EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 28 de julho de 2012

UM DESVIO PREOCUPANTE

O Estado de S.Paulo 28 de julho de 2012 | 3h 08  

HERMES FERREIRA FIGUEIREDO, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) 


Há mais de uma década os responsáveis pela educação de nível universitário vêm alertando sobre as limitadas habilidades reveladas pelos estudantes que ingressam nas instituições de ensino superior do Brasil. A grande maioria desses alunos mostra enormes dificuldades em acompanhar os estudos no padrão exigido pelos cursos de graduação, o que exige um esforço adicional por parte das instituições universitárias para nivelar os conhecimentos e garantir um mínimo de eficiência e autonomia aos jovens ingressantes, muitas vezes pela introdução de disciplinas básicas ao longo dos cursos para suprir essa insuficiência.

A comprovação de tal quadro, que dificulta a inserção desses jovens no mundo do trabalho com as competências exigidas pelo mercado, foi exposta de forma definitiva pelo Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf Brasil) divulgado recentemente pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa. Os resultados - obtidos por meio de entrevistas e testes cognitivos entre a população, com perguntas relacionadas ao cotidiano, envolvendo desde o entendimento sobre o itinerário de um ônibus até o cálculo do desconto de um produto - revelam que o aumento da escolaridade ocorrido no País não foi suficiente para assegurar aos alunos o domínio das habilidades básicas, num nível que o estudo define como Alfabetismo Pleno.

As pessoas que se enquadram nesse nível, segundo o Inaf Brasil, são aquelas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos mais longos, analisar e relacionar informações, distinguir fatos de opiniões, realizar inferências e sínteses e interpretar tabelas, mapas e gráficos, mostrando maior planejamento e controle na resolução de problemas. E os dados obtidos mostram que, em uma década, não apenas as pessoas que cursaram somente o Ensino Fundamental I e II apresentam baixos níveis de Alfabetismo Pleno - 5% e 15%, respectivamente -, como também se verificou um decréscimo, de 49% para 35%, das que atingem o nível pleno entre as pessoas com ensino médio completo.

Se os dados do estudo mostram as lacunas da formação oferecida ao longo de todo o ensino básico, culminando com o baixo domínio, entre egressos do ensino médio, das habilidades fundamentais que esse nível de ensino deveria garantir aos estudantes que pretendem obter uma formação universitária, eles indicam também que o ensino superior, notadamente o das instituições privadas, tem sido um agente importante para atenuar a gravidade desse problema.

Apesar de também ser crítico - especialmente quando comparado ao da maioria dos países com os quais o Brasil compete em matéria de desenvolvimento econômico e social -, o índice de Alfabetização Plena entre as pessoas com ensino superior é quase o dobro do registrado entre os entrevistados com ensino médio, chegando a 62%, de acordo com esse mesmo estudo.

Em face disso, merece atenção, em primeiro lugar, a constatação de que as iniciativas adotadas no ensino básico e, especialmente, no ensino médio não têm sido suficientes para que o alfabetismo da população brasileira evolua mais rapidamente para o nível pleno, como vem sendo denunciado pelas instituições de ensino superior privado, responsáveis por 75% das matriculas de ingressantes nos cursos universitários do País. Mas o que o estudo demonstra, principalmente, é a existência de um desvio preocupante no papel das instituições de ensino superior, que deveria ser voltado exclusivamente para a formação acadêmica e a capacitação profissional da população brasileira.

O ensino superior privado tem sido o responsável pela democratização do acesso à educação universitária, reunindo hoje mais de 4,7 milhões de alunos de diversas regiões e do interior do Brasil, 1,4 milhão dos quais no Estado de São Paulo, que correspondem a 87% do alunado do Estado. Ainda assim, sabemos que esses números estão muito distantes da necessidade, considerando que, em todo o País, pouco mais de 14% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior.

Mesmo ressaltando o importante significado do efeito obtido pelo ensino superior privado com relação ao objetivo de favorecer a expansão das oportunidades de Alfabetização Plena para a população brasileira, é fundamental que as suas instituições não sejam obrigadas a se desviar das suas funções para garantir, como mostram os dados do Inaf Brasil, alguma chance de inserção na cultura letrada aos estudantes que buscam sua inclusão social e ascensão profissional por meio de um diploma universitário.

O ensino superior privado deve manter-se como peça fundamental para atender à demanda por educação universitária da população que conclui o ensino médio, especialmente diante da dificuldade do País em prover uma maior expansão da oferta de ensino público. E sabemos que ainda temos pela frente muitos desafios a enfrentar para que o Brasil avance em relação a economias mais competitivas, que já resolveram os seus problemas educacionais, e garanta também as condições necessárias para absorver esses novos contingentes de egressos do ensino médio, proporcionando-lhes acesso a novos conhecimentos em nível universitário e, consequentemente, melhores oportunidades de ascensão social.

Portanto, como está evidenciado nos indicadores revelados por esse importante estudo acima citado, as instituições do setor não podem continuar a se desviar da sua missão de contribuir para o desenvolvimento cultural, social e econômico do Brasil por meio da educação superior, para atuarem também como alfabetizadores desses estudantes.

INSENSATEZ NA EDUCAÇÃO


OPINIÃO O Estado de S.Paulo 28 de julho de 2012 | 3h 07 


Comemorada por estudantes, professores, movimentos sociais e ONGs, a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, aprovada pela Câmara às vésperas do recesso legislativo de julho, é uma insensatez que está se convertendo em enorme problema político para o governo. O primeiro equívoco foi cometido em 2010 pelo Ministério da Educação. Apesar de o Brasil ter elevado os investimentos no setor de 3,9% para 5,1% do PIB, entre 2003 e 2009, aproximando-se do porcentual aplicado pelos países desenvolvidos e vários países em desenvolvimento, a equipe do ministro Fernando Haddad cedeu a pressões e previu o gasto mínimo de 7% no projeto do Plano Nacional de Educação (PNE) da atual década.

O segundo equívoco foi cometido há um mês. Preocupados em levantar uma bandeira política para as eleições de outubro, deputados de todos os partidos - inclusive da base aliada - aumentaram de 7% para 7,5% do PIB o gasto mínimo do poder público em ensino. A elevação de 0,5% do PIB no orçamento da educação representa R$ 25 bilhões a mais em investimentos. Mas, na hora da votação, os líderes partidários, argumentando que havia necessidade de recursos para a implantação do regime de tempo integral no ensino fundamental, aprovaram 10% do PIB.

Às vésperas da votação, o Ministério da Fazenda tentou persuadir as lideranças partidárias a rejeitar a proposta de 10% do PIB, mas o fez de forma pouco enfática, para não atrapalhar a campanha de Haddad à Prefeitura de São Paulo. Esse foi o terceiro equívoco. Ao cobrar responsabilidade fiscal e orçamentária da Câmara, o governo ouviu que o Senado poderá derrubar a proposta de 10% do PIB sem maiores constrangimentos políticos, depois das eleições de outubro.

Como estudantes e professores já afirmaram que se mobilizarão para impedir a reeleição dos senadores que votarem contra a proposta, o Palácio do Planalto teve de se mexer para evitar que esses equívocos se convertam em desastre, quando ela for votada pelo Senado. Depois de passar o primeiro semestre tentando se equilibrar entre a austeridade fiscal e a demanda por mais gastos federais feita por entidades que sempre estiveram na base do PT, o ministro Aloizio Mercadante finalmente foi taxativo.

"É impossível cumprir a decisão da Câmara. Para chegar a 10% do PIB, são necessários R$ 210 bilhões - o equivalente a cinco CPMFs - e não há espaço para a criação de novos impostos", disse ele. Mercadante também lembrou a relação entre demografia e educação - tema que Haddad desprezou, por conveniência eleiçoeira. Como a população está envelhecendo, o número de pessoas em idade escolar começou a diminuir. Entre 2009 e 2011, houve redução de 1,8 milhão de matrículas na rede pública de ensino fundamental. Em 2010, havia 47,1 milhões de brasileiros em idade escolar e, segundo o IBGE, haverá 41,5 milhões, em 2020.

Por causa do envelhecimento da população, a equipe econômica do governo alega que, se os municípios, os Estados e a União mantiverem o atual nível de gasto de 5,1% do PIB, seria possível aumentar o investimento por aluno em 45%, até 2020, já descontada a inflação. O mesmo argumento também é invocado pelas ONGs do setor. "Do jeito que as coisas estão, dinheiro a mais não causará impacto", diz a diretora do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, depois de afirmar que o problema do setor não é de escassez de recursos, mas de gestão.

O que se teme é que, além de prejudicar programas de saúde e saneamento, a destinação de 10% do PIB para a educação aumente os gastos perdulários. A partir de 2003, por exemplo, o governo Lula expandiu sem planejamento as universidades federais. Além de ter criado instituições onde não havia demanda e não ter cobrado resultados, ele negligenciou a formação básica de crianças e jovens, menosprezando a qualidade da formação técnica. Não há dúvida de que a educação é prioritária. Mas a destinação de recursos para a área deve ser compatível com as realidades demográfica e orçamentária. É isso que o Senado tem de compreender, quando votar o PNE.

ESPORTES E A SEGURANÇA PÚBLICA



WANDERLEY SOARES, O SUL. 

Porto Alegre, Sábado, 28 de Julho de 2012.


Nas escolas públicas, os equipamentos para os professores de educação física vão um pouco além de surradas bolas, redes de vôlei carcomidas e quadras polivalentes da pior qualidade.

As políticas de segurança, saúde e de educação compreendem o tripé que poderá conter o avanço da violência e da criminalidade. Na educação está a mais fértil seara para o desenvolvimento de todas as atividades esportivas a partir, até mesmo, das escolas maternais, com ênfase máxima nas universidades, o que está longe de acontecer no Brasil.

Acontecimentos como a Olimpíada de Londres, que teve ontem a sua abertura oficial, e a Olimpíada de 2016, que ocorrerá no Brasil, deveriam, independente da euforia inconsequente de viajores deslumbrados, servir de base consciente para eliminar ódios que medram em preconceitos de todos os tipos e também de uma barreira permanente e crescente contra as drogas, lícitas e ilícitas.

A participação de nosso País em olimpíadas, considerando nossas dimensões continentais, tem sido, no conjunto, de uma modéstia até mesmo vexaminosa. E, por ora, não poderia ser diferente. Nas escolas públicas os equipamentos para os professores de educação física vão um pouco além de surradas bolas, redes de vôlei carcomidas e quadras polivalentes da pior qualidade. E na mídia, grande parte de coleguinhas ainda não sabe que em Londres está acontecendo "uma olimpíada" e não "as olimpíadas".

sexta-feira, 27 de julho de 2012

DEFESA DA PÁTRIA






Porto Alegre, Sexta-feira, 27 de Julho de 2012.

