EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

OS RECADOS DO ENEM


ZERO HORA  28 de novembro de 2013 | N° 17628


EDITORIAIS




Ao liberar os resultados do Enem de 2012, o Ministério da Educação manda um recado claro aos operadores do Ensino Médio, governos, prefeituras, secretarias de Educação, diretores de escolas e comunidades: há solução para o mau desempenho e sempre é possível aperfeiçoar o que já está funcionando bem. Mesmo que, numa avaliação geral, o Enem esteja longe de apresentar resultados satisfatórios, há lições relevantes no mural de performances. Um ensinamento é proporcionado por escolas de regiões menos privilegiadas. São esses os casos de dois educandários privados do Piauí que, num ambiente de carências, num Estado pobre, obtiveram notas excepcionais. O Grupo CEV ficou em 19º nas provas objetivas, e o Colégio Lerote obteve a quinta média na redação.

As duas escolas são algumas das ilhas de excelência do país e devem ser copiadas no que têm de melhor. O argumento de que são colégios privados e por isso dispõem naturalmente de melhores condições é derrubado pelo próprio Enem. O melhor desempenho médio nas provas objetivas, em todo o país, é das escolas públicas federais. É o caso do Rio Grande do Sul, com apenas duas escolas na lista das cem que mais pontuaram – e as duas são mantidas pela União. A escola particular gaúcha melhor posicionada aparece em 111º lugar. A performance do Rio Grande do Sul, considerando-se escolas públicas e privadas, é constrangedora, com a repetição do oitavo lugar no ranking geral das provas objetivas. Em redação, o Colégio Cenecista João Batista de Mello, de Lajeado, é o único entre os cem primeiros, na 99ª posição.

O Enem denuncia, de maneira geral, a precariedade do ensino público estadual e municipal em todas as unidades da federação e as particularidades do Rio Grande do Sul. São dados concretos sobre a degradação da educação na etapa mais importante da formação de cidadãos. O lamentável é que esse alerta se repete há muito tempo. O Enem termina sendo a reprovação de todos os que deveriam mudar uma realidade que, todo ano, o exame denuncia.


QUEM DEFENDE A EDUCAÇÃO E OS PROFESSORES?

ZERO HORA 28 de novembro de 2013 | N° 17628


DEBATE MAGISTÉRIO

Raul Pont*


Em novembro, os professores gaúchos receberam reajuste salarial de 6,5%. Com outros dois aumentos previstos para 2014, no acumulado, em um ano, o reajuste será de quase 30%. Se considerarmos os primeiros anos do governo Tarso, o total do quadriênio será 76,6%, um ganho real de mais de 45%.

Essa prática salarial é um exemplo do compromisso na defesa da educação e do magistério gaúcho, apesar da posição sectária da diretoria do Cpers, que se opôs a essas propostas quando os projetos foram votados na Assembleia Legislativa.

O governo que defende os professores e mantém o plano de carreira da categoria não investe só em salários. O gasto em educação, previsto em 35% da Receita Líquida de Impostos e Transferências, vem resgatando sua participação no Orçamento. Isso se expressa na recuperação física das escolas e em modernização tecnológica. No plano pedagógico, o Ensino Médio está em processo de transformação envolvendo os professores e a comunidade escolar no combate à evasão e a repetência.

Outra reivindicação era a retomada das promoções. No último dia 4/11, o governador anunciou o calendário para publicação de 10 anos de promoções, de 2003 a 2013. Serão promovidos 33 mil professores, colocando em dia o passivo deixado por governos anteriores. Da herança de 18 mil contratos temporários, o governo já nomeou 5 mil do primeiro concurso e continuará a nomeação dos 13 mil aprovados no segundo concurso.

Mesmo sem o julgamento do STF da Ação de Inconstitucionalidade que Estados e municípios movem pela mudança do indexador para a correção monetária anual da Lei do Piso Nacional, o governo honra seu compromisso e hoje nenhum professor no RS recebe menos que o valor estabelecido. É evidente o equívoco do Congresso em alterar a lei original do Piso e substituir o INPC por um índice que não mede a inflação, nem custo de vida, e, por isso, se transforma em algo impagável por Estados e municípios.

No Ensino Superior, a Uergs voltou a ter atenção. O orçamento dobrou, o Plano de Cargos e Salários foi implantado e um convênio com a CEEE garante uma sede central definitiva e condizente com um campus universitário.

Infelizmente, o sindicato da categoria encontra-se sob uma direção que não está à altura da luta sindical do magistério. Ausente das conquistas que o governo atual vem garantindo aos professores, a atual diretoria está dominada por um falso esquerdismo economicista que não consegue ir além de bradar um índice, sem capacidade de dialogar, negociar e construir alternativas para o conjunto dos problemas da educação.

*PROFESSOR E DEPUTADO ESTADUAL (PT)

POR UMA EDUCAÇÃO PADRÃO FIFA

ZERO HORA 28 de novembro de 2013 | N° 17628

DEBATE MAGISTÉRIO


Neiva Lazzarotto*



O resultado do Enem preocupa e desafia quem pensa um projeto de nação. E remete a três perguntas: 1) Por que as melhores são aquelas? 2) Esse resultado tem responsável? 3) Quais as alternativas para mudar essa situação?

As escolas públicas federais são as melhor colocadas porque há ali um padrão de qualidade superior ao das estaduais e municipais. Há mais investimento para pesquisa. Há apoio técnico-pedagógico e melhores condições de infraestrutura. Um padrão mínimo!

A frustrante situação geral da educação é resul- tado de escolhas dos governantes. Os indicadores não avançam porque os governos prometem prioridade para a educação, mas priorizam as isenções fiscais bilionárias e a dívida pública. Sequer garantem o piso salarial de R$ 1.567,00, e tentam rebaixar seu indexador! Quando menos, uma necessária carreira de Estado para os educadores; uma “carreira federal” para dar unidade nacional a tão importante profissão. Dilma, Tarso e os demais governadores prometem e não cumprem!

Em terceiro lugar, as alternativas passam por investir muito em educação pública. Agora! Dois estudos do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) embasam essa necessidade e possibilidade.

