Jorge Luís Nicolas Audy, Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da PUCRS e membro do Conselho Deliberativo do CNPq (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação)- ZERO HORA 31/03/2012
A internacionalização na educação superior é um tema atual, importante e relevante. No Brasil, em esforço conjunto entre o Ministério de Educação, por meio da Capes, e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio do CNPq, foi lançado o programa Ciências sem Fronteiras, com grandes oportunidades para os nossos estudantes. São 100 mil bolsas de estudos para o Exterior, de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado), sendo 75 mil via Capes e CNPq e 25 mil por meio de organizações públicas e privadas. Da mesma forma, diversas outras iniciativas semelhantes ocorrem em outros países latino-americanos, com apoio dos governos nacionais e organizações privadas.
Em escala mundial, a Conferência Mundial de Educação Superior, promovida pela Unesco, em 2009, debateu as Novas Dinâmicas da Educação Superior e da Pesquisa para a Mudança e o Desenvolvimento da Sociedade, definindo os rumos da educação superior nos próximos 10 anos no mundo. A consolidação de uma visão mundial da educação como um bem público e uma visão estratégica da responsabilidade e apoio dos governos para todos os níveis da educação, para a pesquisa, a inovação e a criatividade, esteve na pauta. Neste sentido, a internacionalização da educação superior foi um dos temas centrais da conferência.
As oportunidades oferecidas são múltiplas. Cabe às instituições de educação superior a responsabilidade social de construir pontes entre os diferentes países, reduzir as diferenças e aumentar o fluxo de conhecimentos, em especial em relação aos países em desenvolvimento. O maior desafio está em colocar em prática as oportunidades de aprendizagem geradas pela mobilidade acadêmica em escalas sem precedentes, e potencializar seus impactos na ciência, tecnologia e inovação. Somente expor nossos estudantes a novos conhecimentos e experiências de vida não é fator suficiente para as mudanças desejadas. Quais mecanismos de acompanhamento devem ser criados e monitorados para garantir os efeitos positivos sobre as realidades das comunidades locais?
Vivemos, provavelmente, o momento da história com mais investimentos destinados à educação e à pesquisa (na geração de novos conhecimentos). Por outro lado, os desafios da humanidade são igualmente enormes: os grandes conflitos mundiais, a busca da cura para diversas doenças, as fontes de energias limpas para sustentar o desenvolvimento da sociedade, o alimento sadio e disponível a todos. Se, por um lado, a globalização oferece novas e interessantes oportunidades, por outro ela revela mais claramente as desigualdades e os limites do sistema. A internacionalização gera novas dinâmicas de desenvolvimento, tendo por base a troca de expe-riências e o conhecimento entre pessoas diferenciadas, que, no futuro, serão líderes: na economia, nas esferas sociais e políticas. Não podemos perder esta oportunidade de fazer a diferença!
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
sábado, 31 de março de 2012
quinta-feira, 29 de março de 2012
REPROVAÇÃO DO ENSINO MÉDIO
Danilo Gandin, Professor, escritor e conferencista - ZERO HORA 29/03/2012
Há situações que se repetem periodicamente. Muitas vezes não quer dizer que desapareçam em algum momento, mas sim que, por entrarem na mídia, nos pareça que existam e, por dela saírem, sintamos como se tivessem sumido.
Um exemplo é a reprovação no Ensino Médio de que tanto se fala agora, que sempre esteve conosco e que “ninguém sabia que existia”.
Lembro-me de que, quando fui, há mais de 30 anos, diretor adjunto do Departamento de Educação Média da Secretaria de Educação do Estado, aconteceu algo igual ao que hoje é tonitruante: a notícia de que o Ensino Médio reprovava muitos alunos, além do que seria razoável. O então secretário de Educação do Estado acabou com o problema em três dias: constituiu uma comissão para apresentar, em 90 dias, soluções para diminuir a repetência. Obviamente, ninguém mais falou no assunto porque “o problema estava sendo solucionado” e porque, depois de 90 dias, o relatório da comissão foi para a gaveta e todos esqueceram que a comissão existira.
A comissão, da qual eu fiz parte, embatucou na primeira semana de trabalho. Conseguimos imediatamente mais dados do que os que necessitávamos; entre eles, a matrícula e a reprovação em cada série, de cada escola do Estado. Primeiro tropeço: havia escolas que não reprovavam ninguém e outras que o faziam com 60% dos seus alunos. Nós não conseguimos decidir quais eram as melhores. Minha proposta de que julgássemos melhores as que reprovavam menos foi rejeitada, sem apelação, em cinco minutos. Mas a todos repugnou, também, a ideia de que aquelas que reprovam muito fossem boas escolas. Segundo tropeço (ou é o mesmo?): saber onde se está só tem sentido se se sabe para onde se quer ir. Nossa pobre comissão, embora composta de grandes educadores que, individual- mente, tinham clarezas e convicções, não conseguiu produzir um pensamento grupal que pudesse servir como referencial para o então ensino de segundo grau. Um dos grandes motivos para que não conseguíssemos isto foi, aliás, o fato de que sabíamos que não nos seria permitido fugir do senso comum social de que a reprovação é coisa boa.
Quero, então, mesmo que apoiado mais na idade do que na inteligência, fazer duas observações sobre a atual crítica às escolas que reprovam.
A primeira, embora eu tenha que enunciá-la com uma boa pitada de ironia, é que valeria a pena uma pesquisa para dirimir a seguinte dúvida: é motivo de orgulho ou de tristeza, para os gaúchos, terem as escolas de Ensino Médio que mais reprovam? Talvez esteja a população pensando que, se reprovamos mais, somos os que mais levam a sério a escola e os que têm os jovens mais preparados.
A segunda é, mais, uma advertência: de modo algum adianta debater as causas da reprovação em qualquer grau de ensino se não houver um compromisso de examinar questões conexas e, mais do que isto, a decisão de introduzir as mudanças que a realidade exige. A reprovação é o que aparece; suas causas são a pobreza curricular – algum saber formal sobre algumas pouquíssimas disciplinas –, o professor falando o tempo todo, o uso da nota para castigo, o vestibular como meta, o livro didático fastidioso, a própria disciplinaridade do ensino...
Há situações que se repetem periodicamente. Muitas vezes não quer dizer que desapareçam em algum momento, mas sim que, por entrarem na mídia, nos pareça que existam e, por dela saírem, sintamos como se tivessem sumido.
Um exemplo é a reprovação no Ensino Médio de que tanto se fala agora, que sempre esteve conosco e que “ninguém sabia que existia”.
Lembro-me de que, quando fui, há mais de 30 anos, diretor adjunto do Departamento de Educação Média da Secretaria de Educação do Estado, aconteceu algo igual ao que hoje é tonitruante: a notícia de que o Ensino Médio reprovava muitos alunos, além do que seria razoável. O então secretário de Educação do Estado acabou com o problema em três dias: constituiu uma comissão para apresentar, em 90 dias, soluções para diminuir a repetência. Obviamente, ninguém mais falou no assunto porque “o problema estava sendo solucionado” e porque, depois de 90 dias, o relatório da comissão foi para a gaveta e todos esqueceram que a comissão existira.
A comissão, da qual eu fiz parte, embatucou na primeira semana de trabalho. Conseguimos imediatamente mais dados do que os que necessitávamos; entre eles, a matrícula e a reprovação em cada série, de cada escola do Estado. Primeiro tropeço: havia escolas que não reprovavam ninguém e outras que o faziam com 60% dos seus alunos. Nós não conseguimos decidir quais eram as melhores. Minha proposta de que julgássemos melhores as que reprovavam menos foi rejeitada, sem apelação, em cinco minutos. Mas a todos repugnou, também, a ideia de que aquelas que reprovam muito fossem boas escolas. Segundo tropeço (ou é o mesmo?): saber onde se está só tem sentido se se sabe para onde se quer ir. Nossa pobre comissão, embora composta de grandes educadores que, individual- mente, tinham clarezas e convicções, não conseguiu produzir um pensamento grupal que pudesse servir como referencial para o então ensino de segundo grau. Um dos grandes motivos para que não conseguíssemos isto foi, aliás, o fato de que sabíamos que não nos seria permitido fugir do senso comum social de que a reprovação é coisa boa.
Quero, então, mesmo que apoiado mais na idade do que na inteligência, fazer duas observações sobre a atual crítica às escolas que reprovam.
A primeira, embora eu tenha que enunciá-la com uma boa pitada de ironia, é que valeria a pena uma pesquisa para dirimir a seguinte dúvida: é motivo de orgulho ou de tristeza, para os gaúchos, terem as escolas de Ensino Médio que mais reprovam? Talvez esteja a população pensando que, se reprovamos mais, somos os que mais levam a sério a escola e os que têm os jovens mais preparados.
A segunda é, mais, uma advertência: de modo algum adianta debater as causas da reprovação em qualquer grau de ensino se não houver um compromisso de examinar questões conexas e, mais do que isto, a decisão de introduzir as mudanças que a realidade exige. A reprovação é o que aparece; suas causas são a pobreza curricular – algum saber formal sobre algumas pouquíssimas disciplinas –, o professor falando o tempo todo, o uso da nota para castigo, o vestibular como meta, o livro didático fastidioso, a própria disciplinaridade do ensino...
terça-feira, 27 de março de 2012
EDUCAÇÃO É PRAZER DE QUEM?
Maria Inez F. Pedroso, professora e mestre em educação - ZERO HORA 27/03/2012
O artigo “Sala de aula sem professor” (ZH de 25 de março) é indelicado e frio, mais um desrespeito em meio a tantos que temos vivido. Segundo a autora, Esther Pillar Grossi, os professores ensinam pouco, usam metodologias que “embrutecem”, são irresponsáveis.
Sou profissional da educação, com duas matrículas, em uma, 21 anos de serviço, em outra, 30 anos. Em minha grade de efetividade, há o registro de apenas três faltas justificadas. Inúmeras, incontáveis vezes, fiz e faço hora extra e nunca recebi nenhum pagamento. Sempre que possível, faço cursos de atualização, desenvolvo projetos pedagógicos, estudo. Amo a minha profissão, embora pense que deveria ser mais valorizada, pois ainda estou na classe A em uma matrícula e, em outra, na B; o que recebo nas duas não atinge R$ 2 mil. Muitos são os preocupados, interessados em melhorar a educação; sei que existem os relapsos, como em outras profissões. A autora não pode julgar a todos de igual forma, é preciso lembrar-se daqueles que fazem a diferença. Aliás, vivemos em um sistema que reforça o negativo e raramente destaca o positivo, assim, muitas coisas boas realizadas pelos profissionais comprometidos com suas escolas não são ressaltadas.
Por que professores faltam tanto? Por irresponsabilidade, como diz a autora, mas há que se lembrar daqueles que faltam por problemas de saúde. Sim, professor também fica doente!
Por que ensinam pouco? Não podemos generalizar, há muitos profissionais que sentem prazer em ensinar e fazem da profissão extensão de sua própria vida. O “ensinar” deve ser analisado considerando-se, neste processo, o papel da família e o do próprio governo. Ensinar supõe, também, que fora dos muros da escola os responsáveis pelo aluno façam isso por meio da cobrança da responsabilidade e pelo ensino de valores essenciais como respeito e ética. Há anos que temos tido mudança de políticas para educação, entra governo e sai governo e cada um quer implantar o “seu” modelo, além disso, continuamos a mendigar por melhores salários.
Pelo cotidiano que vivo na escola, poderia argumentar mais. Por ora, encerro dizendo que o prazer pela educação deve ser sentido não apenas pelos professores, mas pela sociedade como um todo, e a “força prodigiosa do desejo”, citada pela autora, deve ser incluída na formação e no cotidiano não apenas dos professores; a educação é uma teia de muitos fios.
O CICLO DA REPETÊNCIA
EDITORIAL ZERO HORA 27/03/2012
É alarmante o alto índice de reprovação de estudantes do Ensino Médio nas escolas gaúchas. De acordo com os dados de 2010, o Rio Grande do sul é o campeão nacional de repetência nessa etapa do ensino: 19,9% do total de alunos matriculados sofre algum tipo de atraso no fluxo escolar por não conseguir acompanhar a turma. Os danos dessa reprovação massiva são incalculáveis, tanto para a autoestima dos jovens quanto para o desenvolvimento do Estado, pois o tropeço nas avaliações gera desestímulo, evasão, desperdício de recursos públicos e pessoas menos qualificadas para competir no mercado de trabalho e na sociedade.
O que mais chama a atenção nesse episódio é a diversidade de visões dos especialistas tanto para examinar as causas do fenômeno quanto para apontar correções. Algumas pessoas acham que o baixo investimento nas escolas públicas e os salários baixos dos professores estão na base da anomalia. Outros acreditam que a má formação dos mestres e o uso abusivo da reprovação como ferramenta pedagógica também provocam a deformação. E há, inclusive, quem acredite que os números elevados na rede pública do Estado se devem à vocação precoce dos adolescentes gaúchos para o trabalho – o que as pesquisas do IBGE desmentem, pois apenas 2,9% dos adolescentes de 15 a 17 anos trabalham.
Mesmo com tantas discrepâncias, é possível interromper o ciclo da repetência. É o que ensina, por exemplo, a Secretaria Municipal de Guaporé, na serra gaúcha, ao aplicar em suas escolas uma estratégia de atenção total aos alunos, antecipando detalhes que possam gerar contratempos para os estudantes. Não é por outro motivo que a cidade tem o menor índice de reprovação no Ensino Fundamental no Estado. Eis aí uma lição que merece ser replicada em outros municípios, pois o Rio Grande do Sul precisa sair da constrangedora posição em que se encontra.
É alarmante o alto índice de reprovação de estudantes do Ensino Médio nas escolas gaúchas. De acordo com os dados de 2010, o Rio Grande do sul é o campeão nacional de repetência nessa etapa do ensino: 19,9% do total de alunos matriculados sofre algum tipo de atraso no fluxo escolar por não conseguir acompanhar a turma. Os danos dessa reprovação massiva são incalculáveis, tanto para a autoestima dos jovens quanto para o desenvolvimento do Estado, pois o tropeço nas avaliações gera desestímulo, evasão, desperdício de recursos públicos e pessoas menos qualificadas para competir no mercado de trabalho e na sociedade.
O que mais chama a atenção nesse episódio é a diversidade de visões dos especialistas tanto para examinar as causas do fenômeno quanto para apontar correções. Algumas pessoas acham que o baixo investimento nas escolas públicas e os salários baixos dos professores estão na base da anomalia. Outros acreditam que a má formação dos mestres e o uso abusivo da reprovação como ferramenta pedagógica também provocam a deformação. E há, inclusive, quem acredite que os números elevados na rede pública do Estado se devem à vocação precoce dos adolescentes gaúchos para o trabalho – o que as pesquisas do IBGE desmentem, pois apenas 2,9% dos adolescentes de 15 a 17 anos trabalham.
Mesmo com tantas discrepâncias, é possível interromper o ciclo da repetência. É o que ensina, por exemplo, a Secretaria Municipal de Guaporé, na serra gaúcha, ao aplicar em suas escolas uma estratégia de atenção total aos alunos, antecipando detalhes que possam gerar contratempos para os estudantes. Não é por outro motivo que a cidade tem o menor índice de reprovação no Ensino Fundamental no Estado. Eis aí uma lição que merece ser replicada em outros municípios, pois o Rio Grande do Sul precisa sair da constrangedora posição em que se encontra.
segunda-feira, 26 de março de 2012
A OBRIGAÇÃO DE CURAR É DO MÉDICO
‘A obrigação de curar é do médico’. Para professor, colégios precisam trazer de volta pais de baixa escolaridade - Alessandra Duarte. O GLOBO, 26/03/12 - 10h41
RIO - Para o professor titular da Faculdade de Educação da USP Vitor Henrique Paro, autor de livros sobre gestão escolar e participação dos pais, a escola pública precisa que, eles próprios, quando alunos, não tiveram uma boa escola.
Como o sr. vê o fato de os professores terem responsabilizado os pais e o próprio aluno pelo não aprendizado dele?
VITOR HENRIQUE PARO: Não tem cabimento, a desculpa é esfarrapada. Se o aluno estivesse interessado, não precisaria do esforço do professor. Podemos dizer que 101% da didática é propiciar condições para que o aluno queira aprender. Agora, a escola não é só o professor; tem direção, carteira, biblioteca. Botar a culpa só no professor é muito sério. Mas não se pode é culpar o aluno. A obrigação de curar é do médico, não do doente. Isso seria como o médico reclamar: "vocês só me mandam gente doente". Nesse ponto, a escola privada não é necessariamente melhor, é que a criança já chega lá com condições mínimas para querer aprender; já chega com o pai letrado, o passeio, a viagem.