WANDERLEY SOARES, O SUL


Aprendemos a defender a pátria a partir da vida familiar, aprendemos a defender a pátria nos bancos escolares, nas bibliotecas, em debates na vida acadêmica, sem a necessidade de armas de fogo nem de farda.

Nos meus tempos de menino e até chegar próximo da adolescência lembro que ocupava toda a extensão do muro do 18 Regimento de Infantaria, unidade do Exército instalada no Partenon, onde hoje estão edificações da PUC, a inscrição "Aqui aprendemos a defender a pátria". Isso muito antes da ditadura militar. Bonita a frase, não obstante equivocada. 

Aprendemos a defender a pátria a partir da vida familiar, aprendemos a defender a pátria nos bancos escolares, nas bibliotecas, em debates na vida acadêmica, sem a necessidade de armas de fogo nem de farda. E se não é assim, pelo menos assim deveria ser.

 O serviço militar é apenas uma parte desse aprendizado e há milhões de brasileiros que nunca necessitaram dessa cultura para defender princípios cívicos. 

Pois o simpático e jovial comandante do CPC (Comando de Policiamento da Capital), coronel Alfeu Freitas Moreira, pretende que seus comandados entrem nas escolas para contar aos alunos que os heróis são os policiais militares e não os bandidos. Como era bela a frase no muro do 18 RI, também bela é a intenção do coronel Freitas. No entanto, sigam-me.

Segundo as discussões que ocorrem entre os conselheiros de minha torre, em se tratando de escolas, se tivéssemos que heroificar uma categoria profissional esta seria a do magistério que, desarmada, é constantemente acossada por traficantes, por pais despreparados para serem pais e por alunos que chegam a formar quadrilhas contra os professores e os verdadeiros estudantes. Nessa esteira, teríamos de heroificar todos os demais trabalhadores, todo o cidadão de bem. Em verdade, diante do quadro de violência e de criminalidade que assola nosso cotidiano.

OLIMPÍADAS: INCENTIVO AO ESPORTES

ZERO HORA 27 de julho de 2012 | N° 17143. ARTIGOS

Roberto Fissmer*

Em momentos de grandes eventos esportivos internacionais, é dada ênfase à prática de atividades físicas diversas pela coletividade. Com farta publicidade, recheada de vigorosos clichês, não faltam vozes que exaltem os benefícios decorrentes de iniciativas voltadas aos exercícios corporais.

A Olimpíada de 2012, em Londres, resgata a história de séculos do culto ao corpo com reflexos positivos para a mente. Força, resistência, destreza, velocidade, persistência, habilidades distintas são algumas das qualidades necessárias aos atletas que buscam superar os seus limites visando a um resultado positivo numa competição. Será que alguém entra numa disputa acirrada de alto nível pensando mesmo no ideal olímpico, que afirma que o importante é competir? Anos de dedicação a um propósito, abdicando de tantos prazeres outros que a vida pode proporcionar, são realmente compensados com um pensamento tão nobre? Terão os atletas chegado a esse elevado estado de espírito? Quem sabe? Escândalos envolvendo doping não estariam traduzindo a escancarada intenção de alguns alcançarem a vitória a qualquer custo? A indisfarçável tristeza de muitos contendores que não chegam ao pódio não estaria a revelar o inverso do que prega o difundido ideal olímpico? São muitos os questionamentos.

Certo mesmo é que os esportes servem a múltiplos propósitos, inclusive eleitorais. Muito discurso e excessiva demagogia fluem em meio a esse tema que desperta tantas emoções. Não há como negar que o ser humano vive uma constante competição, desde a sua concepção no útero materno. Mesmo aqueles que pregam ser possível um outro mundo, nada mais fazem senão competir e querem que as suas teses saiam vitoriosas. Os vencedores são tratados como heróis, celebridades, ganham fama e dinheiro. Os derrotados vão para a ala do esquecimento e, às vezes, são até punidos de formas variadas. Não é demasiado lembrar que bons resultados nessa área dependem de muitos fatores e ninguém chega ao topo sem muita dedicação e pesados investimentos.

A perda dos espaços destinados às práticas desportivas é uma constante e crescente realidade, inclusive nas escolas públicas, embora haja toda uma pregação em defesa dessas atividades – a valorização funciona muito bem no discurso, na prática as teorias são outras. Qual o verdadeiro incentivo governamental dado aos esportes de base em nosso país para que se possam revelar novos talentos em nosso país? Reflitamos!

*Professor

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Na obra "Ordem e Liberdade"(PolOst, 2006) e neste blog defendemos uma política educacional formatada num contexto multidisciplinar integrando no currículo matérias de conhecimento científico, técnicas profissionais e prática de habilidades artísticas e desportivas. A " perda dos espaços destinados às práticas desportivas" é uma realidade, já que em tempo não muito distante as escolas estimulavam eventos esportivos na primavera revelando atletas e formando o moral, o senso de companheirismo, a liderança, o triunfo, a dedicação, o amor ao esporte, a paz e os sentimentos naturais envolvendo vencedor e vencidos. 

Sugerimos que se crie atividades extraclasse em horário alternativo para formar oficinas a partir da identificação do potencial do aluno e suas habilidades, criando eventos e equipes para competições interescolares apoiadas por clubes e associações esportivas do município e patrocinadas pelo comercio e industria local, os quais obteriam subsídios do Governo com redução de impostos. A mesma integração de esforços pode ser realizada na área das artes, do conhecimento científico e da profissionalização. 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

BM ATACARÁ TRÁFICO PERTO DE ESCOLAS

ZERO HORA 26 de julho de 2012 | N° 17142

PLANOS DA SEGURANÇA. Brigada Militar atacará tráfico perto de escolas. Combate ao crime receberá atenção especial do novo comandante de policiamento da Capital

CARLOS WAGNER 


O novo comandante do Policiamento da Capital (CPC), coronel Alfeu Freitas Moreira, 47 anos, reuniu-se com os seus comandados, ontem, no 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM). Em poucas palavras, definiu a linha de atuação da sua gestão. O combate aos homicídios, ao tráfico de drogas, ao roubo em postos de combustíveis e àqueles pequenos delitos que incomodam a população, como a atuação dos flanelinhas, está entre os objetivos.

Um crime em especial vai merecer atenção do coronel Freitas: os traficantes que agem ao redor das escolas. Segundo o novo comandante, muito mais do que reforçar o policiamento ostensivo é necessário entrar na escola para contar aos alunos que os heróis são os policiais militares e não os bandidos. Alerta que as carências da corporação não podem ser desculpa para não prestar um bom serviço à população.

Freitas, nascido em família de PMs, afirma que é preciso trabalhar com os recursos à disposição de maneira eficiente. Uma das medidas será orientar a ação do policiamento ostensivo com informações conseguidas na análise das ocorrências policiais.

No currículo do coronel, consta o comando do 9º BPM e o Serviço de Inteligência da BM, conhecido como P2. Na unidade, cultivou o trabalho em conjunto com a Polícia Civil e a Polícia Federal (PF), um prática que pretende manter no novo posto.


ENTREVISTA.

 “Somos pagos para desconfiar”. Coronel Alfeu Freitas Moreira comandante do CPC


Zero Hora – Como será sua gestão?

Alfeu Freitas Moreira – Todos os brigadianos envolvidos no patrulhamento, a pé ou motorizado, têm de trabalhar visando a obter resultado. O bandido não muda de profissão. Muda de área de atuação sempre que é acossado pela polícia. O comandante da unidade precisa acompanhar essa movimentação pelas ocorrências e direcionar o policial militar para o foco do problema.

ZH – No passado, os PMs andavam em duplas. Eram conhecidos como Pedro & Paulo. O senhor vai ressuscitá-los?

Freitas – Eles não precisam andar em duplas, como antigamente. Há locais na cidade em que a presença do policial a pé é fundamental, como nas grandes avenidas onde há comércio e aglomeração de pessoas. Mas o brigadiano não pode estar ali por estar. Mas estar atento ao que acontece ao seu redor e agir nas situações que considera suspeitas. Sempre digo uma coisa: nós somos pagos para desconfiar. E sempre que desconfiamos, nós devemos fazer abordagem, dentro da técnica. Não podemos esperar que algo de ruim aconteça para agir.

ZH – Qual é o maior problema de segurança na cidade?

Freitas – É o homicídio. Há pessoas equivocadas que falam que é bandido matando bandido. Para nós não interessa. Trata-se de um crime violento que espalha ao seu redor uma sensação de insegurança muito grande.Grande parte das mortes é de dívida de drogas. Somos policiais ostensivos e devemos agir preventivamente, desarmando os bandidos e estando presente nos locais conflituados.

ZH – Esta ação contra os traficantes vai ser em parceria com a Polícia Civil?

Freitas – A parceria com a Civil é fundamental. Todos os subsídios que nós recolhemos nesses locais conflituados são passados para eles.

ZH – Entre os grandes problemas da cidade estão os roubos de veículos, a postos de combustíveis e pequenos mercados. Como vocês vão agir?

Freitas – Esses crimes estão sendo monitorados. Todos os dias, a ação dos nossos policiais deverá estar focada naquele crime que está em alta. Agora, por exemplo, temos o roubo a posto de combustível (os ataques cresceram 76% nos cinco primeiros meses de 2012 no Estado). Já temos uma estratégia em prática para resolver o problema. Resolvido o problema, os bandidos vão migrar para outro tipo de ação. Eles vão nos encontrar lá.

ZH – São de conhecimento público as carências da corporação. Elas podem comprometer o seu plano?

Freitas – Ouço isso há anos. Temos que nos organizar com os recursos que temos à disposição e usá-los de maneira eficiente a serviço da população. A eficiência tem como coluna mestre o comandante da unidade, que deve orientar os seus homens. E não deixá-los sair do quartel sem rumo.

ZH – Como será feita a repressão aos traficantes que ficam nas portas das escolas?

Freitas – É um problema complexo, para o qual a nossa abordagem não será apenas no policiamento ostensivo. Nós precisamos ir à escola contar aos jovens que nós somos os heróis. Não podemos deixar que a cabeça do estudante seja ocupada pela conversa do traficante.

ZH – E os flanelinhas?

