EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 26 de outubro de 2013

ENTRE MÉDIA E MEDIOCRIDADE

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ZERO HORA 26 de outubro de 2013 | N° 17595

ARTIGOS
Leonardo Araujo*

Em pleno século 21, nosso sistema educacional ainda não consegue fazer com que muitos alunos cheguem ao Ensino Médio com uma base razoável em aritmética ou sabendo interpretar corretamente um enunciado que tenha mais de duas linhas.

O que parece é que boa parte de nossas escolas está preparada da mesma forma que esteve desde o início do século 20: apenas para ensinar a faixa média do universo estudantil, sem dispor de ações pedagógicas confiáveis e abrangentes que contemplem os que estão em cada uma de suas extremidades.

Neste cenário – preocupante para o futuro do país – programas de fomento educacional são obviamente válidos e urgentes. É inegável a necessidade de trazer, no mínimo para a média, a imensa parcela de alunos que está na faixa inferior, embora ainda muito se discuta sobre como fazê-lo sem perda de qualidade.

Porém, há que se ter cautela em não empregar todos os recursos somente nesse vetor e relegar ao descaso a parcela que se encontra na faixa superior. Senão, corre-se o risco de essa última perder o estímulo e paulatinamente ir declinando, até horizontalizar-se na mesma média que, no Brasil, é muito baixa.

Atualmente, ações que contemplam alunos talentosos quase não recebem apoio e são até estigmatizadas por alguns segmentos educacionais. Com elas, em curto prazo, seria possível desenvolver, melhor e mais rapidamente, o potencial intelectual e a capacidade de interação social desses jovens, a fim de que, com a mesma linguagem e identidade etária, pudessem auxiliar de forma mais efetiva os colegas que têm dificuldades. A experiência nos mostra que isso estabelece um círculo virtuoso, gerando motivação e satisfação para todos, além de uma resultante educacional diferenciada e positiva.

É fundamental que o país cuide de sua “inteligência”, ou seja, de seus jovens mais promissores – e desde cedo, pois, como evidencia a figura de um busca-pé, de nada adianta ter força sem que esta tenha direção.

Uma média educacional elevada – fundamental para o desenvolvimento do Brasil – requer um trabalho amplo, competente e de longo prazo, que não pode prescindir do aproveitamento do patrimônio intelectual de seu povo. Caso contrário, a consequência poderá ser uma semelhança, muito mais do que etimológica, entre média e mediocridade, com severos prejuízos na formação dos homens e mulheres que, futuramente, conduzirão os destinos do país.

*Educador, professor de matemática e responsável pelo Projeto de Potencialização e Enriquecimento (Propen) do Colégio Militar

PORTA DE OPORTUNIDADES

ZERO HORA 26 de outubro de 2013 | N° 17595


EDITORIAIS


Mais justo e mais democrático do que os vestibulares tradicionais, o Exame Nacional do Ensino Médio abre novamente neste fim de semana a porta da oportunidade para milhões de jovens que, de outra forma, dificilmente teriam acesso à universidade. Com esse propósito prioritário, somado às intenções de conclusão do Ensino Médio ou de simples teste, 7,1 milhões de candidatos começam as provas hoje em 1.161 municípios brasileiros, disputando vagas em 59 universidades federais e 38 institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Um percentual preestabelecido de vagas do Sisu será reservado para alunos da rede pública, de cursos regulares ou da educação de jovens e adultos política afirmativa destinada a compensar dificuldades enfrentadas pela parcela mais carente da população.

Além de oferecer chance para pessoas menos favorecidas economicamente, o Enem também começa a servir de referência para qualificar a escola pública, pois sinaliza claramente qual o nível de conhecimento que os estudantes precisam alcançar para ter acesso ao Ensino Superior. A Lei de Cotas destina-se também a resgatar a autoestima dos alunos da rede pública, que historicamente são considerados ou se consideram incapazes de conseguir uma vaga na universidade porque precisam competir com estudantes de escolas privadas, muitos deles preparados por cursinhos pré-vestibulares. Essa brutal diferença fica agora atenuada.

A credibilidade do Enem também foi recuperada nos últimos dois anos, quando o Ministério da Educação intensificou os cuidados com a prova para evitar vazamentos e irregularidades como os que se registraram nos anos de 2009 e 2011. Com planejamento rigoroso e extrema vigilância sobre os processos de impressão, transporte, armazenamento e distribuição das provas, o governo conseguiu atenuar a desconfiança dos estudantes. A introdução de critérios mais austeros na correção do exame, especialmente depois que redações com receita de macarrão e hino de clube de futebol alcançaram notas excessivas, também contribui para revalorizar o exame.

Antes do Enem e dos aperfeiçoamentos que vêm sendo introduzidos a cada ano, o sistema brasileiro de educação superior era um dos mais excludentes do mundo. Com a adesão gradativa de instituições ao Sistema de Seleção Unificada, ampliou-se também o universo de oportunidades, possibilitando que estudantes aplicados disputem vagas nas melhores universidades, mesmo distantes de seu domicílio residencial.

Há ainda muito a avançar. Mas mecanismos de avaliação como o Enem ajudam a qualificar o ensino no país e a evidenciar uma verdade insofismável: a educação continua sendo o principal instrumento para a redução de desigualdades sociais e para a construção do desenvolvimento.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

QUEM QUER SER PROFESSOR OU PROFESSORA?

JORNAL DO COMÉRCIO 23/10/2013


Jocelin Azambuja



Professores são seres especiais, movidos por ideais nobres, aqueles que têm de estar no topo das profissões, pois ninguém chega a lugar algum se não tiver ao longo de sua vida uma boa família e bons professores. Mas, hoje, nossas crianças e jovens não querem mais ser professor (a), nada os atrai nessa profissão. Quem não lembra e sente saudades dos seus professores(as), da marca que deixaram em suas vidas, da contribuição que deram na sua formação pessoal e profissional?

Os governantes que não os valorizam precisam urgentemente rever essa posição, em especial o governo federal, pois esse é um caso de segurança nacional, o País investe apenas 4% do PIB em educação, quando deveria investir no mínimo 12%, o futuro das novas gerações está comprometido. Não bastam discursos da beleza da profissão, não basta apenas fixar um piso nacional de salários, é necessário dar aos estados e municípios os recursos para pagá-lo, uma vez que a União concentra a maior parte da arrecadação de impostos, e/ou pagar-lhes o salário dos professores(as) das escolas federais, que é em média de R$ 6.000,00, enquanto os do Estado e da maior parte dos municípios é em média de R$ 1.100,00.

Se não tomarmos uma posição urgente para dar-lhes salários dignos, vamos ficar sem futuro para nossas crianças. Mais do que nunca, precisamos dos professores para a educação de qualidade que sonhamos e de que o País necessita, mas, mais do que nunca, eles precisam resgatar seus ideais, sua autoestima e dignidade, e isso passa por dar-lhes salários dignos e justos, pela responsabilidade de sua profissão e pelo respeito que a sociedade lhes deve. Precisamos lutar para que nossos filhos não tenham vergonha, mas orgulho de serem professores(as). Você quer ser professor ou professora?

Ex-presidente da ACPM-Federação

domingo, 20 de outubro de 2013

ADOLESCENTES: ELES QUEREM EXPERIMENTAR



ZERO HORA 20 de outubro de 2013 | N° 17589

HELOISA ARUTH STURM


Ter mais acesso à informação não significa necessariamente agir com maior consciência. Uma pesquisa feita com jovens de todo o Brasil, e que compara dados de 2013 com outros colhidos em 2006, aponta que a gurizada entre 12 e 17 anos está mais preocupada com estética, usando menos camisinha, fumando mais maconha e abusando do álcool. Além disso, a percepção para violência diminuiu, o uso de cigarro também e os adolescentes continuam satisfeitos com a própria vida.