1 – “...o tamanho da população jovem brasileira nunca foi, e nunca será, tão grande quanto o de hoje, correspondendo a cerca de 50 milhões de pessoas na faixa entre 15 e 29 anos de idade, cerca de 26% de nossa população, proporção muito próxima à média mundial. Na verdade, estes 50 milhões de jovens brasileiros em ação correspondem a um ‘platô populacional’ que começou em 2003 e, por força de mudanças demográficas diversas atuando em direções opostas, prolongará a onda até 2022, em formato de pororoca jovem. Depois (...) o processo refluirá e a população jovem no Brasil cairá a uma velocidade mais alta que a dos demais países, com exceção da China.” (“Juventude que conta”, Marcelo Néri)

2 – A cada R$ 1,00 de PIB investido em educação, o país tem como retorno econômico anual R$ 1,85, enquanto que com a dívida são R$ 0,75 – sendo que a dívida é a prioridade do governo Dilma. Em 2012, será R$ 1,7 trilhão, ou 43,98% do orçamento federal, enquanto para a educação são 3,34%.

Se a educação de qualidade é mais alta prioridade para 85,2% dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos, e os resultados do Enem mostram o RS em queda, o projeto de educação do governo Tarso e a votação do Plano Nacional de Educação (PNE), no Senado, têm que refletir que a hora é agora! Investir 10% do PIB em educação pública. E pensar um projeto de Estado com crescimento econômico e desenvolvimento humano noutros patamares, talvez comece por considerar a ideia de federalização da educação pública como ponto de partida para responder às gigantescas manifestações de junho/julho que clamavam por um “padrão Fifa” para a educação, a saúde, a segurança e os transportes.


*DIRETORA DO CPERS SINDICATO/INTERSINDICAL

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

BULLYING VIRTUAL, QUAL O PAPEL DAS ESCOLAS?

JORNAL DO COMERCIO 25/11/2013


Leticia Batistela


Nos últimos dias, um fato (e, principalmente, a sua consequência) trouxe a discussão sobre a responsabilidade de menores sobre ataques virtuais.

É uma situação complexa, mas vou centralizar sobre o papel das escolas nesta nova realidade. Cabe a ela ser a educadora neste novo ambiente e preparar jovens para esta “realidade virtual” ou apenas mediar conflitos? Cabe ressaltar que muitos destes conflitos originam-se no ambiente escolar. Sim, pois boa parte desses ataques partem de colegas que partilham não só o dia a dia, mas os mesmos amigos, professores e ambientes sociais. Precisamos tratar sem superficialidade esse canhão virtual que pode deixar rastros avassaladores em adolescentes que vivem essa fase tão conturbada, em que muitas vezes ser aceito em um grupo é mais importante do que qualquer outro valor. Uma foto sensual tirada no banheiro do colégio aos 14 anos pode ser facilmente gravada em um dispositivo e usada anos depois quando essa garota estiver disputando um cargo profissional. Todos curtem quando as fotos são expostas. Foi noticiado que uma adolescente tirou a própria vida em razão dessa exposição “curtida”. O que ocorreu? O agressor foi apedrejado pelas próprias pessoas que curtiram as fotos. Esse ultraje não deveria ser demonstrado antes? Ou essa reação é apenas sobre a consequência e não sobre a exposição em si? Posta a crise, como as escolas podem exercer seu papel de educadoras?

As escolas devem trabalhar na conscientização destes jovens, o uso de redes sociais deve ser assistido desde as séries iniciais, mostrando os riscos de uma exposição exagerada e lembrando que os pais são responsáveis jurídicos sobre um menor agressor. Lembro que caso a agressão ocorra no ambiente da escola, esta pode ser responsabilizada. Essa inconsequência deve ser tratada de forma séria, e os jovens, seus pais e seus responsáveis devem ser cientificados das consequências de uma exposição virtual para que essa liberdade não deixe um gosto amargo de arrependimento.

Consultora jurídica no uso da TI


domingo, 24 de novembro de 2013

CULPAR A VÍTIMA É ESCAPISMO

FOLHA.COM 24/11/2013 - 03h30


Rose Neubauer


Nas últimas semanas, foram propostas mudanças equivocadas na educação de São Paulo.


O sistema de progressão continuada baseia-se em dois princípios: o de que a aprendizagem é um processo contínuo e não deve sofrer retrocessos e interrupções; e o de que qualquer aprendizagem não ocorre de forma semelhante em dois humanos.

A escola, distante desses princípios, exigiu tradicionalmente padrões rígidos e homogêneos de desempenho, estimulando o fracasso e o abandono. O desenvolvimento da psicologia e da neurologia e a universalização do ensino levaram a maioria dos países a adotar o sistema de progressão continuada.

O Brasil, na contramão da história, elegeu a reprovação como instrumento de aprendizagem. Durante séculos, apresentamos taxas de reprovação de 40% a 50%, estimulamos a evasão e não escolarizamos nossa população. Somos o campeão de reprovação na América Latina.

Nosso sistema escolar, em vez de educar, aceita a crueldade de reprovar crianças em tenra idade, produz sua baixa estima e marginaliza parcela expressiva da população.

Por que a reprovação é popular? Porque torna o aluno --o elo mais fraco da corrente-- o único culpado pelo não aprendizado, devido a suposta falta de "empenho", "rebeldia", ausência de apoio da família.

Não se questiona se houve incapacidade, ausência ou falta de empenho do professor, e o sistema é absolvido. Reprovar, portanto, é culpar só a vítima, o aluno, pelo fracasso que é da escola e do sistema.

Administradores públicos conhecem os estudos que apontam a reprovação como destituída de resultados positivos. Sabem que os alunos reprovados não melhoram o desempenho, que as crianças mais pobres e as negras são as mais reprovadas e que a repetência aumenta as chances do aluno tornar-se multirrepetente e abandonar a escola. O princípio da continuidade deveria ser cada vez mais respeitado e o ideal era eliminar a reprovação no quarto e/ou quinto ano.

O falso pretexto de que o aumento de uma etapa de reprovação facilita dividir os nove anos em três ciclos e faz uma criança de oito anos ficar mais responsável é destituído de lógica. O governo municipal fez essa proposta porque o prefeito, quando ministro, homologou a não reprovação até o final do terceiro ano escolar. Mas é chocante e inconsistente o governo estadual dar um passo atrás e endossar o argumento. As avaliações mostram melhoria de desempenho ao final das quatro primeiras séries. Qual o sentido de reprovar no terceiro ano?