Freitas – Os flanelinhas abusados viraram um incômodo. Vamos agir.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

ANALFABETOS NA UNIVERSIDADE


OPINIÃO O Estado de S.Paulo - 19/07/2012


Sempre se soube que um dos principais entraves ao crescimento do Brasil é o gargalo educacional. Novas pesquisas, porém, revelam que o problema é muito mais grave do que se supunha. A mais recente, elaborada pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, mostrou que 38% dos estudantes do ensino superior no País simplesmente "não dominam habilidades básicas de leitura e escrita".

O Indicador de Analfabetismo Funcional, que resulta desse trabalho, não mede capacidades complexas. Ele é obtido a partir de perguntas relacionadas ao cotidiano dos estudantes, como o cálculo do desconto em uma compra ou o trajeto de um ônibus. Mesmo assim, 38% dos pesquisados não atingiram o nível considerado "pleno" de alfabetização, isto é, não conseguem entender o que leem nem fazer associações com as informações que recebem.

Para os autores da pesquisa, resumida pelo Estado (16/7), os resultados indicam que o notável aumento da escolarização verificado nas últimas décadas ainda não se traduz em desempenho minimamente satisfatório em habilidades básicas, como ler e escrever, e isso num ambiente em que essas etapas do aprendizado já deveriam ter sido plenamente superadas, isto é, nas universidades.

A "popularização" do ensino superior, com a abertura indiscriminada de faculdades ávidas por explorar um público de baixa escolaridade - que não consegue ingresso nas universidades de prestígio, mas sabe que o diploma é uma espécie de "passaporte" para melhorar o salário -, é vista como um dos fatores principais do fenômeno. Essas escolas, concluem os especialistas, se adaptaram confortavelmente a um mercado consolidado, e só reagirão diante da exigência sistemática por melhor qualidade, que deve vir do governo e dos próprios alunos.

No entanto, o tempo para a reversão desse quadro é curto. O sentido de urgência se dá diante do desafio de colocar o Brasil entre os países mais competitivos do mundo, ante o encolhimento dos mercados por conta da crise. A situação de semianalfabetismo nos campi brasileiros - que contraria o discurso populista da presidente Dilma Rousseff segundo o qual seu governo, como o anterior, cuida mais dos jovens do que do PIB - talvez seja o indicador mais importante para medir o tamanho do fosso que nos separa do mundo desenvolvido.

Em primeiro lugar, a indigência intelectual compromete os projetos de aperfeiçoamento profissional, por mais bem-intencionados que sejam. Não se pode esperar que egressos de faculdades sem nenhuma qualificação possam acompanhar as mudanças tecnológicas e científicas cujo desenvolvimento é precisamente o que determina a diferença entre países ricos e pobres. A China, por exemplo, já entendeu que sua passagem de "emergente" para "desenvolvida" não pode prescindir da qualificação de seus trabalhadores, como mostrou José Pastore, em artigo no Estado (16/7).

Os chineses, diz Pastore, têm investido pesadamente no ensino superior, cujas matrículas foram multiplicadas por seis nos últimos dez anos. Agora, quase 20% dos jovens em idade universitária estão no ensino superior na China, enquanto no Brasil não passam de 10%. Ademais, a China demonstra há décadas um vivo interesse em enviar estudantes ao exterior, para uma preciosa troca de informações que encurta o caminho do país na direção do domínio técnico essencial a seu desenvolvimento. Só em 2008, diz Pastore, os chineses mandaram 180 mil estudantes para as melhores universidades do mundo, volume que se mantém ano a ano. O Brasil apenas iniciou o Programa Ciência Sem Fronteira, que pretende enviar 110 mil estudantes nos próximos anos.

O impacto do investimento chinês em educação aparece no cenário segundo o qual quase metade do extraordinário crescimento econômico do país resulta desse esforço de qualificação. Assim, se o Brasil tem alguma pretensão de competir com o gigante chinês, ou mesmo com países emergentes menos pujantes, o primeiro passo talvez seja admitir que é inaceitável entregar diplomas universitários a quem seria reconhecido como analfabeto em qualquer lugar do mundo civilizado.

APRENDIZADO EM QUESTÃO

ZERO HORA 19 de julho de 2012 | N° 17135

EDITORIAL

Constitui grave indício a informação contida no levantamento Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) de que menos de um terço da população brasileira é capaz de ler, compreender e interpretar textos longos e de realizar outras tarefas que exigem domínio de leitura e escrita. Segundo a pesquisa, apenas 26% dos brasileiros podem ser considerados plenamente alfabetizados funcionalmente, mesmo percentual apurado há 11 anos.

O termo “alfabetismo funcional” merece esclarecimento, porquanto se trata de questão que divide especialistas em educação. Surgida nos Estados Unidos no início do século passado, essa noção foi inicialmente utilizada para medir a capacidade de conscritos de compreender instruções escritas durante a II Guerra Mundial. Outras nações, como a França, adotam o conceito de “letramento” para designar indivíduos que, apesar de terem tido acesso à educação, não executam as habilidades aprendidas de leitura e escrita em seu cotidiano. A adoção do conceito pelas Nações Unidas, no pós-guerra, fez com que fosse aplicado a países onde, diferentemente das realidades americana ou francesa, a educação era privilégio de poucos. Hoje, é considerada alfabetizada funcionalmente a pessoa capaz de utilizar a leitura, a escrita e habilidades matemáticas para fazer frente às demandas de sua realidade social e empregá-las no autodesenvolvimento continuado.

O conceito de alfabetismo funcional inclui quatro graus: analfabeto, rudimentar, básico e pleno. 

Conforme o Inaf, 26% dos brasileiros são plenamente alfabetizados, enquanto a maioria (47%) fica no nível básico e 27% são considerados analfabetos funcionais. Outros dados da pesquisa mostram que o problema, longe de se limitar às capacidades elementares, perpassa toda a pirâmide do ensino. Por exemplo, apenas 35% dos brasileiros que concluem o Ensino Médio e 62% dos que têm formação de nível superior podem ser considerados plenamente alfabetizados.

Não é preciso ser versado em pedagogia para concluir que esses números representam uma clara sentença condenatória do sistema educacional em nosso país. Estará enganado quem julgar essa percepção como restrita a acadêmicos e eruditos. Uma pesquisa CNI-Ibope divulgada em junho mostra que 54% dos brasileiros desaprovam a educação no país. Paradoxalmente, essa constatação surge num momento em que o investimento público no ensino em todos os níveis atinge a marca histórica de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). O orçamento do Ministério da Educação cresceu mais de quatro vezes na última década, pulando de R$ 18 bilhões em 2002 para R$ 86,2 bilhões este ano. Reverter esse quadro exige uma opção preferencial, por parte de todas as esferas de governo, pelo ensino de qualidade em nosso país. Tal opção é sinônimo de formação adequada e valorização dos profissionais de educação, avaliação eficaz de professores e alunos e um regime meritocrático capaz de premiar a excelência.

TRÁFICO PERTO DA ESCOLA


ZERO HORA 19 de julho de 2012 | N° 17135

ANJOS DA LEI. Prisão por tráfico perto de escola

Policiais do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) prenderam em flagrante, na terça-feira, um homem de 59 anos por tráfico de drogas, em Porto Alegre. O traficante agia nas imediações de um colégio na Vila Farrapos.

Com o homem, foi apreendida cocaína. Os policiais monitoravam o suspeito havia 15 dias, no âmbito da Operação Anjos da Lei, que combate a venda de droga a crianças e adolescentes perto de escolas.

Saiba mais - No dia 8, ZH mostrou o resultado da ofensiva, desde maio de 2011, contra o tráfico nas imediações de escolas na Região Metropolitana e no Vale do Sinos, com a prisão de 118 suspeitos

BULLYING: FAMÍLIA REAGE E ESPANCA ALUNAS E PROFESSORA

ZERO HORA 19 de julho de 2012 | N° 17135

VIOLÊNCIA NA ESCOLA. Família reage a bullying e espanca alunas e professora. Perseguições a garota de 12 anos teriam motivado agressões em Pelotas

JOICE BACELO | PELOTAS/CASA ZERO HORA 

Um suposto caso de bullying foi parar na polícia em uma escola de Pelotas, no sul do Estado. Com o argumento de que a filha de 12 anos vinha sendo espancada, a mãe e dois irmãos da adolescente invadiram o Colégio Estadual Dom João Braga e agrediram duas alunas – uma de 12 e outra de 14 anos – e uma professora de Educação Física.

Agarota de 12 anos teria sido atacada pelo pescoço, e a de 14 teve quatro dedos quebrados. A professora foi atingida com socos nos braços. Na versão de uma irmã da garota que estaria sofrendo bullying, há pelo menos três meses ela se queixava de maus-tratos, que seriam cometidos por um grupo de colegas. A adolescente estuda na 6ª série e frequenta a escola desde o início do ano. Só neste semestre, a mãe teria procurado a direção cinco vezes – o que é negado pela instituição. A família atribui as supostas agressões ao tipo físico da garota, que está acima do peso e usa óculos.

– A minha irmã é cega de um olho e tem miopia no outro, por isso usa óculos do tipo fundo de garrafa. Começou como chacota e acabou em agressão física. Um dia antes de irmos até a escola, ela havia sido espancada – conta a irmã mais velha.

Com aulas suspensas ontem, colégio entra em férias hoje

A escola e as duas estudantes agredidas, entretanto, negam as acusações de bullying. A diretora Laura Machado diz que não foi procurada pela família e que foram analisadas as imagens das câmeras de segurança, que não teriam revelado nenhum tipo de agressão entre as colegas. O caso foi encaminhado para a assessoria jurídica da 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e está sendo investigado pela Polícia Civil.

– Desnorteou as atividades na escola. Uma das meninas agredidas está com quatro dedos quebrados, a outra foi pega pelo pescoço e prensada contra a parede. A professora, ao tentar separar, levou socos no braço. Sem contar o tumulto que causou entre os mais de 300 alunos do turno da tarde. Essa mãe ameaçou voltar e matar todo mundo, o que é ainda pior – diz a diretora do colégio Dom João Braga.

A mãe da garota de 14 anos envolvida na briga afirma que a filha não agrediu a colega:

– Acho um absurdo o que aconteceu. Porque duas crianças discutem em um dia e estão de mãos dadas no outro.