Eles têm mais acesso à informação, mas vêm adotando mais comportamentos de risco. Uma pesquisa feita com 6 mil alunos entre 12 e 17 anos de escolas particulares em todo o país mostra que praticamente metade dos jovens prefere não usar camisinha e que o consumo de álcool e maconha entre os adolescentes é elevado. Os dados também ilustram as principais mudanças de atitude dos adolescentes na última década.

Para traçar o perfil da juventude atual, o projeto “Este Jovem Brasileiro” ouviu estudantes de 64 escolas, que preencheram anonimamente um questionário online sobre seus hábitos quando o assunto é sexo, drogas, violência, sentimentos e redes sociais. O resultado foi comparado com as informações obtidas em 2006, ano de início do projeto. As diferenças mais evidentes entre as duas edições estão nos campos da sexualidade, do consumo de drogas e do abuso de álcool.

O projeto é desenvolvido anualmente pelo Portal Educacional em parceria com o psiquiatra Jairo Bouer e com a rede Positivo Informática, e está na oitava edição. O objetivo é levar para discussão em sala de aula temas mais delicados, sobre os quais os jovens preferem não conversar com os pais.

– Nossa pesquisa não tem rigor científico, mas tem uma preocupação pedagógica muito forte. A ideia é montar um panorama nacional e oferecer informações e instrumentos para a escola tratar esses temas – afirma Andrea Maia de Santana, gerente de conteúdos dinâmicos do Portal Educacional, responsável pela pesquisa.

Sala de aula: lugar de diálogo

Algumas escolas da Rede La Salle participam do projeto e já utilizam os dados em classe. Na unidade de Caxias do Sul, os alunos da 1ª série do Ensino Médio responderam a enquete e desenvolveram atividades com Fábio Karling, professor de sociologia e ensino religioso, e Rejane Petereit, orientadora educacional.

– Para muitos, foi o primeiro contato com perguntas tão diretas, perguntas que ninguém havia feito. Os resultados serão trabalhados com quem participou da pesquisa e compartilhados com a equipe diretiva para servir de parâmetro na hora de planejar atividades que atinjam esse público. Não apenas lidamos com mentes em uma sala de aula, mas também com corpos, com seres que sentem, convivem e fazem escolhas – explica Rejane.

No Colégio La Salle Dores, em Porto Alegre, Zero Hora teve um bate-papo com quatro jovens de idades entre 14 e 17 anos para saber o que eles pensam sobre os principais tópicos e dados de comportamento apontados na pesquisa. (ver na página 5)


O QUE MUDOU EM 7 ANOS

2006
- 61% diziam sempre usar camisinha; 11% nunca usavam.
- Mais de 25% já tinham se sentido ameaçados, 21% se envolveram em brigas.
- 71% já tinham conhecido alguém pela Internet e 32% já “ficaram” com alguém que conheceram na rede.
- 46% tinham dificuldade de concentração. 31% diziam ter dificuldade na aula e 11% já haviam sido reprovados.
- 62% dos garotos e 44% das garotas se disseram satisfeitos com seu corpo.

2013
- 54% disseram sempre usar camisinha; 14% nunca usam.
- 19% já se sentiram ameaçados ou foram insultados, 17% se envolveram em brigas.
- 67% já conheceram alguém pela Internet e 29% já “ficaram” com alguém que conheceram na rede.
- 49% têm dificuldade para se concentrar. 35% dizem ter dificuldade para entender a aula e 13% já foram reprovados.
- 63% dos garotos e 40% das garotas se disseram satisfeitos com seu corpo.







terça-feira, 15 de outubro de 2013

SEGURANÇA NA EDUCAÇÃO

O SUL, 15/10/2013

WANDERLEY SOARES

Viagens internacionais talvez sejam a solução para a segurança da rede escolar do RS


A ação de vândalos é a principal hipótese da polícia para o incêndio na Escola Municipal de Ensino Fundamental Wenceslau Fontoura, no bairro Mário Quintana, em Porto Alegre. O grupo também colocou fogo no prédio da Associação de Moradores, que fica a menos de 200 metros de distância do colégio. Conforme a delegada Rosane de Oliveira, cerca de cinco jovens teriam incendiado os prédios. Sejam os autores do atentado vândalos eventuais ou criminosos profissionais, a verdade é que a rede escolar do Estado, em todos os níveis, não conta com sistema de segurança confiável, seja para o patrimônio ou para os estudantes, seja em relação aos profissionais que nela atuam. Sugiro que o governo busque soluções para isso em viagens transversais pela Europa


Motoqueiros carteiros


Há alguns dias, motociclistas da Brigada Militar de Livramento foram designados para entregar correspondência referente a uma reunião de gaudérios naquele município. Creio que a missão é recorrente à greve dos Correios


Decisões oficiais


Deu no DOE (Diário Oficial do Estado): Diversos professores tiveram prorrogação, em desvio de função, em prefeituras e outros órgãos, o que significa que transbordam professores das salas de aula; secretário adjunto de Cultura Jeferson dos Santos Assumção viajou de 5 a 13/10/13 para a Espanha e Alemanha em "missão internacional" com 3,5 diárias de 360 euros/dia, cinco diárias de 250 euros/dia e passagens aéreas; o assessor Fabio Balestro Floriano, do Gabinete do Governador, viaja de 11 a 16/10/13 para a Espanha para participar do evento "Liderazgos regionales emergentes em America Latina y sus consecuencia para las relaciones con la Union Europea" com seis meias-diárias de 125 euros/dia; o agente de desenvolvimento Andre Inacio Straginski Carmona, da AGDI, viaja de 14 a 21/10/13 para Düsseldorf/Alemanha em "missão internacional" com 7,5 diárias de 360 euros/dia e passagens aéreas; a tenente-coronel Nadia Rodrigues Silveira Gerhard viajou de 7 a 8/7/13 para Brasília para apresentação do projeto "Patrulha Maria da Penha"; o assistente superior Guilherme Gomes e Silva Czermainski e o coordenador Antonio Carlos Argemi, do Gabinete do Governador, viajaram de 8 a 11/10/13 para o Chile em "missão internacional" com 3,5 diárias de 200 dólares/dia, passagens aéreas e despesas com deslocamento terrestre; os agentes fiscais do tesouro estadual Jorge Luis Tonetto e Bruno Queiroz Jatene viajam de 9 a 17/10/13 para Washington em "missão internacional" com 8,5 diárias de 350 dólares/dia e passagens aéreas; o assessor do governador Tarson Nuñez viaja de 8 a 12/10/13 para Santiago do Chile de 14 a 17/10/13 para Buenos Aires em "missão internacional" com 4,5 e 3,5 diárias de 200 dólares/dia, passagens aéreas e despesas com deslocamento terrestre; o servidor Jorge Luiz Hoffmann da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio, e o assessor do governador Fabio Balestro Floriano, viajam de 25/10 a 2/11/13 para a Palestina em "missão internacional" com 8,5 diárias de 350 dólares/dia, passagens aéreas e despesas com deslocamento terrestre. Há mais missões, todas em favor da segurança do Estado, mas hoje não tenho mais espaço.

