ZERO HORA 12 de novembro de 2012 | N° 17251
EDUCAÇÃO. Por que a maioria dos alunos matriculados no último ano do Ensino Fundamental não aprende o mínimo considerado adequado?BRUNA SCIREAEles deixam de ser crianças, mas ainda estão distantes da idade adulta. O momento de ruptura caracteriza a etapa da vida em que se encontram os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. Essa transição, no entanto, ultrapassa a questão comportamental e os novos interesses revelados por esses estudantes. É verificada também, de forma brusca, na mudança da rotina escolar, na indefinição sobre como organizar essa fase da aprendizagem e em preocupantes números – indicadores que refletem um período esquecido entre a primeira fase do Fundamental e o Ensino Médio.
Como resposta a uma combinação de falhas que se arrastam do 6º ao 9º ano – entre elas um incentivo à leitura sem sucesso, um limbo escolar enfrentado por alunos que não recebem e precisam de acompanhamento pedagógico e um currículo desinteressante e limitador –, 85,3% dos jovens matriculados no último ano do Ensino Fundamental não sabem o mínimo esperado em matemática e 73,8% em língua portuguesa.
Especialistas consultados por Zero Hora interpretaram o fraco desempenho revelado pelo Relatório De Olho nas Metas 2011, do movimento Todos Pela Educação, baseado em dados da Prova Brasil e do Saeb 2009 (MEC/Inep).
Nestas páginas, conheça possíveis causas e exemplos inspiradores.
1. ACOMPANHAMENTO - Acostumados com o apoio e cuidados de poucos ou até mesmo de apenas um professor, os alunos ingressam na pluralidade que caracteriza os anos finais do Ensino Fundamental. As disciplinas tornam-se ainda mais específicas e, para cada uma delas, há um professor diferente. Se por um lado a diversidade de educadores possibilita aprofundamento e maior dedicação ao conteúdo que deve ser lecionado, por outro, acarreta uma dispersão na atenção conferida ao aluno. A partir do 6º ano, o conhecimento do histórico, dos avanços e dos recuos de cada estudante em sala de aula deveria ser tarefa de um coordenador pedagógico, função raramente ocupada em escolas públicas e particulares do país.
– Nos anos finais, eles passam a ser mais um dentro de um universo de alunos para o qual cada professor se dedica. A ausência de um projeto pedagógico, que acolha essas crianças e adolescentes e mostre a importância e o porquê dessa pluralidade, impede a interdisciplinaridade e dificulta a atração do aluno pelo ensino – acredita Mozart Neves Ramos, conselheiro do Todos Pela Educação.
Tema de casa- Apoio contínuo: as dificuldades de aprendizagem têm de ser trabalhadas assim que aparecem em sala de aula, evitando que se acumulem para o fim do ano.
- Aulas no contraturno ou turmas flexíveis podem ser uma boa solução para alunos da mesma série ou ciclo que precisem de reforço em conteúdos de determinada disciplina.
- Outra alternativa é a monitoria aluno-aluno, em que os próprios colegas atuam como monitores, prática que, além de eficiente, estimula a cooperação entre os estudantes.
- Exemplo: o sistema adotado na Finlândia, país de destaque nos rankings educacionais, prevê que cada escola tenha um professor especializado em reforço escolar para cada sete turmas regulares (os docentes costumam encaminhar em média 30% dos matriculados para aulas no contraturno).
- A escola deve entender quem é e o que pensa o adolescente e desenvolver uma visão do estudante pautada nas necessidades específicas da faixa etária.
2. FALTA LEITURA - Na opinião de Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP, as dificuldades com leitura explicam, em parte, por que a maioria dos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental não aprende o mínimo considerado adequado:
– As dificuldades começam nos primeiros anos de escolarização. E como faltam profissionais com capacidade para desenvolver tal competência, o problema acaba sendo cumulativo e tende a dificultar o aprendizado dos alunos. É como se eles não tivessem as condições necessárias para aprender.
Tema de casa - Algumas atitudes na família podem melhorar a relação da criança com a leitura:
- A leitura deve ser estimulada desde os primeiros anos de alfabetização.
- Leia com o seu filho, pergunte como ele compreendeu o livro e estimule que conte a história a outros colegas.
- Adquira livros com assuntos de interesse da criança, sempre atento à faixa etária.
3. CURRÍCULO CHATO - Plugada na tecnologia, a geração que chega à escola está mais ativa, rápida e informada. No entanto, na definição de João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, o currículo das escolas ainda é muito “chato”. O adjetivo explicaria a queda no índice que reflete o rendimento em sala de aula no caminho percorrido entre os nove anos do Ensino Fundamental. Ao ingressar na etapa final, por volta dos 11 anos, o alunado vive uma fase de transição, de novos interesses e curiosidades que quase nunca são contemplados pela escola. Soma-se a isso, a falta de liberdade. Se frequentar escolas em busca de educação não é uma opção tomada pelo alunos, mas imposta a eles desde os primeiros anos de vida, o ensino tornaria-se mais atraente se pudesse ser direcionado, ainda que minimamente, aos interesses particulares de cada um.
– É preciso fazer um currículo interessante, estruturado e organizado, com articulações interessantes. É necessário que se dê o mínimo de liberdade. Com ela, o aluno acaba investindo naquilo que gosta – defende Oliveira.
Tema de casa - É preciso reinventar a escola: 40% dos jovens entre 15 e 17 anos que deixaram de estudar o fizeram por considerar a escola desinteressante, segundo o estudo Motivos da Evasão Escolar, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (RJ) em 2009. Como chegar lá? Além da infraestrutura tecnológica, também se exige das escolas uma veloz revolução nas metodologias de ensino capazes de sedimentar uma estrada sólida para a Educação 3.0 – termo amplamente disseminado por pensadores como o americano Jim Lengel, professor da Universidade de Nova York. Confira algumas características da Educação 3.0:
- Os alunos têm autonomia para buscar aprender. Cabe ao professor propor desafios.
- Ler e escrever são habilidades básicas nesta nova educação. É preciso conectar ideias, explorar possibilidades e prever.
- É essencialmente interdisciplinar, por isso os professores devem conversar e discutir os temas a serem abordados.
- Instiga os alunos a pesquisarem na internet. Com isso, a capacidade de discernir sobre a autenticidade de uma informação é desenvolvida.
- Aproveita os dispositivos móveis. Por meio do smartphone, o estudante pode ouvir podcasts.
Fonte: Educar para Crescer (educarparacrescer.abril.com.br)