De quem é a culpa?
PARO: Do sistema de educação e da sociedade inteira. Do mau provimento da educação pelo Estado, e não estamos falando só de baixos salários de professor. Há a infraestrutura das escolas, e há o fato de que o sistema educacional público insiste em formas de ensino de 300 anos atrás, alguém falando e alguém ouvindo, coisa que só funciona com adulto, que já está querendo aprender, mas não com uma criança que precisa construir isso.
Como a escola melhora a relação com os pais?
PARO: Fiz uma pesquisa no fim dos anos 1990, numa escola municipal da periferia da cidade de São Paulo, que serviu para meu livro "Qualidade do ensino: a contribuição dos pais". Nas escolas públicas, os pais são tratados com arrogância. Mas esse colégio passou a receber os pais com lanche, a tratar bem. E criou grupos de formação de pais, um conceito do Paulo Freire. Os pais recebiam tesoura, cola, revistas, para discutir temas como violência; como muitos pais eram analfabetos, pediam para fazerem colagens. O desempenho dos alunos melhorou, diminuíram as faltas, as pichações, os problemas com drogas. Os programas dos governos deviam incluir ações do tipo, em vez de tablets para professores. O que tem de se ver é que os próprios pais de alunos da rede pública tiveram experiências ruins com a escola quando alunos. É preciso que a escola os chame de volta para ela.
RIO - Para o professor titular da Faculdade de Educação da USP Vitor Henrique Paro, autor de livros sobre gestão escolar e participação dos pais, a escola pública precisa que, eles próprios, quando alunos, não tiveram uma boa escola.
Como o sr. vê o fato de os professores terem responsabilizado os pais e o próprio aluno pelo não aprendizado dele?
VITOR HENRIQUE PARO: Não tem cabimento, a desculpa é esfarrapada. Se o aluno estivesse interessado, não precisaria do esforço do professor. Podemos dizer que 101% da didática é propiciar condições para que o aluno queira aprender. Agora, a escola não é só o professor; tem direção, carteira, biblioteca. Botar a culpa só no professor é muito sério. Mas não se pode é culpar o aluno. A obrigação de curar é do médico, não do doente. Isso seria como o médico reclamar: "vocês só me mandam gente doente". Nesse ponto, a escola privada não é necessariamente melhor, é que a criança já chega lá com condições mínimas para querer aprender; já chega com o pai letrado, o passeio, a viagem.
De quem é a culpa?
PARO: Do sistema de educação e da sociedade inteira. Do mau provimento da educação pelo Estado, e não estamos falando só de baixos salários de professor. Há a infraestrutura das escolas, e há o fato de que o sistema educacional público insiste em formas de ensino de 300 anos atrás, alguém falando e alguém ouvindo, coisa que só funciona com adulto, que já está querendo aprender, mas não com uma criança que precisa construir isso.
Como a escola melhora a relação com os pais?
PARO: Fiz uma pesquisa no fim dos anos 1990, numa escola municipal da periferia da cidade de São Paulo, que serviu para meu livro "Qualidade do ensino: a contribuição dos pais". Nas escolas públicas, os pais são tratados com arrogância. Mas esse colégio passou a receber os pais com lanche, a tratar bem. E criou grupos de formação de pais, um conceito do Paulo Freire. Os pais recebiam tesoura, cola, revistas, para discutir temas como violência; como muitos pais eram analfabetos, pediam para fazerem colagens. O desempenho dos alunos melhorou, diminuíram as faltas, as pichações, os problemas com drogas. Os programas dos governos deviam incluir ações do tipo, em vez de tablets para professores. O que tem de se ver é que os próprios pais de alunos da rede pública tiveram experiências ruins com a escola quando alunos. É preciso que a escola os chame de volta para ela.
PROFESSORES CULPAM PAIS E ALUNOS POR NOTA BAIXA
Para mais de 80% deles, falta de acompanhamento da família e desinteresse do estudante explicam mau desempenho escolar. Alessandra Duarte e Letícia Lins. O GLOBO, 26/03/12 - 10h29
RIO e RECIFE - O aluno não aprende porque os pais não o acompanham? Para 88% dos professores do nível fundamental da rede pública no país, sim. Quase 81% também acreditam que um aluno não vai bem na escola porque não se esforça. Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Movimento Todos Pela Educação em respostas dadas por professores da rede pública na Prova Brasil, do Inep. E levantam a questão: num sistema educacional público com má remuneração para o magistério e escolas mal equipadas, que recebem estudantes em que a própria família já tem, em geral, baixa escolaridade e frágil nível cultural, de quem é a culpa pelo mau aluno?
No Questionário do Professor da Prova Brasil de 2009, os professores receberam uma lista de possíveis causas para problemas de aprendizagem dos estudantes, para dizer com quais causas mais concordavam. Quase todos concordaram com as respostas "Falta de assistência e acompanhamento da família nos deveres de casa e pesquisas do aluno" e "Desinteresse e falta de esforço do aluno". Respostas que poderiam mostrar a responsabilidade do professor ou da escola — "Baixo salário dos professores, que gera insatisfação e desestímulo para a atividade docente" e "Escola oferece poucas oportunidades de desenvolvimento do aluno" — tiveram 30,5% e 27,4%, respectivamente.
— Como a educação depende de vários setores, é esperado que um jogue a responsabilidade para o outro. Se você for perguntar para muitos pais, eles vão dizer que a escola não ensina direito. Mas, apesar de esperada essa responsabilização do outro, é preocupante que o professor coloque a culpa na família, se pensarmos que, nas escolas públicas, em diversas vezes não lidamos com crianças imersas no mundo letrado. Jogar a culpa para a família, nesses casos, é o professor falar "não consigo lutar contra isso". Nesse tipo de realidade, a função da escola pública é essa mesmo, é exercer um papel que a família e o meio em que o aluno vive não estão conseguindo cumprir. O contrário seria condenar a criança pobre a não aprender — analisa Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação.
Novas formas de participação
Se a família não consegue acompanhar a educação do aluno, diz Priscila, o papel da escola seria achar maneiras de estimular esse acompanhamento.
— Não podemos partir da suposição de que a família não apoia porque não quer. Às vezes é porque não sabe mesmo, em muitos casos os pais estudaram menos do que o filho. Além disso, a escola reclama que os pais não vão às reuniões, mas as marca na terça às 9h. A classe trabalhadora trabalha na terça às 9h — destaca Priscila, para quem o baixo número de respostas de professores colocando a responsabilidade no nível salarial e no desestímulo que isso provoca também era esperado. — Seria até antiético, eles estariam admitindo que dão uma aula ruim.
Em áreas com indicadores sociais críticos, como Norte e Nordeste, a falta de acompanhamento da família às vezes tem a ver com problemas como o analfabetismo. Ramone Maria do Nascimento, do bairro de Afogados, em Recife, tem duas filhas na escola, Vanessa e Vandressa, alunas do colégio municipal Mércia Albuquerque. A mãe não sabe sequer escrever o nome todo:
— Vanessa precisou de muita ajuda na escola. Pedia às colegas para ensinar, pois não sei ler.
Vanessa, de 11 anos, escreve com desenvoltura, mas não sabe pontuar. Não leu um só livro em 2011 ou este ano.
Na casa de Cássia Cristina da Silva, no mesmo bairro, são quatro os filhos na escola. Com pai pedreiro com pouco estudo e ela analfabeta, as crianças só não tiveram mais dificuldades porque os pais pagaram reforço.
— Hoje um reforço aqui no bairro está entre R$ 35 e R$ 45 por aluno. A gente não pode mais — reclama Cássia, que este ano comemorou o fato de a filha Cassiana ter conseguido um colégio com tempo integral.
No Mércia Albuquerque, a diretora Maria José Moura acha que atribuir culpa aos pais ou alunos é raciocínio distorcido:
— São vários fatores em comunidades como esta, com histórico de violência. A maioria dos alunos não tem pai. Outros estão com o pai preso ou envolvido com o tráfico. A comunidade não tem banheiro. Muitos alunos passavam muito tempo no banheiro, e descobri que era para aproveitarem o chuveiro, a torneira, que não têm em casa.
Mudar a forma de participação da família parece ser a saída, afirmam pesquisadores.
— Nas séries iniciais, acredito que a responsabilidade maior pela educação da criança seja da escola, porque são alunos mais interessados. A partir da adolescência, o interesse da família em acompanhar ganha peso maior. Agora, é mais fácil culpar os pais, quando a leitura correta é: como a escola pode mudar para conquistar esses pais? — diz João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto. — A escola trata o pai mal, só fala mal do filho. O pai não volta a segunda vez. Quando a escola poderia, em vez disso, falar sobre o que o filho tem de bom. Se o aluno picha, como converter aquilo num trabalho com artes, por exemplo. Em vez de chamar o pai só para reuniões, chamá-lo para falar de cursos para esse pai.
— A família de aluno de rede pública em geral participa pouco. O problema são as condições de participação, que afetam a qualidade dela. A escola tem de melhorá-las — afirma Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. — Estudos mostram que o chamado efeito-família tem peso similar no aprendizado ao do efeito-escola. Mas, no Brasil, o efeito-família tem um obstáculo, a baixa escolaridade de boa parte das famílias. Aí, a escola é que tem de ser a diferença.
No bairro Jockey, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, o modo que a Escola Estadual Professora Odyssea Silveira de Siqueira encontrou para atrair a família foi, além das tradicionais reuniões de pais, chamar para palestras sobre temas como drogas e gravidez; e para comemorações como desfiles ou o aniversário da escola. No início de 2011, quando o colégio ficou sem diretor por alguns meses, pais de alunos chegaram a se reunir para ajudar na limpeza e na manutenção do espaço.
— Não adianta a escola ser bilíngue se a família não mostra ao filho o valor de ter um projeto de vida. E a escola, em regiões como a nossa, precisa também educar os pais para isso — diz a professora de Ciências Marcele Kloper Balado, coordenadora do projeto Os Pais na Escola, criado há um ano no Odyssea.
— Chamar o pai só para reclamar do filho não funciona. Tem de saber como chamar esse pai — acrescenta o diretor do colégio, Carlos José Pestana Moreira, destacando a melhora dos resultados da escola nas provas do Saerj em 2011, ficando acima das notas médias do estado.
Quando o filho explica o dever
Mãe de dois alunos do Odyssea, a dona de casa Joelma de Lima, que estudou até a antiga 3 série primária, diz que aprendeu a fazer o casal de filhos explicar para ela o dever de casa:
— Explicaram raiz quadrada, que para mim era coisa do outro mundo, e uma coisa de ciência que gostei muito, sobre evolução do ser humano. Se deixar as criança por ela mesma, ainda mais a mais velha, não vai estudar como deveria — diz Joelma, concordando que não há pai ou mãe que goste de só ouvir falarem mal do filho. — Fico mais tranquila, porque não chamam só nesses momentos.
A resposta "Carência de infraestrutura física e pedagógica da escola" recebeu apenas 28% da concordância dos professores no levantamento da Prova Brasil. Mas, para Danilo Serafim, professor de Sociologia da rede estadual do Rio e coordenador geral do Sindicato dos Professores do Estado do Rio (Sepe), esse é um dos principais itens que demonstram que o culpado não é nem o pai nem o professor:
— É o sistema educacional. As políticas educacionais, que não põem contraturno nas escolas, laboratórios... Estive numa escola de Valença recentemente, e, quando chove, o professor tem de levar os alunos para o banheiro, o único lugar onde não chove lá dentro. É claro que há diferença do aluno de uma família que participa para um que tem família ausente. Mas estou perplexo com o fato de a maioria dos professores ter respondido que a causa está nos pais. Se o professor ficar apontando dedo para a família, e a família, para o professor, os reais responsáveis só vão ficar assistindo a isso de camarote.
RIO e RECIFE - O aluno não aprende porque os pais não o acompanham? Para 88% dos professores do nível fundamental da rede pública no país, sim. Quase 81% também acreditam que um aluno não vai bem na escola porque não se esforça. Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Movimento Todos Pela Educação em respostas dadas por professores da rede pública na Prova Brasil, do Inep. E levantam a questão: num sistema educacional público com má remuneração para o magistério e escolas mal equipadas, que recebem estudantes em que a própria família já tem, em geral, baixa escolaridade e frágil nível cultural, de quem é a culpa pelo mau aluno?
No Questionário do Professor da Prova Brasil de 2009, os professores receberam uma lista de possíveis causas para problemas de aprendizagem dos estudantes, para dizer com quais causas mais concordavam. Quase todos concordaram com as respostas "Falta de assistência e acompanhamento da família nos deveres de casa e pesquisas do aluno" e "Desinteresse e falta de esforço do aluno". Respostas que poderiam mostrar a responsabilidade do professor ou da escola — "Baixo salário dos professores, que gera insatisfação e desestímulo para a atividade docente" e "Escola oferece poucas oportunidades de desenvolvimento do aluno" — tiveram 30,5% e 27,4%, respectivamente.
— Como a educação depende de vários setores, é esperado que um jogue a responsabilidade para o outro. Se você for perguntar para muitos pais, eles vão dizer que a escola não ensina direito. Mas, apesar de esperada essa responsabilização do outro, é preocupante que o professor coloque a culpa na família, se pensarmos que, nas escolas públicas, em diversas vezes não lidamos com crianças imersas no mundo letrado. Jogar a culpa para a família, nesses casos, é o professor falar "não consigo lutar contra isso". Nesse tipo de realidade, a função da escola pública é essa mesmo, é exercer um papel que a família e o meio em que o aluno vive não estão conseguindo cumprir. O contrário seria condenar a criança pobre a não aprender — analisa Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação.
Novas formas de participação
Se a família não consegue acompanhar a educação do aluno, diz Priscila, o papel da escola seria achar maneiras de estimular esse acompanhamento.
— Não podemos partir da suposição de que a família não apoia porque não quer. Às vezes é porque não sabe mesmo, em muitos casos os pais estudaram menos do que o filho. Além disso, a escola reclama que os pais não vão às reuniões, mas as marca na terça às 9h. A classe trabalhadora trabalha na terça às 9h — destaca Priscila, para quem o baixo número de respostas de professores colocando a responsabilidade no nível salarial e no desestímulo que isso provoca também era esperado. — Seria até antiético, eles estariam admitindo que dão uma aula ruim.
Em áreas com indicadores sociais críticos, como Norte e Nordeste, a falta de acompanhamento da família às vezes tem a ver com problemas como o analfabetismo. Ramone Maria do Nascimento, do bairro de Afogados, em Recife, tem duas filhas na escola, Vanessa e Vandressa, alunas do colégio municipal Mércia Albuquerque. A mãe não sabe sequer escrever o nome todo:
— Vanessa precisou de muita ajuda na escola. Pedia às colegas para ensinar, pois não sei ler.
Vanessa, de 11 anos, escreve com desenvoltura, mas não sabe pontuar. Não leu um só livro em 2011 ou este ano.
Na casa de Cássia Cristina da Silva, no mesmo bairro, são quatro os filhos na escola. Com pai pedreiro com pouco estudo e ela analfabeta, as crianças só não tiveram mais dificuldades porque os pais pagaram reforço.
— Hoje um reforço aqui no bairro está entre R$ 35 e R$ 45 por aluno. A gente não pode mais — reclama Cássia, que este ano comemorou o fato de a filha Cassiana ter conseguido um colégio com tempo integral.
No Mércia Albuquerque, a diretora Maria José Moura acha que atribuir culpa aos pais ou alunos é raciocínio distorcido:
— São vários fatores em comunidades como esta, com histórico de violência. A maioria dos alunos não tem pai. Outros estão com o pai preso ou envolvido com o tráfico. A comunidade não tem banheiro. Muitos alunos passavam muito tempo no banheiro, e descobri que era para aproveitarem o chuveiro, a torneira, que não têm em casa.
Mudar a forma de participação da família parece ser a saída, afirmam pesquisadores.
— Nas séries iniciais, acredito que a responsabilidade maior pela educação da criança seja da escola, porque são alunos mais interessados. A partir da adolescência, o interesse da família em acompanhar ganha peso maior. Agora, é mais fácil culpar os pais, quando a leitura correta é: como a escola pode mudar para conquistar esses pais? — diz João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto. — A escola trata o pai mal, só fala mal do filho. O pai não volta a segunda vez. Quando a escola poderia, em vez disso, falar sobre o que o filho tem de bom. Se o aluno picha, como converter aquilo num trabalho com artes, por exemplo. Em vez de chamar o pai só para reuniões, chamá-lo para falar de cursos para esse pai.
