EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 27 de maio de 2012

REPETÊNCIA: DRAMA EM TRÊS CURTOS ATOS

ZERO HORA, 27 de maio de 2012
 
 
Fernando Seffner, Professor da faculdade de Educação da UFRGS

Abertura

Conforme largamente anunciado pela imprensa nos últimos dias, o Rio Grande do Sul apareceu, em estatística divulgada pelo Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira –, como o campeão de repetência nacional, em especial no Ensino Médio.

Primeiro ato: o Rio Grande do Sul é o melhor

O Rio Grande do Sul possui um sistema de ensino exigente, que não se dobrou ao compromisso demagógico das aprovações em massa. Aqui os professores são severos, encaram com profissionalismo sua missão, e não se intimidam de reprovar os fracos e despreparados. O Brasil vem tentando copiar o modelo gaúcho, elevando as taxas de reprovação, mas aqui no Rio Grande do Sul elas se elevaram mais ainda, consolidando nossa liderança no Ensino Médio.

Não há motivo para drama, os dados divulgados são motivo de júbilo. Só comprovam que somos um Estado que investe com vigor em educação, preparando com qualidade as novas gerações para os desafios futuros. Há muitos anos os alunos gaúchos obtêm excelente desempenho no Enem.

Segundo ato: a educação está em crise no Rio Grande do Sul

A qualidade da nossa educação vem caindo vertiginosamente. Somos o pior salário do Brasil. Para saber da estrutura física das escolas, basta ver que na mesma semana em que os índices foram publicados um aluno morreu atingido pela queda da trave de uma goleira.

Entremos em qualquer escola pública gaúcha para olhar os mestres: professores despreparados, vazio de inovações pedagógicas, ausência evidente de vontade de ensinar, o absenteísmo como estratégia corriqueira. O aluno se desloca até a escola, e a aula não acontece. Soltar mais cedo é a regra. Faltam ideias e vontades.

Aqui tivemos a famosa “enturmação”, pela qual alunos foram mudados de local a torto e a direito, ajuntados conforme a conveniência econômica. Nossos professores têm carga horária dividida em numerosas escolas e não conseguem estreitar o vínculo com as classes de alunos. Os dados só comprovam que somos um Estado que não investe em educação, que não trata os professores com dignidade, e com isso condena as novas gerações a um desempenho medíocre no futuro.

Terceiro ato: é o Rio Grande do Sul que está em crise


Somos um Estado falido, que perdeu competitividade, população, indústrias, peso político no contexto nacional. A escola não funciona sozinha, mas articulada ao entorno social. O estímulo para progredir, obter êxito e concluir os estudos está ligado à possibilidade de sucesso no mercado de trabalho e a uma sociedade que premia os esforços do aprendizado.

Muitos alunos, de forma deliberada, se tornam desleixados nos estudos com o objetivo de reprovar. Ser estudante entre nós é considerado uma profissão. Não somos mais um Estado equilibrado. Não temos mais uma economia diversificada. Não somos mais “Primeiro Mundo” acima da média nacional. Arrumem primeiro o Estado, depois teremos uma escola de qualidade. Não existe escola de qualidade em um Estado economicamente decadente.

Epílogo

Difícil saber o que mostram as taxas de repetência. Reprovar é indicativo de qualidade ou de falência da educação? A “culpa” é dos alunos, dos professores, dos gestores, da própria população gaúcha? A resposta não está simplesmente nos índices, taxas ou números, está na compreensão que cada grupo social tem do valor da educação.

Este artigo não foi feito para achar respostas, foi feito para multiplicar perguntas. Melhor do que respostas apressadas, devemos abrir amplo debate acerca do tema. Vai encarar?

sábado, 26 de maio de 2012

OS SALÁRIOS DOS PROFESSORES

Os salários dos professores


OPINIÃO O Estado de S.Paulo - 26/05/2012
 
Depois de terem recebido reajustes acima da média na última década, os professores da educação básica continuam com os salários mais baixos do País, entre os profissionais de nível superior. São cerca de 2 milhões de profissionais que atendem mais de 50 milhões de crianças e jovens.

Em 2000, a renda média de um docente do ensino fundamental equivalia a 49% do que ganhavam os demais trabalhadores com nível superior. Em 2010, a relação aumentou para 59%. No ensino médio, a variação pulou de 60% para 72%. Em média, um médico e um engenheiro civil receberam R$ 7.150 e R$ 6.015 mensais, na última década. Os médicos e engenheiros também tiveram a menor taxa de desemprego no período - 0,7% e 1,7%, respectivamente.
Já o salário médio dos docentes da educação básica ficou em torno de R$ 1.878 e a taxa de desemprego foi de 3%, entre 2000 e 2010. Em matéria de vencimentos, os professores estão atrás de bacharéis em serviço social, enfermagem e atenção primária e viagens, turismo e lazer. Os números foram extraídos do Censo do IBGE e as tabulações foram feitas pelo jornal O Globo.

Os docentes do Distrito Federal recebem os maiores salários da categoria no Brasil - R$ 4.367 no ensino médio e R$ 3.412 no ensino fundamental. Os menores salários são pagos pelo magistério público dos Estados do Nordeste. No ensino médio, o salário mais baixo - R$ 1.598 - é o do magistério público paraibano. No ensino fundamental, o salário mais baixo - R$ 1.189 - é pago pelo Estado da Bahia.

As consequências do aviltamento salarial do professorado são a falta de motivação, a baixa produtividade e a pequena atratividade da profissão. Por causa dos baixos salários, a carreira docente acaba atraindo, salvo exceções, apenas quem não obteve nota suficiente para ingressar nas faculdades onde os exames vestibulares são bastante disputados. Sem salário digno, além disso, o docente não se sente estimulado a se requalificar, a buscar novas técnicas pedagógicas e a ascender na carreira - pelo contrário, a categoria é conhecida pelo alto grau de absenteísmo e de afastamento por licenças médicas.

A solução para o problema é cara e complexa - e o retorno, em matéria de qualidade de ensino, é obtido apenas a médio e a longo prazos. Estados e municípios, aos quais estão subordinadas as redes de ensino fundamental e médio, alegam que não dispõem de recursos próprios para aumentar os salários do magistério público. E, para pressionar a União a aumentar os repasses, até hoje muitos prefeitos e governadores continuam descumprindo a lei que estabeleceu o piso salarial unificado, em 2008. Só em 2011, isso provocou 17 greves nas redes públicas estaduais de educação básica.

Além disso, para melhorar a qualidade do ensino e atrair profissionais mais qualificados para o magistério não basta apenas aumentar os salários. Também é necessário impor metas e cobrar maior produtividade - duas exigências que os líderes sindicais do professorado resistem a acatar. "Sem salário, não há a menor possibilidade de qualidade. Agora, é claro que é preciso muito mais do que isso, como carreira, formação e gestão", diz o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Roberto Franklin Leão. "Não dá para imaginar que, dobrando o salário do professor, ele vai dobrar o aprendizado dos alunos. É preciso melhorar os salários para que os alunos aprendam mais, mas o profissional tem que ser mais cobrado por resultados", afirma a diretora executiva do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz.

Na última década, as autoridades educacionais agitaram bandeiras mais vistosas do que eficazes. Elas prometeram distribuir computadores a alunos e tablets a docentes, mas não cuidaram seriamente do que é mais importante - pagar melhores salários para os professores e estimulá-los a dar conta de suas funções elementares, em matéria de ensino de português, matemática e ciências. Enquanto essas tarefas estiverem negligenciadas, o sistema educacional brasileiro continuará longe de qualquer resultado minimamente aceitável, como atestam os indicadores nacionais e internacionais de avaliação escolar.

QUEM MANDOU SER PROFESSOR?

