor e garante qualidade em educação!
terça-feira, 3 de abril de 2012
CUSTO DO ENSINO SUPERIOR SUPERA A INFLAÇÃO
ENSINO SUPERIOR. Mensalidade sobe cerca de 9%. Aumento de universidades supera com folga inflação de 2011, e sindicato argumenta que alta leva em conta outros fatores - JOANA COLUSSI, ZERO HORA 03/04/2012
Cerca de 281 mil alunos de universidades privadas gaúchas sentiram um peso maior no bolso neste ano. Em média, as mensalidades subiram bem mais do que a inflação.
Levantamento feito pela Feteesul, entidade que reúne oito sindicatos de trabalhadores de ensino privado, em 43 instituições de Ensino Superior constatou que o aumento chegou a 8,7% no Rio Grande do Sul.
Em outra pesquisa, feita pelo Centro de Estudo e Pesquisas Econômicas (Iepe/UFRGS) e que inclui todo o Ensino Superior, a variação foi ainda maior: 9,17%. No mesmo período, de março de 2011 a fevereiro deste ano, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) avançou 5,47%.
Entre as 10 maiores universidades gaúchas consultadas por ZH, apenas a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) aplicou um reajuste inferior ao do ano passado (veja relação no quadro ao lado). Todas as demais tiveram aumentos superiores. O maior reajuste foi o da Universidade de Passo Fundo, de 11,30%.
Conforme o presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), Osvino Toillier, o reajuste das mensalidades não leva em conta apenas a inflação do período, mas a questão salarial, encargos sociais, adicional por aprimoramento acadêmico, além de investimentos e manutenção das instituições.
– Esses fatores repercutem de maneira diferenciada em cada universidade. Não podemos vincular as mensalidades unicamente ao INPC – argumenta o dirigente do sindicato patronal.
Toillier reconhece, no entanto, que o percentual aplicado no ano letivo em curso foi superior à média de períodos anteriores. A justificativa para a variação atual seria a recomposição de perdas, decorrentes de um reajuste subestimado aplicado em 2011.
– No ano passado, o reajuste das mensalidades ficou abaixo do percentual da folha de pagamento dos professores, o que acabou gerando um desequilíbrio nos custos. O aumento real (acima da inflação) de 1% concedido não havia sido projetado pelas instituições – conta o dirigente, acrescentando que o percentual de reajuste foi definido ainda em 2010.
Preço de setor se desloca de índice geral, diz professor
Flávio Fligenspan, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, explica que em todos os setores, seja educação, transporte ou saúde, os reajustes são calculados com base na estrutura de custos.
– Nem sempre a inflação média reflete a variação de custos específicos de cada setor. Com uma inflação bem distante de índices assustadores do passado, é natural que os preços se descolem para cima ou para baixo – avalia o professor da UFRGS.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - E depois querem que o brasileiro leia mais livros, estude numa universidade e busque uma graduação e aperfeiçoamento para uma profissão que lhe dê autonomia e satisfação. A maioria estaciona no ensino médio por falta de recursos.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
REFORMA DE NOVA YORK INSPIRA PROJETO NO BRASIL
Reforma de Nova York inspira projeto no Brasil. Escolas da rede pública vão receber profissionais para aprimorar prática pedagógica. Marcelle Ribeiro e Antonio Gois. O GLOBO, 1/04/12 - 21h27
SÃO PAULO - Inspirado na reforma educacional realizada em Nova York, em 2002, um projeto piloto que introduz na escola um coordenador, para ajudar pais de alunos, e tutores, para auxiliar professores em sala de aula e coordenadores, vai ser ampliado e, em breve, chegará ao Rio e ao Espírito Santo. Fruto da parceria entre a Fundação Itaú Social, prefeituras e governos, a iniciativa já está em andamento em São Paulo e em Goiás.
O projeto piloto vai ser adotado em 1.140 instituições de ensino e creches da rede pública. Cada uma delas receberá a figura de, pelo menos, um dos três novos profissionais introduzidos no cotidiano escolar pelo programa Excelência em Gestão Educacional.
Esses novos personagens representam duas das oito principais medidas da reforma educacional executada em Nova York e de mais fácil adoção no Brasil.
Em São Paulo, primeira cidade a receber o projeto, dez escolas da Zona Leste, região considerada de alta vulnerabilidade social, receberam, durante três anos, o reforço de tutores e também de coordenadores de pais.