A mais importante medida para melhorar a qualidade do ensino é a formação de professores. Na última década, o governo federal desestimulou a existência de instituições especializadas. Quando ministro, o atual prefeito foi incapaz de estabelecer critérios de desempenho das instituições formadoras de docentes, de sua responsabilidade.

Outra medida é o reforço escolar sistemático. O governo estadual, quando introduziu a progressão, estabeleceu três horas semanais de reforço, fora do período regular das aulas, e recuperação nas férias. Necessário ao sucesso da progressão, o reforço foi desmantelado na administração Gabriel Chalita. O secretário de Educação atual, ciente dos efeitos, retomou a prática.

Finalmente, é fundamental a presença de professor em sala de aula. Convivemos com a falta de docentes e com número significativo de faltas dos mesmos. O Ministério da Educação nada propôs para atrair docentes nas disciplinas com grande demanda nem para inibir as faltas. Ao contrário, pulverizou o currículo com novas disciplinas sem professores habilitados, piorando a situação.

No âmbito estadual, o bônus-docente por mérito e desempenho dos alunos, introduzido em 2000, buscando evitar faltas, foi a única medida de impacto na década.

Resta a esperança de que a população e os meios de comunicação pressionem as autoridades para os alunos permanecerem na escola. Caso contrário, retornaremos aos trágicos anos 70, em que a maioria das crianças ficava na escola durante 13 anos, com recorrentes reprovações, e a abandonavam longe de completar as oito séries do ensino fundamental.


ROSE NEUBAUER, 68, é professora aposentada da Faculdade de Educação da USP, ex-secretária estadual da Educação de SP (governo Mário Covas) e membro do Conselho Estadual da Educação

terça-feira, 19 de novembro de 2013

ALVO DE LADRÕES

ZERO HORA 19 de novembro de 2013 | N° 17619


Escola sofre o quinto ataque em 45 dias




Os 500 alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Fernando Hoff, no bairro Mate Doce, em Barra do Ribeiro, não puderam sequer entrar nas salas de aula ontem. O colégio foi atacado, provavelmente, por jovens ligados ao tráfico. É o quinto ataque em 45 dias. Dos cinco arrombamentos, este foi considerado o mais grave e o que deu maior prejuízo. Os ladrões chegaram a usar um carrinho de mão para levar o resultado do saque.

Ao chegarem para trabalhar, por volta das 7h de ontem, os funcionários da escola encontraram arrombada a grade que dá acesso aos banheiros. Ao entrarem no prédio, ficaram chocados. As portas das salas foram danificadas, os armários, revirados, e trabalhos dos alunos, destruídos e jogados no chão.

– Os moradores ouviram barulho entre 17h e 23h. Mas o alarme não funciona mais e não soou – lamentou a diretora, Carla Feijó.

Na sala da direção, os criminosos levaram o dinheiro arrecadado em uma rifa e que custearia o passeio de final de ano dos alunos mais carentes. Aparelhos eletrônicos, como um projetor multimídia, foram jogados no chão e quebrados. Documentos dos estudantes foram rasgados.

No piso do refeitório, ficaram as marcas das rodas de um carrinho de mão usado para levar os mantimentos da merenda.

Adolescente já teria sido identificado pela polícia

Pelo menos metade do estoque de leite longa vida foi furtado. No chão, ficaram latas de achocolatado abertas, saquinhos de iogurte, parte bebidos, parte jogados fora. Na mesa usada para o preparo da merenda das crianças, havia restos de bolachas misturadas com cachimbos de crack e pontas de cigarros de maconha. Em outra sala, ficou uma lata de cerveja.

Na despensa, sobrou pouco do estoque de frutas, verduras e legumes. E, ainda por cima, os bandidos defecaram no local.

– Já identificamos o adolescente responsável pelo arrombamento – diz a delegada Karoline Calegari, que responde interinamente pela DP de Barra do Ribeiro.

Ontem, ela solicitou à Justiça a internação do garoto de 17 anos, ex-aluno da instituição e apontado como autor de diversos furtos no Mate Doce, todos para manter o vício em drogas. Ele seria um dos que invadiram a escola no domingo.

À tarde, os 45 professores e funcionários da escola foram até a prefeitura pedir socorro ao secretário de Educação, Cultura e Desporto, Fabiano dos Santos.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A EDUCAÇÃO EM ESCOMBROS


O Estado de S.Paulo 11 de novembro de 2013 | 2h 11


OPINIÃO


Se ainda faltasse alguma prova da crise educacional brasileira, o novo relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre a escassez de pessoal para a construção seria mais que suficiente. Durante muito tempo as construtoras foram uma das principais portas de entrada para o trabalho urbano. Absorviam enormes contingentes de mão de obra de baixa escolaridade e ofereciam ocupação mesmo a analfabetos. Programas de investimento em obras de infraestrutura e em construções habitacionais contribuíam de forma importante para a criação direta e para a manutenção de empregos. Hoje essa porta é muito menos ampla, porque a tecnologia mudou e a atividade requer outro tipo de trabalhador. Mas a política educacional foi incapaz de acompanhar essa mudança e o descompasso é evidenciado, mais uma vez, pela sondagem da CNI.

Mesmo com o ritmo de produção abaixo do esperado, o setor da construção continua encontrando muita dificuldade para contratar mão de obra adequada às suas necessidades. O problema foi apontado por 74% das 424 empresas consultadas na sondagem recém-divulgada. Há dois anos a queixa havia aparecido em 88% das respostas, mas o nível de atividade era bem mais alto e isso se refletia na procura de trabalhadores. Mas o detalhe mais alarmante é outro. A falta de pessoal para as atividades básicas - pedreiros e serventes - foi apontada por 94% das firmas com problemas para preenchimento de quadros. Parcela pouco menor (92%) indicou escassez de funcionários técnicos para ocupações ligadas diretamente à obra.

As indústrias consultadas mencionaram problemas para preenchimento de postos em todos os segmentos e em todos os níveis administrativos. Em relação à gerência, por exemplo, queixas foram apresentadas por 69% das empresas com dificuldades de contratação. De modo geral, os níveis de insatisfação quanto às condições do mercado foram tanto mais altos quanto maior o porte da companhia consultada. A falta de trabalhadores qualificados - a questão mais genérica - foi apontada como problema importante por 81% das empresas grandes, 77% das médias e 64% das pequenas. A média dessas respostas ficou em 74%.