Noili Demaman, professora da Uergs - ZERO HORA, 26/05/2012


Machado de Assis tem um conto muito primoroso, dentre os tantos que assim podem ser classificados – “Pai contra mãe”. Nele, em plena escravidão, há o embate entre um pai, caçador de escravos fujões, cujo filho deveria ser dado à roda dos enjeitados por não poder ser mantido, e uma mãe grávida, negra e escrava fujona. Se ela fosse entregue ao dono, livraria o pai da sina que sobre ele pesava. Pois o Cândido Neves – a nomeação na boa literatura nunca é aleatória – consegue caçar a negra e entregá-la ao dono com o que recebe o suficiente para poder ficar com o filho. Ermínia, a negra fujona, aborta o bebê, diante do que o narrador, irônico e corrosivo, diz: nem todas as crianças vingam.

Se o leitor tiver a paciência de ler o conto, verá que não só essa história está lá, mas na narrativa há a flagrante acusação à negra, do tipo quem mandou fugir e, nas entrelinhas, quem mandou engravidar, quem mandou existir?

Século e meio depois, a história adaptada se repete com outros atores, não mais negros – ao menos na sua maioria –, mas com o mesmo requinte de perversidade: o tratamento dado aos professores estaduais no Rio Grande do Sul e aos educandos que parece não terem merecido sua formação. Nem todas as crianças vingam poderia ser atualizado hoje por nem todos precisam de boa formação, vamos dar-lhes um ensino aligeirado, virtual ou técnico com estardalhaço que é o que eles merecem. Depois de 10 anos sem concurso, eis o produto.

Depois que reprovaram nas provas do concurso ao magistério estadual, então, os professores viraram Ermínias apedrejadas e debochadas não só na imprensa como também nas redes sociais. Eles não anunciaram essa situação? Há anos fazem, como num mantra, os pedidos de socorro das mais diversas formas: indisciplina nas escolas e limitada autonomia para dela cuidar; falta de condições mínimas de prédios e de bibliotecas, frágil segurança na escola e nos arredores, para ficar nas elementares, e – obviamente – salários indecentes. Parece, no entanto, haver um prazer masoquista de dar à população a versão de que eles só querem aumento de salário, porque o que os move é sua vocação para mercenários.

Estou dizendo que os profissionais da educação são santos? Nem são, nem assim querem ser tratados. São pessoas como tantas outras com necessidades básicas de moradia e transporte, educação dos filhos, compra de livros, pagamento de atividades de lazer e cultura, como humanos mortais. Se essas não puderem ser supridas com o que ganham, provavelmente se desviarão do que, também, deveriam fazer no seu tempo fora das salas de aula: buscar a qualificação. Experimente submeter executivos competentes a jornadas domésticas de preparo de sua comida, da organização da sua roupa, do enfrentamento de filas para ver que rendimento eles terão em suas empresas.

Pois com professor não é diferente: eles precisam vingar como intelectuais para serem cobrados – e fiscalizados – em suas atividades. É isso que o grupo como categoria tem pedido nesses anos todos. Só não entende assim quem os vê com muita má vontade ou quem é muito obtuso. Serão esses últimos os professores?

 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

EDUCAÇÃO É DESENVOLVIMENTO

ZERO HORA, 25 de maio de 2012
 
Heitor José Müller
Presidente da Federação das Indústrias do RS (Fiergs).
 
O Dia da Indústria, comemorado em 25 de maio, constitui-se numa data propícia para se refletir, no país e no Estado, sobre barreiras no caminho do setor produtivo que precisam ser removidas. É o caso, entre tantas outras, da elevada carga tributária, de uma legislação muitas vezes ultrapassada e da burocracia que limita a expansão da atividade econômica. A data chama a atenção também para nossas próprias limitações, devido principalmente à ainda baixa qualificação profissional, que dificulta um desenvolvimento mais harmônico, em condições de assegurar melhor qualidade de vida para todos. A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) tem consciência da importância de uma formação adequada das pessoas. Por isso, elegeu a educação transformadora como tema para sua campanha institucional que está sendo lançada agora.

Uma das precondições para se avançar na educação é estar convicto de que essa não é uma tarefa de Estado, mas de todos. A Fiergs – por meio do Serviço Nacional da Indústria (Senai), do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) – acredita no poder realmente transformador do conhecimento. Por isso, tem atuado com determinação para formar profissionais empreendedores, autônomos e proativos, preparados para atuar num sistema produtivo, dinâmico e informatizado. A instituição está convencida também de que um desafio desses exige providências desde a pré-escola. O processo será mais facilitado se o país for flexível o suficiente, por exemplo, para diversificar e adequar currículos, mostrando-se em condições de contribuir para o desenvolvimento de competências profissionais que o mercado passa a exigir.

Há menos de um ano, ao assumir a presidência da entidade máxima da indústria gaúcha, incluí o trinômio educação-inovação-produtividade entre os pontos estratégicos da nova gestão. Minha convicção é reforçada quando percebo que países como a China não se contentam hoje apenas em fabricar produtos, mas se empenham cada vez mais em criá-los, como resultado de investimentos continuados em educação. O Brasil, que se tornou a quinta economia global, não se inclui sequer entre as 80 primeiras nações em desenvolvimento humano. Precisa, portanto, apostar mais em áreas como inovação e tecnologia de ponta. No caso específico do Estado, o desafio enfrentado no polo naval para recrutar profissionais qualificados na região Sul é apenas um entre tantos exemplos das soluções que precisamos encontrar dia após dia. Como desenvolver o Rio Grande do futuro sem estarmos preparados adequadamente para as oportunidades de hoje?

Às voltas com um processo de perda de espaço para concorrentes externos, inclusive em setores tradicionais, o país e o Estado precisam se convencer: educação de qualidade é pressuposto para o crescimento. No caso específico da indústria, cuja importância é ressaltada na sua data nacional, significa a chave para a transformação de matéria-prima em produtos de maior valor agregado a preços competitivos – sempre a partir do que é assimilado como conhecimento – para a geração de riqueza em favor de todos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

SALÁRIO DE PROFESSOR

<br /><b>Crédito: </b> João luis xavier

 Juremir Machado da Silva

 CORREIO DO POVO

 24 DE MAIO DE 2012

 

Na boa, o que tem de safado e de charlatão neste mundo! Especialistas de araque, que enchem os bolsos dando pareceres sob encomenda, inventaram um argumento cretino para relativizar as demandas de professores por aumento de remuneração: salário não garante qualidade nem dobra o aprendizado dos alunos. É a sacanagem na milésima potência. Segundo o último Censo do IBGE, as carreiras de professor de ensino fundamental e médio continuam tendo as piores compensações salariais do Brasil em relação a todas as outras de profissionais com nível superior. Um professor de ensino fundamental ganha em média 59% do que recebe um outro trabalhador formado em universidade.

Salário é determinante. Pagar bem permite atrair os melhores. Ganhar bem possibilita atualizar-se, ir ao cinema, viajar, comprar livros, abrir horizontes, manter-se motivado, fazer cursos e tudo o que se sabe e vale para qualquer profissão. Vá dizer a um juiz que ganhar bem não dobra a qualidade das suas sentenças! Explique a um alto executivo que a qualidade da sua gestão não está diretamente relacionada aos seus ganhos. Convença um centroavante que fazer muitos ou poucos gols nada tem a ver com o que ele embolsa no final do mês. O Brasil mente em termos de educação. A hipocrisia corre solta. No fundo, a maioria acha que ser professor de ensino fundamental é barbada e, como exige muita gente, tem de pagar pouco mesmo. Se o cara quer ganhar mais, que vá estudar para ser juiz ou alto executivo de algum banco.

Minha função é abalar as crenças de alguns: salário é tudo. Só pode cobrar mérito quem paga decentemente. A questão dos salários dos professores no Brasil tem a ver com (baixo) poder de pressão, prioridades invertidas e péssima distribuição dos recursos públicos entre as diversas prestadoras de serviço. Em bom português, juízes, deputados, promotores e outros ganham muito, professores ganham pouco. É preciso mexer nessa pirâmide. Se o Brasil quiser dar um salto terá de colocar o professor em primeiro lugar. Isso passa por uma elevação substancial de salários. O ovo ou a galinha? Qualificar primeiro para aumentar os salários depois? Aumentar os salários é o caminho para a qualificação. Não se trata de uma relação mecânica, mas complementar. O resto é papo.