Os professores de Língua Portuguesa e Matemática interessados em aderir ao projeto passaram a a ter o apoio de tutores, contratados pela Fundação Itaú Social. Eles entravam em sala de aula para observar de perto as deficiências e dificuldades de professores, assim como as boas iniciativas que poderiam servir de exemplo para os demais.
Mesmo com cinco anos de experiência em sala de aula, Cintia Dias Marei, professora de Língua Portuguesa da Escola Estadual Aquilino Ribeiro, em São Paulo, sentiu que precisava de ajuda para melhorar o desempenho de suas turmas. Ela enfrentava a indisciplina dos alunos e o desafio de alfabetizar em torno de 15 alunos da 6 série que não sabiam ler.
— Os tutores deram ideias de leituras e de formação de grupos de trabalho na sala de aula para atrair o interesse dos alunos. Os tutores também me ajudaram a criar questões de provas e a sistematizar os resultados, para que eu soubesse quantos alunos foram mal e entendesse a razão disso — detalha Cintia.
Professor de Português da escola Aquilino Ribeiro há seis anos, Cícero Leonardo do Nascimento diz que os tutores ajudaram a encontrar novas maneiras de lidar com a leitura e a produção de textos:
— Passei a trabalhar contos de suspense usando histórias em quadrinho para atrair os alunos, por exemplo. E, na sala de aula, antes eu falava, e os alunos ouviam. Hoje, eles participam mais. Eu sou só o mediador — relata Cícero.
Os coordenadores, profissionais que atuam em cada escola ajudando na formação dos professores, também tiveram a ajuda dos tutores nos últimos três anos.
— O coordenador, às vezes, é desviado da função dele e acaba tendo que cuidar da merenda, de fechar portão, de funções burocráticas. A proposta da tutoria é ajudar esse profissional a priorizar a rotina pedagógica, a fazer um diagnóstico da escola e o planejamento do ano — explica a especialista em gestão educacional da Fundação Itaú Social, Maria Carolina Nogueira Dias.
Além de São Paulo, Goiás adotou esse tipo de tutor, porém, em escala maior, já que cerca de 1.100 escolas participam do projeto piloto.
Com o objetivo de aumentar a interação entre pais e escolas, colégios que participam do projeto contam com a ajuda dos coordenadores de pais. São pessoas que conhecem bem a comunidade e não são, necessariamente, pais de alunos. Elas recebem os estudantes na porta, conversam com os pais, procuram convencê-los a participar das reuniões periódicas e podem até ir à casa da família quando notam algum problema com o aluno.
— Queremos que esse profissional trate com alunos que estão propensos à evasão ou que têm baixo rendimento escolar — disse o secretário de Educação do Espírito Santo, Klinger Barbosa Alves.
Ainda neste primeiro semestre, coordenadores de pais vão atuar em 15 escolas estaduais de ensino fundamental e médio em cinco cidades da Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo.
No Rio, os coordenadores de pais terão uma participação distinta: vão ajudar no atendimento de famílias cujos filhos frequentam cerca de 20 creches municipais apenas uma vez por semana.
A Fundação Itaú Social ainda está avaliando os resultados do projeto em São Paulo, onde o piloto se encerra este ano. Agora, a entidade está prestando assessoria à Secretaria de Educação, para que o processo de tutoria possa ser replicado pelo governo do estado independentemente da fundação. Mas pessoas que participaram da iniciativa já apontam avanços.
— Hoje, 95% dos pais comparecem às reuniões na escola. Antigamente, só se falava da indisciplina dos alunos nestes encontros. Agora, fala-se mais das notas, e os pais ficam informados sobre o aprendizado dos filhos — relata a coordenadora de pais Maria Aparecida Alexandre Custódio.
Segundo ela, as visitas às casas dos alunos também deram resultado: depois de uma delas, uma mãe que não participava das reuniões se engajou tanto que voltou a estudar e concluiu o ensino médio na mesma escola onde o filho estuda.
Além disso, os pais reconhecem a importância de um entrosamento maior com a escola.
— Não adianta ter o trabalho só da escola com o aluno ou só do pai com o aluno. Tem que haver um vínculo maior — afirma a agente comunitária de saúde Maria Vanmaira Nascimento, mãe de José Mateus, que estuda numa das escolas integrantes do projeto.
Cidineia Carvalho Oliveira, mãe do estudante Willian Carvalho de Souza Lima, de 11 anos, ressalta que a coordenadora de pais ajudou quando o filho recebeu ameaças de um colega e também quando ele foi agredido por outro aluno.