— A família de aluno de rede pública em geral participa pouco. O problema são as condições de participação, que afetam a qualidade dela. A escola tem de melhorá-las — afirma Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. — Estudos mostram que o chamado efeito-família tem peso similar no aprendizado ao do efeito-escola. Mas, no Brasil, o efeito-família tem um obstáculo, a baixa escolaridade de boa parte das famílias. Aí, a escola é que tem de ser a diferença.
No bairro Jockey, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, o modo que a Escola Estadual Professora Odyssea Silveira de Siqueira encontrou para atrair a família foi, além das tradicionais reuniões de pais, chamar para palestras sobre temas como drogas e gravidez; e para comemorações como desfiles ou o aniversário da escola. No início de 2011, quando o colégio ficou sem diretor por alguns meses, pais de alunos chegaram a se reunir para ajudar na limpeza e na manutenção do espaço.
— Não adianta a escola ser bilíngue se a família não mostra ao filho o valor de ter um projeto de vida. E a escola, em regiões como a nossa, precisa também educar os pais para isso — diz a professora de Ciências Marcele Kloper Balado, coordenadora do projeto Os Pais na Escola, criado há um ano no Odyssea.
— Chamar o pai só para reclamar do filho não funciona. Tem de saber como chamar esse pai — acrescenta o diretor do colégio, Carlos José Pestana Moreira, destacando a melhora dos resultados da escola nas provas do Saerj em 2011, ficando acima das notas médias do estado.
Quando o filho explica o dever
Mãe de dois alunos do Odyssea, a dona de casa Joelma de Lima, que estudou até a antiga 3 série primária, diz que aprendeu a fazer o casal de filhos explicar para ela o dever de casa:
— Explicaram raiz quadrada, que para mim era coisa do outro mundo, e uma coisa de ciência que gostei muito, sobre evolução do ser humano. Se deixar as criança por ela mesma, ainda mais a mais velha, não vai estudar como deveria — diz Joelma, concordando que não há pai ou mãe que goste de só ouvir falarem mal do filho. — Fico mais tranquila, porque não chamam só nesses momentos.
A resposta "Carência de infraestrutura física e pedagógica da escola" recebeu apenas 28% da concordância dos professores no levantamento da Prova Brasil. Mas, para Danilo Serafim, professor de Sociologia da rede estadual do Rio e coordenador geral do Sindicato dos Professores do Estado do Rio (Sepe), esse é um dos principais itens que demonstram que o culpado não é nem o pai nem o professor:
— É o sistema educacional. As políticas educacionais, que não põem contraturno nas escolas, laboratórios... Estive numa escola de Valença recentemente, e, quando chove, o professor tem de levar os alunos para o banheiro, o único lugar onde não chove lá dentro. É claro que há diferença do aluno de uma família que participa para um que tem família ausente. Mas estou perplexo com o fato de a maioria dos professores ter respondido que a causa está nos pais. Se o professor ficar apontando dedo para a família, e a família, para o professor, os reais responsáveis só vão ficar assistindo a isso de camarote.
ALTO ÍNDICE DE REPETÊNCIA NO RS PREOCUPA ESPECIALISTAS EM EDUCAÇÃO
Boletim vermelho. Alto índice de repetência no Ensino Médio gaúcho preocupa especialistas em educação. Rio Grande do Sul é o líder nacional entre os Estados que mais reprovam alunos nesta faixa de ensino. Nilson Mariano, ZERO HORA, 26/03/2012 | 04h17
A liderança nacional entre os Estados que mais reprovam alunos no Ensino Médio preocupa especialistas em educação do Rio Grande do Sul.
Eles consideram inaceitável o índice de repetência de 19,9% (referente a 2010, último ano com dados disponíveis), por excluir milhares de jovens das salas de aulas, gerar desperdícios calculados em R$ 406 milhões anuais e comprometer o desenvolvimento gaúcho.
Em reportagem de ontem, Zero Hora revelou como o Rio Grande do Sul ganhou o campeonato de maior reprovador brasileiro no Ensino Médio, apresentando um desempenho que assusta até mesmo o secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo.
Para o pesquisador Gabriel Grabowski, da Universidade Feevale, um conjunto de fatores se acumulou nos últimos 20 anos, potencializando a deficiência.
O mais grave é a falta de investimentos. Grabowski observa que o Brasil aplica somente R$ 1,7 mil anuais por estudante, enquanto outros países, de porte econômico semelhante, investem cerca de R$ 10 mil.
Outro motivo é que 85,9% das matrículas do Ensino Médio estão com a rede pública estadual, justamente a menos contemplada com recursos.
— A esfera pública deveria receber maior atenção. Mas ocorre o inverso, está sendo desprestigiada — diz o professor da Feevale, especialista em Ensino Médio e Educação Técnica Profissional.
Helena Côrtes, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), lembra que o Ensino Médio, se comparado ao Fundamental, sempre registrou maior repetência e evasão.
Propõe, como uma das soluções, tornar o ensino mais atraente, sintonizado com a vida dos jovens. Recomenda que uma das providências é equipar as escolas.
— O perfil do aluno do Ensino Médio é o do adolescente ligado em tecnologias — afirma.
O baixo desempenho gaúcho não surpreende Vera Peroni, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vera entende que o resultado ruim apenas reflete o “desmonte” que a escola pública vem sofrendo há décadas no país.
Não bastasse a falta de investimentos, Vera aponta que a escola secundária foi sobrecarregada com a expansão do número de vagas.
— Espera-se de tudo da escola, mas sem investimento algum para que ela possa cumprir suas funções — critica a educadora da UFRGS.
A liderança nacional entre os Estados que mais reprovam alunos no Ensino Médio preocupa especialistas em educação do Rio Grande do Sul.
Eles consideram inaceitável o índice de repetência de 19,9% (referente a 2010, último ano com dados disponíveis), por excluir milhares de jovens das salas de aulas, gerar desperdícios calculados em R$ 406 milhões anuais e comprometer o desenvolvimento gaúcho.
Em reportagem de ontem, Zero Hora revelou como o Rio Grande do Sul ganhou o campeonato de maior reprovador brasileiro no Ensino Médio, apresentando um desempenho que assusta até mesmo o secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo.
Para o pesquisador Gabriel Grabowski, da Universidade Feevale, um conjunto de fatores se acumulou nos últimos 20 anos, potencializando a deficiência.
O mais grave é a falta de investimentos. Grabowski observa que o Brasil aplica somente R$ 1,7 mil anuais por estudante, enquanto outros países, de porte econômico semelhante, investem cerca de R$ 10 mil.
Outro motivo é que 85,9% das matrículas do Ensino Médio estão com a rede pública estadual, justamente a menos contemplada com recursos.
— A esfera pública deveria receber maior atenção. Mas ocorre o inverso, está sendo desprestigiada — diz o professor da Feevale, especialista em Ensino Médio e Educação Técnica Profissional.
Helena Côrtes, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), lembra que o Ensino Médio, se comparado ao Fundamental, sempre registrou maior repetência e evasão.
Propõe, como uma das soluções, tornar o ensino mais atraente, sintonizado com a vida dos jovens. Recomenda que uma das providências é equipar as escolas.
— O perfil do aluno do Ensino Médio é o do adolescente ligado em tecnologias — afirma.
O baixo desempenho gaúcho não surpreende Vera Peroni, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vera entende que o resultado ruim apenas reflete o “desmonte” que a escola pública vem sofrendo há décadas no país.
Não bastasse a falta de investimentos, Vera aponta que a escola secundária foi sobrecarregada com a expansão do número de vagas.
— Espera-se de tudo da escola, mas sem investimento algum para que ela possa cumprir suas funções — critica a educadora da UFRGS.
domingo, 25 de março de 2012
SALA DE AULA SEM PROFESSOR
ESTHER PILLAR GROSSI, DOUTORA EM PSICOLOGIA COGNITIVA PELA UNIVERSIDADE DE PARIS, ZERO HORA 25/03/2012
Inimigos de Classe é o nome da forte peça de teatro com a qual Luciano Alabarse brinda Porto Alegre neste momento. Esteve em cartaz no Theatro São Pedro e voltará a ser apresentada a partir do próximo dia 30, durante quatro semanas, no Centro Municipal de Cultura.
Um, dentre muitos aspectos que Inimigos de Classe suscita em quem vivencia a realidade de algumas escolas públicas, são faltas frequentes de professores.
Assisti a Inimigos de Classe há dias e não consegui escrever imediatamente a respeito do que me ocorreu sentir e pensar durante o espetáculo impactante. Um pouco do que senti e pensei transcrevo a seguir, provocada pela elo- quência de uma boa obra de arte.
Todo santo dia mergulhada que estou na trama escolar de escolas públicas pelo Brasil afora, na Colômbia e em Cabo Verde, apalpei a atualidade estarrecedora de Inimigos de Classe, escrita em 1935, na Inglaterra.
A falta de professores nas salas de aula é uma realidade tão corriqueira em escolas públicas, que faz com que a gente ouça e sinta a tragédia dos alunos de Inimigos de Classe, à espera de um professor que não vem, como pungentemente familiar.
Pasmem, em uma “boa” escola pública de Porto Alegre, cuja média dos salários dos seus 70 professores é R$ 5 mil, a cada dia, há anos, acontece em média ausência de oito deles. Estas ausências obrigam diariamente a uma adaptação do horário de cada turma e naturalmente um viés assassino nos planejamentos já preparados para tentar levar os alunos a se apropriarem das riquezas do patrimônio cultural e científico que nos legaram nossos antepassados, razão específica da existência das escolas.
Dentre as muitas experiências de alunos sem professora, uma me marcou quando reuni, depois de um curso de matemática, um grupo de professores desejosos de continuar estudando essa apaixonante disciplina científica. Fizemos um planejamento em torno de um campo conceitual superinteressante, que é o sistema de numeração. Dispusemos material multibase para todos os participantes e, passadas seis semanas, nenhuma das 10 professoras, cada uma de uma escola diferente, executou o planejamento devido à falta de colegas professores. Não havia possibilidade de executar seus planejamentos didáticos previstos para uma só turma em outra com o dobro de alunos. Juntar duas turmas é uma das alternativas para tapar o buraco de uma professora faltante.
E por que há professores que faltam tanto? Por um lado, por irresponsabilidade deles. Mas, fundamentalmente, o que desmotiva um professor é ensinar pouco e não curtir as imensas alegrias de quem faz aceder ao conhecimento uma turma de alunos.
Mas, por que ensinam pouco? Porque utilizam metodologia ineficaz, calcada em explicações que embrutecem. Embrutecem porque seguem a lógica dos conhecimentos a ensinar, e não a lógica na qual os alunos aprendem. Para que isso mude, é necessário que a formação dos professores seja outra, mas principalmente que esta nova formação inclua a força prodigiosa do desejo de ensinar de professores com a qual, associada a muitos e sólidos conhecimentos científicos, vá realizar o que Freud caracteriza como atividades profissionais impossíveis: curar, educar e governar. Impossível para Freud é aquilo que só é conseguido com as energias próprias do desejo, capazes de inventar diante dos impasses surpreendentes que os impossíveis contemplam.
Inimigos de Classe é o nome da forte peça de teatro com a qual Luciano Alabarse brinda Porto Alegre neste momento. Esteve em cartaz no Theatro São Pedro e voltará a ser apresentada a partir do próximo dia 30, durante quatro semanas, no Centro Municipal de Cultura.
Um, dentre muitos aspectos que Inimigos de Classe suscita em quem vivencia a realidade de algumas escolas públicas, são faltas frequentes de professores.
Assisti a Inimigos de Classe há dias e não consegui escrever imediatamente a respeito do que me ocorreu sentir e pensar durante o espetáculo impactante. Um pouco do que senti e pensei transcrevo a seguir, provocada pela elo- quência de uma boa obra de arte.
Todo santo dia mergulhada que estou na trama escolar de escolas públicas pelo Brasil afora, na Colômbia e em Cabo Verde, apalpei a atualidade estarrecedora de Inimigos de Classe, escrita em 1935, na Inglaterra.
A falta de professores nas salas de aula é uma realidade tão corriqueira em escolas públicas, que faz com que a gente ouça e sinta a tragédia dos alunos de Inimigos de Classe, à espera de um professor que não vem, como pungentemente familiar.
Pasmem, em uma “boa” escola pública de Porto Alegre, cuja média dos salários dos seus 70 professores é R$ 5 mil, a cada dia, há anos, acontece em média ausência de oito deles. Estas ausências obrigam diariamente a uma adaptação do horário de cada turma e naturalmente um viés assassino nos planejamentos já preparados para tentar levar os alunos a se apropriarem das riquezas do patrimônio cultural e científico que nos legaram nossos antepassados, razão específica da existência das escolas.
Dentre as muitas experiências de alunos sem professora, uma me marcou quando reuni, depois de um curso de matemática, um grupo de professores desejosos de continuar estudando essa apaixonante disciplina científica. Fizemos um planejamento em torno de um campo conceitual superinteressante, que é o sistema de numeração. Dispusemos material multibase para todos os participantes e, passadas seis semanas, nenhuma das 10 professoras, cada uma de uma escola diferente, executou o planejamento devido à falta de colegas professores. Não havia possibilidade de executar seus planejamentos didáticos previstos para uma só turma em outra com o dobro de alunos. Juntar duas turmas é uma das alternativas para tapar o buraco de uma professora faltante.
E por que há professores que faltam tanto? Por um lado, por irresponsabilidade deles. Mas, fundamentalmente, o que desmotiva um professor é ensinar pouco e não curtir as imensas alegrias de quem faz aceder ao conhecimento uma turma de alunos.
Mas, por que ensinam pouco? Porque utilizam metodologia ineficaz, calcada em explicações que embrutecem. Embrutecem porque seguem a lógica dos conhecimentos a ensinar, e não a lógica na qual os alunos aprendem. Para que isso mude, é necessário que a formação dos professores seja outra, mas principalmente que esta nova formação inclua a força prodigiosa do desejo de ensinar de professores com a qual, associada a muitos e sólidos conhecimentos científicos, vá realizar o que Freud caracteriza como atividades profissionais impossíveis: curar, educar e governar. Impossível para Freud é aquilo que só é conseguido com as energias próprias do desejo, capazes de inventar diante dos impasses surpreendentes que os impossíveis contemplam.
MICROCULTURA, MACROFRACASSO
BOLETIM VERMELHO - ÂNGELA RAVAZZOLO, EDITORA DE EDUCAÇÃO, zero hora 24/03/2012
As estatísticas, as pesquisas e as propostas pedagógicas para combater a reprovação e a evasão escolar compõem um quadro analítico importante e uma abordagem ampla sobre o problema. São dados e informações que, de forma concreta, auxiliam a enfrentar essas dificuldades. Mas há também um universo não menos importante, aquele que pontua o burburinho dos estudantes, os cochichos e muitas vezes deboches agressivos.
A repetência tem sido entendida por especialistas como um último recurso pedagógico, a ser combatido com esforço monumental ao longo do ano letivo. Mas essa compreensão teórica ainda não faz parte necessariamente da cultura do cotidiano que se perpetua nos corredores escolares: o “aluno repetente” ainda assusta colegas e professores.
Para Denise Soares Miguel, pesquisadora em violência escolar e professora da Universidade do Estado de Santa Catarina, o cenário tradicional das escolas, que privilegia o processo de ensino em detrimento do aprendizado, a cultura da meritocracia no lugar das experiências individuais, reforça esse processo de exclusão.
Ao mesmo tempo em que há um esforço dos estudiosos em qualificar o debate, é fundamental também estabelecer estratégias práticas para alterar esse cenário que expõe o repetente como se o fato de não atingir determinados objetivos pudesse determinar o futuro de uma criança.
RS: CAMPEÃO EM REPETÊNCIA
BOLETIM VERMELHO - MARCELO GONZATTO E NILSON MARIANO. Colaborou Joice Bacelo, ZERO HORA 25/03/2012
O Rio Grande do Sul ostenta um título nacional que assusta especialistas e o próprio secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo. Além de ser o campeão nacional em repetência no Ensino Médio, o Estado também tem índices preocupantes no Ensino Fundamental
A cada ano, perto de 300 mil alunos são afetados por um dos mais graves problemas da educação gaúcha: o alto índice de reprovação.
Esse fenômeno atrasa o fluxo estudantil de 19,9% dos estudantes do Ensino Médio em estabelecimentos públicos ou privados – o que torna o Estado campeão nacional de repetência nessa etapa. Além disso, afeta 14,2% dos matriculados no nível Fundamental, compromete o desempenho em sala de aula e é uma das principais razões para a desistência. Apenas na rede estadual, a retenção e o abandono escolar representam um desperdício de R$ 790 milhões por ano.