O "especialista" que pontifica sobre a relatividade dos salários na relação com o mérito deve realizar o mesmo trabalho, com a mesma convicção, pela metade do que ganha. É tudo lorota. Conversa para professor dormir em pé. Tem consultor pomposo que adora falar em fuga de cérebros. Obviamente para conter esses cérebros geniais é preciso oferecer-lhes salários atrativos. Algumas pistas, a partir dessa ideia, para entender professores: eles têm cérebro, muitos desses cérebros são brilhantes, como qualquer cérebro, o de professor quer ser estimulado e recompensado adequadamente pelo seu trabalho. Continuamos na política nacional da "enrolation": tentar convencer professor a dar tudo, ganhando pouco, por amor ao ofício. Não cola mais. Está na hora da virada. É grana no bolso.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

DESEMPREGO JOVEM

 

 EDITORIAL CORREIO DO POVO, 23/05/2012

OIT alerta sobre desemprego jovem


A Organização Internacional do Trabalho (OIT) está alertando os líderes mundiais acerca de tendência de que a taxa de desemprego entre os jovens se mantenha em índices elevados até o ano de 2016. O aviso está consubstanciado no relatório Tendências Mundiais do Emprego dos Jovens, divulgado nesta terça-feira, o qual indica que o montante de jovens desempregados, com idades entre 15 e 24 anos, deverá chegar a 75 milhões em 2012.

Para o diretor-executivo da OIT para o Emprego, José Manuel Salazar-Xirinachs, essa realidade preocupante pode ser vencida se os governos lançarem mão de políticas públicas eficientes para gerar postos de trabalho para a juventude. Para isso, é necessário que a criação de empregos seja prioridade e que os investimentos no setor privado ganhem escala. Para o ano em curso, a previsão é que haja 4 milhões a mais de jovens sem emprego na comparação com 2007.

De acordo com o levantamento da OIT, a percentagem da mão de obra jovem sem trabalho deve chegar a 12,7%, um índice parecido com o que foi verificado no auge da crise que assolou o mundo em 2008/2009. Esse total supera por pequena margem o quadro de 2011, quando foi registrado um desemprego de 12,6% nesse contingente.

Segundo o dirigente da OIT, as medidas que os governos devem tomar passam por alívios fiscais e incentivos para os empresários que têm como prática contratar jovens. Também devem ser estruturados nos países programas de empreendedorismo e de qualificação de mão de obra, meios de acessos aos capitais e implementada uma rede social protetiva dos jovens que se encontrem em situação de vulnerabilidade.

O alerta da OIT deve servir para que os governantes busquem equacionar as questões de um segmento que precisa ver resolvidas suas demandas. Encontrar ocupações para os jovens é uma tarefa urgente, pois só assim eles poderão ter uma vida estável e produtiva.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Esta notícia confirma a deficiência de uma educação que não focaliza o futuro do jovem no mercado de trabalho, não motiva e nem o prepara para uma autonomia financeira. No Brasil, havia uma época que várias escolas tinham oficinas de aprendizado técnico que encaminhava o aluno a uma profissão, ao trabalho. Lembro das Escolas Técnicas e das Escolas Agrícolas que tinham apoio até dos militares da ditadura. Hoje vivemos uma democracia civil que esquece, desvaloriza, sucateia, tira autoridade e discrimina os professores, como se esta área não fosse importante para o futuro do país. O programa de Escolas Técnicas prometidas pela presidente Dilma deveria decolar e atingir todas as escolas públicas e privadas do país, transformando-as em centros geradores de futuros artistas, atletas, técnicos, cientistas e profissionais em todas as áreas.

ANJOS DA LEI EM AÇÃO NAS ESCOLAS

 
CERCO AO TRÁFICO

Anjos da Lei fazem a 100ª prisão de traficante. CID MARTINS E FÁBIO ALMEIDA, zero hora 23/05/2012


O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) chegou ontem à 100ª prisão de traficantes que se especializaram em assediar estudantes. A ação faz parte de uma nova forma de agir contra o tráfico no entorno de escolas da Região Metropolitana. O projeto, implementado há um ano, é denominado Anjos da Lei.

Ontem, uma equipe da 1ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico realizou duas operações nas proximidades de uma escola estadual no bairro Auxiliadora, na Capital. Dos três detidos, dois são adultos e um é adolescente. Foram usados cães farejadores para encontrar as drogas escondidas no entorno da escola.

O delegado Mário Souza conta que mais de 20 jovens se reuniam em um beco próximo ao colégio para consumir drogas antes e depois das aulas – durante um mês foram feitos flagrantes em fotos e vídeo na região. Os entorpecentes eram vendidos por três traficantes – dois deles atuavam como flanelinhas.

A opção de manter uma operação contínua no entorno de escolas surgiu de um mapeamento feito pela Polícia Civil que apontou que ao menos 30% dos traficantes costumam agir perto de estabelecimentos de ensino. As primeiras 16 prisões ocorreram em duas operações simultâneas em maio do ano passado em São Leopoldo e Sapucaia do Sul.

A operação foi chamada de Anjos da Lei em referência a um seriado americano dos anos 80 que mostrava um grupo de jovens policiais que se infiltrou nas escolas para investigar crimes cometidos por alunos.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O PONTAPÉ INICIAL NO MUNDO DO TRABALHO


EDITORIAL CORREIO DO POVO, 22 DE MAIO DE 2012


Como se sabe, não é fácil para os jovens escolherem a área em que vão atuar de forma definitiva. Muitos padecem de forte indecisão na hora de escolher um curso técnico ou superior para firmar sua profissão. Em muitos casos, acabam cursando vários semestres de uma determinada faculdade para somente depois darem-se conta de que ela não atinge suas expectativas, despendendo tempo e recursos e tendo que empreender nova escolha.

Diante de necessidade de subsidiar os jovens na opção profissional, além de lhes garantir uma remuneração pelo trabalho prestado, algumas alternativas são disponibilizadas, como na aprendizagem e no estágio. No primeiro caso, o aprendiz está inserido numa relação de trabalho, com o objetivo de prepará-lo para assumir uma vaga em definitivo no futuro. Já o estagiário desenvolve habilidades profissionais relacionadas com o curso formal ao qual está vinculado. Em geral, trata-se de adolescentes que irão trilhar os primeiros passos na busca por uma colocação no mercado de trabalho.

Um dos óbices para que o jovem consiga um bom emprego está na falta de experiência. Pois é justamente essa lacuna que programas de estágio e de aprendizagem podem suprir. Com esse objetivo e com excelentes resultados, o Serviço Nacional do Comércio do Rio Grande do Sul (Senac-RS) criou o Programa Jovem Aprendiz, que já qualificou milhares de alunos, abrindo para eles as portas das empresas dos ramos de comércio, de serviços e de turismo. Cada vez mais os empreendedores apostam nesses convênios como forma de receber uma força de trabalho com ânimo novo e vontade de progredir.

O Brasil vive hoje um momento propício para a expansão do emprego e da renda. Para isso, é preciso que sua mão de obra, desde cedo, receba a orientação adequada para se desenvolver plenamente. Programas de capacitação são muito necessários nesse contexto, pois são decisivos para formar um trabalhador competente e produtivo.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Se os jovens tivessem um ensino eficiente que oportunizasse os meios de identificar o potencial e o talento de cada um para um futuro de autonomia financeira e sobrevivência em sociedade, o pontapé inicial no mundo do trabalho não seria dificuldade como é hoje. Infelizmente, a educação brasileira é voltado ao ensino científico de forma impessoal, desprezando a pessoa do aluno, seu futuro no mercado de trabalho, seus talentos e seu potencial diante de uma gama de profissões. Por este motivo defendemos neste blog o ensino multifuncional (ou multidisciplinar) onde o aluno recebe o conhecimento científico numa parte do dia e na outra parte ele escolhe uma atividade extraclasse artística, desportiva e técnica para desenvolver suas habilidades num talento já identificado por forma científicas ou por escolha própria. A medida que passa o tempo, ele pode ser firmar numa ou outra atividade até escolher a profissão. Hoje, os jovens saem sem rumo, frustrados, desorientados e estressados, mudando a toda hora de faculdades e profissões, sem se interessar por nenhuma, podendo levá-los ao vício e até ao suicídio se não tiverem apoio familiar.