A qualificação de pessoal na própria empresa é a solução mais comum, mas também a aplicação desse remédio está longe de resolver o problema. Alta rotatividade, pouco interesse dos trabalhadores e baixa qualidade da educação básica foram os principais obstáculos apontados pelas companhias consultadas. Mas o terceiro item apontado, a educação básica deficiente, talvez seja a explicação mais provável tanto do desinteresse dos trabalhadores como da rotatividade.

A sondagem do setor da construção complementa com um toque especialmente dramático o cenário mostrado, há poucos dias, na última pesquisa sobre os demais segmentos da indústria. Também neste caso é relevante levar em conta o baixo nível de atividade do setor: mesmo com a lenta recuperação registrada depois de um ano de retração, as empresas continuam com problemas para preencher seus quadros.

Praticamente dois terços das firmas (65%) indicaram dificuldades para encontrar pessoal qualificado. Desse grupo, 81% procuram qualificar os trabalhadores na própria empresa. Mas também neste caso a tarefa é dificultada pela falha da escola. A baixa qualidade da educação básica foi apontada como a maior causa de dificuldade por 49% das empresas com problemas de preenchimento de postos.

Esses dados esclarecem facilmente um paradoxo aparente. Por que - muitas pessoas têm perguntado - as empresas têm evitado demitir, apesar do baixo nível de atividade a partir de 2011? A resposta é evidente. Além dos custos da demissão, os administradores levaram em conta as dificuldades para recompor os quadros.

Durante quase dez anos a administração petista deu prioridade à ampliação do acesso às faculdades, para facilitar a distribuição de diplomas. Quase nenhuma atenção foi dada aos outros níveis. A escassez de mão de obra com a formação mínima é uma das consequências desse erro, ao lado, é claro, da perda de competitividade.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A MELHOR RESPOSTA


ZERO HORA 07 de novembro de 2013 | N° 17607


EDITORIAL



Questionada durante uma hora e seis minutos por profissionais do Grupo RBS ontem pela manhã, no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff falou com franqueza, bom humor e segurança sobre assuntos tão diversos quanto a espionagem norte-americana, as manifestações populares no país e as brincadeiras com sua imagem feitas por atores de televisão e chargistas. Não deixou de responder nem mesmo a perguntas mais irreverentes sobre seus sentimentos e hábitos pessoais, incluindo-se aí a célebre escapada na carona de uma moto pelas ruas de Brasília. Mas a melhor resposta, do ponto de vista do interesse nacional, talvez tenha sido a que deu para a questão da criminalidade, uma das grandes mazelas do país, que não se reduziu com a ascensão social e a retirada da miséria de expressiva camada da população, por meio dos programas de transferência de renda implementados nos últimos governos.

– A nossa arma para enfrentar esse problema é a educação – afirmou a presidente, acrescentando que agora, com os royalties do pré-sal, o país terá recursos para construir creches, pagar adequadamente os professores e qualificar o ensino. Dilma admite que a miséria gera o ambiente adequado para o aumento da criminalidade e garante que o governo tem como meta imediata o resgate de 600 mil brasileiros que nem sequer têm acesso ao Bolsa Família. Mas reconhece, também, que alguns fatores da violência não são resolvidos apenas com o aumento de renda. Por isso, comprometeu-se, o governo vai investir fortemente em educação nos próximos meses, na construção das 6 mil creches prometidas na sua campanha eleitoral, no programa de alfabetização na idade certa e em escolas de tempo integral.

A presidente renovou o seu compromisso com o ensino formal, lembrando que o país precisa gastar recursos para garantir a formação dos seus cidadãos da creche à pós-graduação. “Temos que colocar dinheiro, primeiro, no professor, que ganha pouco e tem sua formação prejudicada.” Disse que só da área de Libra sairão recursos entre R$ 180 bilhões e R$ 220 bilhões para serem investidos em educação nos próximos 10 anos. E que a ideia é investir esse dinheiro na qualificação efetiva do ensino, em creches que propiciem a base para o aprendizado e em escolas de tempo integral com conteúdos produtivos para os ensinos Fundamental e Médio. “Arte e esporte são importantes, mas queremos que as crianças e jovens aprendam português, matemática, ciências e uma língua estrangeira.”

A má colocação do Brasil nos testes internacionais comprova que a educação continua precisando de respostas. Mas o compromisso reafirmado pela presidente durante o Painel RBS Especial de ontem demonstra que, pelo menos, a mais alta autoridade da nação está sintonizada com esta prioridade nacional que se torna a cada dia mais urgente. O entusiasmo da presidente ao falar desse assunto permite acreditar que não se trata apenas de mais um discurso de boas intenções, prática comum entre candidatos a cargos públicos. Educação é a resposta certa para os entraves do desenvolvimento. Educação é a resposta certa para o problema da insegurança. Educação é a resposta certa para o desafio da construção de um país mais próspero e justo.



PAINEL RBS - “Educação é arma contra criminalidade”

DILMA ROUSSEF, PRESIDENTE DO BRASIL.

Cacau Menezes – O que a senhora sabe hoje sobre o Brasil que não sabia antes?

Dilma – Olha, fui ministra. Então, cheguei à Presidência com um nível de conhecimento grande sobre o governo federal e o Brasil. Mesmo tendo esse conhecimento, sabendo como é que funciona, todo dia aprendo alguma coisa sobre a diversidade desse país e sobre as necessidades diferenciadas que ele tem. Sempre soube que há regiões que merecem tratamento diferenciado. São regiões que, por vários motivos, se atrasaram em relação às demais, e a sua população sofre as consequências. Tem o Norte e o Nordeste, no Rio Grande do Sul tinha a Metade Sul. E São Paulo tem regiões extremamente pobres, como o Vale do Ribeira. Em Minas, o Vale do Jequitinhonha. Essas viagens que eu faço são importantíssimas para conhecer esses problemas. Tem muita coisa que aprendi ao longo dos dois últimos anos, principalmente porque a responsabilidade e o fardo passaram a ser meus. Antes, eram do Lula. Eu ajudava, mas quem carregava era ele. Agora me ajudam, mas o fardo é meu. O conhecimento do país aumenta a paixão e a vontade de resolver o problema. Tenho data para entrar e para sair. Nesse período, tenho de cumprir a minha obrigação.