Ontem, as aulas foram suspensas e, a partir de hoje, os estudantes entram em férias. A família da adolescente que estaria sofrendo bullying diz que só voltará à escola para pegar o histórico, necessário para a transferência As duas partes afirmam que darão início a uma ação judicial.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

ALFABETIZAÇÃO PLENA AINDA DISTANTE

CORREIO DO POVO, 18/07/2012

EDITORIAL


Não obstante ter se verificado uma expansão do número de acessos ao sistema escolar nos últimos anos, isso não resultou ainda numa melhoria qualitativa em relação à alfabetização e ao domínio de habilidades necessárias para ser denominado um alfabetizado pleno. De acordo com um levantamento realizado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela organização não governamental Ação Educativa, que resultou no Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf), menos de 30% dos brasileiros podem ser considerados como alfabetizados na acepção plena da palavra. A pesquisa aferiu por meio de entrevistas a capacidade de leitura e compreensão de textos, bem como algumas operações de raciocínio lógico. Os percentuais finais indicaram quatro grupos, de acordo com o desempenho em relação às atividades propostas: analfabetos, alfabetizados em nível rudimentar, alfabetizados em nível básico e plenamente alfabetizados.

O cotejo de números mostra que o índice de 26% de alfabetizados plenos corresponde exatamente ao verificado em 2001, indicando que não houve uma evolução real. Os analfabetos funcionais representam 27% do total e a faixa intermediária apresenta uma alfabetização básica. Também se pode constatar que há uma relação direta entre renda das famílias e capacidade de cognição de textos e dados. Na faixa de rendimentos superior a cinco salários mínimos, 52% podem ser tidos como plenamente alfabetizados. Todavia, na faixa de ganhos que vão até um salário mínimo, esse percentual despenca para 8%.

Esse trabalho do Inaf, que teve como público-alvo 2 mil pessoas, de 15 a 64 anos, em todas as regiões brasileiras, precisa ser esmiuçado pelos gestores do sistema educacional. Certamente nele haverá subsídios importantes para melhorar de fato o ensino prestado pela rede escolar de todo o país.

APRENDIZADO EM XEQUE


ZERO HORA 18 de julho de 2012 | N° 17134

Só 26% da população é plenamente alfabetizada. Estudo avaliou capacidade de leitura e compreensão de texto das pessoas


Os resultados da última edição do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) mostram que apenas 26% das pessoas podem ser consideradas plenamente alfabetizadas – mesmo patamar verificado em 2001, quando o indicador foi calculado pela primeira vez. Os chamados analfabetos funcionais representam 27% e a maior parte (47%) da população apresenta um nível de alfabetização básico.

Apenas 35% das pessoas com Ensino Médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas e 38% dos brasileiros com formação superior têm nível insuficiente em leitura e escrita. É o que apontam os resultados do Inaf 2011-2012, pesquisa produzida pelo Instituto Paulo Montenegro e a organização não governamental Ação Educativa.

A pesquisa avalia por meio de entrevistas e de um teste cognitivo, a capacidade de leitura e compreensão de textos e outras tarefas básicas que dependem do domínio de leitura e escrita. A partir dos resultados, a população é dividida em quatro grupos: analfabetos, alfabetizados em nível rudimentar, alfabetizados em nível básico e plenamente alfabetizados.

Há chance de relação entre alfabetização e renda familiar

‘Os resultados evidenciam que o Brasil já avançou, principalmente nos níveis iniciais do alfabetismo, mas não conseguiu progressos visíveis no alcance do pleno domínio de habilidades que são hoje condição imprescindível para a inserção plena na sociedade letrada’, aponta o relatório do Inaf.

O estudo também indica que há uma relação entre o nível de alfabetização e a renda das famílias: à medida que a renda cresce, a proporção de alfabetizados em nível rudimentar diminui. Na população com renda familiar superior a cinco salários mínimos, 52% são considerados plenamente alfabetizados.

Na outra ponta, entre as famílias que recebem até um salário por mês, apenas 8% atingem o nível pleno de alfabetização.

De acordo com o estudo, a chegada dos mais pobres ao sistema de ensino não foi acompanhada dos devidos investimentos para garantir as condições adequadas de aprendizagem. Com isso, apesar da escolaridade média do brasileiro ter melhorado nos últimos anos, a inclusão no sistema de ensino não representou melhora significativa nos níveis gerais de alfabetização da população.

terça-feira, 17 de julho de 2012

REAJUSTE AOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS

EDUCAÇÃO. GREVE NAS FEDERAIS
R7 -  17/07/2012 às 20h22:

Mercadante diz que não há margem para melhorar proposta de reajuste aos professores. Segundo ministro, proposta apresentada pelo governo custaria quase R$ 4 bilhões

Da Agência Brasil

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse, em um encontro com reitores de universidades federais nesta terça-feira (17), que não há margem orçamentária para melhorar a proposta de reestruturação da carreira dos professores,apresentada na última semana. A categoria está parada há dois meses e o comando de greve avaliou a proposta do governo como insatisfatória.

De acordo com o ministro, no cenário de crise financeira internacional, a prioridade do governo é manter o crescimento da economia para evitar o desemprego.

— A proposta apresentada pelo governo é quase R$ 4 bilhões [de recursos para custear o plano até 2014]. No momento, em função da crise internacional, a prioridade do governo é usar essa capacidade fiscal para o Brasil crescer e manter o emprego de quem não tem estabilidade.

Mercadante disse também que existem outras categorias que precisam ser atendidas e argumentou que os professores das universidades foram os primeiros servidores federais que receberam do governo proposta de novo plano de carreira.

Os reitores fizeram um apelo ao ministro para que também fosse encaminhada a negociação com os técnicos-administrativos das universidades federais, que também estão em greve. Mercadante disse que espera que a situação com os professores seja resolvida logo para que o ministério possa “se dedicar intensamente em buscar uma solução para os técnicos”.

O conceito da nova proposta de carreira para os professores, segundo Mercadante, é a valorização dos docentes que têm regime de dedicação exclusiva e doutorado. Segundo ele, 87% dos docentes já trabalham com dedicação exclusiva e dois terços têm título de doutor.

— O plano valoriza os professores com doutorado e a dedicação exclusiva que são aqueles que realmente têm compromisso com a universidade. É isso que vai fazer a universidade brasileira ser de excelência. A proposta fortalece essa concepção e disso nós não vamos abrir mão.

Um dos pontos da proposta apresentada aos professores que foi criticada pelo sindicato da categoria é o fato de que a projeção de reajuste apresentada pelo governo não teria levado em conta a projeção da inflação para os próximos anos. Com isso, o ganho real seria muito reduzido. Mercadante disse que haverá ganho real de salário e que a projeção de inflação do sindicato está muito acima das metas projetadas para os próximos anos.

Durante toda essa semana, os professores das instituições em greve se reunirão em assembleias para avaliar a proposta apresentada pelo governo. Na próxima segunda-feira (23) está marcada uma nova reunião de representantes sindicais com o Ministério do Planejamento para apresentar os resultados dessas assembleias e reivindicações de mudanças no plano.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Teria margem se o reajuste fosse para o Legislativo e Judiciário, agora para a educação...Para uns não existem limites nos cofres públicos, para outros não.

ESCOLAS AUTÔNOMAS TÊM MAIS SUCESSO

‘Escolas autônomas têm mais sucesso’, diz secretário do MEC. César Calegari, responsável pela Educação Básica, comenta série de matérias do GLOBO

O GLOBO 17/07/12 - 9h05


Na escola com melhor Ideb do Nordeste, em Teresina, professores ajudam alunos a atravessar até ponte para que eles consigam pegar o transporte escolar. FOTOS DE JOÃO BRITO JR.


RIO - A série de reportagens que o GLOBO publicou sobre escolas que atendem crianças de baixa renda e têm Índice de Educação Básica (Ideb) acima de 6, média estabelecida pelo Ministério da Educação (MEC) para 2002 e índice considerado no patamar dos países desenvolvidos, reafirmou para César Calegari, secretário de Educação Básica do MEC, que é possível oferecer educação de qualidade quando a “escola se apodera e assume suas ideias, aumentando o grau de autonomia”:

— Esse é o denominador comum das escolas que, mesmo estando em lugares precários, conseguem oferecer educação de qualidade. Escolas mais autônomas têm mais successo e isso tem orientado as políticas do MEC.

Segundo ele, o Ministério tem trabalhado para fortalecer as equipes das escolas, oferecendo cursos de formação de professores, diretores e vices.

— A formação continuada é importante porque não basta boa vontade. É preciso preparo, é preciso que o professor saiba como avaliar o aluno e ele teve ter recursos para isso. Desse modo, pode reconhecer o potencial das crianças e pode capacitá-las, desenvolvendo ações individuias e coletivas.

Para o secretário, é fundamental ainda que cada integrante da equipe, do porteiro até os responsáveis pela direção, dominem o projeto educacional da escola em que trabalham.

— Crianças e jovens expostos mais intensamente ao projeto educativo se desenvolvem melhor. Além disso, o horário integral também é um fator importante. O turno de sete horas oferecido pelo Mais Educação proporciona que além das aulas as crianças tenham contato com a área cultural e esportiva, por exemplo. Por conta disso, ampliamos o programa, que hoje já funciona em 30 mil escolas.

De acordo com ele, para que mais escolas apresentem o mesmo resultado das 82 que, em 2009, atendiam crianças pobres e tinham Ideb acima de 6, é preciso ainda que o “país faça um esforço para aumentar o investimento em educação”.

— Investir 10% do PIB na educação é necessário. Mas isso não é suficiente. Precisamos melhorar os salários, ampliar a jornada dos alunos, fazer com que professores tenham dedicação exclusiva a uma única escola e ainda garantir que nenhuma criança de 8 anos chegue ao terceiro ano do fundamental sem estar alfabetizada. Esse é o mantra do MEC — diz Calegari.

Ele acrescenta que é necessário que as famílias sejam mobilizadas para que o aprendizado aconteça:

— Isso é decisivo. As escolas têm que interagir com as famílias, já que desse jeito tudo anda bem. Pelo que vimos na reportagem, nas escolas há uma preocupação em fazer com que o aluno não falte. E se falta, envolvem a família para que volte. Mãe e pai têm que se envolver, porque muitas vezes não sabem que o aprendizado é contínuo e por isso deixam o filho faltar.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O PIB E AS CRIANÇAS

 
ZERO HORA 16 de julho de 2012 | N° 17132

PÁGINA 10 | LETÍCIA DUARTE (Interina)


Quando disse que a grandeza de um país não deveria ser medida pelo seu Produto Interno Bruto, e sim pelo que faz com suas crianças e adolescentes, a presidente Dilma Rousseff estava respondendo indiretamente às críticas de desaceleração da economia brasileira.

Mas essa afirmação que vem ecoando desde quinta-feira, quando foi pronunciada em discurso na 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, extrapola e muito o campo da economia. Se seguirmos a recomendação da presidente e analisarmos o que o país está fazendo pela sua infância, que saldo teremos?