NA IDADE CERTA

EDITORIAL ZERO HORA 22/05/2012


O Ministério da Educação começou a encaminhar esta semana a prefeitos e governadores de todo o país os detalhes do Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), que pretende assegurar a alfabetização de todos os alunos até os oito anos de idade – como recomendam as organizações internacionais de atenção à educação. O principal foco do programa será a melhora na formação dos professores que lecionam nos três primeiros anos do Ensino Fundamental. O objetivo é reduzir a constrangedora defasagem dos estudantes brasileiros em relação aos alunos de países desenvolvidos. Recente levantamento mostra que, nas nações que investem mais no Ensino Fundamental, 57% dos estudantes detêm o conhecimento esperado para sua série, ou o superam. No Brasil ocorre o contrário: 77% dos estudantes estão atrasados em relação ao que deveriam saber na sua idade.

Logo depois de assumir o comando da pasta da Educação, o ministro Aloizio Mercadante anunciou um plano de pagamento de bônus para as escolas que alfabetizarem todos os alunos até oito anos, sob o argumento de que é muito mais inteligente resolver o problema na idade certa do que gastar em programa de recuperação depois. Por isso, o MEC pretende investir na formação dos 244 mil professores que lecionam nos três primeiros anos, distribuindo bolsas de incentivo para os profissionais participarem de cursos de capacitação fora do horário de trabalho.

O ensino brasileiro precisa mesmo dar este primeiro passo no sentido de recuperar o tempo perdido. Não podemos mais ficar apenas na dependência dos raros administradores com visão arejada, que conseguem produzir ilhas de excelência em meio à mediocridade geral do sistema público nacional. A última Prova Brasil, considerada uma radiografia do ensino público brasileiro, mostra um número reduzido de escolas em que os alunos apresentam conhecimento adequado para suas idades. São exemplos isolados, mas que deveriam ser seguidos por outras administrações. Não por coincidência, dos 10 melhores municípios da lista, sete são de Minas Gerais – o primeiro Estado a formular prova única para mapear as deficiências dos alunos e a criar metas para a sala de aula, inclusive com o pagamento de bônus salarial para os professores que elevam o nível do ensino.

Os bons resultados estão diretamente ligados a um conjunto de fatores que diferenciam estas escolas de suas congêneres, a começar pela escolha de diretores por critérios mais técnicos e menos políticos e culminando com o envolvimento da família com a educação das crianças. Mas o principal é a valorização e o incentivo à atualização dos mestres. Professores motivados e capacitados garantem o aprendizado. E o novo programa governamental só funcionará adequadamente se contar com a adesão e o comprometimento dos docentes.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

EDUCAÇÃO É REPROVADA EM TODAS AS QUESTÕES

 

EDITORIAL JORNAL DO COMÉRCIO, de 21/05/2012
 
É triste, incomoda, mas contra fatos não há argumentos: em 2011, 22% dos alunos de Ensino Médio em escolas públicas foram reprovados, contra 8% em 2010. O pior de tudo é que os números colocam o Rio Grande do Sul na ponta, pois de cada cinco estudantes, um é reprovado. Números do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) dizem que estudantes do Ensino Médio no Estado são os que apresentam a maior taxa de repetência do Brasil, 20,7%. O Rio Grande do Sul sempre se ufanou do diferencial político, cultural e educacional em relação ao resto do Brasil. Tudo caiu por terra, lastimavelmente para nós. A média nacional de reprovação ficou em 13,1% em 2011, a mais alta desde 1999, primeiro ano disponível para consulta. Como o Ensino Médio é predominantemente estadual e houve mudanças de governo em muitos estados no ano passado, novos secretários de educação, novas atitudes, novos procedimentos, talvez tenha aí alguma explicação, segundo o ministro Aloizio Mercadante. Por isso será criado um exame nacional para estudantes de 7 e 8 anos, de todas as escolas públicas do País, para avaliar o seu desempenho em leitura, redação e matemática. A avaliação será nos moldes da Provinha Brasil, atualmente aplicada para crianças no segundo ano de escolarização da rede pública.


A ideia é uma avaliação diagnóstica, para orientação pedagógica, de leitura e redação e primeiras contas, com 7 anos. Aliás, que saudades dos tempos da leitura, redação e do ditado em sala de aula. Não precisa avaliação alguma para saber que as crianças mal sabem ler e escrever. É um hábito em total desuso. Ideias, mais ideias, porém nada altera a triste realidade do ensino. O Censo Demográfico do MEC de 2010 provou, também novamente, o óbvio, pela pobreza financeira e falta de estrutura governamental, que a taxa de crianças com 8 anos não alfabetizadas nos estados do Nordeste e Norte é bem superior à média nacional, de 15,2%. Há estados no Brasil em que uma em cada três crianças não aprende a ler e escrever na escola até 8 anos. E isso não pode continuar. A creche e a pré-escola estimulam esse processo. O programa será focado para que as crianças saibam ler e escrever e dominem as primeiras contas, porque essas duas ferramentas são decisivas para toda a vida escolar, outra obviedade acaciana dita pelo ministro da Educação.

Entre os estudantes gaúchos de Ensino Fundamental, a média de reprovação é de 13,1%, acima da média nacional que é de 9,6%. Os índices são maiores na rede pública. No Ensino Fundamental, a média de repetentes é de 14,1% nas escolas públicas e de 3,7% nas particulares. No Ensino Médio, são 22,2% nos colégios públicos e 8,1% nas escolas particulares, uma tristeza. E para afundar ainda mais o já periclitante orgulho gaúcho, o concurso público para o magistério estadual foi um fiasco. Mas quem busca carreiras na educação com os salários pagos?  Aqui e em todo o Brasil? Temos que tomar pulso e fazer as coisas acontecerem. Nada de blindar mudanças sob a égide de direitos adquiridos. Debater com os interessados, tudo bem. Mas foi dito que a unanimidade é burra. Logo, em algum momento e que não seja muito demorado, alguém tem que bater na mesa e bradar: educação ou a morte do Estado e do País!

PROCESSOS MAIS ÁGEIS

 
ZERO HORA, 21 de maio de 201

ESQUELETOS DA EDUCAÇÃO

Processos têm de ser mais ágeis, dizem especialistas

Especialistas em gestão pública e educadores concordam que escolas com poucos alunos devam ser fechadas, mas alertam que os prédios precisam ter novos destinos com mais agilidade.

A ex-secretária estadual de Educação Mariza Abreu, hoje consultora da ONG Todos Pela Educação, participou do processo de fechamento de várias escolas. Para Mariza, o número de estabelecimentos de ensino é secundário, o que importa é a taxa de atendimento educacional.

– O Brasil vem se urbanizando loucamente, e o crescimento da população em idade escolar é menor, assim sobram escolas em alguns locais e faltam em outros – salienta.

Para a consultora, manter crianças em escolas com número reduzido de alunos, insuficientes até para “formar um time de futebol”, é ruim para a aprendizagem. Conforme Mariza, os processos para ceder ou doar um prédio público, complexos e demorados, precisam ser acelerados para que o patrimônio não se deteriore.

O professor Fernando Luiz Abrucio, coordenador do curso de graduação em Administração Pública e Governo da Fundação Getulio Vargas, lembra que o bem é público e, por isso, precisa ser revertido à comunidade.

– Espaços culturais e esportivos para os jovens são sempre uma boa opção. É preciso um planejamento para reutilização dessas escolas – salienta Abrucio.

Embora a legislação brasileira não considere crime o abandono dos prédios, o promotor de Justiça José Guilherme Giacomuzzi lembra que, em tese, a perda patrimonial decorrente da má conservação do patrimônio público pode caracterizar improbidade, ou ainda ato inconstitucional por não se dar ao patrimônio destinação social.

– É preciso investigar cada caso e comprovar negligência para se caracterizar como improbidade – destaca o promotor.