— O contato agora é maior. Na reunião de pais, não dá tempo de falar tudo, e, às vezes, você quer falar em particular com alguém da escola — observa Cidineia, referindo-se à importância de existir na escola uma outra forma de obter apoio.
Revolução na gestão escolar
Quando anunciou, há dez anos, que faria da criticada educação da cidade de Nova York a principal bandeira de sua gestão como prefeito, o bilionário Michael Bloomberg atraiu olhos do mundo inteiro para as ousadas mudanças que propôs.
Seu discurso era o de que, a partir de então, colocaria o foco no aprendizado do aluno, mesmo que para isso precisasse comprar briga com o poderoso sindicato de professores da cidade.
Os pontos de sua reforma que foram adaptados ao Brasil são os menos polêmicos: a criação de tutores para professores e coordenadores e de um coordenador de pais. Mas Bloomberg propôs também o afastamento de maus professores por baixo rendimento, o fechamento de escolas mal avaliadas, o pagamento de bônus para docentes e um sistema de gestão que desse mais autonomia aos diretores para remanejar verbas e montar sua equipe.
A média dos alunos avançou significativamente nas avaliações da prefeitura, mas a melhora foi menor quando medida pelos exames nacionais.
Algumas políticas, no entanto, foram revistas. O afastamento de professores por mau desempenho, por exemplo, foi extinto, porque acabou premiando os maus docentes, que eram afastados da escola mas continuavam recebendo salário. A política de bônus por desempenho também foi abandonada depois que um estudo mostrou não ter havido impacto no desempenho dos alunos.
Permaneceram, no entanto, o rigoroso sistema de cobrança de metas por resultado — inclusive com fechamento de escolas, o que gerou pesadas críticas de que estaria preparando os alunos apenas para fazer testes de matemática e leitura —, as políticas de autonomia do diretor e as iniciativas adotadas no Brasil: o tutor de professores e de coordenadores e o coordenador de pais.
QUANDO FALTA O PROFESSOR
EDITORIAL ZERO HORA 02/04/2012
Todo ano é a mesma coisa: começam as aulas na rede pública estadual e muitos alunos voltam para casa nos primeiros dias, às vezes nas primeiras semanas, por falta de professor. Já é tão rotineiro, que as autoridades parecem conformadas. Alegam que a burocracia impede a rápida reposição dos profissionais que se aposentam ou entram em licença de saúde. Visto pelo aspecto estrutural, este problema pode parecer normal e inevitável. Porém, observado do ponto de vista dos estudantes e de suas famílias, é dramático – como mostrou a reportagem deste jornal na última sexta-feira, focando a decepção de uma aluninha de seis anos de uma escola de Porto Alegre.
Além da frustração das crianças e dos transtornos causados aos familiares, o absenteísmo no ensino também atrapalha projetos pedagógicos e desestimula a turma atingida pelo abandono. Mas não é uma questão insolúvel: escolas com bons gestores se previnem adequadamente e conseguem atenuar os danos causados pela ausência frequente de mestres. Cabe à direção fazer um bom planejamento, exigir providências das secretarias de Educação e dar atenção continuada às famílias quando o problema ocorrer.
Obviamente, não se está aqui excluindo de responsabilidade os governantes, que deveriam ser os primeiros a se comprometer com a solução para o problema. No caso da ausência de professores a cada início de ano letivo, a culpa é exclusiva do governo, que detém todas as informações sobre a movimentação de docentes e deveria providenciar as substituições em tempo hábil. O que não pode continuar ocorrendo é essa dramática experiência dos alunos que voltam para casa ou passam horas num recreio forçado e marcado pelo desencanto.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O importante ofício do magistério no Brasil está tão sacrificado, desvalorizado, estressante e inseguro que as pessoas mais capacitadas não são motivadas a prestar concurso para a área educacional. O resultado é a insuficiência do Estado para atender a demanda com professores preparados, graduados e comprometidos com a arte de ensinar.
PESSOAS
CLÁUDIO BRITO, JORNALISTA - ZERO HORA 02/04/2012
Em recente evento cultural em nossa cidade, cuja pauta era a metodologia da educação, professores debatiam recursos materiais, tecnologias e novas ferramentas de apoio ao melhor desempenho pedagógico. Um dos painelistas encaminhou a assistência à reflexão ao dizer, repetir e assinalar a frase que redirecionou a programação:
– Amigos, não podemos esquecer que tudo vai muito bem, mas o importante é que trabalhamos com pessoas. Nosso foco é gente. Pessoas, só pessoas!