VALORIZAR O PROFESSOR



ZERO HORA 15 de outubro de 2013 | N° 17584

EDITORIAIS


O Dia do Professor, lembrado hoje, suscita muitas reflexões em relação a essa atividade sem a qual não haveria educação de qualidade nem outros profissionais cuja formação exige um mínimo de frequência em sala de aula. Uma das indagações inevitáveis é por que, mais do que em outros países, os brasileiros consideram o professor apto a dar uma boa educação para os filhos, mas não o valorizam devidamente. A contradição é apontada por pesquisa rea-lizada pela fundação internacional Varkey Gems em 21 países selecionados a partir dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que deu origem a um ranking liderado pela China, no qual o Brasil aparece em 20º lugar, praticamente no fim da fila. Valorização, no caso, implica ganhos em níveis adequados, mas também o status de uma profissão da qual derivam todas as outras.

Um dado inquestionável de que o magistério é pouco valorizado no país é o fato de apenas 20% dos entrevistados no levantamento admitirem a possibilidade de encorajar seus filhos a optarem por dar aula. Um percentual de 50% faria isso na China, país em que, não por acaso, a profissão é mais comparada à de médico. No Brasil – assim como nos Estados Unidos, França e Turquia –, a população coloca o educador no mesmo patamar do bibliotecário. Ainda assim, 95% dos entrevistados em todos os países selecionados entendem que o educador deveria receber mais do que ganha. Salário maior, numa sociedade em que os profissionais costumam ser valorizados não apenas pela relevância da atividade exercida mas também pela remuneração, pode não significar o fim das injustiças nessa área, mas já seria o começo da reparação de deformações históricas. Ainda mais se levar em conta as reais aptidões e qualificações dos profissionais.

No Brasil, desde o início do período republicano e até a década de 60 do século passado, aproximadamente, os professores, de maneira geral, desfrutavam de um status elevado na sociedade, que os encarava com particular respeito. Essa condição privilegiada começou a esmorecer a partir da massificação do ensino. O número de alunos cresceu substancialmente, enquanto as verbas destinadas à educação não se expandiram no mesmo ritmo. O resultado foi uma queda tanto no padrão de ensino quanto nos vencimentos de quem é peça-chave no processo de aprendizado.

A deprimente situação dos educadores nos últimos anos, assim, está diretamente relacionada à desvalorização crescente dos profissionais de educação, decorrência direta dos baixos salários, das más condições de trabalho e de políticas equivocadas por parte dos governos e dos próprios sindicatos que representam a categoria. Neste Dia do Professor, a valorização dos mestres aparece claramente como uma das respostas mais urgentes que o país precisa dar para qualificar seu sistema de ensino.

DEBATE: PAIXÃO E COMPROMISSO


ZERO HORA 15 de outubro de 2013 | N° 17584

DEBATE DIA DO PROFESSOR

Sala de aula, uma paixão, por Nayr Tesser*


Dia 15 de outubro é um dia para falar de encanto e paixão. Afinal é primavera e os espermatozoides estão no ar. Com esta frase, era anunciada a nova estação nas aulas de português do velho e saudoso Julio de Castilhos. O estribilho de quem fez da sala de aula sua paixão é sempre o mesmo: surpresas, dores, alegrias e amores como a vida num movimento de vai e vem. Ser professor é um doce vício e teimosa virtude; se assim não fosse, como persistir e resistir quando os indicadores são de desvalorização monetária, social e profissional.

Sem falsa modéstia, acho poder dar testemunho sobre o encanto e beleza de ser professor e a importância da profissão, pois, ao lado de uma consciência absolutamente meridiana do que não fiz ou deixei de fazer, há uma certeza de que os poucos projetos que fiz, apesar de não constarem na promoção funcional, estão por aí, caminhando autônomos e independentes com pernas que não são minhas, abraçando outros mundos com braços que não são meus. São meus alunos que acompanhei ao longo de mais de 40 anos de profissão exercida na escola pública estadual, escola esta que sofre, hoje, as indefinições e perplexidades vividas pela sociedade atual. Sim, são esses alunos cujos ecos percebo de quando em quando, aqui e ali, e com os quais briguei, aprendi e até ensinei e, se o fiz, foi muitas vezes sem saber que o fazia, pois ao final de cada ano, e foram tantos, que ficava sempre a sensação incômoda de que não havia feito tudo, mas redimia-me pensando com renovada esperança que no próximo ano seria melhor.

Ah! Profissão de esperança, esta, a de professor!

O sentimento incômodo de fazer tudo menos dar aulas de português perseguia-me. Mesmo assim, esse lado cheio de metáforas e refrões resistia teimosamente e, para explicar uns, criava outros, justificando-me: “O bom professor é aquele que, ao deixar a sala de aula, entra pro circo e faz qualquer função – mágico, trapezista, palhaço e domador”.

Essa desvalorização salarial não deve confundir nossos ideais e nossa crença, nem definir o valor de nossa tarefa, que é a maravilhosa, insubstituível tarefa de ensinar. O professor é um professor e jamais será substituído por imagens virtuais ou efeitos especiais. O professor é, ponto final.

Mas para tanto é necessário ter clareza de nosso papel, crença no que fazemos, alegria por fazê-lo e consciência da singularidade da relação professor-aluno. É a única profissão cujos bens produzidos não carecem de intermediação: o produtor e o consumidor estão no mesmo espaço. E isso tem seus reflexos e sua significação.

Para ser um bom professor é necessário ter conhecimento, saber socializá-lo sem adonar-se dele, aprender com seus alunos, ter uma escala de valores bem definida, posicionar-se diante dos acontecimentos, sentir um imenso prazer ao perceber o crescimento alheio, alegrando-se com ele. Para ser um bom professor é preciso comover-se com pequenas coisas ridiculamente humanas, ter certeza de que seus alunos saberão reconhecê-lo e o guardarão indelevelmente na memória por um pequeno flagrante que o identificará de imediato, uma rápida associação, um gesto, um olhar, um tom de voz que os marcaram para sempre.*PROFESSORA


Compromisso de todos, por José Clovis de Azevedo*


Neste outubro, o Dia do Professor coincide com a celebração dos 25 anos da promulgação da Constituição de 1988. O documento avançou em aspectos importantes, entre eles, a educação como direito de todos, dever do Estado e da família portanto, dever da sociedade.

No Rio Grande do Sul, apesar da diminuição das taxas de natalidade, e consequente processo contínuo de redução do número de matrículas, 100 mil crianças entre quatro e cinco anos precisam ser incluídas nas turmas de Educação Infantil. Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, são 70 mil que estão fora da escola, apesar da oferta de vagas.

Neste momento, em que o Brasil e os Estados discutem a consolidação dos Planos Nacional e Estaduais de Educação, é preciso que a discussão seja proposta à sociedade à luz da realidade, isso inclui a gestão da educação pública em efetivo regime de colaboração entre as esferas do poder público. Ainda que tenhamos a perspectiva de fontes de financiamento, como os recursos do pré-sal destinados à educação, é necessário que a sociedade contribua concretamente para superação do problema central da educação: o financiamento. Não basta apenas cobrar do poder público a educação de qualidade. Se a sociedade quer educação de qualidade, tem que participar, principalmente com a sustentabilidade financeira do poder público.

Nos últimos tempos, muitas vozes proclamam que a educação brasileira tem pouca qualidade se comparada com a de países desenvolvidos. É preciso que façamos as mesmas escolhas que esses países fizeram: investimentos vultosos, de longo prazo, na educação. Somente assim será possível em médio e longo prazos garantir a qualidade social da educação. O financiamento necessário à educação pressupõe a garantia de tornar acessíveis aos educadores concepções pedagógicas que estejam em consonância com a contemporaneidade, novas ferramentas tecnológicas, para além do livro didático, além de investimentos na formação dos educadores da universidade à formação em serviço e continuada e, também, a valorização dos professores, com salários condizentes à função social que cumprem.