REPORTAGEM ESPECIAL

Escolas invadidas e abandonadas

Programa Otimizar, que será lançado pelo Estado em 30 de maio, pretende driblar a burocracia e acelerar a venda e a cedência de imóveis que estão desocupados

Fechadas devido à baixa ocupação, 349 escolas estaduais cessaram atividades desde 2006 no RS. Destas, ao menos 60% não receberam um novo aproveitamento.

A burocracia na destinação do patrimônio público impede que os prédios sejam cedidos, doados ou vendidos pelo Estado na velocidade ideal.

Livros, provas e documentos jogados pelo chão são o único resquício de um período em que a Escola Castro Alves, em Marcelino Ramos, contribuía para a formação das crianças. Desocupada em 2009, a escola teve as turmas transferidas para o Centro.

 Nota: Reportagem completa na postagem anterior.


OS NÚMEROS:

- 2.557 é o número total de escolas estaduais no RS

- 349 escolas foram fechadas entre 2006 e 2011 (13,6% do total)

- 212 estão abandonadas ou invadidas (60,7% das fechadas)

- 109 estão sendo usadas pelas comunidades (31,2% das fechadas)

- 28 ainda funcionam como escolas (8,02% das fechadas)

- 59 têm pedidos de cedência sem resposta (16,9% das fechadas)

BUROCRACIA ABANDONA IMÓVEIS ESCOLARES

 
ZERO HORA - 21 de maio de 2012

ESQUELETOS DA EDUCAÇÃO

Escolas invadidas e abandonadas

Programa Otimizar, que será lançado pelo Estado em 30 de maio, pretende driblar a burocracia e acelerar a venda e a cedência de imóveis que estão desocupados - MARIELISE FERREIRA

Fechadas devido à baixa ocupação, 349 escolas estaduais cessaram atividades desde 2006 no RS. Destas, ao menos 60% não receberam um novo aproveitamento.

A burocracia na destinação do patrimônio público impede que os prédios sejam cedidos, doados ou vendidos pelo Estado na velocidade ideal.

Livros, provas e documentos jogados pelo chão são o único resquício de um período em que a Escola Castro Alves, em Marcelino Ramos, contribuía para a formação das crianças. Desocupada em 2009, a escola teve as turmas transferidas para o Centro.

– Solicitamos cessão de uso no mesmo ano, mas como não temos resposta não podemos nem conservar o prédio – conta a secretária municipal de Educação, Isabel Hamish.

A imagem se repete em centenas de municípios. As antigas escolas se tornam alvo de invasões e vândalos. O diretor administrativo da Secretaria Estadual de Educação, Cláudio Sommacal, admite que reter os prédios em situação de abandono é desperdício. Conforme Sommacal, pelo menos 700 escolas já foram fechadas, incluindo períodos anteriores a 2006. Em contraste, o governo mantém alugados 96 prédios pelo Interior. São ginásios de esportes, quadras e salas para o Ensino Médio.

É normalmente nas mãos dos municípios que vão parar as escolas fechadas. Das 137 escolas cedidas nos últimos seis anos, só 28 continuam recebendo crianças. Do total, 15 foram fechadas pelas próprias prefeituras que as receberam. A justificativa também é a demora. É o caso da Escola Jacó Orth, em São José do Sul, no Vale do Rio Caí. A prefeitura pediu a cessão para transformar o prédio em oficinas extracurriculares, mas o valor da reforma – mais de R$ 100 mil, devido ao estado de conservação do imóvel –, fez com que o município mudasse de ideia.

Outras 59 escolas fechadas estão com processos de cedência ou doação em trâmite, mas a lentidão faz com que muitos desistam. Segundo o diretor do Departamento de Patrimônio do Estado, Otto Boutros, os processos são demorados porque, para cada solicitação das comunidades, é feito um estudo da realidade local, avaliando-se em primeiro lugar a necessidade do Estado e a possibilidade de reutilização por outros órgãos. Também é verificado se o projeto do município é relevante.

A morosidade causa danos ao patrimônio. Inconformado com a situação, o Estado prevê, para 30 de maio, o lançamento do programa Otimizar. O objetivo é avaliar o uso dos 18 mil imóveis públicos e acelerar a venda ou cedência dos que não têm mais serventia – incluindo as escolas.

As comunidades que conseguiram autorização para usar as estruturas em tempo hábil transformaram salas de aula em clubes de mães, igrejas, postos de saúde ou depósitos de material. Outras são sedes de empresas, cooperativas e projetos ambientais e de inclusão, que ajudam a reduzir a distância entre o meio rural e a cidade.

 
  
Casa com quadro negro no quarto e na cozinha - VANESSA FRANZOSI

Enquanto circula pelas salas, todas com quadro negro, a agricultora Claudete Dellavi, 27 anos, conta ao filho, Lucas, nove anos, as peripécias de quando ela própria frequentava a Escola Estadual Boa Esperança, em Planalto, no norte do Estado.

O prédio foi invadido por famílias da localidade. Nos últimos três anos, coube à Claudete a tarefa de manter o local, que tem 10 peças.

A cena se repete na Escola estadual Marquês do Herval, em Roca Sales. Assim que os 12 alunos foram transferidos, a dona de casa Zuleide Delabona, 45 anos, serrou o cadeado do portão e se adonou de três salas de aula, biblioteca, cozinha e banheiros. Grávida e com quatro filhos pequenos, Zuleide viu um abrigo nas paredes abandonadas.

– Não tinha para onde ir, e só saio daqui agora se me derem uma casa – justificou.

 

Vizinhos tentam impedir ação dos vândalos no Sul - JOICE BACELO

Em São Lourenço do Sul, sobraram só as paredes da Escola Estadual Joaquim Westendorff. Desde que foi fechado, em agosto de 2007, o prédio deixou de ter serventia e passou à condição de abandono. Há vidros quebrados, telhado caído e até um cachorro morto dentro da escola. Portas e janelas foram levadas. O prejuízo é tamanho que a prefeitura desistiu da escola.

Moradora da localidade de Quevedos, Isoldi Perquemann, 62 anos, até tentou impedir as invasões.

– Um senhor queria morar na escola abandonada. Depois que ele foi embora, cercamos o local com arame farpado – conta Isoldi.

O prédio tem duas salas grandes – com capacidade para cerca de 50 alunos cada, uma cozinha e dois banheiros. Na época em que funcionava, era a única escola da localidade de Quevedos.






 

Cenário é de deterioração em escola de Montenegro - ÁLISSON COELHO

Um quadro negro esburacado e um nome desbotado são as únicas lembranças de que no pequeno prédio no interior de Montenegro, no Vale do Caí, funcionava a Escola Estadual de Ensino Fundamental Anitta Machado Rosa.

Hoje o mato tomou conta do pátio. Do prédio, restam apenas as paredes e o teto. Tomado pelos cupins, o forro está caindo. As janelas não têm nenhum vidro inteiro, e as salas sequer têm portas.

Desde 2007 o município pede que o Estado doe o prédio. De acordo com a secretária municipal da Educação, Claudete Cecília Eberle, a ideia é transformar o espaço em um centro de saúde ou em uma escola.

– Meu avô doou esse terreno para a construção da escola, eu estudei aqui e meus filhos também. Sofro com o abandono – conta Antônio Laci Oliveira, 50 anos.










COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Diante do descaso, aparecem as políticas da escola-de-lata. Governantes e parlamentares coniventes com esta prática deveria serr punidos nas urnas e na justiça por se omitirem diante de um direito fundamental e por contribuirem com a deterioração da coisa pública.