O mais estreito funil do ensino gaúcho está nas escolas estaduais e municipais. E, nessas redes, principalmente no Ensino Médio. No 1º ano, a reprovação chega a reter quase um terço dos alunos, conforme dados de 2010. O Fundamental também apresenta índices elevados, superando os 17% na rede estadual. Considerando-se o que o Estado gasta para custear o ensino, a reprovação e a desistência – que leva um a cada 10 estudantes a deixar os estudos – desperdiçam o equivalente a R$ 384 milhões no Fundamental e R$ 406 milhões no Médio por ano. Isso representa um quarto dos R$ 3,2 bilhões investidos em 2011 nessas duas faixas.
– Essa perda material, somada à perda social, faz com que essa seja uma das questões mais graves da educação hoje – admite o secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo.
Uma das explicações levantadas por especialistas para o mau desempenho gaúcho seria a vocação precoce para o trabalho. Mas os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não sustentam essa crença: 2,9% dos adolescentes de 15 a 17 anos trabalham – abaixo da média nacional de 3,1%. Resta, então, a hipótese de que os rio-grandenses apostam na repetência como recurso pedagógico por razões culturais.
– Podemos conjecturar que é um Estado com cultura escolar de maior rigidez e sem política específica para evitar reprovações – avalia a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.
Azevedo afirma que a proposta de reforma no Ensino Médio, que desagrada ao Cpers, é uma tentativa de mudar esses índices. Para a ex-secretária da Educação Mariza Abreu, o Estado ficou à margem das discussões sobre os malefícios da retenção feitas no país a partir dos anos 90.
– A implantação dos ciclos em Porto Alegre não teve bons resultados, então ficou no inconsciente coletivo a impressão de que reprovar é melhor do que a aprovação automática – acredita Mariza.
Outro grande problema é que, segundo pesquisas indicam, a repetência não ajuda em nada a nota do aluno. Lançado este ano, o relatório De Olho Nas Metas, do Todos pela Educação, demonstra que 47% dos estudantes das séries iniciais do Fundamental que nunca rodaram alcançam o desempenho esperado em matemática. No caso dos estudantes que estão fora da seriação adequada, apenas 25% atingem o resultado desejado. Assim, o ciclo da repetência se perpetua.
Repetência assusta em Capão do Leão
Menos de um terço dos alunos da Escola Estadual Presidente Castelo Branco recebeu o diploma de conclusão do Ensino Médio, em 2010, no município de Capão do Leão. Para desespero da diretora Carla Levien, 41,8% foram reprovados e mais 26,3% abandonaram a sala de aula. Somados, os dois índices representam um dos maiores problemas escolares do Estado.
Com cerca de 26 mil moradores, situada na microrregião de Pelotas, na Metade Sul, Capão do Leão não tem conseguido deter a onda de reprovação. A diretora Carla identifica que a sangria está no curso noturno. Alunos que ficaram cinco, 10, 15 anos sem estudar, e que concluíram o Ensino Fundamental via supletivo, vão mal no Ensino Médio. Os que não debandam antes do tempo são reprovados por insuficiência de notas.
Carla aposta que a próxima estatística apresentará melhoras devido a mudanças. Antes, o curso noturno misturava os alunos regulares e os mais velhos, aqueles que haviam recorrido ao supletivo. Desde o ano passado, os veteranos estão recebendo atenção e reforço. A Escola Castelo Branco tem mil alunos – 390 deles no noturno do Ensino Médio.
– Os alunos vão se evadindo, se evadindo. A gente começa a se assustar, vai atrás, mas não consegue trazê-los de volta – lamenta Carla, que foi vice-diretora do noturno por uma década.
Todas as manhãs, ao sair de casa para o trabalho, Carla se enche de otimismo. Comenta com vizinhos que é “feliz por estar na Castelo”, como é chamada a escola. Mas a realidade é áspera. Faltam professores de física, matemática, português, literatura e biologia. Falta uma bibliotecária, os laboratórios de informática e multimídia estão malconservados.
Na aula de informática, como existem somente 12 computadores, o professor divide os alunos. Metade fica na sala de aula, a outra no laboratório, o que prejudica o ajuste do aprendizado.
– Na escola, estamos com o mínimo do mínimo – revela.
Os moradores de Capão do Leão habituaram-se a uma cena noturna. Estudantes da Castelo Branco, para gazear aula, concentram-se na praça central da cidade. Conversam, namoram, fazem planos, enquanto professores lecionam para classes esvaziadas.
Conforme o responsável pela 5ª Coordenadoria Regional de Educação, Círio Almeida, a situação na escola vem sendo acompanhada desde o ano passado. A SEC pretende estabelecer metas e parcerias com universidades para elevar o patamar de aprovação e permanência escolar.
“Em algum momento, o aluno nos escapa”
Lá se vão 12 anos à frente do quadro-negro ensinando equações matemáticas, mas a situação não se altera. Em algum momento, quase sempre imperceptível, o professor Antonio Cesar dos Santos Esperança, do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, de Porto Alegre, perde alunos por reprovação ou evasão. É como uma sentença que nunca falha. E, embora se desdobre para segurar os pupilos na sala de aula, não há como evitar “uma certa sensação de fracasso”.
Antonio, 39 anos, tenta identificar os que podem desfalcar a turma para ampará-los. Uma das estratégias é circular entre os estudantes. Quando depara com alguém que sequer tenta fazer, sobrevem a aflição.
– O que não entendeste? – pergunta.
Se a resposta for um “nada”, daqueles sonoros e sem hesitação, Antonio estará diante de um candidato a abandonar a turma. Alunos são monitorados o ano todo. Antonio observa que o estudante assíduo, mesmo tropeçando em dificuldades, irá se safar. No entanto, os que conjugam ausência e desinteresse podem se complicar no final do ano:
– O sentimento que tenho é de que, em algum momento, eles nos escapam.
No início da carreira, alimentava a expectativa de que todos iriam aprender. Logo constatou que, mesmo com uma aula caprichada, haveria defecções. Hoje, ao se dirigir a um aluno que nem sequer lhe ouve, angustia-se com a perda do controle.
A receita de Guaporé contra a reprovação
A estratégia educacional imita o agricultor que extirpa a erva daninha pela raiz, tão logo ela brote, para evitar prejuízos à lavoura. Sempre que detecta alguma dificuldade na rede de ensino, a Secretaria Municipal de Educação de Guaporé age prontamente para solucioná-la. Resultado: o município ostenta o menor índice de reprovação no Ensino Fundamental (5,1%) e as menores taxas de abandono no Estado, entre as cidades com mais de 20 mil habitantes.
A receita exitosa combina organização, monitoramento e envolvimento de todos: governo municipal, professores, alunos e pais. A secretária de Educação de Guaporé, Doraci Bortoncello, destaca que há um trabalho articulado em rede para elevar a qualidade do ensino.
– Adotamos a gestão de excelência com respeito a cada ambiente escolar. Nenhuma escola é melhor do que a outra – observa.
A tática é se antecipar a qualquer detalhe que possa gerar contratempos futuros. Se um professor depara com algum obstáculo, é auxiliado de imediato. Caso a escola necessite de material novo, como um quadro branco, o assunto não fica na gaveta. As avaliações sobre os serviços escolares são permanentes, e não dispensam a opinião de pais e alunos.
Uma das coordenadoras pedagógicas da Secretaria, Neodeci Maria Prada da Silva diz que foram criados procedimentos específicos para todas as escolas, que funcionam como radares. Se uma turma está muito numerosa, com mais de 25 alunos, são tomadas providências, como destacar um professor auxiliar. Se duas turmas do 7º ano estão superlotadas, podem ser desmembradas em três.
– Não se deixa chegar ao fim do ano, não se deixa virar um problema – ressalta Neodeci.
A capacitação é contínua. Neodeci diz que 96% dos mais de 200 professores municipais têm graduação superior, e vários possuem mestrado e doutorado. A prefeitura oferece cursos temáticos, cuja adesão é voluntária.
Também coordenadora pedagógica da prefeitura, Luciane Faccio informa que outro freio à reprovação é a avaliação abrangente dos alunos. Professores aplicam o princípio da diversidade e inclusão, segundo o qual um estudante pode ser deficiente em matemática, mas bamba em português, geografia e história. Ao final, será examinado pelo conjunto do desempenho, não só pelas falhas em uma disciplina.
Onde está o problema
sexta-feira, 23 de março de 2012
PRESENÇA DE ALUNO COM NECESSIDADES ESPECIAIS É PRIVILÉGIO PARA ESCOLA
Marco A. Birnfeld, Espaço Vital - JORNAL DO COMERCIO 23/03/2012
Numa decisão proferida em comarca do interior de Minas Gerais, mas que está fadada a repercussão nacional, o juiz da Vara da Infância e Juventude de Itabira (MG) Pedro Camara Raposo Lopes concedeu na terça-feira liminar para que uma criança portadora de necessidades especiais (‘transtorno invasivo de desenvolvimento’) frequente as aulas sem necessidade de pagamento de valores adicionais. O pagamento complementar estava sendo exigido pela Fundação Itabirana Difusora de Ensino (FIDE) para a manutenção de monitores exclusivos no atendimento ao infante. O mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público argumentou que a frequência do aluno portador de necessidades especiais seria “vantajosa aos demais educandos, ao trazer, para dentro da vivência escolar, a realidade cotidiana, incutindo o espírito da cidadania e da igualdade”.
O menor G.S.F.S., sete de idade, é aluno do educandário desde 2008. A partir de 2009, passou a entidade a lhe cobrar uma sobretaxa a título de prestação dos serviços educacionais especiais de que necessita. Agora em 2012, a instituição passou a exigir “o custeio integral para a contratação de monitora que o atenda diretamente, auxiliando-o na alimentação, higiene e outras atividades rotineiras”.
O juiz Pedro Camara afirma na decisão que “sendo a escola um microcosmo da sociedade plural e aberta, que visa a preparar os educandos para a harmônica vida em comunidade, a presença de um portador de necessidades especiais no corpo discente é - para além de um encargo - um privilégio para o educandário e seus ‘clientes’ que, no limite, devem participar do custeio das despesas decorrentes de tal privilégio mediante rateio nas mensalidades escolares.”
Além da legislação especial aplicável ao caso, entendeu o magistrado que o aluno é “um consumidor especial, mas merecedor de toda tessitura protetiva da Lei nº 8.078, de 1990”. Para o juiz, condicionar a permanência do aluno a pagamento complementar constitui prática abusiva. (Proc. nº 0317.12.002438-3).
Leia em www.espacovital.com.br a íntegra da decisão.
Numa decisão proferida em comarca do interior de Minas Gerais, mas que está fadada a repercussão nacional, o juiz da Vara da Infância e Juventude de Itabira (MG) Pedro Camara Raposo Lopes concedeu na terça-feira liminar para que uma criança portadora de necessidades especiais (‘transtorno invasivo de desenvolvimento’) frequente as aulas sem necessidade de pagamento de valores adicionais. O pagamento complementar estava sendo exigido pela Fundação Itabirana Difusora de Ensino (FIDE) para a manutenção de monitores exclusivos no atendimento ao infante. O mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público argumentou que a frequência do aluno portador de necessidades especiais seria “vantajosa aos demais educandos, ao trazer, para dentro da vivência escolar, a realidade cotidiana, incutindo o espírito da cidadania e da igualdade”.
O menor G.S.F.S., sete de idade, é aluno do educandário desde 2008. A partir de 2009, passou a entidade a lhe cobrar uma sobretaxa a título de prestação dos serviços educacionais especiais de que necessita. Agora em 2012, a instituição passou a exigir “o custeio integral para a contratação de monitora que o atenda diretamente, auxiliando-o na alimentação, higiene e outras atividades rotineiras”.
O juiz Pedro Camara afirma na decisão que “sendo a escola um microcosmo da sociedade plural e aberta, que visa a preparar os educandos para a harmônica vida em comunidade, a presença de um portador de necessidades especiais no corpo discente é - para além de um encargo - um privilégio para o educandário e seus ‘clientes’ que, no limite, devem participar do custeio das despesas decorrentes de tal privilégio mediante rateio nas mensalidades escolares.”
Além da legislação especial aplicável ao caso, entendeu o magistrado que o aluno é “um consumidor especial, mas merecedor de toda tessitura protetiva da Lei nº 8.078, de 1990”. Para o juiz, condicionar a permanência do aluno a pagamento complementar constitui prática abusiva. (Proc. nº 0317.12.002438-3).
Leia em www.espacovital.com.br a íntegra da decisão.
ESTUDANTE É AGREDIDA POR MÃE DE COLEGA
VIOLÊNCIA EM GRAVATAÍ. Garota é agredida por mãe de colega perto da escola. Gravação feita por outro aluno mostra adolescente de 14 anos levando socos e chutes de três pessoas - THIAGO STÜRMER, ZERO HORA 23/03/2012
A mãe de uma estudante de Gravataí, na Região Metropolitana, usou as próprias mãos para tentar resolver os desentendimentos constantes entre a filha e uma colega. Um vídeo gravado a uma quadra da Escola Estadual Antônio Gomes Corrêa mostra a mulher, acompanhada de duas sobrinhas, espancando uma adolescente de 14 anos.
Hoje, o delegado Anderson Spier deve ouvir a vítima e familiares. Ele estuda indiciar a agressora por lesão corporal leve (as outras duas teriam menos de 18 anos). A pena é de três meses a um ano de prisão, mas pode ser revertida em multa ou serviço comunitário. A aluna cuja mãe agrediu a colega, de 15 anos, não participou da briga.
O fato aconteceu na terça-feira da semana passada, após o fim do turno da manhã. As imagens feitas com o celular de outro aluno mostram a garota cercada pelas três mulheres antes de levar uma série de socos. A violência parou quando ela caiu, desacordada.
– Foi muito assustador. Recebi um telefonema da escola dizendo que minha filha tinha sido levada para o hospital depois de uma briga muito feia – contou a mãe da estudante agredida.
A adolescente sofreu lesões no rosto e diz sentir dores na costela. Está traumatizada, conforme afirma a mãe:
– Ela está com medo de sair na rua. Levo para a escola e busco todo o dia.
Conforme a diretora do colégio, Fátima Garcez, as duas adolescentes já haviam se desentendido antes.
– É comum o bate-boca entre adolescentes. O que não é comum é um adulto intervir e agredir um menor de idade – diz ela, que sugeriu a transferência de uma das alunas envolvidas.
– A gente teme pela segurança das duas na escola. Existe uma indignação, um clima hostil – explica.
A mulher que agrediu a colega da filha é mãe de outros dois alunos. Ela diz que não vai transferir nenhum deles e alega que bateu na estudante para defender a filha. A mulher mostrou a ZH um vídeo em que a adolescente agredida por ela atinge a filha com socos e chutes no pátio da escola.
– Uma vez que ela arrancou a corrente do pescoço da minha filha e jogou dentro de uma lixeira – relata, acrescentando:
– A agressão foi mesmo um ato impensado. Mas para defender meus filhos faço qualquer coisa.
LUTA CONTRA A HOMOFOBIA
Desafio às escolas gaúchas. Caso de adolescente homossexual agredido por colega põe em cena tema negligenciado em sala de aula - CAUE FONSECA, ZERO HORA 23/03/2012
Os repetidos atos de hostilidade foram ignorados na escola de Santo Ângelo, nas Missões. Tampouco foi percebida a omissão dos professores, ou a agressão, que um colega anunciou aos quatro ventos e concretizou em 13 de março. Só quando a vítima escreveu uma carta a uma ONG pedindo socorro, o episódio de bullying contra um adolescente homossexual de 15 anos ganhou a atenção do Estado e, desde ontem, do resto do país.
Ontem, a história do jovem, noticiada na ZH de 20 de março, foi contada ao vivo no programa Mais Você, da apresentadora Ana Maria Braga, exibido na RBS TV.
– Falei que eu não tinha medo dele (do colega agressor). Ele respondeu “então vai ter facada”. Na saída, ele ameaçou tirar uma faca do bolso, mas, em vez disso, me deu uma rasteira e começou a me bater – contou o adolescente.
O caso foi registrado na polícia, o agressor (também de 15 anos) cumpriu três dias de suspensão, e a vítima transferiu-se de escola. Na opinião tanto da vítima quanto de especialistas, seria grande a chance de nada disso ter acontecido se o tema “diversidade sexual” fosse abordado em sala de aula.