Garantir o financiamento da educação não é uma tarefa exclusiva do Estado. É preciso que a sociedade brasileira faça a sua escolha, contribua e dê o suporte necessário para que o professor, figura também celebrada em outubro, possa ser o agente das transformações propostas e garantidas pela Constituição Federal de 1988.

*SECRETÁRIO ESTADUAL DA EDUCAÇÃO DO RS

O DESAFIO DE ENSINAR


ZERO HORA 15 de outubro de 2013 | N° 17584

ANDRÉ MAGS

DIA DO PROFESSOR


Protagonistas de uma etapa importante na formação de cada cidadão, os professores deparam com uma tarefa cada vez mais desafiadora. Como atrair a atenção de alunos em um mundo que exige contínua renovação? A missão fica ainda maior quando os educadores precisam superar obstáculos como a desvalorização da carreira. Mas exemplos como os de duas docentes, Madalena e Darlane, mostram que a vocação de ensinar ainda é um dos principais predicados da nobre profissão.

No cinquentenário do Dia do Professor, os educadores têm encarado uma dura missão: ensinar aos alunos do século 21.

Para vencer o desafio, é necessário inovar. Nem que seja preciso se disfarçar de princesa Fiona, como fez Maria Madalena Padilha dos Santos, uma professora de 47 anos de Capão da Canoa. Em 2013, ela recebeu uma turma com 36 alunos da primeira série no Instituto de Educação Divina Providência. A tática de prestar atendimento individual praticamente naufragou. Como ensinar cada um a ler e escrever de forma atrativa?

Com 23 anos de sala de aula, Madalena teve de recorrer à criatividade. Sob quatro pilares atrativos às crianças – comer, brincar, animais e histórias –, foram desenvolvidos projetos com as letras do alfabeto. O lado digital prosperou no Facebook, no qual os pais acompanham as atividades na aula com textos e fotos e interagem com sugestões e comentários.

– O Brasil é um dos países em que os educadores são mais desvalorizados. Um professor, quando faz seu trabalho com amor e paixão, move céu e terra – diz Madalena, que trocou horas de lazer e de convívio com a família pelo planejamento das aulas.

Um estudo divulgado neste mês mostra que o Brasil é mesmo um dos países que menos valorizam o professor. Na pesquisa da fundação Varkey GEMS, feita com 21 mil pessoas em 21 nações, o status do professor brasileiro está em penúltimo no ranking, com índice de 2.4 em uma escala de zero a cem, bem abaixo da média (37) e só à frente dos israelenses. O país oferece o terceiro pior salário.

Investimento na formação

A desvalorização da profissão se reflete nas escolas. A professora de Educação Física Darlane Lúcia Barbosa da Silva Teixeira, 46 anos, se desdobra em três empregos diferentes.

– Tem muitas barreiras para ser professor, precisa ter vocação e muita vontade – afirma Darlane.

A formação dos professores, em geral, tem sido deficiente na aplicação da tecnologia à educação. Angela Dannemann, diretora-executiva da Fundação Victor Civita, ressalta que o desenvolvimento deve ser contínuo dentro das escolas. Em países com melhores índices educacionais, a formação do professor é longa e rigorosa, parecida com a trajetória de um médico, o que valoriza a profissão.

– Como a gente enxerga a profissão no Brasil? Como um bico. Algo que qualquer um pode fazer. No entanto, é uma profissão complexa, uma das mais difíceis do mundo – argumenta a pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em educação Paula Louzano.

A boa notícia está no desejo por mudanças expresso nos protestos de rua por melhorias na educação. Paula salienta que os governos deveriam tomar medidas como a revisão do modelo de ensino à distância para formar professores – que cresce muito no país – e investir em estágios obrigatórios e residências pedagógicas. Tudo agregado, obviamente, a um salário digno.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Na minha opinião de pai e policial (uma profissão que se assemelha em virtudes e deveres do educador), a valorização do professor tem três bases: salário justo,  respeito e disciplina.  Consolidadas estas bases, as condições de trabalho se alinham para favorecer o educador tanto na segurança, na motivação e na expressão do seu conhecimento e sabedoria para transmitir aos alunos o caminho da vida. Sem estas bases, não há confiança, comprometimento mútuo e nem condições favoráveis a um ensino de qualidade e motivador para os alunos. 

Também, sou favorável a um quadro terceirizado de educadores de sala de aula, contratados da iniciativa privada e do serviço público, onde há um potencial de inteligência e uma gama de conhecimento descartadas por interesses corporativos que imperam e guiam o serviço público brasileiro. Assim era no passado e dava certo, por que não agora?



PRESIDENTE DO STF CRITICA RS POR NÃO PAGAMENTO DO PISO


ZERO HORA 15 de outubro de 2013 | N° 17584

CARLOS ROLLSING E JULIANA BUBLITZ

RECADO A TARSO. Barbosa critica RS por não pagar piso aos professores

Presidente do STF afirmou que Estado “não é pobre” e, em vez de recorrer à Justiça, deve cumprir lei


Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa citou o RS e disse que o Estado “não é pobre” e tem condições de cumprir a lei e pagar o piso nacional do magistério. Após Barbosa criticar os seis governadores que foram à Justiça contra o índice de correção dos valores – incluindo Tarso Genro –, o Estado contestou, argumentando que o reajuste nos moldes atuais é inviável devido ao impacto no orçamento.

– Nós já julgamos, eu inclusive fui o relator, outra Adin contra a lei do piso. Foi uma proposição de vários governadores. O Supremo disse: ‘A lei é constitucional. O governos têm de pagar’ – afirmou Barbosa, que palestrou ontem na Conferência Global de Jornalismo Investigativo, no Rio.

Governadores alegam, porém, que a correção do piso nacional do magistério pelo índice Fundeb, que tem girado em torno de 20% anualmente, torna o padrão salarial impagável devido à repercussão financeira.

A ação direta de inconstitucionalidade (Adin), que tem o Rio Grande do Sul como um de seus autores, pede que o indexador do piso seja a inflação, com a discussão de ganho real ficando restrita a uma negociação entre o Executivo e a categoria, de acordo com a capacidade de caixa do poder público. É a tese defendida pelo governador Tarso Genro, ministro da Educação na época em que a legislação foi aprovada.

Governo nega ser contra, mas diz que valores são impagáveis

As críticas do presidente do Supremo ao não pagamento do piso nacional do magistério causaram desconforto no Palácio Piratini. No fim da tarde de ontem, o secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo demonstrou irritação e disse que “o ministro está desinformado”:

– Ele fez uma afirmação equivocada, que não é verídica. A Adin não é contra o piso. Ninguém aqui é contra o piso. A Adin é contra o indexador do piso, cujos reflexos nas contas públicas são muito grandes.

Segundo Azevedo, o pagamento do piso nas atuais condições causaria um impacto de R$ 3 bilhões nas finanças do Estado.

No Conselhão, Tarso criticou o “protagonismo excessivo” de ministros do STF. Sem citar nomes, mas em clara referência a Barbosa, disse que, por trás da postura, estão, muitas vezes, “fins políticos não transparentes”.


ZERO HORA ONLINE 14/10/2013 | 19h05

Secretário Estadual da Educação rebate críticas de Joaquim Barbosa. Jose Clovis de Azevedo diz que presidente do STF se equivocou ao afirmar que o governo do Estado é contra o piso nacional do magistério



As críticas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, ao não pagamento do piso nacional do magistério pelo governo do Rio Grande do Sul causaram desconforto no Palácio Piratini.