Não é preciso esforço para constatar que os índices relativos ao cuidado com os filhos do Brasil ficam muito aquém do que a grandeza da pátria amada ensejaria.

Se, na comparação do PIB, o Brasil ultrapassou o Reino Unido e se tornou oficialmente neste ano a sexta maior economia do mundo, no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano continuamos num modesto 84º lugar entre os 187 países avaliados. A diferença se dá justamente porque o IDH é usado como referência da qualidade de vida e desenvolvimento, sem se prender apenas a índices econômicos.

Quando se analisa o ranking da educação feito pela Unesco, a situação é ainda pior. Apesar dos avanços sociais reconhecidamente consumados no Brasil nos últimos anos, estamos no 88º lugar de 127 países pesquisados. Com isso, o país fica entre os de nível “médio” de desenvolvimento na área, atrás de Argentina, Chile e até mesmo de Equador e Bolívia.

Embora tenha conseguido garantir que 98% dos brasileiros de sete a 14 anos estejam na escola, o país ainda tem 535 mil integrantes dessa faixa etária fora da sala de aula, dos quais 330 mil são negros. Os dados, da Unicef, revelam outras preocupações: de cada 100 estudantes brasileiros que entram no Ensino Fundamental, apenas 59 terminam a 8ª série e apenas 40, o ensino médio. A cada dia, 129 casos de violência contra crianças e adolescentes são relatados, em média, ao Disque Denúncia 100. Isso quer dizer que, a cada hora, pelo menos cinco casos de violência contra meninas e meninos são registrados no país.

Como se pode ver, ainda falta muito para que o Brasil possa se orgulhar de sua grandeza.

BIG BROTHER NA CAPITAL GAÚCHA

 
ZERO HORA 16 de julho de 2012 | N° 17132

Escolas terão mais 300 câmeras

Meta é reduzir vandalismo, furtos e bullying e ampliar rede de segurança virtual da Capital, que será uma das maiores do BrasilAlunos, pais e professores da rede pública de ensino de Porto Alegre terão uma garantia a mais de segurança até o final do ano. Este é o prazo, conforme anúncio da prefeitura, para incrementar o monitoramento das 96 escolas municipais com 300 câmeras. Ao todo, serão 830 pontos vigiados 24 horas por dia.

A instalação de câmeras nos estabelecimentos de ensino faz parte de um plano da prefeitura de ampliar o videomonitoramento em toda a cidade. A ideia é ter, até a Copa do Mundo de 2014, uma central que receba imagens de todos os equipamentos existentes na Capital, seja de escolas, do trânsito ou das ruas.

– O prefeito José Fortunati já solicitou projeto. O objetivo é criar uma central de inteligência na cidade – afirma o diretor-presidente da Procempa, André Imar Kulczynski.

A estratégia inclui a instalação de uma cerca virtual num dos mais frequentados parques da Capital, que também terão ampliadas suas redes de monitoramento por câmeras de TV. Segundo a secretária municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana, Sônia d’Ávila, até novembro haverá mais 25 unidades, num investimento de R$ 800 mil.

O acompanhamento das ocorrências nos parques Farroupilha e Marinha do Brasil, que exigem ações da Guarda Municipal e Brigada Militar, além de outros serviços públicos, fará parte, até o final deste ano, do Centro Integrado de Comando (Ceic) anunciado pela prefeitura no fim de junho. Com essa ampliação, estará concluído o cercamento eletrônico dos dois parques, afirma a secretária Sônia d’Ávila.

Conforme informações do gerente de Operações da Procempa, Lafaiete Everardi dos Santos, o projeto de ampliação das redes nos parques Marinha e Farroupilha prevê a colocação de mais 25 pontos. Hoje, há 12 câmeras na Redenção e no Marinha (seis em cada parque) e, até o fim do ano, serão 37 pontos nos dois parques.

A rede de monitoramento da cidade já conta com outras 61 câmeras, instaladas, da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que monitoram o trânsito na cidade.

– Porto Alegre estará à frente de outras capitais, acompanhando o Rio de Janeiro e cidades da Europa – diz o comandante da Guarda Municipal, Eliandro Oliveira de Almeida.

Inspiração no Central Park de Nova York

A opinião do integrante do Conselho de Usuários do Parque Farroupilha, Roberto Jakubaszko, é favorável ao monitoramento nos parques e nas escolas, mas ele espera a presença do policiamento ostensivo.

– O policiamento é a energia que todo sistema de segurança precisa – diz ele, que cita o exemplo do Central Park de Nova York, onde, segundo ele, “quando alguém joga um papel no chão, já vem o guarda para dar uma advertência ou multar”.

Operação em 18 áreas

A prefeitura optou por aproveitar a estrutura do prédio que abrigará o novo Datacenter da Procempa, na Rua João Neves da Fontoura – que teria dois pavimentos – mas está projetado para até cinco andares.

Além de toda a rede e serviços da Procempa disponíveis em seu prédio, o Centro Integrado de Comando terá a garantia de funcionamento contínuo através de no-breaks, geradores e da nova subestação para abastecimento de energia instalados no local e inicialmente previstos para atender somente o Datacenter.

Estratégias para agir em situações de emergência

O Centro Integrado de Comando para Porto Alegre manterá constantemente equipes organizadas e preparadas para agir rápido e em conjunto no atendimento à população em situações de emergência ou críticas. Será no prédio do futuro Datacenter da Procempa, em obras (foto ao lado), e com entrada em operação prevista até o fim deste ano.

O Ceic reunirá representantes de várias áreas municipais que estarão num mesmo local, em constante monitoramento da cidade e que, em caso de alguma emergência ou crise, atuarão de forma integrada. O Centro Integrado de Comando também será uma extensão do gabinete do prefeito que terá um espaço especial para comandar as operações em horas críticas.

O monitoramento será feito a partir de um conjunto de 39 monitores (videowall) que estarão 24 horas por dia transmitindo imagens de câmeras de videomonitoramento espalhadas pela cidade no controle de trânsito, em praças e parques, no Centro de Operações da Brigada Militar, escolas e pontos estratégicos.

A PARTE DE CADA UM

ZERO HORA 16 de julho de 2012 | N° 17132



 
EDITORIAL

Uma escola de cerca de 200 alunos fornece um contraponto ao pessimismo que ronda certas abordagens da situação da educação. No intervalo de um ano, a referida instituição teve a fachada restaurada, construiu um muro de 2m50cm de altura, serve quatro refeições por dia, organizou uma biblioteca lúdica e – detalhe que parece saído do sonho impossível de algum pedagogo visionário – garantiu, com recursos do Tesouro, mais de um netbook para cada estudante matriculado. Não se está narrando a história de um estabelecimento de ensino do Hemisfério Norte, e sim da Escola Estadual de Ensino Fundamental Aurélio Reis, no bairro Jardim Floresta, zona norte de Porto Alegre.

O segredo da Aurélio Reis não é uma receita mágica de gestão, nem recursos excedentes doados por beneméritos. O fator que permitiu à escola dar um salto em sua infraestrutura em tão curto espaço de tempo foram seus professores, pais e alunos. Foram essas mulheres, homens e crianças comuns, que em nada diferem da imensa maioria da comunidade escolar brasileira, que possibilitaram o salto de qualidade verificado desde 2011. A mobilização permitiu que a diretora da escola, Nássara Scheck, ela própria profundamente imbuída da possibilidade de promover mudanças, lutasse por recursos e soluções para a instituição.

Um dos diferenciais do projeto da escola é o funcionamento em turno integral. Ao longo do dia, os estudantes têm acesso a oficinas de judô, capoeira, dança, letramento, ciências e informática. O refeitório serve quatro refeições diárias. As portas da Aurélio Reis permanecem abertas aos sábados e domingos. Nas dependências da escola, não há sinais de vandalismo. O próximo passo, para o qual a comunidade escolar já se prepara, é a informatização. Tudo começou há cerca de seis anos, quando pais, alunos e professores se reuniram em mutirão e deram início a uma reforma do local, com a ajuda da comunidade.

Os computadores colocados à disposição dos alunos da Aurélio Reis foram comprados com recursos públicos, o que mostra que é possível, sim, fazer mais com os recursos existentes e colocar ao alcance dos jovens ferramentas indispensáveis para seu ingresso na contemporaneidade. Escolas de Aceguá e Bagé já contam com equipamentos semelhantes, e outros chegarão a Santana do Livramento, Quaraí, Jaguarão e Uruguaiana. Mais importante do que os netbooks, porém, é o bem intangível que a Aurélio Reis tem de sobra: a capacidade de se aglutinar em torno de um projeto comum e lutar por ele até conquistá-lo. A experiência da escola porto-alegrense pode servir de estímulo para que, em outras partes do país, sejam buscados resultados semelhantes por meio dos mesmos instrumentos. Quando dotada de projetos adequados, a união dos cidadãos comuns é poderosa e pode produzir melhorias surpreendentes, sem que para isso seja preciso aguardar a intervenção benfazeja de algum ente poderoso num futuro distante. A mudança da face da educação no Brasil pode começar aqui e agora.


sábado, 14 de julho de 2012

UMA ILHA DE ESPERANÇA

ZERO HORA 14 de julho de 2012 | N° 17130

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA

A entrega de 282 computadores a professores e alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Aurélio Reis, no bairro Jardim Floresta, em Porto Alegre, é uma cena rara que só se tornou possível por uma combinação igualmente rara de vontades. O governador Tarso Genro e o secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo, não teriam escolhido a Aurélio Reis para ser uma das primeiras a receber computadores do projeto Província de São Pedro se não tivesse ocorrido antes uma revolução nessa escola de periferia. Uma revolução comandada pela diretora Nássara Scheck, uma mulher que poderia ganhar a vida dando palestras de motivação para colegas professores.

A história dessa escola foi muito bem contada em Zero Hora pela repórter Juliana Bublitz, no ano passado. Mostrou como ela conseguiu virar o jogo e transformar em referência uma instituição que tinha tudo para ser apenas mais uma das que justificam os maus resultados pela pobreza dos alunos e pelas dificuldades do entorno. Do caos nasceu uma escola em que os alunos respeitam os professores e se respeitam. Pais participam da vida escolar, ajudam a manter o prédio, sentem-se donos do bem público. O colégio tem horta, biblioteca, quadra de esportes, como ZH mostrou na edição de ontem, em reportagem de Vanessa Beltrame.