Não que o expositor pretendesse invalidar o tema tecnológico ou quisesse fazer qualquer desconstituição do núcleo proposto pelos organizadores, mas alertava para a relevância das pessoas para quem trabalha em educação. Logo começaram as conversas paralelas, acentuadas nos intervalos para o café e a água mineral. Reflito agora também.
Não existe atividade humana que não seja voltada para as pessoas.
O zelador de um zoológico tem como objetivo atender pessoas. Quando vai à jaula e trata do leão, faz isso por causa das pessoas que virão ao parque para olhar e curtir os animais. Pareceu-me óbvia a conclusão, mas a ela chegaram após aquela advertência inicial. Planta-se, cultiva-se, colhe-se, tudo se faz por causa e para as pessoas. Somos seres postos sobre o planeta para uma vida de relação. Preocupa-nos o ambiente? Por causa das pessoas e não das árvores. Para quem os frutos e a sombra? Toda a festa de beleza que a Natureza oferece tem sentido por causa das pessoas, acontece para as pessoas. Escrevemos e publicamos para sermos lidos pelos demais, que para o ermitão bastaria o pensar. E até o náufrago solitário na ilha mais deserta, ou ainda aquele que voluntariamente retirou-se, mesmo esses têm a mente voltada para as lembranças que outras pessoas causaram. O amor e o ódio, a verdade e a mentira, quaisquer sentimentos, o sorriso e a dor, as reações das pessoas têm como alvo outras pessoas. Mesmo Narciso, em seus delírios de egocentrismo, vendo a imagem refletida no lago em que morreu, chegou à tragédia seduzido pela pessoa que o espelho d’água lhe mostrava, ainda que fosse ele mesmo, mas uma pessoa.
Não são apenas os professores, mas todos nós só daremos sentido ao que fazemos se o fizermos para todas as pessoas. Todos os atos e fatos dos homens e das mulheres têm causa e consequência nos encontros e desencontros de homens e mulheres. O comportamento cidadão, tão desejado e que se quer construir com a solidez que as Constituições dos países respaldam, acontece em sociedade. Pessoas formam famílias, tribos, clubes e partidos políticos. Organizam-se em empresas ou instituições, públicas ou privadas, mas sempre são pessoas que giram a roda do mundo. Da provocação daquele professor recolheu-se a certeza de que temos esquecido ou relegado à pouca relevância a verdadeira missão que nos cabe: cuidar para que as pessoas tenham motivação, interesse e lhes seja possível e agradável viver com pessoas. Pessoas, só pessoas. É o que somos.
domingo, 1 de abril de 2012
UM PAÍS DE NÃO LEITORES
EDITORIAL INTERATIVO ZERO HORA 01/04/2012
Quando classificou o Brasil de país de não leitores, o articulista do Le Monde Diplomatique Lucas Murtinho sequer conhecia o resultado da terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência e divulgada na última quarta-feira. O novo estudo, feito com 5 mil pessoas em 315 municípios do país, confirma os piores vaticínios: de 2007 para cá, o índice de leitura caiu de 4,7 livros por pessoa para quatro títulos. O número de leitores caiu de 95,6 milhões há cinco anos para 88,2 milhões no ano passado – uma queda de 9,1% no universo de leitores ao mesmo tempo em que a população cresceu 2,9% no mesmo período.
Se o analfabetismo diminuiu, o acesso à escola se tornou universal e o governo investe cada vez mais na compra e na distribuição de livros para escolas e bibliotecas, por que estamos lendo tão pouco? Talvez não exista uma resposta simples para esta questão, mas a comparação com outros países, inclusive sul-americanos, evidencia o desapreço cultural dos brasileiros pela leitura, especialmente nos formatos tradicionais. Ainda que as novas tecnologias venham despertando o interesse dos jovens pelas letras e pela comunicação escrita, não está comprovado se nessa leitura superficial e interativa o leitor assimila conteúdos suficientes para utilizar na transformação de sua vida.
E não há dúvida de que a leitura transforma. O ato de ler é um processo de entendimento do mundo por meio da palavra, que é o instrumento de interação entre os homens. Portanto, a leitura no papel também é interativa. A leitura do mundo, como disse o educador Paulo Freire, precede a leitura das palavras, mas é a conjugação de letras que dá significado às coisas que nos cercam. Por isso, é decisiva a leitura crítica, que percebe a relação entre texto e contexto. Um leitor crítico é mais do que um decifrador de signos – é alguém capaz de captar sentidos e utilizá-los em seu próprio benefício e da sociedade.