– As políticas públicas existem, mas elas não chegam às escolas. Falta material didático, falta capacitação – avalia Toni Reis, 47 anos, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), autor de doutorado sobre a abordagem do homossexualismo nas escolas.
Assim como Reis, o professor da Pós-Graduação em Educação da UFRGS Fernando Seffner lamenta o silêncio sobre o tema. Ambos participaram das discussões sobre o kit anti-homofobia, que acabou vetado.
– Temos subsídio para dizer que a introdução de determinados temas nas escolas gera um impacto posterior positivo. Saúde sexual, por exemplo, é hoje um tema abordado com naturalidade – avalia Seffner.
Coordenador da linha de pesquisa Educação, Sexualidade e Relações de Gênero, Seffner salienta que falar sobre diversidade sexual é uma demanda também das famílias, constrangidas em abordar o tema em casa. Na escola, o debate estimularia um tipo importante de estudante:
– A maioria dos adolescentes heterossexuais não concorda com agressões a homossexuais. Mas eles se sentem amedrontados. Têm medo de acabarem rotulados também. Estimulado, esse pessoal vai opinar.
Prestes a voltar a Santo Ângelo, o adolescente confessa receio em sair na rua, mas sente-se fortalecido com o acolhimento e apoio recebido. A homossexuais vítimas de bullying que se sentem sem saída, como ele após a agressão dia 13, o jovem dá um conselho.
– Não chegue tão perto do limite. A vida é ótima e tem de ser curtida. Está cheio de gente aí para te apoiar.
Kit há 10 meses na prancheta
Composto por vídeos e cartilhas, o “kit anti-homofobia”, elaborado pelo Ministério da Educação (MEC), gerou forte reação da bancada religiosa no Congresso e teve a distribuição nas escolas vetada pela presidente Dilma Rousseff . O motivo do veto, em 25 de maio de 2011, foi que o kit “não servia ao seu propósito”, falava mais sobre a descoberta da homossexualidade do que sobre preconceito e homofobia.
– A questão é que, para respeitar, tem primeiro de entender. Agora, se a Dilma não gostou, que mandasse os técnicos delas fazer melhor. O que não dá é para ficar sem orientação – declara o presidente da ABGLT, Toni Reis.
Desde então, o ministro Fernando Haddad deu lugar a Aloizio Mercadante e, a julgar pelas declarações do novo titular, o kit está longe de sair da prancheta.
– Para construir essa cultura nós vamos ter de estudar mais a fundo a homofobia e como dialogar – disse Mercadante em audiência pública da Câmara dos Deputados, em 14 de março.
A ABGLT promete para 16 de maio – escolhido como Dia Nacional contra a Homofobia nas Escolas – uma manifestação em Brasília pelo lançamento do material.
Os repetidos atos de hostilidade foram ignorados na escola de Santo Ângelo, nas Missões. Tampouco foi percebida a omissão dos professores, ou a agressão, que um colega anunciou aos quatro ventos e concretizou em 13 de março. Só quando a vítima escreveu uma carta a uma ONG pedindo socorro, o episódio de bullying contra um adolescente homossexual de 15 anos ganhou a atenção do Estado e, desde ontem, do resto do país.
Ontem, a história do jovem, noticiada na ZH de 20 de março, foi contada ao vivo no programa Mais Você, da apresentadora Ana Maria Braga, exibido na RBS TV.
– Falei que eu não tinha medo dele (do colega agressor). Ele respondeu “então vai ter facada”. Na saída, ele ameaçou tirar uma faca do bolso, mas, em vez disso, me deu uma rasteira e começou a me bater – contou o adolescente.
O caso foi registrado na polícia, o agressor (também de 15 anos) cumpriu três dias de suspensão, e a vítima transferiu-se de escola. Na opinião tanto da vítima quanto de especialistas, seria grande a chance de nada disso ter acontecido se o tema “diversidade sexual” fosse abordado em sala de aula.
– As políticas públicas existem, mas elas não chegam às escolas. Falta material didático, falta capacitação – avalia Toni Reis, 47 anos, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), autor de doutorado sobre a abordagem do homossexualismo nas escolas.
Assim como Reis, o professor da Pós-Graduação em Educação da UFRGS Fernando Seffner lamenta o silêncio sobre o tema. Ambos participaram das discussões sobre o kit anti-homofobia, que acabou vetado.
– Temos subsídio para dizer que a introdução de determinados temas nas escolas gera um impacto posterior positivo. Saúde sexual, por exemplo, é hoje um tema abordado com naturalidade – avalia Seffner.
Coordenador da linha de pesquisa Educação, Sexualidade e Relações de Gênero, Seffner salienta que falar sobre diversidade sexual é uma demanda também das famílias, constrangidas em abordar o tema em casa. Na escola, o debate estimularia um tipo importante de estudante:
– A maioria dos adolescentes heterossexuais não concorda com agressões a homossexuais. Mas eles se sentem amedrontados. Têm medo de acabarem rotulados também. Estimulado, esse pessoal vai opinar.
Prestes a voltar a Santo Ângelo, o adolescente confessa receio em sair na rua, mas sente-se fortalecido com o acolhimento e apoio recebido. A homossexuais vítimas de bullying que se sentem sem saída, como ele após a agressão dia 13, o jovem dá um conselho.
– Não chegue tão perto do limite. A vida é ótima e tem de ser curtida. Está cheio de gente aí para te apoiar.
Kit há 10 meses na prancheta
Composto por vídeos e cartilhas, o “kit anti-homofobia”, elaborado pelo Ministério da Educação (MEC), gerou forte reação da bancada religiosa no Congresso e teve a distribuição nas escolas vetada pela presidente Dilma Rousseff . O motivo do veto, em 25 de maio de 2011, foi que o kit “não servia ao seu propósito”, falava mais sobre a descoberta da homossexualidade do que sobre preconceito e homofobia.
– A questão é que, para respeitar, tem primeiro de entender. Agora, se a Dilma não gostou, que mandasse os técnicos delas fazer melhor. O que não dá é para ficar sem orientação – declara o presidente da ABGLT, Toni Reis.
Desde então, o ministro Fernando Haddad deu lugar a Aloizio Mercadante e, a julgar pelas declarações do novo titular, o kit está longe de sair da prancheta.
– Para construir essa cultura nós vamos ter de estudar mais a fundo a homofobia e como dialogar – disse Mercadante em audiência pública da Câmara dos Deputados, em 14 de março.
A ABGLT promete para 16 de maio – escolhido como Dia Nacional contra a Homofobia nas Escolas – uma manifestação em Brasília pelo lançamento do material.
FISIOLOGISMO - ESCRITÓRIO DE DEPUTADO CONTRÁRIO AO PISO INCENTIVA PROCESSAR O RS
Reajuste salarial. Escritório do qual petista é sócio defende pagamento do piso nacional do magistério no Rio Grande do Sul. Escritório que tem como sócio deputado Lindenmeyer (PT) mandou carta a professores incentivando-os a processar o Estado. RAFAEL DIVERIO - ZERO HORA 23/03/2012
O Piratini poderá chegar a 2014 sem pagar o piso nacional do magistério com a ajuda de deputados como Alexandre Lindenmeyer (PT), um dos 29 que apoiaram o reajuste de 23,5% aprovado na Assembleia Legislativa na terça-feira.
Professores que se sentiram atingidos pela medida, também podem tentar recuperar os valores não pagos na Justiça, com a ajuda de Lindenmeyer. Propriamente dele, não, mas de um escritório do qual é sócio: a banca Lindenmeyer Advocacia & Associados enviou cartas aos professores oferecendo seus préstimos para, na Justiça, receberem o piso.
Acarta diz aos professores que o desrespeito à lei do piso nacional dá o direito de “ingressar na justiça para buscar os valores que lhe são devidos e não estão sendo pagos”. O documento traz ainda detalhes sobre a história da lei, relembrando o mês de abril de 2011, quando foi determinada a obrigação do Estado de pagar R$ 1.451 aos servidores do magistério, em valores atualizados.
Presidente da OAB teve acesso a documento
Segundo a carta, o “escritório está ingressando com ações judiciais cujo objetivo é exigir o cumprimento da Lei do Piso”. Além disso, são passadas orientações aos professores interessados, como qual a documentação necessária para ingressar e o endereço dos atendimentos.
O presidente da seção gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS), Cláudio Lamachia, preferiu não se manifestar sobre o assunto. Ele afirmou que teve acesso ao documento ainda ontem e não teve tempo para analisar. Disse apenas que a carta será encaminhada às instâncias normais do órgão, e o caso será resolvido pelo tribunal de ética.
Nas redes sociais, o assunto também foi discutido. Notabilizados por abrigar ferrenhos debates políticos, sites como Facebook e Twitter também ganharam posts sobre o caso. O próprio deputado publicou um depoimento.
Nele, Lindenmeyer diz que exerce a profissão de advogado há 26 anos, na maior parte dedicada à área da advocacia trabalhista de servidores e trabalhadores da iniciativa privada. O advogado diz que exercer um mandato de deputado estadual o impede de advogar contra o Estado, mas não impede que seu escritório o faça.
Procurado na quinta-feira por ZH, Lindmeyer disse, por meio de sua assessoria, que só se manifestaria nesta sexta.
O que diz o parlamentar
Em sua página no Facebook, Lindenmeyer fala sobre o assunto:
— "Ao longo de mais de 26 anos exerço a profissão de advogado, grande parte desta carreira dedicada à área da advocacia trabalhista de servidores e trabalhadores da iniciativa privada.
— O fato de exercer um mandato de deputado estadual me gera o impedimento de exercer a advocacia contra o Estado, nem por isso o escritório do qual faço parte deixa de exercer tal atividade, a qual tem feito ao longo de todos esses anos, defendendo aquilo que entende ser justo.
— Tenho uma posição muito clara em relação ao direito dos professores quanto ao pagamento do piso nacional da categoria, jamais disse que sou contra o pagamento.
— Evidentemente que o debate feito pelo Estado do Rio Grande do Sul em relação a essa pauta decorre do fato de que inexiste recursos financeiros possíveis para o pagamento imediato da integralidade do mesmo (o governo mantém uma posição de não alteração do plano de carreira do magistério, conquistado ao longo de vários anos de luta por parte dos professores estaduais).
— Diante deste contexto, torna-se necessário salientar que o fato de exercer um mandato parlamentar não impede que o escritório Lindenmeyer Advocacia & Associados, que há mais de 20 anos defende o direito dos trabalhadores, em especial professores, tenha posicionamento de aplicação imediata do piso."
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É o cúmulo do fisiologismo. O "nobre" deputado parece interessado em levar vantagem de algo que ele mesmo se mostrou contrário. Como confiar num representante com este tipo de postura. Os professores deveriam repudiar este escritório. O piso nacional, além de direito, é uma justiça para com uma das profissões mais importantes do mundo. O Japão que o diga.
O Piratini poderá chegar a 2014 sem pagar o piso nacional do magistério com a ajuda de deputados como Alexandre Lindenmeyer (PT), um dos 29 que apoiaram o reajuste de 23,5% aprovado na Assembleia Legislativa na terça-feira.
Professores que se sentiram atingidos pela medida, também podem tentar recuperar os valores não pagos na Justiça, com a ajuda de Lindenmeyer. Propriamente dele, não, mas de um escritório do qual é sócio: a banca Lindenmeyer Advocacia & Associados enviou cartas aos professores oferecendo seus préstimos para, na Justiça, receberem o piso.
Acarta diz aos professores que o desrespeito à lei do piso nacional dá o direito de “ingressar na justiça para buscar os valores que lhe são devidos e não estão sendo pagos”. O documento traz ainda detalhes sobre a história da lei, relembrando o mês de abril de 2011, quando foi determinada a obrigação do Estado de pagar R$ 1.451 aos servidores do magistério, em valores atualizados.
Presidente da OAB teve acesso a documento
Segundo a carta, o “escritório está ingressando com ações judiciais cujo objetivo é exigir o cumprimento da Lei do Piso”. Além disso, são passadas orientações aos professores interessados, como qual a documentação necessária para ingressar e o endereço dos atendimentos.
O presidente da seção gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS), Cláudio Lamachia, preferiu não se manifestar sobre o assunto. Ele afirmou que teve acesso ao documento ainda ontem e não teve tempo para analisar. Disse apenas que a carta será encaminhada às instâncias normais do órgão, e o caso será resolvido pelo tribunal de ética.
Nas redes sociais, o assunto também foi discutido. Notabilizados por abrigar ferrenhos debates políticos, sites como Facebook e Twitter também ganharam posts sobre o caso. O próprio deputado publicou um depoimento.
Nele, Lindenmeyer diz que exerce a profissão de advogado há 26 anos, na maior parte dedicada à área da advocacia trabalhista de servidores e trabalhadores da iniciativa privada. O advogado diz que exercer um mandato de deputado estadual o impede de advogar contra o Estado, mas não impede que seu escritório o faça.
Procurado na quinta-feira por ZH, Lindmeyer disse, por meio de sua assessoria, que só se manifestaria nesta sexta.
O que diz o parlamentar
Em sua página no Facebook, Lindenmeyer fala sobre o assunto:
— "Ao longo de mais de 26 anos exerço a profissão de advogado, grande parte desta carreira dedicada à área da advocacia trabalhista de servidores e trabalhadores da iniciativa privada.
— O fato de exercer um mandato de deputado estadual me gera o impedimento de exercer a advocacia contra o Estado, nem por isso o escritório do qual faço parte deixa de exercer tal atividade, a qual tem feito ao longo de todos esses anos, defendendo aquilo que entende ser justo.
— Tenho uma posição muito clara em relação ao direito dos professores quanto ao pagamento do piso nacional da categoria, jamais disse que sou contra o pagamento.
— Evidentemente que o debate feito pelo Estado do Rio Grande do Sul em relação a essa pauta decorre do fato de que inexiste recursos financeiros possíveis para o pagamento imediato da integralidade do mesmo (o governo mantém uma posição de não alteração do plano de carreira do magistério, conquistado ao longo de vários anos de luta por parte dos professores estaduais).
— Diante deste contexto, torna-se necessário salientar que o fato de exercer um mandato parlamentar não impede que o escritório Lindenmeyer Advocacia & Associados, que há mais de 20 anos defende o direito dos trabalhadores, em especial professores, tenha posicionamento de aplicação imediata do piso."
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É o cúmulo do fisiologismo. O "nobre" deputado parece interessado em levar vantagem de algo que ele mesmo se mostrou contrário. Como confiar num representante com este tipo de postura. Os professores deveriam repudiar este escritório. O piso nacional, além de direito, é uma justiça para com uma das profissões mais importantes do mundo. O Japão que o diga.
quarta-feira, 21 de março de 2012
BAIXA REMUNERAÇÃO ASSUSTA
CARREIRAS - ENSINAR A APRENDER. Administração escolar e atuação em empresas são opções na Pedagogia. GABRIELLE BITTELBRUN, ZERO HORA 21/03/2012
Nem todas as redes de informação do mundo moderno juntas substituem os ensinamentos desse profissional. O pedagogo pode passar por todo o processo de aprendizagem das pessoas, desde o momento em que se pega o lápis pela primeira vez até quando se precisa trabalhar melhor em grupo dentro de uma empresa.
A faculdade de Pedagogia tem duração mínima de quatro anos. Entre as disciplinas do curso estão metodologias de ensino, comportamento das diferentes fases da vida e história da pedagogia, que se somam a estágios obrigatórios.
Para fazer o curso, o mais importante, segundo a pedagoga e psicopedagoga Priscila Leonel Pasqualini, é querer passar o conhecimento para as outras pessoas. Ter afinidade com crianças e adolescentes também ajuda, mas não é fundamental, já que há outras opções, como a administração de escolas e o trabalho para se avaliar as equipes de uma empresa.
A pedagoga destaca como uma das dificuldades encontradas pelos profissionais a baixa remuneração.
– O que atrapalha é a questão política. Enquanto não se tiver entendimento de que vai ser melhor para o mundo a formação das pessoas e que a formação das pessoas vêm pelo professor, os profissionais terão de continuar lutando pelo aumento do piso – opina.
Por outro lado, ela acredita que ainda é a pedagogia que propicia as recompensas mais valiosas.
– O maior retorno é quando você auxilia a criança, adolescente ou adulto a adquirir o conhecimento, conversa e vê como a pessoa melhorou com isso – destaca Priscila.