No fim da tarde desta segunda-feira, o secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo, concedeu entrevista para esclarecer que o governo não entrou com Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra o piso em si, mas contra o seu índice de correção, considerado impagável.
A artilharia de Barbosa foi disparada durante a Conferência Global de Jornalismo Investigativo, no Rio de Janeiro, na manhã desta segunda-feira. Ao todo, seis governadores de diferentes Estados são os autores da Adin. O ministro afirmou que o tema já foi alvo de apreciação do STF, com decisão favorável à legislação.

— Nós já julgamos, eu inclusive fui o relator, uma outra Adin contra a lei do piso. Foi uma proposição de vários governadores. O Supremo disse: 'A lei é constitucional. Os governos têm de pagar' — ressaltou.

Depois, o ministro criticou especificamente o governo do Rio Grande do Sul.

— Alguns estados já pagam. Mas outros, surpreendentemente, alguns governadores dos quais não se esperava isso, se recusam terminantemente a pagar o piso, como é o caso, por exemplo, do Rio Grande do Sul, que não é um estado pobre — alfinetou Barbosa.

Ao rebater a crítica, Jose Clovis de Azevedo demonstrou irritação e disse, por telefone, que "o ministro está desinformado".

— Ele fez uma afirmação equivocada, que não é verídica. A Adin não é contra o piso. Ninguém aqui é contra o piso. A Adin é contra o indexador do piso, cujos reflexos nas contas públicas são muito grandes — afirmou Azevedo.

O secretário argumenta que a correção pelo índice Fundeb, que tem girado em torno de 20% anualmente, torna o padrão salarial impagável devido à repercussão financeira. A Adin, que tem o Rio Grande do Sul como um de seus autores, pede que o indexador do piso seja a inflação, com a discussão de ganho real restrita a uma negociação entre o Executivo e a categoria, de acordo com a capacidade de caixa do poder público. A tese é defendida pelo governador Tarso Genro, ministro da Educação à época da aprovação da lei.

Segundo Azevedo, o pagamento do piso nas atuais condições causaria um impacto de R$ 3 bilhões nas contas do Estado.

_ É um absurdo que a lei tenha obrigado Estados e municípios a darem aumento real para os professores sem dizer da onde deve sair o dinheiro. Nós não temos nada contra o piso, pelo contrário. Mas não temos condições de pagar do jeito que está _ conclui o secretário.



COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Se é lei, ela precisa ser cumprida, executada e aplicada, ainda mais por quem participou da sua criação e usou como bandeira de campanha. Infelizmente, vivemos num país da impunidade onde as leis são apenas texto em papel dependendo da vontade de autoridades que se lixam para a legalidade e para os benefícios que possam trazer na valorização de um serviço de vital interesse público que é a EDUCAÇÃO.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

GRADUAÇÃO SANDUÍCHE EM 11 PAÍSES

CORREIO DO POVO 14/10/2013 12:26

Ciência sem Fronteiras abre seleção para graduação sanduíche em 11 países
Inscrições vão até 29 de novembro


O Programa Ciência sem Fronteiras abre, a partir desta segunda-feira, a seleção para estudantes que queiram concorrer a bolsas em cursos na modalidade graduação sanduíche em 11 países. As chamadas estão publicados na edição de hoje do Diário Oficial da União.

As inscrições vão até 29 de novembro e o edital completo de cada chamada será publicado no  www.cienciasemfronteiras.gov.br. 

Os países com oferta de vagas são os Estados Unidos, a Alemanha, França, Itália, Suécia, Noruega, Irlanda, China, Hungria, o Japão e a Áustria. A graduação sanduíche tem duração de um ano e pode chegar a um ano e meio quando for estendida em função de estágio ou curso de idioma. No caso da graduação, o candidato precisa ter concluído no mínimo 20% e no máximo 90% do currículo previsto para o curso.

O Ciência sem Fronteiras foi lançado em 2011 com a meta de conceder 101 mil bolsas até 2014. Pode concorrer às bolsas de graduação quem fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e teve nota igual ou superior a 600 pontos. É necessário ainda ter domínio da língua inglesa e bom desempenho acadêmico. A bolsa cobre despesas do estudante no exterior como alojamento, alimentação e gastos com material didático e o governo custeia também as passagens aéreas.


Fonte: Agência Brasil

INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO SÃO ALVO DE INCENDIÁRIOS


ZERO HORA 14 de outubro de 2013 | N° 17583

ALINE CUSTÓDIO

ATAQUES NA MADRUGADA. Em meia hora, dois incêndios na Capital. Instituições de educação vizinhas foram alvo de criminosos na Zona Norte


Dois incêndios criminosos, com diferença de 30 minutos e 200 metros de distância, atingiram ontem uma escola e um Serviço de Apoio Socioeducativo (Sase) no bairro Mário Quintana, zona norte de Porto Alegre. A polícia suspeita de que os ataques foram promovidos por um bando envolvido com tráfico de drogas.

Pouco sobrou depois de as chamas consumirem a sala 27 da Escola Municipal de Ensino Fundamental Wenceslau Fontoura, por volta das 5h30min. Pelas janelas basculantes, vândalos atearam fogo nas cortinas do espaço destinado às aulas de artes.

Rapidamente, as chamas se alastraram e atingiram também parte da sala 26, ao lado. Os bombeiros conseguiram conter o fogo antes que ele se espalhasse pelo prédio de dois andares, com 12 salas de aula, localizado na Rua Irmã Inês Favero. O caso foi registrado na 18ª DP. Ninguém ficou ferido.

Em 20 anos, essa foi a primeira vez que a Wenceslau Fontoura se tornou alvo de vandalismo. Pelo prédio atingido, um dos quatro da instituição, passam diariamente cerca de 500 estudantes do 1º e do 2º ciclo, com idades entre cinco e 10 anos.

No Sase, fogo foi contido antes de atingir prédio

A secretária municipal de Educação, Cleci Jurach, garantiu que as aulas não serão suspensas, apesar de o prédio inteiro seguir interditado nos próximos dias. Uma das possibilidades é diminuir, temporariamente, a carga horária das turmas para que nenhum dos 980 alunos perca o período.

O outro incêndio foi em um prédio a menos de 200 metros de distância da escola, onde funcionam a Associação de Moradores Jardim Wenceslau Fontoura e um Serviço de Apoio Socioeducativo, que atende 73 crianças no horário inverso ao da escola. Segundo a coordenadora, Angela Luiza Müller, os diretores moram perto do local e foram acionados por vizinhos. Eles conseguiram conter as chamas, que ainda estavam do lado de fora.

Houve também tentativa de arrombamento da sala principal da entidade, que tem convênio com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). O vidro da porta de ferro foi quebrado, e a fechadura, destruída.

– Em quatro meses, esta é a segunda tentativa de destruição do prédio – lamentou Angela.

Segundo a titular da 18ª DP, delegada Rosane de Oliveira Oliveira, os incêndios podem ter conexão. A suspeita recai em um grupo de jovens envolvido com tráfico de drogas.