David Coimbra – Nesse tempo do seu governo e do governo Lula, é notório que nunca tanta gente de classe baixa passou para a classe média. Por que a diminuição da miséria não reduziu, em geral, a criminalidade no Brasil?

Dilma – Acredito que existe uma relação, sim. A miséria cria um ambiente para aumentar a criminalidade. Agora, tiramos, em termos de renda, uma parte da população da miséria – uma parte que queremos transformar em todo. Estamos em um processo final de retirada da miséria. O cálculo da ministra de Desenvolvimento Social (Tereza Campello) é de que temos ainda uns 600 mil brasileiros que não acessam o Bolsa Família, por exemplo. Fazemos a busca ativa para poder incluí-los. Para a saída da miséria, vou te falar uma frase que acredito: isso é só um começo. Os fatores que levam as pessoas, principalmente os jovens, a esse ambiente de criminalidade não são simplesmente resolvidos com o aumento da renda mínima. São resolvidos com outras questões, uma delas é a educação. Então, considero que a maior arma que temos a médio prazo para reduzir a criminalidade é a educação, principalmente para jovens e negros. Tem vários programas nesse sentido, a Juventude Viva é um deles.

David – A escola integral também?

Dilma – Acho que não é só. É uma combinação de creche ou pós-graduação. Por que creche? Porque muda as condições de aprendizado da criança ao longo de toda a sua vida. A creche trabalha não só fatores cognitivos como também os não cognitivos. Vai ter uma conferência da ONU sobre os fatores cognitivos, que fazem com que as crianças aprendam mais e melhor. Toda a neurociência mostra isso. Creche não é para a mãe deixar o filho. É para a criança. A alfabetização na idade certa decorre de uma boa creche. Alfabetização na idade certa, creche e mais ensino integral implicam que tenhamos outra forma de introduzir o jovem na sociedade. Por isso, lutamos tanto para que os royalties do petróleo e o Fundo Social fossem uma parte expressiva, esses 75%, para a educação.

Carolina Bahia – A senhora conseguirá alcançar a meta de construir 6 mil creches até o fim de 2014?

Dilma – Vamos ter um pouco mais do que isso, talvez. O presidente Lula contratou, no final do governo, algumas creches, mas quem está executando esse processo somos nós. Tem sido muito demorada a contratação de creches. Para resolver o problema, o MEC resolveu contratar módulos pré-fabricados, que têm a mesma qualidade. Por meio desse fornecimento, vamos conseguir contratar creches com período de construção de quatro meses, o que era antes um ano e meio. Então, iremos contratar 6 mil sem a menor sombra de dúvida.

Rosane de Oliveira – Prefeitos e governadores querem mudar a lei do piso, porque a correção é muita alta. Como se resolve essa equação?

Dilma – Mas eles têm razão. Veja bem, só com o campo de Libra, o que se destina para a educação, teremos algo em torno de R$ 600 bilhões em 35 anos. Com os royalties existentes, tem aí algo entre R$ 180 bilhões e R$ 220 bilhões em 10 anos. Terá de ter recurso. A melhor coisa será transformar essa riqueza finita em riqueza perene.

David – E quando acabar a riqueza do petróleo, o que o país fará?

Dilma – Quando acabar a riqueza do petróleo deste campo de Libra, terá outros. É o que supomos. E isso será nos próximos 50 anos. E o que significa isso? Este país ficou rico. E, se ele ficou rico, terá dinheiro necessariamente, porque o petróleo não é nossa riqueza única. Por isso, no caso do petróleo, exigimos que tenha estaleiro aqui, que se produza navio aqui. Por isso, queremos que façam todos os equipamentos aqui. Terá uma indústria, e ela poderá exportar. Estaremos ricos, porque precisamos ficar ricos antes de ficar velhos. O Brasil precisa aproveitar este momento em que a população ativa é maior do que a inativa.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Parece oratória e promessa da campanha. Até agora, o que se vê em vários governos que passaram e hoje governam é um descaso por parte dos Poderes na normatização, execução e aplicação de serviços de interesse público envolvendo o futuro dos jovens (educação), a vida das pessoas (saúde e segurança) e o patrimônio e bem-estar da população (segurança pública). Nestas áreas, poucos recursos são alocados, verbas insuficientes, potencial pessoal desvalorizado, condições precárias de trabalho e insistência em políticas pontuais, superficiais e meramente partidárias para atender a demanda de 200 milhões de brasileiros.  E outra, a criminalidade não se combate só com educação, pois a segurança é uma das necessidades básicas do ser humano, e sem ela, não tem educação e nem saúde com qualidade. É preciso muito mais...

ENSINO PRECÁRIO



ZERO HORA 07 de novembro de 2013 | N° 17607

ARTIGOS

Roberto Fissmer*



Ao final de todo o ano letivo, surgem os debates visando analisar os baixos índices de rendimento escolar. Realmente, o nível do ensino está precário. Pior, é alarmante. No transcorrer de um ano letivo é visível a incapacidade de grande parte dos educandos em assimilar sequer alguns poucos conteúdos programáticos mínimos.

Há um conjunto de fatores que se somam, contribuindo negativamente com as questões voltadas para o ensino. É necessário ressaltar que a educação, como um todo, não é apenas o que aprendemos em uma sala de aula, mas, também, aquelas informações que trazemos de casa, da nossa comunidade, do nosso convívio social, enfim.

Desde pequena, a criança vai aprendendo quais são os seus direitos – ainda que de forma muito restrita –, e que deve lutar pela preservação do seu espaço, das suas ideias, e da sua vontade. O difícil é fazer a criança ou o adolescente entender os seus deveres, os seus limites, até onde vão, e onde começam os direitos, os limites dos outros.

A concepção de que a escola pública e os seus professores devem estar aptos para absorver toda natureza de problemas levados pelos estudantes encontra-se defasada. É tarefa muito complexa transmitir conhecimentos a quem está totalmente despreparado para aprender. Embora tenhamos uma exorbitante carga tributária, deparamos com professores recebendo minguada remuneração, escolas caindo aos pedaços, salas de aula abarrotadas de alunos, falta de materiais, equipamentos ultrapassados, instalações inadequadas, inadequação dos conteúdos programáticos; tudo isso apenas tangencia o problema, que é muito maior, é social.