Proximidade com os alunos
Enquanto caminha pelos corredores do Colégio Província de São Pedro, em Porto Alegre, Magali Lima Moraes responde “oi” a toda hora. Ao saírem de suas salas de aula para o recreio, as crianças a reconhecem e abrem sorrisos. Ela conhece todos pelo nome, afinal, trabalha há 30 anos na escola e ocupa atualmente a função de coordenadora pedagógica dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Magali fez Magistério e começou sua carreira como professora na Educação Infantil. Mais tarde, cursou Pedagogia com ênfase em supervisão escolar. Ao entrar na coordenação, passou a orientar os docentes nas aulas e a realizar treinamentos. Além disso, atua no acompanhamento pedagógico dos alunos, em um atendimento personalizado.
– É bacana porque tem toda uma história. Não é só trabalho, faz parte da minha vida, tanto que tive três filhas e uma delas já trabalha como professora aqui na escola – conta Magali, que é mestre em Educação e tem 49 anos.
No Província, ela é colega de trabalho da também pedagoga Márcia Dimer, 49 anos. As duas se conhecem desde o jardim de infância e passaram pelo Magistério e pela faculdade juntas. Márcia acabou escolhendo outra ênfase: orientação educacional.
– Damos apoio ao aluno que está com alguma dificuldade. Para os mais novos, ajudamos na adaptação, por exemplo. Para os mais velhos, organizamos palestras sobre as profissões – explica.
Mercado de trabalho - A área tem crescido bastante, o que facilita para conseguir emprego. Além de dar aula, há a opção de trabalhar no corpo administrativo das escolas, como coordenadores, na orientação pedagógica, em supervisão. A área empresarial também está crescendo bastante, com consultorias variadas, conforme os objetivos das empresas. Por problemas de remuneração, poucos estudantes têm investido na profissão.
Do que é preciso gostar - É importante querer compartilhar o conhecimento com as outras pessoas. Também é interessante ter afinidade com crianças e adolescentes, porque a habilitação inicial é para Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental. Se a pessoa não tiver pós-graduação, terá de atuar nesse mercado. É preciso buscar leituras e novos conhecimentos.
O que é mais difícil - A remuneração e o estabelecimento de um piso salarial para o magistério estão entre as dificuldades.
Outro desafio é lidar com as questões sociais. As famílias acreditam que a escola tem obrigação de educar, quando, na verdade, a escola tem obrigação de reforçar a educação vinda de casa. Os professores têm de fortificar a base e os valores vindos da própria família e agregar conhecimento para o aluno viver no mundo.
Salário - Um recém-formado pode ganhar em torno de R$ 1,2 mil mensais, mas o valor dependerá do quanto ele trabalhará semanalmente e da instituição em que atuará.
Nem todas as redes de informação do mundo moderno juntas substituem os ensinamentos desse profissional. O pedagogo pode passar por todo o processo de aprendizagem das pessoas, desde o momento em que se pega o lápis pela primeira vez até quando se precisa trabalhar melhor em grupo dentro de uma empresa.
A faculdade de Pedagogia tem duração mínima de quatro anos. Entre as disciplinas do curso estão metodologias de ensino, comportamento das diferentes fases da vida e história da pedagogia, que se somam a estágios obrigatórios.
Para fazer o curso, o mais importante, segundo a pedagoga e psicopedagoga Priscila Leonel Pasqualini, é querer passar o conhecimento para as outras pessoas. Ter afinidade com crianças e adolescentes também ajuda, mas não é fundamental, já que há outras opções, como a administração de escolas e o trabalho para se avaliar as equipes de uma empresa.
A pedagoga destaca como uma das dificuldades encontradas pelos profissionais a baixa remuneração.
– O que atrapalha é a questão política. Enquanto não se tiver entendimento de que vai ser melhor para o mundo a formação das pessoas e que a formação das pessoas vêm pelo professor, os profissionais terão de continuar lutando pelo aumento do piso – opina.
Por outro lado, ela acredita que ainda é a pedagogia que propicia as recompensas mais valiosas.
– O maior retorno é quando você auxilia a criança, adolescente ou adulto a adquirir o conhecimento, conversa e vê como a pessoa melhorou com isso – destaca Priscila.
Proximidade com os alunos
Enquanto caminha pelos corredores do Colégio Província de São Pedro, em Porto Alegre, Magali Lima Moraes responde “oi” a toda hora. Ao saírem de suas salas de aula para o recreio, as crianças a reconhecem e abrem sorrisos. Ela conhece todos pelo nome, afinal, trabalha há 30 anos na escola e ocupa atualmente a função de coordenadora pedagógica dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Magali fez Magistério e começou sua carreira como professora na Educação Infantil. Mais tarde, cursou Pedagogia com ênfase em supervisão escolar. Ao entrar na coordenação, passou a orientar os docentes nas aulas e a realizar treinamentos. Além disso, atua no acompanhamento pedagógico dos alunos, em um atendimento personalizado.
– É bacana porque tem toda uma história. Não é só trabalho, faz parte da minha vida, tanto que tive três filhas e uma delas já trabalha como professora aqui na escola – conta Magali, que é mestre em Educação e tem 49 anos.
No Província, ela é colega de trabalho da também pedagoga Márcia Dimer, 49 anos. As duas se conhecem desde o jardim de infância e passaram pelo Magistério e pela faculdade juntas. Márcia acabou escolhendo outra ênfase: orientação educacional.
– Damos apoio ao aluno que está com alguma dificuldade. Para os mais novos, ajudamos na adaptação, por exemplo. Para os mais velhos, organizamos palestras sobre as profissões – explica.
Mercado de trabalho - A área tem crescido bastante, o que facilita para conseguir emprego. Além de dar aula, há a opção de trabalhar no corpo administrativo das escolas, como coordenadores, na orientação pedagógica, em supervisão. A área empresarial também está crescendo bastante, com consultorias variadas, conforme os objetivos das empresas. Por problemas de remuneração, poucos estudantes têm investido na profissão.
Do que é preciso gostar - É importante querer compartilhar o conhecimento com as outras pessoas. Também é interessante ter afinidade com crianças e adolescentes, porque a habilitação inicial é para Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental. Se a pessoa não tiver pós-graduação, terá de atuar nesse mercado. É preciso buscar leituras e novos conhecimentos.
O que é mais difícil - A remuneração e o estabelecimento de um piso salarial para o magistério estão entre as dificuldades.
Outro desafio é lidar com as questões sociais. As famílias acreditam que a escola tem obrigação de educar, quando, na verdade, a escola tem obrigação de reforçar a educação vinda de casa. Os professores têm de fortificar a base e os valores vindos da própria família e agregar conhecimento para o aluno viver no mundo.
Salário - Um recém-formado pode ganhar em torno de R$ 1,2 mil mensais, mas o valor dependerá do quanto ele trabalhará semanalmente e da instituição em que atuará.
REAJUSTE SEM PISO SOB VAIAS
SEM PISO COM REAJUSTE. Protestos, vaias e 23,5% de aumento. Após sessão arrastada e tensa, com galerias lotadas de sindicalistas, o Piratini aprovou projeto que concede reajuste a professores, rechaçado pelo Cpers. CARLOS ROLLSING, ZERO HORA 21/03/2012
Em uma sessão tumultuada, foi aprovado ontem na Assembleia o projeto que concede reajuste de 23,5% ao magistério estadual em três parcelas: a primeira em maio, a segunda em novembro e a última em fevereiro de 2013.
O clima hostil imperou no plenário, onde deputados de situação, de oposição e militantes do Cpers – que povoavam as galerias do Legislativo – passaram mais de cinco horas trocando ofensas.
Algumas tentativas de acordo entre o Piratini e o Cpers foram articuladas no começo da tarde, mas não houve avanço. Os sindicalistas pediam o pagamento dos 23,5% em apenas uma parcela, no próximo mês de maio. Na contraproposta, o governo acenou com a aceitação da ideia de liquidação da correção em uma vez, desde que isso fosse feito em novembro. Sem a concordância do Cpers, o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, anunciou a manutenção do projeto original, que acabou aprovado.
No transcorrer da sessão, a oposição teve basicamente duas estratégias: pedir insistentemente a verificação de quórum – se 28 deputados governistas não marcassem presença a sessão seria suspensa – e pressionar pela aprovação de uma emenda de autoria do deputado Frederico Antunes (PP), cuja intenção era estabelecer prazo de 60 dias para que o Piratini enviasse à Assembleia um calendário projetando o pagamento do piso de R$ 1.451.
Como nenhuma das duas táticas prosperou – o quórum se manteve acima do mínimo exigido e a emenda foi rejeitada –, restou aos oposicionistas a missão de fustigar o Piratini com críticas que remontavam à campanha do governador Tarso Genro, que prometeu pagar integralmente o piso da categoria.
Cenários dos mais inusitados e contraditórios se cristalizaram na Assembleia. Deputados de PSDB, PMDB e PP, eixo de sustentação do governo Yeda Crusius, à época considerado pelo Cpers como inimigo da educação, foram aplaudidos efusivamente pelos sindicalistas. Aos gritos, Jorge Pozzobom (PSDB) subiu à tribuna e começou disparar condenações veementes ao Piratini. Os sindicalistas gritavam e aplaudiam. Ao dizer que o governador era o “padrasto” da lei do piso – ele assinou o texto original –, Pozzobom aceitou os incentivos da plateia e chamou Tarso de “palhaço”. Depois, voltou ao microfone para se desculpar. Pediu a retirada da declaração dos anais da Assembleia e disse que exagerou.
E assim prosseguiu a sessão, com críticas e mais críticas de oposicionistas. Os aliados eventualmente subiam ao púlpito para defender a proposta do governo, enfrentando as vaias dos sindicalistas, que, em alguns momentos, chegaram a lançar objetos em direção ao plenário. A atitude foi denunciada pelo presidente do Legislativo, Alexandre Postal (PMDB), que ameaçou retirar os manifestantes das galerias.
– Isso é estelionato eleitoral. Tarso prometeu em campanha pagar o piso – atacou Lucas Redecker (PSDB).
A base aliada do governo, apesar dos ataques sofridos, manteve-se inabalável, defendendo a tese de que se tratava de um “reajuste histórico”.
– Prefiro ser vaiado por um reajuste de 23,5% do que ser vaiado por acabar com a educação, como a oposição fez quando estava no Piratini – rebateu Valdeci Oliveira (PT), líder do governo, que constantemente foi chamado perlo Cpers de traidor e de outros adjetivos impublicáveis.
No final, os deputados aliados aprovaram o reajuste por 29 votos e nenhum contrário. A oposição, para não rejeitar um aumento de salário, preferiu se retirar do plenário.
CMPA - UM SÉCULO DE SUCESSO EDUCACIONAL
Parabéns a você...Conhecido por formar presidentes, Colégio Militar de Porto Alegre completa cem anos de história. Aniversariante, escola formou alunos que ocuparam o mais alto cargo público do país. HUMBERTO TREZZI, ZERO HORA, 21/03/2012 | 03h54
Quem adentra nos imponentes recintos do Colégio Militar de Porto Alegre depara com letreiros postados no segundo andar do prédio: CMPA – Colégio dos Presidentes.
Nenhum exagero. A escola formou cinco presidentes da República e na quinta-feira completa cem anos de existência com uma tradição que poderia forjar outro slogan: é também a escola gaúcha que mais aprova candidatos no vestibular.
Dos seus formandos, 64,7% foram aprovados no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2012. Parte do segredo talvez esteja na qualidade dos docentes. Dos 111 professores, 60% têm mestrado ou doutorado.
O que poucos sabem é que a tradição de forjar presidentes – e bons alunos – vem desde o início. Mais precisamente, do berço. A primeira turma de 80 alunos, que ingressaram em 1912, já incluiu dois homens que viriam a ser presidentes do Brasil: Humberto de Alencar Castelo Branco e Arthur da Costa e Silva, ambos marechais do Exército.
Fazia também parte desses alunos pioneiros um terceiro militar, o também marechal Amaury Kruel, que se tornaria ministro da Guerra (comandante das Forças Armadas).
Na parede da secretaria do CMPA é possível ver um retrato desses pioneiros de 1912, com uniforme branco e boné azul de copa alta, similar aos usados no Exército naquela época. Entre eles, Castelo, Kruel e Costa e Silva. Posteriormente, estudaram lá outros militares que viriam a ser presidentes, como Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo.
Num século marcado por guerras, natural que vários presidentes tenham sido militares e estudado em instituições do gênero. O CMPA é o segundo colégio mais antigo do gênero, no Brasil. Perde em antiguidade, apenas, para o do Rio de Janeiro, fundado em 1889, com a República.
O século 20 terminou, os tempos são outros, e o Colégio Militar também mudou. Desde 1989, por exemplo, aceita meninas. Hoje, dos 1.100 alunos, 43% são do sexo feminino. O ingresso se dá no 6º ano do Ensino Fundamental ou no 1º ano do Ensino Médio. E a procura é tanta que surgiram até cursinhos para os interessados.
O que pensam os novos alunos?
Os novos alunos já têm uma opinião diante de tanta tradição uniformizada? É preciso dizer que o colégio que nasceu para formar oficiais hoje é um berçário de profissionais de todas as áreas. Mas a farda ainda soa atrativa para muitos. Zero Hora fez uma enquete, ontem, com os 80 alunos das turmas iniciantes do CMPA. Quase a metade quer mesmo seguir carreira militar – pelo menos é o que dizem, na flor dos seus 11 anos de idade. É o caso de Larissa Cristina Flores, filha do sargento Paulo, da Força Aérea Brasileira (FAB). Ela quer ser médica – da Aeronáutica, como o pai.
E presidente? Alguém pensa em ser mandatário do país, como ocorreu com seus colegas de um século atrás? Pelo menos 10 alunos que começaram aulas em 2012 levantaram a mão. Os três mais entusiasmados fazem questão de dizer o porquê. Leia abaixo:
Alguns eventos
- Até o dia 26/03 – Intercâmbio com Instituto dos Pupilos do Exército de Portugal
- Amanhã – Às18h, Culto Ecumênico no pátio do Colégio Militar. Às 19h, Lançamento do Selo e Carimbo dos Correios, também na escola. Às 20h, solenidade militar de aniversário do CMPA
- Dia 23/03 – Às 17h, Sessão Solene na Câmara de Vereadores
- Dia 24/03 – Baile do Centenário, no Grêmio Náutico União
- Dia 28/03 – Às 7h30min, Formatura Geral
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Um século de educação pública e gratuita ensinando princípios básicos de respeito mútuo, disciplina, ética, cidadania e civismo que está em falta nas demais escolas públicas deste país. Um exemplo de excelência que é seguido pelo Colégio Tiradentes da BM. Parabéns à comunidade escolar do CMPA.
terça-feira, 20 de março de 2012
LEI ILEGAL
JUREMIR MACHADO DA SILVA, CORREIO DO POVO, 20/03/2012
O Supremo Tribunal Federal decidiu que a lei do Piso nacional do magistério é constitucional. São favas contadas. Decisão de Justiça não se discute. Cumpre-se. Também não se discute mais o sexo dos anjos. Aceita-se. Pode, então, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovar um reajuste do magistério abaixo do estabelecido por lei federal? Depois do Executivo gaúcho, o Legislativo está disposto a cair na ilegalidade. Quem vai julgar isso? O Judiciário, por suposto. Com que moral poderia o Judiciário, que se autoconcede auxílio-moradia espetacular, validar algo, com base em alguma interpretação alternativa, que altere o direito adquirido pelos professores? Por aí não vai. O Judiciário já mandou o Executivo pagar o que deve ao magistério.
O índice de reajuste dificilmente mudará em 2012, ano de eleições capitais. O passivo vai crescer. Deveria o valor final ser acrescentado aos gastos de campanha dos partidos governistas? Perguntas que não querem calar: como foi possível aprovar uma lei do Piso com um índice de reajuste que, em princípio, não se pode pagar? Por que alguém inseriu esse índice, o custo-aluno Fundeb, no texto da lei? Por que o presidente Lula não vetou? Ganha um cargo no décimo escalão do governo quem errar a resposta: interesses eleitoreiros. O governador Tarso Genro, mentor da excelente ideia de um Piso nacional para o magistério, ainda está em tempo de melhorar a sua já excelente biografia, tornando-se um paladino do pagamento do Piso. Em vez de dizer não, deveria abraçar a causa dos professores e tornar-se o principal instrumento de pressão junto ao governo federal em busca de mais recursos. É só reduzir o desembolso mensal com a União.