– O grupo estaria querendo se apoderar destes dois locais – destacou.

domingo, 13 de outubro de 2013

MERITOCRACIA NA EDUCAÇÃO

ZERO HORA 13 de outubro de 2013 | N° 17582

EDITORIAL INTERATIVO


A longa paralisação dos professores públicos do Rio de Janeiro, que já provocou conflitos com a polícia e depredações de veículos e prédios, provavelmente causados por vândalos infiltrados no movimento, tem como pano de fundo uma palavrinha apreciada no meio empresarial que virou palavrão no vocabulário do magistério em todo o país: meritocracia. As entidades representativas dos mestres, especialmente, combatem com intransigência esse sistema de valorização profissional, promoção e premiação baseado no mérito pessoal e na avaliação. Alegam que, ao contrário do que ocorre no mundo corporativo, o desempenho dos professores não pode ser medido pelos resultados alcançados, pois eles atuam em condições de trabalho muito diversas, em áreas de grandes diferenças socioeconômicas e com alunos de perfis variados. São argumentos consideráveis, mas insuficientes e inconsistentes diante da experiência bem-sucedida de administrações públicas mais ousadas que adotaram o sistema.

São Paulo é o melhor exemplo. O Estado adotou um regime de meritocracia na rede estadual em 2008, com metas de aprendizado e bônus salariais para diretores, mestres e servidores das escolas melhor avaliadas. Pesquisadores da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto constataram avanços significativos no desempenho dos estudantes dessas instituições, a partir de dados da Prova Brasil, aplicada pelo Ministério da Educação.

A propagação de experiências semelhantes, porém, tem esbarrado no corporativismo dos sindicatos, que temem injustiças e demissões. Alegam que a fixação de metas de aprovação pode gerar deformações e competições entre as escolas, sem melhorar a qualidade do ensino. Pressionados a apresentar resultados, docentes e escolas podem simplesmente preparar seus alunos para os testes de avaliação, descuidando-se da formação integral. Existe, realmente, esse risco.

Mas ele pode ser reduzido significativamente se a implantação do processo for acompanhada por medidas de apoio aos professores, de estímulo e oferta de oportunidade para o desenvolvimento profissional e de conscientização sobre os reais propósitos das mudanças. Para cobrar resultados, é preciso primeiro oferecer boas condições de trabalho, remuneração adequada, formação continuada e currículos compatíveis com as metas estabelecidas. Preenchidas tais condições, o poder público certamente estará legitimado para cobrar produtividade, assiduidade e eficiência dos profissionais de educação, assim como para premiar adequadamente aqueles que oferecerem as melhores respostas para as demandas da sociedade. Quem acredita nas próprias potencialidades não teme a meritocracia.

O editorial acima foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na quinta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários para a edição impressa foram selecionados até as 18h de sexta-feira. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Editorial defende a implantação da meritocracia na educação. Você concorda?


O leitor concorda

Sou servidor público e creio que práticas adotadas na iniciativa privada deveriam ser adotadas no serviço público. A meritocracia é uma delas e o setor de educação não deveria ficar de fora. Marcelo do Vale Nunes Porto Alegre (RS)

Considero válida a implantação da meritocracia na educação desde que o próprio Estado, bem como as demais instituições privadas voltadas à educação contribuam com o processo evolutivo dos educadores, para que se tenha uma “competição” menos injusta. É de conhecimento de todos que o nível educacional do Brasil é um dos piores do mundo, no que, em vista disto, temos professores com diferentes níveis educacionais, quando deveriam ser mais parelhos. Jerri Seabra, Porto Alegre (RS)

Estou escandalizado com a pergunta – ainda não foi implantada a meritocracia na educação? Pensei que já estávamos no regime republicano, pois o único sistema que combate a meritocracia é a monarquia...Hermes Vargas dos Santos, Porto Alegre (RS)

Sou muito a favor, fazer por merecer! Deoclécio Rogério Zago


O leitor discorda

Discordo.Pois o sistema educacional não pode ser encaixado em uma fórmula exata.Esse sistema não leva em consideração particularidade de cada escola,bairro,cidade ou região.Como sempre,as mudanças na educação surgem na contramão. Primeiro deve-se investir em infraestrutura,dar condições de trabalho ideais,dar uma formação adequada e de qualidade ao profissional e por fim valorização profissional.O poder público fazendo sua parte primeiro,depois,sim,se fundamentam sistemas como esse. André Bugallo, Cachoeirinha (RS)

É um absurdo submeter o aprendizado de uma criança à produtividade dos professores. Quem levanta uma hipótese destas deveria voltar a estudar ou tem algum interesse escuso. Ricardo Simões, Rio de Janeiro (RJ)

Será a meritocracia uma forma de alcançar excelência na educação? Não seria mais fácil dar o real valor que o professor merece e investir em cursos de atualização e em um ambiente seguro e adequado para que este possa desenvolver seu trabalho com prazer? Guel Silveira

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - DISCORDO. A Meritocracia está na valorização salarial e não nas condições de trabalho, no aperfeiçoamento, nas premiações ou nas promoções com ínfimo aumento no padrão salarial. Ao analisar a pirâmide de Maslow sobre as necessidades humanas, verifica-se que logo depois das necessidades básicas de sobrevivência, vem a SEGURANÇA que nada mais é do que a SEGURANÇA FINANCEIRA e o BEM-ESTAR traduzido na segurança da vida, da saúde e do patrimônio. Portanto, as condições de trabalho, as promoções, as premiações e o aperfeiçoamento são realmente questões importantes, mas estão num nível seguinte de prioridade para qualquer profissional, entre eles o professor que ensina, orienta e mostra o caminho da vida exterior para os jovens.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

BOICOTE IRRACIONAL



ZERO HORA 11 de outubro de 2013 | N° 17580


EDITORIAIS



Os últimos resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) surpreenderam pela má colocação de algumas universidades reconhecidamente qualificadas, com prejuízo para as instituições, para seus profissionais e, principalmente, para os estudantes que buscam formação com o objetivo de ingressar no mercado de trabalho. O que ocorreu no caso do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) é exemplar para mostrar a distorção causada pelo arroubo juvenil do protesto. Ao boicotar o exame, alunos que estudam gratuitamente numa instituição pública acabam contribuindo para desacreditá-la.

A dificuldade de distinção entre um eventual mau desempenho no Enade e um boicote intencional por parte dos alunos ajuda a entender o fato de só agora instituições do porte da Universidade de São Paulo (USP) terem aderido ao exame, em caráter experimental. Por isso, é preciso que o Ministério da Educação (MEC) continue apostando em maior conscientização sobre a importância dessa avaliação, ainda que seus resultados devam sempre ser relativizados.

Especialistas advertem que, diante das notas recém divulgadas, ninguém deve concluir automaticamente se um curso é bom, ruim ou mediano. O desempenho nas provas de formação geral e de componente específico serve no máximo para indicar se um determinado curso foi melhor ou pior do que um igual, oferecido por outra instituição. O resultado, portanto, está longe de refletir um padrão ou critério de qualidade.

O inadmissível é que avaliações com essas características possam se prestar para boicote por parte de universitários pouco interessados em seu próprio futuro, dispostos apenas a chamar a atenção do MEC para eventuais problemas. Há uma infinidade de formas mais maduras e menos danosas de quem investe na sua formação universitária ou é bancado pelo poder público demonstrar sua insatisfação com o ensino universitário.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

SINDICATO DOS PROFESSORES FORMA COMANDOS E DEFENDE BLACK BLOCS


Sindicato forma comando para garantir segurança em protestos. Professores realizam nesta quinta-feira manifestação para pedir audiência de negociação

CÉLIA COSTA
ANA CLÁUDIA COSTA 
O GLOBO
Atualizado:10/10/13 - 13h23

Vândalo lança morteiro no prédio da Câmara dos Vereadores Marcelo Piu / O Globo


RIO — A coordenadora-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino (Sepe), Marta Moraes, disse nesta quinta-feira que um comando com integrantes do sindicato será formado para garantir a segurança dos professores durante os protestos. Segundo ela, no entanto, não há uma política de enfrentamento. A ideia é organizar a proteção dos docentes, identificando, durante as passeatas, quem esteja incentivando a violência. A categoria realiza um novo protesto nesta quinta-feira. O objetivo é tentar uma audiência de negociação. Cerca de 200 manifestantes se concentraram no Largo do Machado. Por volta de 13h20m, eles saíram em passeata, interditando a Rua Gago Coutinho. Eles seguirão até o Palácio Guanabara, em Laranjeiras, e de lá para o Palácio da Cidade, em Botafogo.