Os professores da Aurélio Reis não ganham mais do que seus colegas de outras instituições. O que é preciso, então, para multiplicar esse modelo? Mesmo correndo o risco da simplificação, é possível dizer que são necessários líderes como Nássara para motivar professores, pais e alunos. Para engajar uma comunidade e convencê-la de que, para cobrar mais do governo, é preciso dar o primeiro passo. A Aurélio Reis tem agora um computador por aluno e por professor, como nas escolas uruguaias, que inspiram o projeto. Os professores foram treinados para explorar os recursos que o mundo digital oferece. Os próximos resultados da escola no Ideb e em outros testes de avaliação indicarão se esse é o caminho para transformar a educação no Rio Grande do Sul.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

LIÇÃO DE SIMPLICIDADE

ZERO HORA 12 de julho de 2012 | N° 17128

EDITORIAL

Vem das escolas rurais de 24 municípios gaúchos uma boa notícia que pode contribuir para solucionar os impasses vividos pela educação no Estado e no país. Segundo levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, os 40 estabelecimentos rurais de ensino dessas cidades, num total de 957 alunos, registraram um índice de 100% de aprovação em todos os anos do Ensino Fundamental no ano passado.

Além do pequeno porte dos municípios, outros dois traços unem essas experiências: o foco em disciplinas adaptadas à realidade e às necessidades dos alunos e o envolvimento da comunidade no cotidiano das escolas. O fato de essas três características estarem presentes em escolas da zona rural deve ser objeto de reflexão da parte de todos os que se preocupam com a situação da educação na atualidade. Especialistas têm apontado que o grande diferencial desses estabelecimentos não está dentro, e sim fora da escola. É sabido que, nos dias de hoje, as escolas da área urbana são obrigadas a lidar com fatores como criminalidade, drogas, dificuldade de acesso, número excessivo de alunos por sala de aula, professores sobrecarregados e pais assoberbados. Ora, a realidade das pequenas localidades é diversa. Profissionais da educação podem se concentrar nas atividades de ensino, pais estão mais presentes e alunos não estão expostos aos efeitos do crescimento urbano desordenado. Todos os aspectos de suas vidas sofrem os efeitos positivos desse entorno, e com a educação não é diferente.

Nem por isso deve-se deixar de enfatizar a dedicação de todos os que participam das experiências nos 24 municípios destacados. Aulas em turno integral, atividades como inglês, taekwondo e musicalização, fundamentos de cooperativismo, atividades de integração e ênfase em leitura são atividades que não dependem de decisões de Brasília, de Porto Alegre ou mesmo da sede do município: podem ser implementadas, e o foram, pelos próprios envolvidos, sejam professores, pais ou estudantes. Trata-se de um exemplo a ser estudado, imitado e aperfeiçoado em todo o país.

terça-feira, 10 de julho de 2012

FALTAM DOCENTES PARA AS FEDERAIS

OPINIÃO O Estado de S.Paulo 10/07/2012

A prolongada greve dos docentes das universidades federais está trazendo à tona os principais problemas das 59 instituições mantidas pela União. Esse foi um dos setores privilegiados pelo governo do presidente Lula, que deixou o cargo se gabando de ter criado mais universidades que Juscelino Kubitschek. Nos oito anos em que comandou o País, Lula criou 14 instituições. Em cinco anos de governo, JK criou 10.

A diferença é que, enquanto as universidades de JK foram criadas para atender as capitais dos Estados menos desenvolvidos, as de Lula foram, em sua maioria, abertas onde não havia demanda. Em vez de fazer um cuidadoso estudo sobre as reais necessidades da rede pública de ensino superior, o governo Lula gastou R$ 4 bilhões inaugurando universidades sem instalações adequadas e matriculando alunos antes de serem construídas bibliotecas e laboratórios.

No entanto, problema mais grave, que está sendo revelado pela greve que paralisa os cursos de graduação de 56 das 59 universidades federais, é a falta de professores preparados e com doutorado para compor o corpo docente. As áreas mais afetadas são as de economia, engenharia, psicologia, saúde e pedagogia. O caso da Universidade Federal do ABC, criada em 2004 no principal reduto eleitoral do PT, é exemplar. Dos últimos 90 concursos realizados pela instituição, 32 não tiveram candidatos aprovados - um índice de 35%. Na Unicamp, uma universidade estadual que está entre as melhores do País, só 1% dos últimos concursos terminou sem candidatos aprovados.

Segundo levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo, de todos os processos seletivos realizados pelas universidades federais entre 2011 e 2012, 59 terminaram sem nenhum aprovado. Em alguns desses concursos, não houve sequer candidatos inscritos. Nos demais, os candidatos não atingiram a nota mínima em quesitos básicos, como prova didática, prova escrita, análise de currículo e apresentação de um plano de trabalho. Em média, 1 em cada 4 processos seletivos realizados entre 2011 e 2012 terminou sem aprovados.

Na Universidade Federal de São Paulo, foram realizados 116 processos seletivos, dos quais 24 não tiveram um único professor aprovado. Na Universidade Federal de São Carlos, foram realizados 26 concursos, dos quais 3 terminaram sem aprovados. Para os reitores, apesar de as universidades federais mais antigas e tradicionais oferecerem boas condições para atividades de pesquisa e extensão, os baixos salários pagos pelo Ministério da Educação (MEC) não atraem candidatos qualificados. O salário inicial de um professor de uma universidade federal em regime de tempo integral e dedicação exclusiva é de R$ 7.627. No final de carreira, o salário é de R$ 12.225. "Com esse salário e carreira, quem quer ser professor em federal?", indaga a presidente do Sindicato dos Professores da Unifesp, Virgínia Junqueira. Nas universidades federais recém-criadas, o problema não é só salarial. Além dos baixos vencimentos, elas não oferecem condições de trabalho e estão situadas em locais distantes.

Falando com a condição de anonimato, alguns dirigentes do MEC alegam que a criação desenfreada de novas universidades, pelo governo Lula, não foi precedida de um projeto de expansão da capacidade da rede pública de ensino superior para formar doutores. Quando não são contratados pela iniciativa privada, os doutores formados pelas federais preferem trabalhar nos órgãos de ponta do governo federal - um analista financeiro iniciante na Controladoria-Geral da União, por exemplo, recebe R$ 13.000. E quem quer seguir a carreira acadêmica tende a prestar concurso nas universidades estaduais mais conceituadas, como a UERJ (Rio de Janeiro), a UEL (Londrina) e a USP, Unicamp e Unesp.

Para o secretário de Ensino Superior do MEC, Amaro Lins, a escassez de professores qualificados tende a diminuir à medida que as novas federais instalarem programas de pós-graduação. Mas, além de levar tempo, isso esbarra em outro problema. Se não há docentes nem para a graduação, haverá professores em número suficiente para os novos cursos de doutorado?

segunda-feira, 9 de julho de 2012

UNIVERSIDADE JUSTA

FOLHA.COM. 09/07/2012 - 03h00

 
Editorial


"Universidade gratuita" é um ótimo slogan para manifestações. Mas, no mundo real, implica um paradoxo. Prédios, professores, funcionários, laboratórios --alguém precisa pagar por eles.

Só expandir o sistema oficial, sem criar formas sustentáveis de financiá-lo, torna recorrentes as crises --como a que ora paralisa as universidades federais.

Se não é o aluno quem paga, com mensalidades, a conta vai para o conjunto da sociedade, por meio de impostos.

É mais que legítimo, portanto, discutir qual modelo serve melhor aos interesses do país.

O primeiro ponto a elucidar é que universidades não servem apenas para ensinar, mas também para fazer pesquisa. E essa é justamente a parte mais cara.

Nos EUA, até instituições estatais cobram anuidades, que chegam a dezenas de milhares de dólares.

Lá, o grosso do financiamento da pesquisa, tanto das universidades privadas como das oficiais, se faz com recursos públicos --fomento direto à investigação ou doações filantrópicas, que envolvem algum tipo de renúncia fiscal.

Não faria sentido algum exigir que alunos de universidades públicas brasileiras arcassem com as despesas da instituição com pesquisa, tampouco com outros itens que pesam bastante em seus orçamentos, como aposentadorias, hospitais universitários etc.

Ainda assim, resta uma conta diretamente ligada ao ensino, cujo custeio precisa ser debatido.

A "universidade gratuita", afinal, é socialmente regressiva. Embora formar médicos e engenheiros justifique investimento público (interessa à sociedade pagar para tê-los), é grande a apropriação privada que ocorre após a graduação.

Um estudo de 2005 de Marcelo Neri, da FGV, mostrou que a diferença entre o salário médio de um médico e o de alguém que jamais estudou chegava a 1.500%.

É claro que nem todos os cursos superiores resultam na mesma desproporção, mas não se pode negar que detentores de títulos universitários são mais bem remunerados, em geral.

A cobrança direta de mensalidades é uma possibilidade entre outras.

Seu efeito mais nocivo seria dificultar a entrada de estudantes sem recursos, mas pode ser mitigado por programas de bolsas de estudo e empréstimos a juro baixo.

Existem alternativas, porém, como o pagamento de alíquota adicional do Imposto de Renda por egressos da universidade pública. Mas o mecanismo seria muito vulnerável à ocultação de renda e exigiria uma burocracia própria.

Outra opção seria criar um serviço social compulsório para formados em instituições oficiais. Um médico formado numa universidade federal, por exemplo, passaria determinado período trabalhando onde o governo determinasse.

Essas são apenas algumas das propostas. O importante é que se discuta o modelo de financiamento das universidades como forma de promover mais justiça social.

RECURSOS PARA A EDUCAÇÃO

 
ZERO HORA 09 de julho de 2012 | N° 17125

EDITORIAL



Estabelecer a relação entre gasto público em educação e Produto Interno Bruto (PIB) é uma forma de medir a importância relativa do sistema educacional de um país face a todas as áreas que demandam recursos oficiais. Gasto público, nesse caso, inclui não apenas custeio (infraestrutura, manutenção e melhorias, serviços, transporte escolar, alimentação) como também pessoal (salários), pesquisa (bolsas, viagens, eventos) e extensão (iniciativas voltadas à sociedade fora da escola ou universidade). Nem todo investimento em educação deriva dos cofres públicos: é o caso, por exemplo, do material escolar comprado pelos pais para seus filhos. Esses e outros itens, porém, constituem uma parcela desprezível se comparada ao valor aportado pelo Estado. Uma vez que o PIB é a soma das riquezas produzidas por uma economia nacional em um ano, o indicador gasto em educação/PIB revela se existe ou não, num determinado país, uma política de financiamento sustentado da instrução.