Podemos enfeitar todos os aspectos tangenciadores, podemos dourar a pílula, mas seu efeito será inexpressivo. O mal deve ser combatido em sua origem, pouco resolvendo tratá-lo nas extremidades.

Sobram 20 horas ao dia para que o aluno evapore o que, com sacrifício, foi-lhe repassado em quatro horas de aula. Se o meio social em que vive a criança não é bom, dificilmente os resultados escolares serão satisfatórios – ressalvadas as raras exceções. O desaconselhável é a instituição de ensino escamotear a realidade, aprovando indistintamente todos os estudantes, levando em consideração aspectos que em nada se relacionam com o nível de conhecimento esperado para a aprovação de uma série para a outra. Empurrados muita vezes pelo sentimento de piedade dos professores, vão passando ano após ano, sem o conhecimento básico necessário. E um dia chegam às portas do vestibular, cujos resultados todos conhecemos. O computador que corrige os cartões de respostas dos candidatos não tem sentimentos, é impiedoso. O professor precisa recuperar sua imagem, sua dignidade, deixando de ser refém dos nefastos projetos eleitoreiros do governo, e a escola deve abandonar o conceito de depósito de novos cidadãos, convenientemente imposto pelas nossas autoridades.


*PROFESSOR

PROFESSOR BRASILEIRO EM CHARGES


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

EU ACUSO


FOLHA.COM 04/11/2013 - 03h00

Luiz Felipe Pondé


Muitos alunos de universidade e ensino médio estão sendo acuados em sala de aula por recusarem a pregação marxista. São reprovados em trabalhos ou taxados de egoístas e insensíveis. No Enem, questões ideológicas obrigam esses jovens a "fingirem" que são marxistas para não terem resultados ruins.

Estamos entrando numa época de trevas no país. O bullying ideológico com os mais jovens é apenas o efeito, a causa é maior. Vejamos.

No cenário geral, desde a maldita ditadura, colou no país a imagem de que a esquerda é amante da liberdade. Mentira. Só analfabeto em história pensa isso. Também colou a imagem de que ela foi vítima da ditadura. Claro, muitas pessoas o foram, sofreram terríveis torturas e isso deve ser apurado. Mas, refiro-me ao projeto político da esquerda. Este se saiu muito bem porque conseguiu vender a imagem de que a esquerda é amante da liberdade, quando na realidade é extremamente autoritária.

Nas universidades, tomaram as ciências humanas, principalmente as sociais, a ponto de fazerem da universidade púlpito de pregação. No ensino médio, assumem que a única coisa que os alunos devem conhecer como "estudo do meio" é a realidade do MST, como se o mundo fosse feito apenas por seus parceiros políticos. Demonizam a atividade empresarial como se esta fosse feita por criminosos usurários. Se pudessem, sacrificariam um Shylock por dia.

Estamos entrando num período de trevas. Nos partidos políticos, a seita tomou o espectro ideológico na sua quase totalidade. Só há partidos de esquerda, centro-esquerda, esquerda corrupta (o que é normalíssimo) e do "pântano". Não há outra opção.

A camada média dos agentes da mídia também é bastante tomada por crentes. A própria magistratura não escapa da influência do credo em questão. Artistas brincam de amantes dos "black blocs" e se esquecem que tudo que têm vem do mercado de bens culturais. Mas o fato é que brincar de simpatizante de mascarado vende disco.

Em vez do debate de ideias, passam à violência difamatória, intimidação e recusam o jogo democrático em nome de uma suposta santidade política e moral que a história do século 20 na sua totalidade desmente. Usam táticas do fascismo mais antigo: eliminar o descrente antes de tudo pela redução dele ao silêncio, apostando no medo.

Mesmos os institutos culturais financiados por bancos despejam rios de dinheiro na formação de jovens intelectuais contra a sociedade de mercado, contra a liberdade de expressão e a favor do flerte com a violência "revolucionária".

Além da opção dos bancos por investirem em intelectuais da seita marxista (e suas similares), como a maioria esmagadora dos departamentos de ciências humanas estão fechados aos não crentes, dezenas de jovens não crentes na seita marxista soçobram no vazio profissional.

Logo quase não haverá resistência ao ataque à democracia entre nós. A ameaça da ditadura volta, não carregada por um golpe, mas erguida por um lento processo de aniquilamento de qualquer pensamento possível contra a seita.

E aí voltamos aos alunos. Além de sofrerem nas mãos de professores (claro que não se trata da totalidade da categoria) que acuam os não crentes, acusando-os de antiéticos porque não comungam com a crença "cubana", muitos desses jovens veem seu dia a dia confiscado pelo autoritarismo de colegas que se arvoram em representantes dos alunos ou das instituições de ensino, criando impasses cotidianos como invasão de reitorias e greves votadas por uma minoria que sequestra a liberdade da maioria de viver sua vida em paz.

Muitos desses movimentos são autoritários, inclusive porque trabalham também com a intimidação e difamação dos colegas não crentes. Pura truculência ideológica.

Como estes não crentes não formam um grupo, não são articulados nem têm tempo para sê-lo, a truculência dos autoritários faz um estrago diante da inexistência de uma resistência organizada.

Recebo muitos e-mails desses jovens. Um deles, especificamente, já desistiu de dois cursos de humanas por não aceitar a pregação. Uma vergonha para nós.




Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às segundas na versão impressa de "Ilustrada".
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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A ESCOLA É DE TODOS


ZERO HORA 04 de novembro de 2013 | N° 17604

EDITORIAIS


Uma lição que pode ser copiada em qualquer lugar, sem restrições, tem contribuído para que a educação básica supere ou reduza deficiências históricas no Brasil. O ensinamento a ser compartilhado é o do envolvimento comunitário no ensino formal. Como mostrou reportagem publicada ontem por Zero Hora, na sequên-cia da campanha A Educação Precisa de Respostas, promovida pela RBS e pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, exemplos nacionais e mundiais são referência a todos os que pretendem contribuir para a superação das dificuldades do ensino. Escassez de recursos, deficiências na formação e no aperfeiçoamento dos professores, baixos salários do magistério e degradação de prédios e equipamentos não podem ser obstáculos à participação das comunidades na vida das escolas. Pelo contrário, são muitos os casos em que atitudes participativas ajudaram a atender demandas que a estrutura institucional não consegue contemplar.