O interesse pela leitura deveria começar em casa, mas parcela expressiva de brasileiros só tem acesso a livros na escola. E as escolas do país, principalmente nas redes públicas, ainda deixam muito a desejar no que se refere ao estímulo à leitura. Muitas, ao transformar em obrigação o que deveria ser prazer, afastam ainda mais os jovens dos livros. Não é de admirar que as bibliotecas públicas do país tenham pouca frequência, pois também elas – ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e na Europa – raramente desenvolvem programações culturais para atrair o público.
Não nos faltam livros, nem oportunidade para lê-los. Falta-nos o interesse pela leitura. Falta-nos a visão de que ler é importante, falta-nos a convicção de que ler realmente transforma as pessoas em seres humanos melhores e mais capacitados para entender o mundo.
A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Editorial diz que a leitura é essencial para formar cidadãos críticos e produtivos. Você concorda?
O leitor concorda
Concordo que a leitura é essencial para a formação de cidadãos críticos e produtivos, pois é através da leitura que podemos ficar informados e defender nossas posições, tendo mais argumentos e aumentando nosso vocabulário. Sirce Garcia Santana do Livramento (RS)
Com a leitura, viajamos pelos pensamentos, ideias e imaginação. Construímos esperanças e sonhos. A leitura nos conduz ao conhecimento e nos induz ao aprendizado. Eloisa Menezes Pereira Porto Alegre (RS)
Todos somos diferentes desde a geração. Portanto, não é de se estranhar as diferenças das opiniões em relação ao tema. A leitura de um bom livro fortalece a nossa consciência crítica. Enriquece o vocabulário e facilita a escrita. Portanto, quem lê bem costuma escrever bem. Hoje as facilidades para leitura são maiores que outrora. Encontramos bibliotecas públicas em municípios que antes não ofereciam esse serviço à comunidade. O que observo é a pequena frequência de usuários das bibliotecas. As pessoas preferem as “lan houses” as bibliotecas por ocasião da realização dos trabalhos. Talvez incentivados pela facilidade das teclas“copiar” e “colar”. Manuel Souza Neto Souza, Fortaleza (CE)
Concordamos em gênero, número e grau. Paulo Roberto Rossal Guimarães – Porto Alegre (RS)
O leitor não concorda
Não concordo. Temos inúmeros exemplos de cidadãos letrados que, essencialmente, leram e leem muitos livros, mas que não produzem nada que possa ser aproveitado. Casos como de políticos de alto escalão que só pensam em seu próprio umbigo, de médicos que fingem trabalhar no poder público, mas que atendem bem tranquilos em seus consultórios particulares ganhando também seu salário de servidor, ou representantes de empresas que superfaturam serviços para a União, e repartem a fatia com servidores corruptos. Leitura por si só não cria cidadão crítico, nem produtivo: vai muito também da índole e do ensinamento familiar ao indivíduo, que, daí sim, pode usar a leitura para a crítica e a produção que o valha. Juliano Pereira dos Anjos, Esteio (RS)
Discordo em parte. As pessoas têm noção da importância da leitura, admiram escritores e livros, mas falta-lhes algo fundamental para que gostem da leitura: fluência linguística. Muitos jovens saem da escola com enormes dificuldades de leitura, escrita, interpretação. Exigir deles a leitura de um romance é como me obrigar a correr uma maratona. Temos de valorizar o ensino de nossa língua em particular e a educação em geral, até porque aposto que a diferença do índice de leitura do Brasil e da França seja proporcional ao investimento em educação dos dois países. Marcelo Spalding – Porto Alegre (RS)
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Concordo, a "leitura é essencial para formar cidadãos críticos e produtivos". Isto fica evidente no tempo dos nossos avós onde o livro era o companheiro que educava a família, atualizando conhecimentos e cultura. Almanaques transmitiam parábolas, ensinamentos e variedades importantes que eram difíceis de se encontrar em lugar afastados dos grandes centros. Hoje, o livro é muito caro para um consumidor mais atento à agilidade do acesso e facilidades oportunizadas pela tecnologia, ficando o livro, especialmente em papel, restrito a poucos admiradores da leitura. Além disto, também o alto custo torna inacessível a produção de criação literária no Brasil. Se o Estado quer realmente incentivar a leitura no Brasil, seria uma boa hora colocar "taxa zero" nos impostos dos livros, subsidiar ainda mais a produção literária, promover ainda mais as feiras por todo o Brasil, criar bibliotecas ambulantes e investir na educação multidisciplinar com oficinas de leitura e criação literária em todas as escolas de nível médio, universidades e organizações públicas.
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