Os Estados membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 34 países de todos os continentes, são líderes em gastos com educação medidos com base no PIB: investem em média 4,6%. Esse percentual varia de 6% a 7% na Dinamarca, Chipre, Islândia e Noruega a menos de 3% no Japão, Eslováquia e em Luxemburgo. Na América Latina, o país que investe o mais alto percentual do PIB em educação é Cuba: 13,6%, em números de 2009. Entre os países que investem mais de 6%, estão Costa Rica (6,3%) e São Vicente e Granadinas (6,2%), também com base em dados de 2009. No Brasil, atualmente, são investidos em educação 5,1% do PIB.

Parece realista, assim, a meta de investir 10% do PIB em educação até 2022, incluída pela Câmara dos Deputados no Plano Nacional de Educação (PNE), a ser submetido a plenário nas próximas semanas. Só que a elevação tem que ser gradativa, para que o Estado brasileiro, que já tem dificuldade para manter equilíbrio nas contas públicas, não sofra um impacto insuportável, como vem alertando o ministro Guido Mantega. Precisamos de planejamento e não de voluntarismos. O Brasil sofre de um déficit significativo em termos de educação e não poderá fazer frente aos desafios do desenvolvimento sem garantir instrução formal a um número crescente de cidadãos. Nesse sentido, três erros devem ser evitados. O primeiro é o de imaginar que apenas a alocação de recursos é capaz de impulsionar para cima a curva da educação. Estudos recentes demonstram que nem sempre os países que mais gastam são os que se saem melhor em itens como medição de conhecimento, evasão escolar e outros. Trata-se, como defende há anos o Movimento Todos pela Educação, de propugnar por um investimento ampliado e bem gerido em educação.

O segundo equívoco é o de descuidar de outros aspectos importantes, como o de que todo estudante tenha aprendizado compatível com sua série e que não haja nenhuma criança de menos de oito anos fora da escola. Finalmente, deve-se ter em conta que uma remuneração justa, em nível de mercado, para os professores em todos os níveis é parte integrante de qualquer política de melhoria da qualidade do ensino. Só atentando para todos esses aspectos será possível vencer a enorme barreira que separa o Brasil dos países do topo da lista em matéria de educação.

domingo, 8 de julho de 2012

UM EM CADA TRÊS ALUNOS JÁ EXPERIMENTOU DROGAS

ZERO HORA 08 de julho de 2012 | N° 17124

ASSÉDIO AOS ESTUDANTES

Um em cada três alunos já experimentou drogas

 HUMBERTO TREZZI

É fácil entender por que os policiais decidiram concentrar esforços na porta das escolas. É no ambiente escolar que a maioria dos jovens brasileiros experimenta drogas pela primeira vez, mostram pesquisas realizadas na última década.

O mais recente e abrangente levantamento, feito em 2010 pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), se embasou em entrevistas com 50.890 alunos de todas as capitais brasileiras. Ele revela que uma em cada três crianças e adolescentes matriculados na rede privada de ensino já consumiu alguma substância ilegal, como maconha, cocaína e crack. Nas instituições públicas, esse número é menor, um em cada quatro estudantes.

Conforme estudo anterior, de 2004, cerca de 19,8% dos estudantes dos ensinos Médio e Fundamental já haviam experimentado algum tipo de droga (o dado abrangia apenas estabelecimentos públicos). Nos Estados Unidos, esse percentual era de 39,8%. No Paraguai, era de 5,6% e, na Venezuela, era de 6%.

Na pesquisa de 2010 foram entrevistados estudantes de até 16 anos (que é a idade da maioria dos usuários). O trabalho mostra que inalantes (como o cheirinho da loló) são os mais populares, usados por 4,9% dos entrevistados, enquanto a maconha foi consumida por 3,7% dos estudantes pesquisados. Seguem-se a essas drogas a cocaína (1,9%) e o crack (0,4%).

A prática demonstra o quanto as pesquisas estão certas. Policiais civis do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) realizaram durante três anos a Operação Escola, para reprimir tráfico no entorno dos colégios de Porto Alegre e Região Metropolitana. Em todas as ocasiões foram vistoriadas áreas ao redor de 35 estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, de abastados colégios privados a paupérrimas escolas públicas.

Um dos indícios de que a situação é grave está no aumento do número de traficantes presos nos 10 dias de operações realizadas por ano. Foram 28 prisões em flagrante em 2008, 43 em 2009 e 50 em 2010 – todas, capturas homologadas pela Justiça.

O Denarc mudou de tática e tornou permanente a operação, trocando também o nome: saiu a Operação Escola e entrou a Operação Anjos da Lei. Entre maio de 2011 e junho de 2012, a Anjos da Lei prendeu 118 traficantes, mais que o dobro do registrado no ano anterior.

 

ENTREVISTA

“O jovem é fisiologicamente imaturo”

Carlos Salgado - Psiquiatra


Dezenas de dependentes químicos já passaram pelos tratamentos do psiquiatra gaúcho Carlos Salgado, integrante da diretoria da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead). Ele é um dos médicos do Hospital Mãe de Deus encarregados do tema. E avisa: a ação policial contra o tráfico no entorno das escolas é mais que meritória, em decorrência do perfil vulnerável dos jovens. Confira:

Zero Hora – Qual a melhor forma de reprimir o tráfico de drogas?

Carlos Salgado –
O esforço contra a dependência das drogas é sempre múltiplo. E uma das facetas é o combate ao financiador dessas substâncias, o chamado grande traficante. Via de regra são poucas pessoas, com muito dinheiro e poder. É preciso controle de fronteiras, claro. Mas também controlar aquele que vende no varejo, até porque está próximo do jovem. E o jovem é vulnerável. Por isso é preciso agir nas escolas.

ZH – Por que o jovem é vulnerável?

Salgado –
Porque ele não está completamente formado. É fisiologicamente imaturo. Assim como é preciso convencer a criança a escovar os dentes, é preciso convencer adolescentes a não usar drogas. Simples assim. Se não tiverem esse aconselhamento, poderão seguir exemplo de grupos de amigos que usam. O grupo é muito importante para o adolescente. Isso vale para o que é bom e também para o que é ruim para a saúde. O jovem toma decisões muito rápido e avalia mal os riscos. É cliente em potencial do traficantes, por isso. É preciso ainda evitar que ele tome contato com outras drogas, as legais, como álcool e tabaco. Elas também são porta de entrada para as ilegais.

CERCO AOS TRÁFICO NAS ESCOLAS

 
 
ZERO HORA 08 de julho de 2012 | N° 17124

ASSÉDIO AOS ESTUDANTES - HUMBERTO TREZZI

Cerco ao tráfico nas escolas

Operação Anjos da Lei prendeu 118 criminosos que vendiam drogas para adolescentes e crianças


Negro, magro, baixo e vestido com roupas rasgadas, o sujeito se aproxima do bar e fala algumas palavras com o rapaz loiro e forte. O rapaz olha para os lados, não vê perigo e retira do bolso dois pacotinhos com pedras de crack. Repassa ao outro e recebe, em troca, cédulas de dinheiro, logo embrulhado num saco plástico e colocado na calça pelo vendedor da droga. Tudo acontece ao lado de uma creche e junto a bebês de colo. O que o traficante não sabe é que o jovem negro, aparentemente um consumidor, é na verdade um policial civil do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc).

A ação do agente infiltrado ainda não está concluída. Só terminará quando todos os traficantes da boca de fumo forem identificados e filmados. Operações assim, próximas a escolas, creches e outros estabelecimentos destinados à infância e juventude, são cada vez mais prioridade do Denarc e resultaram na prisão de 118 traficantes em um ano. A meta é prevenir a ação de traficantes junto ao público mais vulnerável ao consumo de drogas, os jovens.

– É a tentativa de salvar as maçãs, antes que todas no cesto apodreçam – compara o delegado Heliomar Franco, diretor do Denarc.

É uma guerra constante, na qual o exército do crime conta com tropa muito mais numerosa. É que não existem policiais, civis ou militares, em número suficiente para colocar um por escola. A saída é agir com inteligência. Uma das técnicas é a infiltração. Agentes jovens, recém-saídos da Academia, se passam por consumidores e frequentam bocas de fumo próximas aos colégios. Outras táticas são a campana (vigilância) e a gravação, incluindo filmagem. De forma secundária, colaboram para formar provas com depoimentos de viciados ou seus familiares, detalhando como os traficantes aliciam clientes.

Flanelinhas presos durante operação

As primeiras prisões, 16, ocorreram em duas operações simultâneas em maio do ano passado em São Leopoldo e Sapucaia do Sul. A ação nas escolas não parou mais. Uma das maiores aconteceu junto ao Colégio Piratini, no bairro Mont’Serrat, em Porto Alegre. Mais de 20 jovens foram detidos enquanto fumavam maconha num terreno contíguo à escola. Acabaram liberados, após ouvir advertências. Já os três traficantes foram presos em flagrante. Dois deles flanelinhas. Nas proximidades do Instituto de Educação Flores da Cunha, no bairro Bom Fim, também é possível flagrar traficantes que se passam por flanelinhas. Adolescentes se juntam a eles para a compra e consomem a droga em frente aos criminosos, embaixo de árvores.

As quantias de drogas apreendidas não são grandes porque os vendedores de porta de escola jamais carregam grandes porções de drogas. Por vezes, nem trazem o produto junto, vão buscá-lo em algum buraco, quando acertada a venda. Agem mimetizados aos estudantes.

O delegado Mário Souza, do Denarc, calcula que traficantes agem em pelo menos 30% dos estabelecimentos de ensino da Região Metropolitana. Por isso o Denarc disponibiliza um Disque Denúncia (0800.518-518), gratuito. Foi para esse número que familiares de alunos da Escola Piratini ligaram. Cansados do assédio do tráfico aos estudantes, procuraram a polícia. O resultado foi a desarticulação de um grupo e a suspensão, temporária, do movimento de traficantes nas proximidades do colégio.


sábado, 7 de julho de 2012

ESPORTE E INCLUSÃO

ZERO HORA 07 de julho de 2012 | N° 17123. ARTIGOS

Kalil Sehbe, Secretario Estadual do Esporte e do Lazer, mestre em ciências sociais 


O esporte nos oportuniza superar nossos próprios limites. A cada conquista de um atleta gaúcho vibramos e nos enchemos de entusiasmo. Desde a descoberta de uma jovem promessa até sua chegada ao pódio, muitos são os desafios a serem transpostos. Alguns de nossos maiores talentos, contudo, precisam mais do que treinamento e obstinação: necessitam de apoio e muita força de vontade. Alguns deles realizam um grande esforço todos os dias para levantar da cama, se vestir e se deslocar, muitas vezes sozinhos, ao treino. Muitos não podem enxergar nem ouvir os adversários e precisam criar uma maneira diferenciada para se comunicar com os companheiros. Estes são os nossos grandes campeões, do esporte e da vida.

