EDITORIAIS
O Brasil enfrenta mais um constrangimento mundial com a divulgação do ranking de analfabetos adultos, no qual ocupa a oitava posição em números absolutos. Autoridades brasileiras já advertiram que a posição deve ser relativizada, considerando-se a população do país. Uma nação com dimensões continentais estará propensa a frequentar estudos que levem em conta o número de habitantes. Mesmo assim, esse tipo de argumentação é apenas um consolo. Sob qualquer ponto de vista, o Brasil está mal em educação, e não só em relação ao nível de aprendizado de adultos. No caso específico, o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, divulgado nesta semana pela Unesco, um órgão da ONU, apenas reafirma que as políticas públicas não vêm alcançando os resultados assumidos em compromissos, como as metas a serem perseguidas até 2015.
São mais de 10 milhões de adultos que não sabem ler e escrever, um contingente que torna sem sentido o objetivo de universalizar a alfabetização até o ano que vem, assumida em 2000. A própria Unesco admite, ao divulgar o documento, que o Brasil não conseguiu superar os desafios por ser uma nação populosa e heterogênea. É uma constatação que exige a renovação dos compromissos, até porque os países à frente em números de analfabetos – Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia, Egito – poderão recorrer aos mesmos argumentos. Apesar do tamanho do país, das diferenças regionais e das disparidades de renda, o Brasil já conseguiu superar ou amenizar outros obstáculos, como os da área econômica, mas continua fracassando na educação.
Nesse contexto, merece reflexão a observação da coordenadora de Educação da Unesco no Brasil, segundo a qual a alfabetização de adultos tem efeitos em cadeia, a começar pelo mais imediato, que é o da melhoria de renda. Um adulto alfabetizado, se continuar estudando, aumentará seu ganho médio em 10% a cada ano de escolaridade. O mais importante é o ganho social. Adultos que dominam a leitura e a escrita têm melhora de autoestima. Pais alfabetizados afirmam ainda mais sua autoridade diante dos filhos e se fortalecem como referência e inspiração. Especialistas têm apontado uma relação evidente: o êxito do aprendizado de crianças e adolescentes é facilitado por familiares que tenham um histórico escolar capaz de servir de exemplo.
Considerada parte essencial de programas de transferência de renda, a educação continua desafiando as políticas públicas. Mesmo com o Bolsa Família, adultos analfabetos tendem a se conformar com o mau rendimento dos filhos, até porque são incapazes de uma avaliação, e até mesmo a mantê-los fora da escola. Atacar o analfabetismo dos adultos significa, diretamente, melhorar as condições de vida das crianças que deles dependem.