 








terça-feira, 15 de maio de 2012

INCLUSÃO SOCIAL: CIÊNCIA E FORMAÇÃO ÉTICA

Jornal do Comércio de 14/05/2012 

Ciência e formação ética para a inclusão social

Terezinha RiosMestre em Filosofia da Educação/Puc-SP

É hora de voltar a nossa questão originária: qual é o papel da ciência na promoção da inclusão, do ponto de vista ético? A ciência leva os seres humanos a conhecer de modo sistemático e organizado a realidade. Instrumentaliza-os no sentido de ampliar, construir e reconstruir incessantemente o mundo. Se assim consideramos, somos levados a pensar no desafio que se coloca para os educadores de levar o conhecimento científico à escola de maneira que ele possa trazer a contribuição à inclusão. A escola é um espaço no qual se socializam saberes e valores, com o objetivo exatamente de colaborar na construção da cidadania. Para que isso se concretize efetivamente, há que se contar com a presença da ética. A ética é um elemento importante na formação do professor, mas não a vejo convertida em uma disciplina. Nas propostas oficiais de organização curricular para o ensino básico, ela aparece como um tema transversal, isto é, que “atravessa” o trabalho das diversas disciplinas. Na formação de professores, o que deve haver é espaço para o desenvolvimento de uma atitude crítica, espaço que pode – e deve – ser encontrado em qualquer uma das disciplinas, ou mais especificamente na filosofia da educação, na psicologia, na sociologia. O que importa não é necessariamente a denominação, mas o objetivo a que se propõe.

Se não se levar em conta a dimensão ética do trabalho de todos os professores, efetivamente a escola falhará na socialização, na partilha de saberes e valores. Na verdade é através da atitude mesmo do professor, da forma como ele se relaciona com os seus alunos e traz a eles o conhecimento, que se revelam os valores.

Graças ao trabalho da ciência – e o dos educadores/pesquisadores na escola – descobrem-se e aprimoram-se formas mais complexas e aprimoradas de viver. A pergunta que nos desafia, eticamente, é a da utilização do conhecimento científico para a criação de um mundo feliz, de uma vida boa. Na verdade, a preocupação em dominar e transformar o mundo nem sempre correspondeu à de compreendê-lo, de perguntar pelo sentido da ação e da transformação. Trata-se, então, de mobilizar esforços para que a ciência, articulada aos demais saberes, complementares de um conhecimento ampliado e aprofundado dos seres humanos sobre si mesmos e sobre o mundo, seja instrumento ao alcance de todos, não abrigue em seu espaço a discriminação e o privilégio, mas faça valer os direitos que ela mesma, enquanto instrumento de cultura, tem auxiliado a construir no processo histórico da humanidade.

JOVENS NÃO PODEM ESTAGIAR!

JORNAL DO COMÉRCIO -  15/05/2012


Jocelin Azambuja - Advogado, conselheiro da ACPM-Federação

Uma reforma educacional implantada açodadamente este ano pela Secretaria de Educação do Estado (SE), a “manu militari”, contra a vontade das entidades de pais e professores, está impedindo alunos do Ensino Médio de trabalhar e está fadado ao fracasso, prejudicando mais uma geração.

Senão, vejamos: A reforma do Ensino Médio busca a ampliação da carga horária por meio da realização de atividades também no turno inverso, pelo menos uma vez por semana, ou seja, o estudante da manhã terá que fazer atividade à tarde e o da tarde pela manhã. Os estudantes do primeiro ano já estão obrigados a cumprir esse novo calendário. Só que a par de fazer com que os estudantes permaneçam mais tempo na escola, o que é positivo, esqueceu a SE que grande parte dos alunos do Ensino Médio realizam estágios profissionais ou são jovens aprendizes, no turno inverso às aulas.

Quem vai querer colocar em sua empresa um estagiário ou jovem aprendiz que um dia por semana não poderá trabalhar? E os jovens que fazem no turno inverso cursos de Aprendizagem Comercial no Senac, Senai e Senat, como poderão concluí-los sem assistir às aulas?

Hoje, as escolas estão ludibriando a lei, por não entender como cumpri-la, permitindo que esses alunos que estagiam não façam as aulas. Em um País no qual a maior parte dos jovens precisa trabalhar, para sobreviver ou ajudar suas famílias, este não será mais um motivo de abandono do Ensino Médio? Não podemos esquecer que o secretário Jose Clovis e seu grupo têm se notabilizado por implantar a “manu militari” novos projetos educacionais, como o fez em Porto Alegre, em 1995/96, quando era secretário, impondo o ensino por ciclos, cujos resultados são questionados até hoje. Até quando a nossa sociedade permitirá que se brinque com a educação? Você já se perguntou por que nossos níveis de educação são tão baixos?

DECISÃO REABRE QUESTÃO DO PISO

 ZERO HORA 15/05/2012

 

PISO POLÊMICO. Decisão reabre discussão salarial

 

Acordo entre Piratini e MP foi anulado judicialmente, mas um segundo despacho determinou pagamento de abono ao magistério


Uma decisão judicial anunciada ontem anulou o acordo assinado entre o Piratini e o Ministério Público para o pagamento de um complemento salarial a professores que ganham menos do que o piso nacional do magistério. Ao mesmo tempo, um segundo despacho, do mesmo juiz, liberou o Estado para depositar os valores extras na conta dos educadores. Hoje, 34.789 servidores receberão a mais uma quantia correspondente à diferença entre seus vencimentos e o valor do piso, que é de R$ 1.451. De acordo com o governo, 72% dos contemplados vão ganhar o “completivo” acima de R$ 200.

Divulgadas ontem à tarde no site do Tribunal de Justiça (TJ-RS), mas em momentos diferentes, as duas decisões do juiz José Antônio Coitinho, da 2ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, deixaram o Estado inseguro sobre a legalidade dos pagamentos. Em entrevista coletiva, o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, disse que o governo buscará esclarecimentos sobre a possibilidade de seguir com os pagamentos mesmo sem a homologação do acerto com o MP. Em caso contrário, deverá ingressar com um recurso contra a anulação do acordo.

– Nossa avaliação inicial era que só seria possível pagar as parcelas por meio do acordo. O acordo foi o mecanismo criado para fazer os pagamentos. Se a manifestação do juiz autorizando o pagamento for suficiente, então está resolvido – disse Pestana.

Juiz José Coitinho acolheu os argumentos do sindicato

No entanto, há incerteza sobre isso. O chefe da Casa Civil afirmou que a Procuradoria do Estado e o MP começaram a discutir quais serão os passos a partir de agora. Ele mencionou a possibilidade de que os valores extras depositados hoje possam ser descontados na próxima folha, caso o Estado não tenha amparo legal para efetuar os pagamentos.

A origem da discussão é uma ação civil pública ajuizada pelo MP em setembro passado, na qual se exigia que o Estado pagasse o piso nacional do magistério. A decisão do Judiciário foi que o governo deveria pagar os valores previstos na lei. O Piratini entrou com um recurso, e a questão ainda tramita na Justiça. No final de abril, governo e MP fizeram um acordo provisório por meio do qual os professores com vencimento básico inferior a R$ 1.451 receberiam mensalmente uma parcela completiva, até que saia a decisão definitiva sobre o assunto.

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Cpers-Sindicato) contestou o acordo e, no começo deste mês, pediu à Justiça que ele não fosse homologado. Em uma das decisões anunciadas de ontem, o juiz Coitinho acolheu os argumentos do sindicato. Ele considerou que o MP “operou em equívoco técnico jurídico”. Na interpretação do juiz, o Ministério Público não pode celebrar acordo sendo o autor da ação.

Na outra decisão, no entanto, o Cpers foi desfavorecido. Na sexta-feira, a direção do sindicato pediu uma liminar que impedisse o Estado de pagar o complemento previsto para hoje. Coitinho negou: “Não há prejuízo nenhum no pagamento de R$ 1.451, acordado entre o Ministério Público e o Estado. Este pagamento não importa em dano irreparável, nem tampouco em homologação de acordo de vontades. Se o Estado quer pagar, que pague, por sua conta e risco”.

Segundo Neida de Oliveira, vice-presidente do Cpers, o sindicato pediu a liminar porque não havia um despacho sobre a anulação da homologação. Ela considera que a decisão sobre a liminar tornou-se sem importância.

– Como o juiz afirmou, se o Estado pagar será por sua conta e risco. O governo não pode fazer um pagamento sem ter uma lei para isso. Se fizer, será ilegal – diz Neida.