— Quando falamos, durante a assembleia de ontem (quarta-feira) em organizar a nossa própria autodefesa, o termo causou muitas dúvidas. O que estamos fazendo é organizar a nossa proteção. Nas nossas manifestações, a maioria dos integrantes é mulher e há idosas e estudantes. Vamos formar um comando para ficar atento a qualquer início de provocação. Seja por parte de integrantes infiltrados ou policiais do Serviço Reservado (P2) que estejam iniciando um confronto. O comando estará atento também a qualquer forma de truculência por parte da Polícia Militar — disse Marta Morares.

Danilo Serafim, um dos diretores do sindicato, disse que os professores serão orientados a usar máscaras para se proteger de spray de pimenta e gás lacrimogêneo nas manifestações. Segundo Danilo Serafim, as recomendações serão dadas a partir do ato desta quinta-feira.

— Não temos como fazer com que os professores se defendam das balas de borracha, por exemplo. Não teríamos como usar coletes, mas falaremos das medidas de proteção — disse Danilo.

Cerca de 60 profissionais da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec) fizeram uma assembleia no Largo do Machado, enquanto a passeata não começava. No encontro, ficou acertado que uma comissão de professores da Faetec vai se encontrar com o deputado Paulo Melo (PMDB) na Assembleia Legislativa (Alerj), ainda nesta quinta-feira.

A greve dos professores do estado começou no dia 8 de agosto. O sindicato rejeitou o índice de aumento de 8% aos professores da rede estadual. Entre as reivindicações da categoria está a reposição da perda salarial de 26% acumulada em cinco anos, segundo o Sepe. De acordo com Danilo Serafim, o outro ponto de reivindicação é a mudança de uma das modalidades de matrícula. Professores do segundo segmento do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano) e do Ensino Médio têm uma carga horária de 16 horas. Segundo o diretor do Sepe, na maioria dos casos, o cumprimento é feito em até três escolas em localidades distantes. A categoria pede que a carga horária seja cumprida em apenas uma escola, o que foi vetado pelo governador Sérgio Cabral.

Sindicato defende Black Blocs

Na tarde de quarta-feira, o Sepe divulgou um documento onde defende os Black Blocs das ações policiais e anuncia que o sindicato vai organizar sua própria autodefesa durante os protestos. No manifesto, divulgado logo após a assembleia que decidiu pela manutenção da categoria, a entidade acrescenta que “toda a ajuda é bem-vinda, desde que se submeta às concepções e às tradições da categoria”.

No Facebook, a página “Black Prof“ afirma que agora os professores também vão ser Black Blocs. Alguns usuários chegam a louvar as ações de vandalismo na página. Uma das imagens mostra um “ursinho carinhoso” do PSTU para ironizar quem é contra o vandalismo.

Em sua página na internet, o grupo Anonymous divulgou uma espécie de manual de enfrentamento em manifestações com orientações sobre como se portar, se proteger contra os efeitos do gás lacrimogêneo e do spray de pimenta e cobrir tatuagens, a fim de dificultar a identificação.

SALÁRIO DE PROFESSOR DO RIO SUPERA O DE S.PAULO


Com novo plano, docente carioca irá ganhar R$ 4.147 por 40 horas semanais; paulistano recebe R$ 2.600

O GLOBO
Publicado:10/10/13 - 5h00

Passeata dos professores na Rua Haddock Lobo Gabriel de Paiva / Agência O Globo


RIO - Esta semana, o apoio à causa dos professores do Rio cruzou fronteiras e ganhou adesão até de uma passeata que ganhou as principais ruas do Centro da capital paulista. Uma comparação dos salários pagos aos docentes das duas cidades mostra, porém, que os cariocas estão à frente de seus vizinhos. Com o novo plano de cargos e salários aprovado na semana passada, um profissional em início de carreira, com licenciatura plena e carga horária de 40 horas semanais, por exemplo, passará a ganhar R$ 4.147 mensais no Rio. Já em São Paulo, um docente com as mesmas características tem vencimento de R$ 2.600.

Em São Paulo, os docentes têm dez níveis de progressão por tempo de serviço, sendo que cada um deles dá direito a um aumento de 6,5% no vencimento. Além disso, há 5% de aumento no chamado quinquênio (período de cinco anos). No Rio, são sete níveis de progressão, com um acréscimo de 4% no salário por cada um deles. Esse tem sido um dos principais pontos apontados pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) como negativos no novo plano carioca. A categoria quer uma progressão de 15% para cada nível. No Rio, em vez de quinquênios, há os triênios (a cada três anos). O primeiro dá direito a 10%. E os restantes, a 5%.

Um ponto em que São Paulo parece estar mais à frente é na questão do evolução dos profissionais por formação. Por lá, segundo o Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal (Sinpeem), há cinco fases estabelecidas por mérito. A cada degrau que o professor avança, ele recebe um reajuste de 6,5%. O interessante é que existe uma espécie de pontuação que não leva em conta somente cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, como também participações em congressos, seminários e cursos livres.

No Rio, a evolução por formação está entre os principais alvos de críticas da categoria, mesmo após a aprovação do novo plano de cargos e salários. A grande questão é que apenas os professores de 40 horas — que representam cerca de 7% da rede — serão contemplados com a possibilidade de cinco níveis de evolução por aperfeiçoamento. Uma pós-graduação, por exemplo, só representará aumento se o docente tiver essa carga horária. A migração dos profissionais com 22,5 horas e 16 horas dependerá das possibilidades orçamentárias da prefeitura nos próximos anos.

Rio e São Paulo passam a se assemelhar em ao menos um ponto após a aprovação do plano carioca. Na capital paulista, os professores do ensino infantil, 1º ao 5º ano e de 6º ao 9º ano do ensino fundamental já ganham a mesma remuneração, tendo formações iguais. No Rio, os de 6º ao 9º ano ganhavam mais, mas pela nova regra será feita uma equiparação, a ser completada em cinco anos. Os investimentos previstos pela prefeitura chegam a R$ 3 bilhões.

Na semana passada, a prefeitura do Rio divulgou dados de uma pesquisa própria, mostrando que a hora/aula paga na capital fluminense é a maior entre as capitais do país.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O VALOR DOS PROFESSORES

 No Brasil
No Japão













ZERO HORA 09 de outubro de 2013 | N° 17578


EDITORIAIS


Questão central quando o tema é qualidade do ensino, a necessidade de valorização dos professores volta a ganhar ênfase na mais nova etapa da campanha A Educação Precisa de Respostas. A missão de chamar a atenção para esse aspecto coube ao personagem Boi da Cara Preta e seu filhote, que estimulam a sociedade a refletir sobre a necessidade de a carreira de professor continuar se mostrando atraente para as novas gerações. Sem educadores, não há como continuar formando os profissionais necessários para atuação em diferentes áreas.