O foco é essencialmente a escola pública, como observou, em entrevista a este jornal, a ministra da Educação da Finlândia. Disse a senhora Jaana Palojärvi que uma educação plena e eficiente deve ser assegurada pelos governos, como possibilidade concreta de redução das desigualdades sociais. Mas os resultados dessa escola pública somente serão efetivos, como ocorre na Finlândia, se os pais e os organismos comunitários forem cúmplices de gestores, professores e demais servidores da educação.

Ressalte-se que a participação não deve ter a pretensão de concorrer com os profissionais da área ou substituir suas atribuições. A adesão das comunidades aos projetos da escola, nas mais singelas tarefas e responsabilidades, é complementar. Tal participação se revela na presença dos pais na escola, no acompanhamento do aprendizado dos filhos em casa e no compartilhamento de angústias e projetos comuns a todas as famílias. O Brasil já tem bons exemplos de cumplicidade comunitária, que merecem ser imitados, para que a educação vá além do que se ensina e se aprende numa sala de aula.

domingo, 3 de novembro de 2013

A VOLTA DO FILHO PRÓDIGO



VIA FACEBOOK

Regina Poa


"A Volta do Filho Pródigo", quadro de Rembrandt, exposto no Museu Hermitage, São Petersburgo, na Rússia. O artista revela, na imagem do filho que retorna, seu coração sofrido e a confiança no pai que não o rejeita.

Notem as mãos do pai sobre os ombros do filho. A mão esquerda do pai é masculina, forte, larga, viril, firme, e a mão direita é feminina, suave, terna, mão de mãe.

Talvez Rembrandt quisesse expressar que tanto o amor de pai quanto o amor de mãe tem de ser incondicional. As mãos de um pai acolhe, protege, sustenta, dá segurança e fortalece o filho, mesmo que ele não mereça. Ao mesmo tempo, tem de acariciar, afagar, confortar e oferecer consolo, como uma mãe faria.

Pai é proteção, mãe é consolo. Enquanto o pai perdoa, a mãe acalma o coração de um filho e abriga-o da mesma forma que o fez quando ele ainda estava em seu ventre (a posição fetal do filho, no quadro, simboliza isso).

Bem, é a minha interpretação. Rembrandt deve ter tido a sua quando pintou este quadro.

A SOCIEDADE CIVIL TEM UM GRANDE PAPEL NA EDUCAÇÃO

Jaana Palojärvi ministrou palestra sobre principais pilares da educação finlandesa

ZERO HORA 03 de novembro de 2013 | N° 17603

ENTREVISTA

“A sociedade civil tem um grande papel na educação”

JAANA PALOJÄRVI, Ministra de Educação da Finlândia



O país tem a metade da população do Rio Grande do Sul e ostenta um dos melhores sistemas educacionais do mundo. Na Finlândia, as crianças estudam menos que no Brasil, mas aprendem e se divertem mais. Qual o segredo do sucesso? Em entrevista a Zero Hora, feita por e-mail, a ministra de Educação da Finlândia, Jaana Palojärvi, conta como foi o processo que colocou o país nórdico em posição de destaque nos rankings do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

Zero Hora – A Finlândia é exemplo mundial de que é possível ter educação gratuita e de qualidade. Como se chegou a esse modelo?

Jaana Palojärvi – Na Finlândia, há muito tempo se considera importante oferecer oportunidades iguais e de qualidade para todos os cidadãos, que são o maior recurso que um país pequeno pode ter. Acreditamos que, independentemente da origem socioeconômica, todos devem participar e avançar no caminho da educação. Para que isso acontecesse, foi preciso focar especialmente em um desenvolvimento de longo prazo. A reforma do Ensino Fundamental na Finlândia prolongou a obrigação do estudo e acabou com uma prática que existia antes, de as crianças serem divididas em dois grupos: as que continuavam e as que encerravam os estudos. Hoje, todos têm a oportunidades de continuar. E os resultados são excelentes tanto para alunos que antes tinham desempenho inferior quanto para os “melhores” alunos.

ZH – Qual a contribuição do engajamento da sociedade no processo de desenvolvimento da educação?

Jaana – Na Finlândia, existe uma tradição de educação popular voluntária que continua até hoje. Os adultos finlandeses também são os mais capazes de utilizar, no dia a dia, os conhecimentos e as competências que adquiriram ao longo da vida. Grande parte desta educação acontece em associações e centros de ensino voluntários voltados para adultos. A sociedade civil tem um grande papel na educação e contribui por meio da legislação, financiamento e planos de desenvolvimento. Além disso, nas escolas finlandesas, investe-se muito na cooperação entre escola e família.

ZH – Como a sociedade pode fazer com que essas diferenças entre escolas públicas e privadas sejam amenizadas?

Jaana – Garantindo recursos para escolas públicas, na tentativa de diminuir as diferenças entre as escolas. A escola pública deve se tornar uma opção atrativa para que pais possam optar por ela em vez da particular. Diminuir a desigualdade entre os alunos gera melhores resultados para todos.

ZH – Que medidas implantadas na educação finlandesa poderiam ser aplicadas em um país como o Brasil?

Jaana – Antes de mais nada, deveria se investir fortemente no desenvolvimento do sistema público de ensino e na diminuição das diferenças entre escolas. Outro passo importante no modelo finlandês, que poderia ser aplicado em outros locais, é a inserção de crianças de origem socioeconômica diferente na mesma sala de aula.


23/05/2013

Palestra abordou principais pilares da educação finlandesa


Como resultado da valorização da Educação, profundas transformações ocorreram na área ao longo da história da Finlândia, baseadas em alguns princípios norteadores. Para falar sobre os pilares da educação do país, Jaana Palojärvi, diretora de Relações Internacionais do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, ministrou a palestra "Visão geral sobre o Sistema Educacional Finlandês".