O IMPASSE SOBRE O PISO

ZERO HORA, 5 de maio de 2012 | N° 17070

 

EDITORIAL

 

A anulação, pela Justiça gaúcha, do acordo firmado entre o Ministério Público e o governo do Estado garantindo provisoriamente o pagamento de R$ 1.451 para o magistério volta a chamar a atenção para a dificuldade de ser garantido um mínimo de estabilidade no ensino público. O fato de a alternativa encontrada ter sido definida como um “equívoco técnico-jurídico” pelo juiz José Antônio Coitinho, da 2ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, num dia marcado por protestos de professores, torna o impasse ainda mais explosivo. Até que haja um acerto viável e capaz de atender às ponderações de todas as partes, quem deverá enfrentar dias de intranquilidade, mais uma vez, são os alunos e seus familiares, que sofrem diretamente as consequências da impossibilidade de um acerto duradouro.

Nos dois lados com visões antagônicas da questão – o do poder público e o do magistério –, há ponderações consistentes que não podem deixar de ser levadas em conta. O Piratini, que alega não dispor dos recursos necessários, contesta o valor fixado em âmbito federal por ter tomado como base um reajuste de 22% de acordo com a variação do Fundo de Manutenção de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). O magistério alega que, sobre o total pago como abono, não incidem vantagens, o que desrespeitaria o plano de carreira.

Ainda assim, ambos os lados precisarão chegar a um acordo mínimo que concilie a alegada falta de recursos do setor público com a incontestável baixa remuneração do magistério, apontada sempre entre as menores do país. A decisão judicial tomada agora é passível de recurso e o que a educação pública estadual precisa é de providências estabilizadoras.

Lamentavelmente, não foi apenas a falta de verbas que levou a crise do ensino a esse ponto. Tanto o radicalismo da corporação do magistério quanto os excessos de políticos em campanha se encarregaram de ampliá-la. O momento deveria ser encarado como uma oportunidade para enfrentá-la de vez, para tranquilidade de quem depende do ensino público.

Contesta o valor fixado em âmbito federal por ter tomado como base um reajuste de 22% de acordo com a variação do Fundo de Manutenção de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). O magistério alega que, sobre o total pago como abono, não incidem vantagens, o que desrespeitaria o plano de carreira.

Ainda assim, ambos os lados precisarão chegar a um acordo mínimo que concilie a alegada falta de recursos do setor público com a incontestável baixa remuneração do magistério, apontada sempre entre as menores do país. A decisão judicial tomada agora é passível de recurso e o que a educação pública estadual precisa é de providências estabilizadoras.

Lamentavelmente, não foi apenas a falta de verbas que levou a crise do ensino a esse ponto. Tanto o radicalismo da corporação do magistério quanto os excessos de políticos em campanha se encarregaram de ampliá-la. O momento deveria ser encarado como uma oportunidade para enfrentá-la de vez, para tranquilidade de quem depende do ensino público.

VIOLÊNCIA, VIOLÊNCIA

ZERO HORA  15 de maio de 2012
 
Mílton dos Santos Martins, Magistrado aposentado
 
 
Era uma simples rinha de galos, mas sofreu toda espécie de constrangimento, oposição, coerção policial, porque proibida, mesmo de meramente assistir, porque seria até crime... Não se pode maltratar animais... Tudo bem! Por isso inclusive já se cuida de proibir touradas, maltratar e matar o touro... E o ser humano, pode-se agredir o ser humano? Que dizer do boxe, em que duas pessoas se agridem a socos, bofetadas... Isso é espetáculo? Pior ainda, que dizer dos espetáculos das lutas livres com agressões com mãos e pés, socos, pontapés e coices... Não são proibidos, e os campeões das agressões são amedalhados... Isso deve ser patrocinado, exibido, divulgado? Aí não é crime?! Que valores são esses?

O ser humano tem natureza de violento, ou melhor, as pessoas são violentas, não são humanas. A violência está no indivíduo como no grupo de indivíduos. E não se cuida da violência das pessoas isoladas ou em grupo. Mesmo tendo tudo e de tudo, dominando grupos sociais inclusive, a violência permanece, surge, explode, transforma-se em ensinamentos, doutrinas, enfim em calamidades. Pode ser chefe aceito, líder festejado, rei, imperador ou monarca absoluto, ordena e pratica violência pessoal, como guerras e destruições. Que dizer, dentre centenas, de Átila, Nabucodonosor, Stalin ou Hitler? Por seus princípios, fizeram história da violência arrasadora contra pessoas e bens da humanidade. Incrível, mesmo religiões, que devem pregar a paz, a elevação espiritual, a convivência harmoniosa, prestaram-se à violência.

 Católicos e protestantes, seguindo ensinamentos da mesma Bíblia, mataram-se na Irlanda... Sunitas e xiitas, abraçados ao mesmo Corão de Maomé, matam-se impiedosamente. Na verdade, as posições sociais, políticas ou religiosas, deveriam todas tolerar as diferenças, respeitando o ser humano, as pessoas equivocadas ou não, pois ninguém é perfeito ou superior. Aqui estamos para aprender e nos aperfeiçoar, sempre respeitando as diferenças, tolerando as imperfeições. E uma só verdade, o ser humano deve ser respeitado como humano. Bem de maior valor é sempre o ser humano. Os erros, os equívocos podem ser analisados, mas não causar imposições e agressões. Os espetáculos devem ser de arte, de beleza, enaltecendo os aspectos positivos do ser humano, seu trabalho, inteligência e coração.

É isso que se deve ensinar nas escolas desde o primeiro grau até os doutorados. Então seremos cidadãos, não violentos pugilistas...

domingo, 6 de maio de 2012

APARTHEID EDUCACIONAL

Marcos Rolim, jornalista, ZERO HORA 06/05/2012

Todos os dados disponíveis sobre educação no Brasil apontam para uma realidade dramática: a qualidade do ensino público oferecido às crianças e adolescentes é, como regra, muito ruim. A cada três anos, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mede os conhecimentos nas áreas de leitura, matemática e ciências entre estudantes de 15 anos de idade em 65 países – entre eles o Brasil – com o Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa). Em 2009, foram 400 mil jovens que fizeram a prova; 20 mil deles brasileiros, de todos os Estados.

Embora tenha apresentado melhora em comparação ao levantamento anterior, os dados do Pisa situam o Brasil entre os últimos colocados (54ª posição do ranking). A prova mostrou que a grande maioria dos alunos brasileiros está no primeiro dos seis níveis de conhecimento. Nenhum deles chegou ao nível mais alto em ciências e só 20 o alcançaram em leitura e matemática.

Os resultados, especialmente entre os alunos das nossas escolas públicas, é uma tragédia. Os alunos com melhor colocação na prova foram os de Xangai, na China. Outros países asiáticos, como a Coreia do Sul e Cingapura, também obtiveram ótimas posições. A Finlândia foi o país com melhor pontuação entre as nações europeias. Acima da média da OCDE, apareceram também Bélgica, Estônia, Islândia, Holanda, Noruega, Suíça e Polônia.

A precarização do ensino público nos níveis Fundamental e Médio no Brasil se fez acompanhar da migração dos filhos das classes médias e altas para o ensino privado. Assim, quem pode se protege da tragédia e assegura aos seus uma educação com um mínimo de qualidade e segurança. Quem não pode se rala. Os pobres, então, mais uma vez, pagam a conta pela incompetência do Estado. O ponto me parece central para se compreender o Brasil e suas persistentes injustiças. Com efeito, as oportunidades educacionais oferecidas aos filhos dos pobres costumam ser, para quase todos eles, a única chance verdadeira que terão na vida. Se esta educação falhar, pobreza e ignorância se prolongam pelas gerações. Em média, um ano a mais de escolaridade no Brasil aumenta em 15% a remuneração. No nível superior, o incremento chega a 18,7% para cada ano de estudo.