De acordo com o artigo 30 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, realizada este ano em Brasília, está garantido o seu direito à recreação, lazer e esporte. Com base nisso e nos apontamentos da Conferência Estadual de Esporte e Lazer de 2011, o governo do Estado tem um política clara e um conjunto de ações que garante a plena inclusão social por meio do esporte.

Já em 2011, ano de criação da Secretaria do Esporte e do Lazer e ressignificação da Fundação Estadual de Esporte e Lazer (Fundergs), apoiamos a maior delegação gaúcha da história das Paraolimpíadas Escolares e promovemos uma revalorização dos Jogos de Integração do Idoso, com mais de 1,5 mil participantes.

Em cumprimento às demandas da Conferência, realizamos clínicas paraolímpicas, qualificando centenas de profissionais de educação física. Apoiamos dezenas de entidades, como Apaes e escolas especiais, incluindo a construção de uma academia adaptada. No Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), apoiamos modalidades como basquete em cadeira de rodas e judô para cegos e pessoas com deficiências. Lá realizamos uma colônia de férias de verão para mais de 2 mil crianças de áreas em vulnerabilidade social. Participamos ativamente do programa RS na Paz, construindo quadras poliesportivas em diversas comunidades.

Nosso calendário 2012 apresenta um grande número de competições, a exemplo dos Parajirgs e Paracergs (julho), Regional Sul de Goalball – futebol para cegos (julho), Jogos Abertos de Surdos (outubro), Paraolimpíadas Escolares (outubro), Jogos dos Povos Indígenas do RS (novembro e dezembro) e Jogos de Integração do Idoso (dezembro).

Mais do que fazer o politicamente correto, defendemos convictamente os investimentos no esporte, pois o entendemos como gerador de oportunidades e fator de transformação social.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - NO BRASIL ESTÁ FALTANDO RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESPÍRITO OLÍMPICO. O esporte não é só inclusão ou lazer, mas uma prática de educação, cultura, saúde e técnica esportiva de um povo. Através do esporte se molda a saúde física e espiritual de uma pessoa podendo levar à autonomia e sobrevivência no mercado de trabalho de fizer do esporte uma profissão. No Brasil, o único esporte que é trabalhado para o futuro é o futebol. Os demais esportes são estimulados por poucos clubes e investimentos públicos só para aqueles que já detêm níveis de competição. Não há preocupação com a identificação de talentos e habilidades, estímulo aos novos praticantes e clubes devidamente capacitados com profissionais da área e incentivados pelo poder público para fazer isto.  

O Brasil é um país continental, imenso e de com enorme potencial nos esportes. Bastaria o Poder Público começar a tratar o esporte como educação, cultura e técnica, concedendo redução de impostos, subsídios e investimentos aos clubes, escolas e universidades que tratassem o esporte com responsabilidade social e objetivo olímpico.

O esporte não pode ser tratado apenas com forma de inclusão ou lazer, mas como uma prática de educação, cultura, saúde e técnica esportiva de um povo. Jorge Bengochea

EDUCAÇÃO É TEMA NA CAMPANHA MUNICIPAL




ZERO HORA 07 de julho de 2012 | N° 17123

PRIMEIRO ROUND. Estreia com ataques e propostas. Os sete candidatos à prefeitura da Capital participaram do debate inaugural da campanha, promovido por Rádio Gaúcha e TVCOM

CARLOS ROLLSING 

No terceiro piso da Câmara de Vereadores, tendo como pano de fundo uma vidraça que deixava à vista copas de árvores castigadas pela chuva que caía forte, os sete candidatos à prefeitura de Porto Alegre debateram ontem o futuro da cidade. O primeiro encontro entre os postulantes – transmitido por Rádio Gaúcha e TVCOM –, também teve momentos de tensão, ataques e acusações, expondo a estratégia inicial de cada um.

Durante os quatro blocos de perguntas e respostas, Adão Villaverde (PT), Érico Correa (PSTU), Jocelin Azambuja (PSL), José Fortunati (PDT), Manuela D’Ávila (PC do B), Roberto Robaina (PSOL) e Wambert Di Lorenzo (PSDB) focaram o discurso em saúde, segurança, educação e mobilidade urbana.

Candidato à reeleição, Fortunati foi o mais atacado. Teve de responder pelo recente fechamento de postos de saúde em meio a um feriadão. Com menos intensidade, foi fustigado também por ataques à política de segurança.

– A lei manda investir 15% em saúde, mas aplicamos 21% – afirmou o pedetista, que destacou também a ampliação do Programa de Saúde da Família (PSF) e a reabertura de leitos do SUS.

Manuela D’Ávila (PC do B) não poupou Fortunati de críticas nos temas mais sensíveis – saúde e segurança –, mas, seguindo uma linha moderada, não deixou de manifestar disposição para dar continuidade a projetos “bem sucedidos”, como o Programa Integrado Socioambiental (Pisa). A candidata tratou de valorizar a parceria com a senadora Ana Amélia Lemos (PP).

– Tenho muito orgulho disso. A senadora reconheceu o nosso projeto para a cidade – comentou.

Adão Villaverde (PT) procurou colar sua imagem nas gestões Tarso e Dilma. Repetiu várias vezes que integra o partido de ambos e disse ter falado com ministros para incluir propostas no seu plano de governo. Também valorizou a experiência de 16 anos do PT à frente da prefeitura e disse que, nos últimos oito anos, a cidade “retrocedeu”.

Villaverde, porém, não escapou de críticas: por ter governado a Capital por quatro mandatos, o PT foi responsabilizado por problemas da cidade .


terça-feira, 3 de julho de 2012

MIGRAÇÃO PREOCUPANTE

EDITORIAL ZERO HORA 03/07/2012


Merece atenção das autoridades educacionais a verdadeira migração de adolescentes dos cursos seriados para a modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), criada para possibilitar a retomada de estudos por pessoas que não puderam concluir o ensino regular. No Rio Grande do Sul, especialmente, esta tendência vem se acentuando, conforme reportagem publicada ontem por este jornal. De acordo com levantamento recente, 23,4% dos estudantes do EJA no Estado são adolescentes, contra uma média nacional de 14,7%. E a maior incidência ocorre no ensino fundamental, que permite o ingresso de jovens acima de 15 anos, facilitando aos repetentes concluir o curso mais rapidamente do que se continuassem numa turma seriada.

Mas o desejo de abreviar o tempo de permanência no Ensino Básico não é a única causa deste fenômeno. A principal delas é a dificuldade da rede regular de ensino para combater a evasão e a repetência. Alunos obrigados a abandonar a escola para auxiliar na renda familiar ou reprovados em uma ou mais séries sentem-se deslocados na companhia de estudantes mais jovens. A necessidade de trabalhar durante o dia também empurra adolescentes para o supletivo, especialmente no horário noturno.

Embora os profissionais do EJA assegurem que os cursos têm qualificação suficiente para proporcionar aos jovens seguir adiante nos estudos, dificilmente a concentração de conteúdos substitui uma boa formação seriada. O que ocorre, na verdade, é que a escola brasileira não se modernizou nem se qualificou para atrair adolescentes que têm pressa de conquistar espaço no mercado de trabalho. Resta saber se essas gerações de estudantes formados na superficialidade serão profissionais suficientemente capacitados para atender às crescentes demandas de um país carente de mão de obra e de desenvolvimento.

COMENTÁRIO DO  BENGOCHEA - Esta migação revela o nível de importância que é dado por políticos, pais e alunos ao sistema educacional brasileiro: quase zero. O interesse dos políticos é fazer de conta que investem em educação, as dos pais é fazer de conta que os filhos estudaram e terminaram o ensino médio, e a dos filhos é o canudo que possibilita um emprego ou entrar numa faculdade mais rápido. As políticas educacionais aplicadas no Brasil estão voltadas ao burocrata formalismo científico sem a preocupação com o talento, a vocação, as deficiências, as necessidades, a autonomia do jovem no futuro. A educação brasileira está robotizada e por isto os jovens buscam o canudo ao invés do conhecimento necessário às relações futuras e à sobrevivência no mercado de trabalho. E isto tem causado nos jovens estresse, conflito familiares, desvio de rumos, escolhas universitárias erradas, desgosto profissional  e dependência de drogas.

domingo, 1 de julho de 2012

FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA OS JOVENS

CORREIO DO POVO,  PORTO ALEGRE, DOMINGO, 1 DE JULHO DE 2012

EDITORIAL 


Nesta quinta-feira, ocorreu em Brasília a primeira reunião do Fórum Nacional de Aprendizagem Profissional (Fnap) neste ano. A instância é formada por diversos representantes de órgãos ligados à qualificação profissional dos adolescentes, contando também com a participação de representantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e da Justiça do trabalho. Na pauta, entre outros temas, constou o debate sobre o teor das políticas públicas para o segmento e as formas de enfrentar os obstáculos do mercado de trabalho.

Conforme dados do MTE, o país tem hoje mais de 262 mil aprendizes com idades entre 14 e 24 anos. O termo de contratação garante a eles direitos trabalhistas e formação profissional, com o convênio sendo fiscalizado por instituições de ensino que acompanham o trabalho nas empresas. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), até 2001, a média de idade dos aprendizes estava em 17 anos. Para Rodrigo Amaral, representante do SNJ, para os jovens é fundamental aliar boa educação, trabalho e vida familiar. É importante que a inserção no mercado de trabalho, segundo ele, seja feita preservando-se a dignidade do trabalhador. Para isso, é fundamental a criação de uma agenda nacional de oferta de oportunidades. Em sua intervenção, o procurador do Trabalho Rafael Dias Marques lembrou que é preciso interiorizar a oferta de capacitação, chegando também aos jovens que vivem nas comunidades rurais. A importância da sociedade civil na geração de ofertas de trabalho foi enfatizada por Marcelo Aguiar, secretário de Políticas Públicas de Emprego do MTE.

Iniciativas que tenham como meta ampliar a capacidade produtiva dos jovens, com melhoria da sua formação, são essenciais para que o país possa, no menor espaço de tempo possível, crescer com sustentabilidade e com geração de emprego e renda. Eles constituem uma parcela privilegiada daqueles que podem contribuir efetivamente para o nosso desenvolvimento.