Por enquanto, tem razão o Cpers: o governo oferece com pompa e circunstância para 2014 o que deveria pagar humildemente hoje. Não é aumento. É redução de salário. A causa dos professores é legal e moralmente justa. Pedir a esses guerreiros que abram mão do pouco que conseguiram, enquanto os magistrados e os parlamentares aferram-se aos seus direitos, é covardia. Quem é radical? Quem quer que a lei seja cumprida ou quem deseja descumpri-la? Fico imaginando o drama do governador Tarso Genro, homem justo, probo, intelectualmente sofisticado e político sério. Está embretado. Só a mídia e a opinião conservadoras podem apoiá-lo nesta guerra ímpia. Por outro lado, tenho de decepcionar os professores: o índice de reajuste pelo custo-aluno Fundeb é insustentável a longo prazo. Que estado poderá bancar 16% de aumento anual acima da inflação? É uma excelente política de curto prazo para corrigir os defasados salários do magistério. Depois, quebra todo mundo. Ou o custo-aluno Fundeb vai parar de galopar fogoso na frente da inflação?
O governador está num mato sem cachorro. Só tem três saídas: buscar ajuda federal, pagar o Piso imediatamente e trabalhar pela pronta mudança de índice. O Legislativo gaúcho deveria recusar-se a votar leis ilegais. Ou não?
segunda-feira, 19 de março de 2012
LUTO SIMBÓLICO E SOLITÁRIO
Luto simbólico. Em frente ao Palácio Piratini, professora aposentada protesta contra a desvalorização do magistério. Vestida de preto, segurando uma sineta e um cartaz, Carmen Engel realiza uma manifestação solitária - Eduardo Nunes, zero hora, 19/03/2012 | 14h06
Uma manifestação solitária chamou a atenção de quem passava pela Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, na Capital, na manhã desta segunda feira. Sentada em uma cadeira de praia, vestida de preto, segurando uma sineta e um cartaz com a palavra "Luto", a professora aposentada Carmen Terezinha Gonçalves Engel protestava contra a desvalorização dos profissionais do magistério do Estado.
A aposentada de 78 anos, que passou mais de três décadas lecionando Português e Inglês para alunos da rede estadual, se diz indignada com o modo como os professores vêm sendo tratados por sucessivos governos.
— O governador que nos deu mais atenção foi o Brizola [eleito em 1959]. Depois disso, a gente só vem apanhando. Tem gente inteligente no governo e eu não sei se eles não têm voz ou se não têm vontade — lamenta.
Nascida em Cachoeira do Sul, Carmen lecionou em Cacequi e depois em Porto Alegre, cidade onde se instalou em 1979. Ela diz ter participado, durante décadas, da militância sindical, e ressalta a importância da mobilização dos professores para valorização da categoria.
— Tudo aquilo que a gente conseguiu foi na base da greve — ela afirma, lembrando da ocasião em que, na mesma Praça da Matriz, durante o governo militar, cantou com outros professores o Hino Nacional, diante de uma fila de soldados portando fuzis com baionetas caladas.
O protesto solitário de Carmen parece não ter chamado a atenção do Piratini e da Assembleia Legislativa, mas desperta a curiosidade de transeuntes. A aposentada diz que a todo momento é interpelada por pedestres que param para lhe perguntar a razão do cartaz que diz "Luto" — e afirma que a reação de quase todos, ao ouvir o motivo do protesto, é a mesma:
— Eles dizem que é uma pouca vergonha o que fazem com os professores — ela conta.
Carmen pretende voltar para casa, no bairro Jardim Botânico, apenas no fim da tarde. E promete voltar à praça nesta terça-feira, dia em que deve ser votada na Assembleia a proposta do Piratini para o reajuste do magistério. Dependendo do resultado da votação, diz a aposentada, o seu luto simbólico pode durar muito mais.
ENSINO RURAL TERÁ MAIS ATENÇÃO
EDITORIAL CORREIO DO POVO, 1903/2012
O governo federal está anunciando um conjunto de medidas destinadas a melhorar o ensino nas áreas rurais do país. Trata-se do Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo). O objetivo é fazer com que os números da educação recebida pelos jovens do campo possam se igualar aos da educação recebida pelos alunos nas áreas urbanas. De acordo com levantamentos realizados, na população com mais de 15 anos, o analfabetismo está em 9,6% nas cidades, mas no meio rural esse índice sobe para 23,2%. Do total de adolescentes nessa faixa de idade, apenas 15% estão matriculados e somente 6% das crianças conseguem ser atendidas em creches, um percentual muito baixo.
No projeto educacional do governo para atender a esse segmento diferenciado, estão alinhados diversos itens. Entre eles, constam construção e reforma de escolas, qualificação de professores e criação de grades curriculares e disciplinas relacionadas com o cotidiano dos estudantes que residem na zona rural. Um exemplo disso está na distribuição de material didático específico, diferente do que sempre foi feito. Antes, as mesmas publicações eram remetidas para todas as escolas, sem adaptações.
A criação de uma infraestrutura nas escolas rurais é urgente. Muitas não têm laboratório, biblioteca, luz elétrica, Internet e outros meios facilitadores da apreensão de conteúdos. O próprio quadro de professores, pelo isolamento, tem poucas oportunidades para se qualificar.
Uma educação de qualidade ainda é um objetivo que o país tem que alcançar. Basta ver os sucessivos rankings elaborados pela Organização das Nações Unidas (ONU), nos quais o Brasil figura em posições nada honrosas, atrás de vizinhos de menor porte. Melhorar o ensino nas escolas rurais já será um grande passo para avançar rumo a um aprendizado eficiente.
O governo federal está anunciando um conjunto de medidas destinadas a melhorar o ensino nas áreas rurais do país. Trata-se do Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo). O objetivo é fazer com que os números da educação recebida pelos jovens do campo possam se igualar aos da educação recebida pelos alunos nas áreas urbanas. De acordo com levantamentos realizados, na população com mais de 15 anos, o analfabetismo está em 9,6% nas cidades, mas no meio rural esse índice sobe para 23,2%. Do total de adolescentes nessa faixa de idade, apenas 15% estão matriculados e somente 6% das crianças conseguem ser atendidas em creches, um percentual muito baixo.
No projeto educacional do governo para atender a esse segmento diferenciado, estão alinhados diversos itens. Entre eles, constam construção e reforma de escolas, qualificação de professores e criação de grades curriculares e disciplinas relacionadas com o cotidiano dos estudantes que residem na zona rural. Um exemplo disso está na distribuição de material didático específico, diferente do que sempre foi feito. Antes, as mesmas publicações eram remetidas para todas as escolas, sem adaptações.
A criação de uma infraestrutura nas escolas rurais é urgente. Muitas não têm laboratório, biblioteca, luz elétrica, Internet e outros meios facilitadores da apreensão de conteúdos. O próprio quadro de professores, pelo isolamento, tem poucas oportunidades para se qualificar.
Uma educação de qualidade ainda é um objetivo que o país tem que alcançar. Basta ver os sucessivos rankings elaborados pela Organização das Nações Unidas (ONU), nos quais o Brasil figura em posições nada honrosas, atrás de vizinhos de menor porte. Melhorar o ensino nas escolas rurais já será um grande passo para avançar rumo a um aprendizado eficiente.
domingo, 18 de março de 2012
BRASIL NÃO CONSEGUE IDENTIFICAR SUAS MENTES BRILHANTES
Brasil não tem estrutura para identificar o desenvolvimento de superdotados. Renata Mariz. correio braziliense, 18/03/2012 09:01
Para cada criança ou adolescente superdotado no Brasil, há outras 140 mentes brilhantes anônimas. O número de talentos não identificados e, portanto, desperdiçados no país chega a 1,2 milhão de meninos e meninas — considerando a estimativa mais rigorosa da Organização Mundial da Saúde, de 3% de detentores de altas habilidades em qualquer população analisada.
Reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), entretanto, só existem 9.208 alunos, das redes pública e privada, nas turmas da creche ao ensino médio, incluindo as séries para jovens e adultos. O Distrito Federal se destaca, com a maior proporção de superdotados, cerca de 5% (leia quadro).
“Países que já perceberam que esse capital humano pode ajudá-los a crescer socialmente passaram a investir, alcançando o índice aceito hoje na literatura, de 15% a 20% de alunos altamente capazes. Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão, entre outros, têm políticas sérias”, afirma Maria Cristina Dellou, presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação.
No Brasil, embora haja legislação, programa federal e recursos para trabalhar com os superdotados, faltam professores capacitados para identificar e lapidar os talentosos, na avaliação de Maria Cristina, que é doutora em educação.
Para cada criança ou adolescente superdotado no Brasil, há outras 140 mentes brilhantes anônimas. O número de talentos não identificados e, portanto, desperdiçados no país chega a 1,2 milhão de meninos e meninas — considerando a estimativa mais rigorosa da Organização Mundial da Saúde, de 3% de detentores de altas habilidades em qualquer população analisada.
Reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), entretanto, só existem 9.208 alunos, das redes pública e privada, nas turmas da creche ao ensino médio, incluindo as séries para jovens e adultos. O Distrito Federal se destaca, com a maior proporção de superdotados, cerca de 5% (leia quadro).
“Países que já perceberam que esse capital humano pode ajudá-los a crescer socialmente passaram a investir, alcançando o índice aceito hoje na literatura, de 15% a 20% de alunos altamente capazes. Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão, entre outros, têm políticas sérias”, afirma Maria Cristina Dellou, presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação.
No Brasil, embora haja legislação, programa federal e recursos para trabalhar com os superdotados, faltam professores capacitados para identificar e lapidar os talentosos, na avaliação de Maria Cristina, que é doutora em educação.
sexta-feira, 16 de março de 2012
25 ANOS DE CONFLITO NA EDUCAÇÃO
JOCELIN AZAMBUJA, ADVOGADO, EX-PRESIDENTE DA ACPM-FEDERAÇÃO - ZERO HORA 16/03/2012
Mais uma vez, vemos professores e professoras realizando uma paralisação, estadual e nacional, na luta por um piso salarial e fico a me perguntar: Quantos anos perdidos? Quantas gerações comprometidas por causa de um piso salarial que o magistério até hoje não conquistou de fato?
Recordo-me que em 1986 foi concedido, pelo então governador Jair Soares, um piso salarial de 2,5 salários mínimos, após 60 dias de greve do magistério com apoio dos pais e estudantes. Naquele mesmo ano, foi eleito o governador Pedro Simon.
Em 1987, eu, como presidente da entidade representativa dos pais, a ACPM-Federação, me reuni com o futuro governador Simon em sua casa de praia e posteriormente na sua residência em Porto Alegre, em janeiro e fevereiro, e entre tantas conversas sobre educação lhe fiz um pedido: “Governador, não mexa no piso salarial conquistado pelo magistério, pois, se mexer, a educação, a juventude e o seu governo serão prejudicados”.
Infelizmente, o governador Simon, ao assumir seu mandato, em março, não ouviu os pais e suspendeu o pagamento do piso. Todos os gaúchos que viveram naquela época sabem que passamos anos e anos com greves do magistério.
Passaram-se 25 anos de conflitos, a qualidade da educação decaiu, os mestres desmotivados, gerações de estudantes comprometidas, e todos se perguntam: por quê?
Hoje, o governo federal instituiu um piso salarial proposto pelo então ministro da Educação Tarso Genro. O mesmo que, agora governador do Estado, não quer pagar o piso que propôs.
Que tristes paradoxos, um governador deu o piso, outro tirou, um governador (Antônio Britto) fez mudanças no plano de carreira (que dizem ser o entrave para dar o piso) e o outro governador (Olívio Dutra) desfez algumas mudanças, mas não deu o piso de 2,5 salários para o magistério. Agora, o atual governador não quer dar o piso que ele mesmo criou.
O mais paradoxal é que o piso de 2,5 salários de 25 anos atrás corresponde hoje a R$ 1.550, o piso que o governo federal criou é de R$ 1.451 e o governo estadual quer pagar cerca de R$ 1.260. Que triste conclusão: se tivesse sido mantido desde 1987 o piso salarial, não teríamos vivido 25 anos de conflitos, de consequente queda e prejuízos educacionais. São situações como essa que nos levam, entre outras causas, a ocupar os piores índices do IDH no mundo e os últimos lugares nos indicadores de educação.
Entra governo, sai governo, independentemente de partidos políticos e ideologias, nada muda, todos os anos temos greves e mais greves em que alunos são prejudicados, a educação é comprometida e o futuro da juventude vira uma interrogação. O piso tem que ser pago, chega de greves!
Será que vamos passar mais 25 anos em conflitos, sem reconstruir a educação que o Estado, municípios e o país precisam e a sociedade clama?
quinta-feira, 15 de março de 2012
PISO - MOBILIZAÇÃO NÃO FAZ SURGIR VERBA
PISO DO MAGISTÉRIO. Mobilização não faz surgir verba, diz Azevedo. Segundo o secretário, aulas e horas perdidas serão recuperadas. JORNAL DO COMERCIO, 15/03/2012
Começou ontem e se estende até amanhã a paralisação nacional dos professores de escolas públicas municipais e estaduais. No Rio Grande do Sul, diversas escolas ficaram sem aulas no primeiro dia da manifestação, como o Colégio Júlio de Castilhos, o Instituto de Educação e o Colégio Estadual Florinda Tubino Sampaio. O Cpers/Sindicato, que lidera o movimento, calcula que mais 20 escolas tenham aderido à paralisação na Capital. Já em outras cidades, como Pelotas e Gravataí, a categoria diz que a adesão foi em torno de 90%.
A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) divulgou percentuais menores. De acordo com o levantamento, 27% das escolas estaduais paralisaram totalmente as atividades, e 24% parcialmente. “Nenhuma mobilização vai se transformar em dinheiro. Além disso, todas as aulas e horas perdidas serão recuperadas”, garante o secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo. De acordo com ele, a recomendação é que os pais continuem mandando seus filhos para as aulas, pois há muitos profissionais trabalhando.
No início da semana, o sindicato conseguiu o adiamento da votação do piso estadual, calculado de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) na Assembleia Legislativa. Mesmo com a prorrogação da decisão para a próxima terça-feira, o governo do Estado mantém a proposta de reajuste de 23,5%, em três parcelas. Com esta porcentagem, o piso dos professores chegará em 2014 a R$ 1.260,00, valor inferior ao estipulado pelo governo federal, de R$ 1.451,00, que tem como base para o cálculo o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Segundo o secretário, nunca existiu uma proposta como esta. “Este é o nosso limite”, completou.
Durante estes três dias, a categoria realiza, em todo o País, diversas mobilizações para cobrar o cumprimento do piso nacional do magistério. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) sugere que durante os três dias as atividades nas escolas sejam suspensas, mas cada sindicato está organizando a mobilização de acordo com a pauta de reivindicação local. No Distrito Federal, os professores já estão em greve em função das negociações de reajuste salarial com o governo.
Além de cobrar o cumprimento da Lei do Piso, a paralisação nacional também defende o aumento dos investimentos públicos em educação. A CNTE quer que o Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita na Câmara dos Deputados, inclua em seu texto uma meta de investimento mínimo na área, equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB), a ser atingida em um prazo de dez anos.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Para senadores, deputados, magistrados, procuradores e cargos comissionados não há falta de verbas públicas para pagar salários próximos ao teto e privilégios. Que tipo de "mobilização" ou de pressão eles fazem para conseguir estas verbas facilmente e sem debates?
Começou ontem e se estende até amanhã a paralisação nacional dos professores de escolas públicas municipais e estaduais. No Rio Grande do Sul, diversas escolas ficaram sem aulas no primeiro dia da manifestação, como o Colégio Júlio de Castilhos, o Instituto de Educação e o Colégio Estadual Florinda Tubino Sampaio. O Cpers/Sindicato, que lidera o movimento, calcula que mais 20 escolas tenham aderido à paralisação na Capital. Já em outras cidades, como Pelotas e Gravataí, a categoria diz que a adesão foi em torno de 90%.
A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) divulgou percentuais menores. De acordo com o levantamento, 27% das escolas estaduais paralisaram totalmente as atividades, e 24% parcialmente. “Nenhuma mobilização vai se transformar em dinheiro. Além disso, todas as aulas e horas perdidas serão recuperadas”, garante o secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo. De acordo com ele, a recomendação é que os pais continuem mandando seus filhos para as aulas, pois há muitos profissionais trabalhando.
No início da semana, o sindicato conseguiu o adiamento da votação do piso estadual, calculado de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) na Assembleia Legislativa. Mesmo com a prorrogação da decisão para a próxima terça-feira, o governo do Estado mantém a proposta de reajuste de 23,5%, em três parcelas. Com esta porcentagem, o piso dos professores chegará em 2014 a R$ 1.260,00, valor inferior ao estipulado pelo governo federal, de R$ 1.451,00, que tem como base para o cálculo o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Segundo o secretário, nunca existiu uma proposta como esta. “Este é o nosso limite”, completou.