A valorização no magistério tem uma relação direta com a remuneração oferecida. A questão salarial, porém, é indissociável de uma complexidade de causas. Entre elas, estão as diferenças nas condições de trabalho enfrentadas por profissionais que atuam nas redes particulares e na pública – e nessa, variável se a escola é municipal, estadual ou federal. Seja qual for o caso, porém, professores têm em comum a missão de ensinar e precisam contar com os pressupostos necessários para exercer sua atividade. Isso inclui a oportunidade de atualização permanente, permitindo-lhes ficar em dia com os avanços tecnológicos.

Mesmo quem optou pela carreira por vocação tem consciência de que as condições são adversas. A situação é ainda mais difícil para quem atua nas periferias, enfrenta alunos desmotivados, atende a um número excessivo de turmas em até três turnos no esforço de ampliar os ganhos e, ainda assim, não percebe o seu papel devidamente reconhecido pela sociedade. Essas dificuldades ajudam a explicar os elevados índices de evasão de professores, a preocupante escassez de profissionais na área de ciências exatas e fatos como o de apenas uma minoria de brasileiros estimular seus filhos a optar pelo magistério.

A sociedade precisa se conscientizar logo da urgência de se garantir o reconhecimento a quem ensina, sob todos os aspectos. Campanhas como a da RBS são uma tentativa de contribuir para a causa, que é de todos.




A VIOLÊNCIA ENCOBRE A CAUSA


ZERO HORA 09 de outubro de 2013 | N° 17578

HELOISA ARUTH STURM

DEPOIS DO PROTESTO

Manifestação pacífica de professores por aumento salarial é seguida por vandalismo e denúncias de abuso policial no Rio e em São Paulo



Depois dos protestos de junho contra o aumento das tarifas do transporte coletivo, as manifestações deste início de outubro no país têm como foco a melhoria do salário e das condições de trabalho dos professores. Nesta semana, Rio e São Paulo tiveram protestos marcados por violência – da polícia e de manifestantes – e atos de vandalismo.

À população em geral, a violência parece ser uma marca das manifestações no Rio. Sociólogo e cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Baía acredita que isso faz parte de uma estratégia do Estado. O professor afirma que, com a exposição de cenas de truculência e destruição na imprensa, ganham os políticos, conseguindo desviar a atenção para as motivações dos atos – como má qualidade dos serviços –, e os grupos violentos, como os black blocs, que ficam com mais visibilidade.

– Isso afugenta a massa de manifestantes, mas não o grupo que quer a violência. A polícia pode abortar esses atos, está preparada – diz Baía.

Os professores estaduais do Rio, que receberam apoio de manifestantes em protestos também na capital paulista, reivindicam reajuste salarial de 20%, eleições diretas para diretor da unidade de ensino, mínimo de dois períodos de aula semanais por disciplina e que cada docente dê aula em uma escola da rede. A Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc) alega que concedeu 8% de reajuste no ano e que o vencimento-base teve aumento real de 40,42% de 2007 a 2013.

Na rede municipal do Rio, a principal crítica se refere à aprovação do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) no dia 1º. Os professores municipais também reivindicam um plano de construção de novas escolas e a diminuição de alunos por turmas. Para corrigir a superlotação, a prefeitura ressalta que já planejava construir 250 novas escolas, e um edital foi lançado para as primeiras 109.

– Esse plano, aprovado a portas fechadas na Câmara, abre espaço para metodologias questionáveis que não seguem o que defendemos – afirma Susana Gutierrez, coordenadora da capital no Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe).

O prefeito Eduardo Paes disse que só voltará a dialogar com os professores depois que eles voltarem às aulas. Uma assembleia hoje decidirá os rumos da greve. Entre as próximas manifestações confirmadas estão um ato no domingo e uma passeata no dia 15.


RIO GRANDE DO SUL X RIO DE JANEIRO

A diferença na remuneração nas redes municipal e estadual nos estados

PORTO ALEGRE
- 4 mil professores
- Piso (20 horas): R$ 1.164,80, somados vales alimentação e transporte

RIO GRANDE DO SUL
- 77,5 mil professores
- Piso (20 horas): R$ 488,52*
- Valor da hora-aula: R$ 6,10
* Como o valor está abaixo do piso nacional, a Secretaria acrescenta um completivo para chegar a R$ 783,50 por mês

RIO DE JANEIRO (MUNICÍPIO)
- 42 mil professores
- Piso (22,5 horas): R$ 1.224,53
- Valor da hora-aula: R$ 13,61

RIO DE JANEIRO (ESTADO)
- 75 mil professores
- Piso (30 horas): R$ 2.028,00
- Valor da hora-aula: R$ 16,90
Piso nacional para 40 horas semanais: R$ 1.567,00 (hora-aula: R$ 9,79)

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA -  Os veículos de comunicação de massa deveriam separar as notícias sobre reivindicações e as de violência durante os protestas. Esta aqui mistura a causa com a  violência.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

TRÁFICO NAS ESCOLAS NA MIRA DA POLÍCIA


ZERO HORA 8 de outubro de 2013 | N° 17577

CARLOS WAGNER

ANJOS DA LEI

Agentes já prenderam 300 vendendo drogas nas imediações de colégios


O Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc) comemorou ontem uma prisão simbólica. Infiltrados entre adolescentes, investigadores envolvidos na operação Anjos da Lei detiveram um traficante que atuava nas imediações de uma escola na zona norte de Porto Alegre. Em dois anos e quatro meses, é o 300º criminoso especializado em vender drogas para estudantes que é retirado das ruas.

– A nossa estratégia é dar o máximo de visibilidade possível as nossas ações. Tanto que estamos usando a Semana da Criança para apertar o cerco aos traficantes de porta de escola – diz o delegado Heliomar Franco, diretor de investigação do Denarc, salientando que 40 suspeitos estão na mira dos policiais.

A presença de um jovem de 26 anos, nos arredores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Osvaldo Vergara, na Zona Norte, havia sido denunciada pela comunidade. Machado foi surpreendido e preso pela equipe da 1ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico (1ª DIN), um dos braços do Denarc. Os agentes da Anjos da Lei usam diferentes técnicas de investigação. Uma delas é a infiltração entre os adolescentes para conseguirem separar os usuários dos traficantes. Pela contabilidade do delegado Franco, nos dois anos e cinco meses de operação, foram apreendidos em torno de 10 quilos de drogas, principalmente maconha e crack.

– A quantidade de droga é pequena. Mas o estrago que o traficante faz aliciando novos consumidores nas escolas é enorme. Portanto, o foco da nossa ação é justamente a neutralização do aliciador, o que não é um trabalho fácil, devido às particularidades do ambiente escolar – descreve o delegado.

Os criminosos agem na maioria das escolas da cidade, tanto nas públicas quanto nas particulares. Pelas investigações da polícia, nas escolas particulares os traficantes têm dificuldade em ter acesso às instalações. Então, se alojam em praças e lugares vizinhos. Em escolas pública, porém, eles misturam-se com mais facilidade entre os alunos. Nestes dois anos e meio da Anjos da Lei, os policiais já traçaram um perfil desse tipo de criminoso.

– Ele é jovem e, na maioria das vezes, tornou-se vendedor de drogas para sustentar o seu vício. Muitos deles são ex-alunos da escola onde estão traficando. O que facilita a sua ação, porque conhece a todos – descreve Franco.

Conforme Franco, Anjos da Lei se iniciou em 2011 quando uma professora da periferia de Porto Alegre entrou no seu escritório e colocou em cima da mesa um papelote de cocaína. O relato comoveu o policial, que passou a coordenar a infiltração de agentes em escolas para descobrir traficantes.