O governo do RS está implantando uma reforma no Ensino Médio. Pelo que pude entender, a ideia é oferecer progressivamente conteúdo técnico nas escolas estaduais; vale dizer: ensino profissionalizante. Pelo visto, os empresários gaúchos aprovam a proposta. Compreensível. O que se deveria perguntar, entretanto, é até que ponto esta reforma não irá aprofundar o fosso entre o ensino público e o privado, assegurando – agora explicitamente – que os filhos dos pobres não tenham qualquer chance de aprovação no vestibular. No Brasil, vale lembrar, 34% das crianças filhas de pais com menos de um ano de estudo repetem esta escolaridade e apenas 1% delas chegam ao Ensino Superior. Se este for o resultado prático da reforma, estaremos diante de medida regressiva e de reforço ao “apartheid” educacional. Apenas este risco, penso, já justificaria um intenso e prolongado debate sobre o tema.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

SEGURANÇA ESCOLAR SEM TREINAMENTO ESPECÍFICO

Sem treinamento específico, PMs começam a atuar em escolas no Rio - FOLHA.COM, 03/05/2012 - 16h18

Os policiais militares escalados para patrulhar escolas estaduais no Rio começaram na quarta-feira (2) a atuar sem terem recebido formação específica para a função. O treinamento só será ministrado a partir da semana que vem.

A decisão de colocar policiais armados nas escolas foi tomada para ampliar a segurança nas unidades. Os PMs atuarão para evitar aliciamento de menores no entorno das instituições, o consumo e venda de drogas e até bullying.

Segundo o coordenador do Proeis (Programa Estadual de Integração da Segurança), coronel Odair Junior, os PMs já possuem capacitação para atuar com crianças, não havendo sendo risco em iniciarem a atividade sem treinamento específico.

"Estamos preparando um programa de treinamento com todos os policiais. Vamos concluir na próxima semana, para termos o perfil do curso. Não podemos perder do horizonte que vamos tratar com adolescentes e crianças. Mas não é uma experiência nova trabalhar com o público menor de 18 anos", disse ele, citando programa de orientação de repressão ao uso de drogas em escolas.

Para o secretário Estadual de Educação, Wilson Risolia, a elaboração do treinamento precisa da análise do início do programa.

"Começamos agora com um piloto. Eles entram em treinamento nas próximas semanas. Precisamos testar o modelo para fazer o ajuste fino necessário", disse ele.

Mais de 400 PMs foram selecionados para atuar em 90 escolas estaduais. Eles atuarão no horário de folga com autorização da corporação e recebem pagamento extra pelo serviço.

O Proeis foi criado para evitar que agentes façam "bico" sem supervisão da PM. Além do convênio com a Secretaria de Educação, há outras 13 entidades públicas e concessionárias que participam do programa, com um total de 3.452 policiais envolvidos.

MANTRAS PARA PREVENIR VIOLÊNCIA

ENSINO ZEN. Projeto de psiquiatra indiana testa os efeitos da meditação para melhorar o comportamento de estudantes em Eldorado do Sul - LARA ELY, ZERO HORA 04/05/2012

Quem diria que entoar mantras em sala de aula poderia ajudar a diminuir a violência? Um projeto realizado na Escola Estadual Hiroshima, em Eldorado do Sul, dedicado a ensinar a prática da meditação para crianças em idade escolar, vem reduzindo a ansiedade e transformando o comportamento dos estudantes.

Esse é o trabalho que a psiquiatra Anmal Arora desenvolve há pouco mais de dois anos como parte das ações da ONG Mente Viva. Com cerca de 15 minutos diários de concentração e entoação de mantras, as crianças ficam mais tranquilas, afetuosas e apresentam melhoras cognitivas e comportamentais. A constatação é da diretora, Eliana Salazar. Menos ansiosos, os alunos estão brigando menos:

– Até as brincadeiras na hora do intervalo tornaram-se diferentes. O futebol do recreio não é mais o mesmo.

O trabalho desenvolvido no Brasil é uma adaptação de um projeto trazido dos Estados Unidos, em cidades com alta criminalidade. Segundo a indiana, um estudo feito em Washington acompanhou o projeto aplicado em 8 mil crianças, durante oito semanas e verificou 25% de redução da violência.

Anmal traz de casa o gosto pela técnica de relaxamento. Foi seu pai, o físico quântico Harbans Lal Arora, quem trouxe o projeto para o Brasil. A indiana utiliza técnicas de autoconhecimento e ioga. Nas escolas, ela destaca a importância de capacitar educadores:

– Ensinamos os professores a trabalhar a meditação em sala de aula, pois são eles quem estão presentes no dia a dia da escola. Se o professor está mais tranquilo, confiante, otimista, ele também vai levar isso para sua turma.

O trabalho voluntário terá seus efeitos medidos pela pesquisadora em neuropsicologia Rochele Paz Fonseca, da PUCRS. O estudo deve ficar pronto até o final do ano.

A prática também poderá ser conhecida no TEDxLaçador, ciclo de palestras rápidas (a fim de serem compartilhadas, posteriormente, na internet) que acontece amanhã, em Viamão (ver quadro).

terça-feira, 1 de maio de 2012

A COTA NEGRA NAS UNIVERSIDADES

PAULO SANT’ANA - ZERO HORA 01/05/2012

A discussão é a seguinte: merecem os negros brasileiros, mediante o sistema de cotas, passar à frente dos brancos na conquista de vagas nas universidades?

Esta é a discussão central.

Pois, na semana passada, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade de 10 votos, decidiu que merecem os negros passar para trás os brancos nas vagas dos vestibulares.

Examinem que nitidamente o Supremo Tribunal Federal contrariou de modo frontal a Constituição, que aquele tribunal jurou defender.

Ou seja, a única finalidade do Supremo, a fulcral função do Supremo, é analisar a constitucionalidade das leis.

Pois incrivelmente o Supremo contrariou a Constituição.

Por que a contrariou? Porque o princípio basilar da Constituição é o de que “todos são iguais perante a lei”.

Logo, o Supremo afrontou a Constituição, decretando que os negros passem a não ser iguais perante a lei e tenham vantagem sobre os brancos na hora de selecionarem-se as vagas para ingresso no Ensino Superior.

Então, declaro que o Supremo violou a Constituição, mas, por outro lado, declaro que estou a favor dessa decisão do Supremo.

E explico: durante séculos, os negros não foram iguais aos brancos perante a lei. Foram sempre desfavorecidos por sua cor.

Basta que se veja que a maioria dos postos de importância na iniciativa privada (empresas) e no serviço público são ocupados por brancos. Maioria esmagadora.

Os negros foram afastados – e continuam sendo afastados – espertamente e violentamente das funções importantes da vida brasileira.

E aí eu pergunto: não era a hora, então, de ressarcir os negros desse histórico e bárbaro prejuízo?

Se não se concede agora aos negros o privilégio de mais vagas na universidade, nunca se corrigirá a injustiça histórica.

Esse sistema de cotas tem de vigorar até o dia em que os negros se igualarem em oportunidades aos brancos.

Pergunte a um negro se ele não se sente discriminado na hora de arranjar emprego. E, se o negro arranja o emprego, pergunte a ele se não se sente discriminado dentro do emprego. É violenta e sorrateiramente discriminado.

Privilégio só se justifica quando ele é concedido aos mais fracos, a quem é discriminado. Não é assim vítima de privilégio quem discrimina.

Handicap é uma palavra inglesa que quer dizer desvantagem. Erradamente, diz-se que na disputas esportivas se dá handicap, quando se dá vantagem numa disputa ao litigante mais fraco. O que se quis dizer é que tem de se dar vantagem a quem detém handicap.

Assim é no Brasil com os negros, se eles têm desvantagem, tem de se conceder vantagem a eles na disputa com os brancos.

Quando um participante de lutas marciais ou de boxe é mais pesado que o oponente, não pode se realizar luta, por desigual, a não ser que se dê vantagem a quem tem handicap.

Nos páreos turfísticos, quando um cavalo é mais pesado que o outro, põe-se peso extra nos arreios do cavalo mais leve a fim de se igualar a disputa.

Foi isso que os ministros do Supremo fizeram, tornaram justa e igual a disputa nos vestibulares.

Caso contrário, se eternizaria, como até hoje se eternizou, a vantagem dos brancos sobre os negros nos vestibulares e em todas as outras situações da vida.