Durante estes três dias, a categoria realiza, em todo o País, diversas mobilizações para cobrar o cumprimento do piso nacional do magistério. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) sugere que durante os três dias as atividades nas escolas sejam suspensas, mas cada sindicato está organizando a mobilização de acordo com a pauta de reivindicação local. No Distrito Federal, os professores já estão em greve em função das negociações de reajuste salarial com o governo.
Além de cobrar o cumprimento da Lei do Piso, a paralisação nacional também defende o aumento dos investimentos públicos em educação. A CNTE quer que o Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita na Câmara dos Deputados, inclua em seu texto uma meta de investimento mínimo na área, equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB), a ser atingida em um prazo de dez anos.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Para senadores, deputados, magistrados, procuradores e cargos comissionados não há falta de verbas públicas para pagar salários próximos ao teto e privilégios. Que tipo de "mobilização" ou de pressão eles fazem para conseguir estas verbas facilmente e sem debates?
ESCURIDÃO VERBAL
Romério Gaspar Schrammel, professor. Zero Hora 15/03/2012
Os alunos de Sócrates certa vez perguntaram quem é o melhor líder. Se os alunos de Sócrates estivessem entre nós, poderiam, talvez, responder Ricardo Teixeira. Só ele, e outros que têm seu perfil, conseguem convencer pessoas a apoiá-los, ainda que seja para algo incompreensível. Ele conseguia. Outros conseguem também. Mas Sócrates respondeu sem hesitar: o homem que dá um passo à frente quando se faz necessário – motivado não pelo ego ou ganhos financeiros, mas por uma noção de dever para beneficiar a sociedade a qual pertence –, depois, terminada a tarefa, ele volta para a sua vida de antes, não mais rico do que quando começou.
Quantos hoje dariam um passo à frente num momento de crise para servir à sua empresa ou à nação e depois, terminado o trabalho, partiriam não mais ricos materialmente do que começaram? As pessoas de espírito público que serviram na administração de Franklin Delano Roosevelt recebendo um salário simbólico para ajudar o país a sobreviver durante a II Guerra Mundial são raras na nossa sociedade.
Xenofontes, um jovem estudioso com uns 20 anos e aluno de Sócrates, foi esse tipo de líder altruísta. Ele se apresentou numa época de crise para assumir o comando de um exército desanimado de gregos mercenários presos no meio de um Império Persa hostil e resignados a morrer. A boa liderança requer mais do que desejo altruísta de ajudar defendido por Sócrates. Bons líderes são sensíveis às constantes flutuações que ocorrem quando se tenta fazer as coisas funcionarem.
Ricardo Teixeira, acredito, está mais para Alexandre, o Grande. Tem convicção de que um homem competente e determinado pode inspirar e dirigir outras pessoas para realizar qualquer coisa que invente. Paga o preço que for necessário para alcançar a sua meta.
A verdadeira história de Alexandre, assim como os Ricardos Teixeiras, é um trágico exemplo do que acontece quando um poder excessivo concentra-se em mãos sem força suficiente para usá-lo de forma construtiva ou com sabedoria. Ele não só destruiu a si como levou consigo toda uma legião que acreditava que o sucesso dele era a confirmação da sua superioridade cultural sobre o resto da humanidade.
Alexandre, assim como os Ricardos Teixeiras, é uma advertência para os líderes de hoje. O sucesso, não só no mundo corporativo, mas no da política, do entretenimento e dos esportes profissionais, pode com frequência terminar em tragédia pessoal e fracasso. O sucesso pode minar as melhores realizações dos líderes mais brilhantes se a eles faltarem o autocontrole e a disciplina para permanecerem focados no que é importante e conservando o seu sucesso em perspectiva.
Líderes muitas vezes tendem a confiar em seus instintos e habilidades, em vez de se basearem em informações e análises objetivas para conduzir os negócios. Seduzidos pelo seu sucesso e os constantes elogios daqueles que os cercam, passam a acreditar que só eles sabem o que é melhor. Eles param de procurar, ouvir, aprender. Tornam-se rígidos, autoritários e não estão mais receptivos ao feedback de subordinados em suas próprias organizações. Quando isso acontece, uma versão corporativa do enrijecimento das artérias manifesta-se, o fluxo de ideias novas até o topo corre mais lento, e o fim em geral está próximo.
Os alunos de Sócrates certa vez perguntaram quem é o melhor líder. Se os alunos de Sócrates estivessem entre nós, poderiam, talvez, responder Ricardo Teixeira. Só ele, e outros que têm seu perfil, conseguem convencer pessoas a apoiá-los, ainda que seja para algo incompreensível. Ele conseguia. Outros conseguem também. Mas Sócrates respondeu sem hesitar: o homem que dá um passo à frente quando se faz necessário – motivado não pelo ego ou ganhos financeiros, mas por uma noção de dever para beneficiar a sociedade a qual pertence –, depois, terminada a tarefa, ele volta para a sua vida de antes, não mais rico do que quando começou.
Quantos hoje dariam um passo à frente num momento de crise para servir à sua empresa ou à nação e depois, terminado o trabalho, partiriam não mais ricos materialmente do que começaram? As pessoas de espírito público que serviram na administração de Franklin Delano Roosevelt recebendo um salário simbólico para ajudar o país a sobreviver durante a II Guerra Mundial são raras na nossa sociedade.
Xenofontes, um jovem estudioso com uns 20 anos e aluno de Sócrates, foi esse tipo de líder altruísta. Ele se apresentou numa época de crise para assumir o comando de um exército desanimado de gregos mercenários presos no meio de um Império Persa hostil e resignados a morrer. A boa liderança requer mais do que desejo altruísta de ajudar defendido por Sócrates. Bons líderes são sensíveis às constantes flutuações que ocorrem quando se tenta fazer as coisas funcionarem.
Ricardo Teixeira, acredito, está mais para Alexandre, o Grande. Tem convicção de que um homem competente e determinado pode inspirar e dirigir outras pessoas para realizar qualquer coisa que invente. Paga o preço que for necessário para alcançar a sua meta.
A verdadeira história de Alexandre, assim como os Ricardos Teixeiras, é um trágico exemplo do que acontece quando um poder excessivo concentra-se em mãos sem força suficiente para usá-lo de forma construtiva ou com sabedoria. Ele não só destruiu a si como levou consigo toda uma legião que acreditava que o sucesso dele era a confirmação da sua superioridade cultural sobre o resto da humanidade.
Alexandre, assim como os Ricardos Teixeiras, é uma advertência para os líderes de hoje. O sucesso, não só no mundo corporativo, mas no da política, do entretenimento e dos esportes profissionais, pode com frequência terminar em tragédia pessoal e fracasso. O sucesso pode minar as melhores realizações dos líderes mais brilhantes se a eles faltarem o autocontrole e a disciplina para permanecerem focados no que é importante e conservando o seu sucesso em perspectiva.
Líderes muitas vezes tendem a confiar em seus instintos e habilidades, em vez de se basearem em informações e análises objetivas para conduzir os negócios. Seduzidos pelo seu sucesso e os constantes elogios daqueles que os cercam, passam a acreditar que só eles sabem o que é melhor. Eles param de procurar, ouvir, aprender. Tornam-se rígidos, autoritários e não estão mais receptivos ao feedback de subordinados em suas próprias organizações. Quando isso acontece, uma versão corporativa do enrijecimento das artérias manifesta-se, o fluxo de ideias novas até o topo corre mais lento, e o fim em geral está próximo.
O PISO DOS PROFESSORES
EDITORIAL ZERO HORA 15/03/2012
Professores da rede pública de ensino estão mobilizados até amanhã pelo pagamento imediato do Piso Nacional do Magistério, votado pelo Congresso Nacional em 2008 e considerado legal pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado. Nos cálculos da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, que convocou o protesto, nada menos de 17 Estados, incluindo os da Região Sul, não pagam o piso. Os professores, obviamente, precisam ser melhor remunerados, e o ministro Aloizio Mercadante, que elevou o valor para R$ 1.451, reajustando-o em 22,22%, cumpre o seu papel ao defender o pagamento. Ainda assim, é importante discernir com objetividade – e de imediato – quais unidades da federação podem realmente pagar esse valor sem comprometer ainda mais suas finanças e quais precisarão de algum tipo de ajuda federal.
Há quatro anos, quando a lei instituindo o piso entrou em vigor, entidades representativas dos Estados e municípios alegaram ser impossível arcar com o valor por absoluta insuficiência de recursos financeiros. Tanto o ex-ministro da Educação Tarso Genro quanto o atual, Aloizio Mercadante, comprometeram-se em auxiliar governantes estaduais e municipais às voltas com dificuldades de caixa. Até hoje, a ajuda não se concretizou.
Em consequência do impacto do reajuste, um grupo de 10 governadores e representantes da Confederação Nacional de Municípios (CNM) recorreu a Brasília alegando não ter como pagar o piso e pressionando por uma mudança no cálculo do reajuste. Alguns Estados, como é o caso do Rio Grande do Sul, prometem inclusive recorrer à Justiça para mudar a correção.
Inegavelmente, os professores merecem o que estão pleiteando, mas, em muitos casos, precisam abrir mão de planos de carreira obsoletos e se adaptar a modernos métodos de gestão, incluindo-se aí a meritocracia. O que não pode persistir é uma situação crônica, na qual a insatisfação dos professores transborda para constantes paralisações, com prejuízos particularmente para alunos da escola pública, que acabam arcando com a descontinuidade em seu processo de aprendizagem.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Se a lei instituindo o piso entrou em vigor faz quatro anos, não teriam os professores, assim como os magistrados em relação ao auxílio-moradia, direito ao pagamento autônomo de equivalência deste atraso? Corrigido?
Professores da rede pública de ensino estão mobilizados até amanhã pelo pagamento imediato do Piso Nacional do Magistério, votado pelo Congresso Nacional em 2008 e considerado legal pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado. Nos cálculos da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, que convocou o protesto, nada menos de 17 Estados, incluindo os da Região Sul, não pagam o piso. Os professores, obviamente, precisam ser melhor remunerados, e o ministro Aloizio Mercadante, que elevou o valor para R$ 1.451, reajustando-o em 22,22%, cumpre o seu papel ao defender o pagamento. Ainda assim, é importante discernir com objetividade – e de imediato – quais unidades da federação podem realmente pagar esse valor sem comprometer ainda mais suas finanças e quais precisarão de algum tipo de ajuda federal.
Há quatro anos, quando a lei instituindo o piso entrou em vigor, entidades representativas dos Estados e municípios alegaram ser impossível arcar com o valor por absoluta insuficiência de recursos financeiros. Tanto o ex-ministro da Educação Tarso Genro quanto o atual, Aloizio Mercadante, comprometeram-se em auxiliar governantes estaduais e municipais às voltas com dificuldades de caixa. Até hoje, a ajuda não se concretizou.
Em consequência do impacto do reajuste, um grupo de 10 governadores e representantes da Confederação Nacional de Municípios (CNM) recorreu a Brasília alegando não ter como pagar o piso e pressionando por uma mudança no cálculo do reajuste. Alguns Estados, como é o caso do Rio Grande do Sul, prometem inclusive recorrer à Justiça para mudar a correção.
Inegavelmente, os professores merecem o que estão pleiteando, mas, em muitos casos, precisam abrir mão de planos de carreira obsoletos e se adaptar a modernos métodos de gestão, incluindo-se aí a meritocracia. O que não pode persistir é uma situação crônica, na qual a insatisfação dos professores transborda para constantes paralisações, com prejuízos particularmente para alunos da escola pública, que acabam arcando com a descontinuidade em seu processo de aprendizagem.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Se a lei instituindo o piso entrou em vigor faz quatro anos, não teriam os professores, assim como os magistrados em relação ao auxílio-moradia, direito ao pagamento autônomo de equivalência deste atraso? Corrigido?
quarta-feira, 14 de março de 2012
QUADRILHA FRAUDAVA VESTIBULARES DE MEDICINA
OPERAÇÃO ARCANO. PF prende 15 por fraudes em vestibulares - ZERO HORA 14/03/2012
A Polícia Federal prendeu ontem 15 suspeitos de fazer parte de uma quadrilha que por mais de uma década fraudou vestibulares de Medicina de faculdades privadas, aprovando dezenas de alunos por ano. A PF apurou que a quadrilha atuou em pelo menos 13 vestibulares nos Estados de São Paulo, Rio, Mato Grosso do Sul, Piauí e Goiás.
Os estudantes recebiam as respostas por pontos eletrônicos. Uma central em Goiânia (GO) coordenava o trânsito das informações. A quadrilha era dividida em cinco células: corretores, treinadores, pilotos, assistentes e um coordenador. A célula dos corretores era formada por alunos de cursinhos que selecionavam os estudantes e pais interessados em comprar o acesso às respostas. O dinheiro só era pago após a aprovação do estudante.
– Uma vez cooptados, os estudantes passavam pelos treinadores, que ensinavam o uso do ponto eletrônico. No dia da prova, entravam em ação os pilotos, professores de cursinho ou estudantes que, especializados em determinadas matérias, respondiam somente às questões de suas áreas – explicou o delegado Nelson Cerqueira.
Os pilotos repassavam as respostas para a célula dos assistentes, que enviavam os dados à central, em Goiânia, liderada pelo coordenador. De lá, os gabaritos eram montados e repassados via ponto eletrônico, nunca com 100% de acertos para não chamar a atenção.
Nomes dos acusados e das escolas não foram revelados. A polícia tem nomes de “dezenas” de estudantes e pais que pagaram R$ 60 mil pela aprovação e deverão responder por estelionato. As investigações foram comandadas pela PF de Araraquara (SP).
Uma das prisões foi realizada no RS
Segundo Cerqueira, a quadrilha era liderada por um médico de Goiânia. Durante a Operação Arcano foram apreendidos computadores, documentos, agendas, equipamentos eletrônicos e dois revólveres. As prisões foram feitas em São Paulo, Bahia, Tocantins, Pará, Goiás e uma no Rio Grande do Sul.
O próximo passo é levantar informações contidas nos materiais apreendidos. Com eles, a PF espera identificar os clientes da quadrilha. De acordo com o delegado, como os acusados colaboraram, e as investigações devem demorar mais que os 10 dias de prazo da prisão temporária, a PF optou por liberá-los após os depoimentos.
A Polícia Federal prendeu ontem 15 suspeitos de fazer parte de uma quadrilha que por mais de uma década fraudou vestibulares de Medicina de faculdades privadas, aprovando dezenas de alunos por ano. A PF apurou que a quadrilha atuou em pelo menos 13 vestibulares nos Estados de São Paulo, Rio, Mato Grosso do Sul, Piauí e Goiás.
Os estudantes recebiam as respostas por pontos eletrônicos. Uma central em Goiânia (GO) coordenava o trânsito das informações. A quadrilha era dividida em cinco células: corretores, treinadores, pilotos, assistentes e um coordenador. A célula dos corretores era formada por alunos de cursinhos que selecionavam os estudantes e pais interessados em comprar o acesso às respostas. O dinheiro só era pago após a aprovação do estudante.
– Uma vez cooptados, os estudantes passavam pelos treinadores, que ensinavam o uso do ponto eletrônico. No dia da prova, entravam em ação os pilotos, professores de cursinho ou estudantes que, especializados em determinadas matérias, respondiam somente às questões de suas áreas – explicou o delegado Nelson Cerqueira.
Os pilotos repassavam as respostas para a célula dos assistentes, que enviavam os dados à central, em Goiânia, liderada pelo coordenador. De lá, os gabaritos eram montados e repassados via ponto eletrônico, nunca com 100% de acertos para não chamar a atenção.
Nomes dos acusados e das escolas não foram revelados. A polícia tem nomes de “dezenas” de estudantes e pais que pagaram R$ 60 mil pela aprovação e deverão responder por estelionato. As investigações foram comandadas pela PF de Araraquara (SP).
Uma das prisões foi realizada no RS
Segundo Cerqueira, a quadrilha era liderada por um médico de Goiânia. Durante a Operação Arcano foram apreendidos computadores, documentos, agendas, equipamentos eletrônicos e dois revólveres. As prisões foram feitas em São Paulo, Bahia, Tocantins, Pará, Goiás e uma no Rio Grande do Sul.
O próximo passo é levantar informações contidas nos materiais apreendidos. Com eles, a PF espera identificar os clientes da quadrilha. De acordo com o delegado, como os acusados colaboraram, e as investigações devem demorar mais que os 10 dias de prazo da prisão temporária, a PF optou por liberá-los após os depoimentos.
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