Jaana Palojärvi apresentou palestra sobre principais pilares da educação finlandesa

O entendimento de que a educação e o conhecimento são primordiais para o desenvolvimento da sociedade foi ressaltado por Jaana Palojärvi. Os investimentos na capacitação do professor fazem com que a profissão seja uma das mais desejadas do país. A Finlândia investe 6,8% (2012) de seu PIB na área, ocupando a 5ª posição na lista da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, dentre 65 países. No país, 98% da educação é financiada pelo estado.

De maneira eficiente, os valores investidos em educação resultam em posições de destaque alcançadas em diversas avaliações: o país alcançou o topo do ranking do exame do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), da OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development), que tem por objetivo avaliar a capacidade dos jovens no uso de seus conhecimentos, para enfrentarem os desafios da vida real.

A Finlândia ocupa, ainda, o primeiro lugar no Índice Global de Habilidades Cognitivas e Realizações Educacionais, divulgado pela Pearson, com base em três avaliações internacionais: o PISA, o documento Tendências em Estudo Internacional de Matemática e Ciência - TIMSS e o Progresso no Estudo Internacional de Alfabetização - PIRLS, que abrangem o aprendizado de matemática, leitura e ciências durante o ciclo fundamental do 1º ao 9º ano. O país aparece em terceiro lugar no Relatório de Competitividade Global 2012-2013, baseado no Índice de Competitividade Global, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial.

Os pilares educacionais incluem, ainda: a descentralização do sistema educacional finlandês, que proporciona maior liberdade e poder para municípios e escolas; o fim da inspeção nacional das escolas e a produção de material livre; e investimento em educação vocacional de qualidade.

ESCOLA DE PAIS: APRENDA A PARTICIPAR



ZERO HORA 03 de novembro de 2013 | N° 17603

PARA MUDAR A EDUCAÇÃO

Escola de Pais: aprenda a participar



Sempre que tira uma boa nota na escola, Taís Heck, 13 anos, corre até o pai para exibir seu desempenho. Para o vigilante Vilson Heck, 46 anos, cada uma destas demonstrações de orgulho da filha é um convite para que ele participe, sempre e cada vez mais, da comunidade escolar em que está inserido.

É por isso que Vilson faz parte, desde o início do ano, da Escola de Pais criada na instituição em que Taís frequenta o 8º ano, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Antônio Giúdice, no bairro Humaitá, em Porto Alegre. O colégio ficou em primeiro lugar no último Ideb (anos finais) entre as escolas municipais da Capital.

Em encontros mensais, o grupo recebe profissionais para discutir temas ligados à adolescência, como sexualidade e drogas, e também se envolve em aspectos administrativos da escola, como planejamento do ano letivo, organização das festas e identificação de prioridades para os investimentos.

– Está entre os deveres dos pais mostrar aos filhos o quanto a escola é importante para o desenvolvimento deles como cidadãos. A Escola de Pais surgiu para que a família e a escola possam compartilhar os atos de educar e ensinar – afirma a vice-diretora Adriana Branchelli.

Neste primeiro ano do projeto, o número de pais que se envolvem com a iniciativa ainda não chega a 10. Vilson sabe que muitas famílias não conseguem conciliar os horários de trabalho com a atenção à escola, mas vê outros motivos para a pouca procura:

– Tem pais que acham que a escola é um depósito, onde se pode largar e pegar as crianças depois do trabalho. Por isso, muitas famílias nem conhecem os professores. Não é assim. É preciso estar perto para acompanhar e ajudar nas dificuldades que surgirem. A escola é uma extensão da casa.

NA INTERNET: LIÇÕES GRÁTIS PARA MILHARES

ZERO HORA 03 de novembro de 2013 | N° 17603


PARA MUDAR A EDUCAÇÃO

Pela criatividade e necessidades que supriram, duas iniciativas surgiram em Porto Alegre e rapidamente se espalharam via internet para todo o país. São os portais Aula Livre e Me Salva!, acessados por milhares de estudantes que buscam, em vídeo, preparar-se para avaliações do que bem entenderem – de vestibulares a provas de cálculo.

O Aula Livre (aulalivre.net) foi criado enquanto o publicitário Eduardo Lima, 30 anos, e a relações públicas Juliana Marchioretto, 28 anos, estudavam para concurso. Eles perceberam que faltava espontaneidade nos vídeos de ensino à distância.

– Será que a gente não conseguiria trazer nossos conhecimentos da comunicação e oferecer esse conteúdo de forma gratuita e com qualidade? – perguntaram-se.

Em pouco tempo, o Aula Livre estava no ar. A empresa que começou pequena agora ganha o gás da aceleradora carioca Pipa, conquistou novos sócios e tem mais de 1,1 milhão de visualizações em vídeos todos os meses.

Foi também por querer contribuir com um ensino melhor que o estudante de Engenharia Miguel Andorffy, 23 anos, criou o portal Me Salva! (mesalva.net). Fera em cálculo, o jovem desenvolveu o projeto para ajudar outros universitários que sofriam com a infinidade de números. Hoje, o portal tem mais de 50 mil visualizações diárias.

Mas por que Juliana, Eduardo e Miguel resolveram se dedicar a melhorias na educação?

– Não importa se você pode ajudar uma ou um milhão de pessoas. Cada um pode contribuir, com trabalho voluntário, incentivo financeiro, boas ideias, ou mesmo pela participação no desenvolvimento escolar dos filhos – resume Eduardo.





CONVEXO

ZERO HORA 03 de novembro de 2013 | N° 17603

PARA MUDAR A EDUCAÇÃO
A história de três voluntários


Pedro Henrique Tritto, 11 anos, entrou pelos portões da Escola Estadual Almirante Bacelar, na zona norte de Porto Alegre, com os mesmos olhos verdes de sempre. Só que, no fim da tarde da última quarta-feira, aquelas bolitas brilhavam como nunca – refletiam o orgulho de quem resolveu um problema de gente grande.

Pedro estava faceiro. Era dia de apresentar o resultado do trabalho, liderado por ele, que envolveu colegas, pais e comunidade do bairro Passo Dornelles durante os últimos 45 dias: a revitalização do pátio da escola. Antes não frequentado, o espaço ganhou muros coloridos, bancos, lixeiras e até mesmo árvores para que se tornasse ainda mais convidativo.

A missão havia sido proposta meses antes por três adultos que trouxeram à escola atividades no turno inverso sustentadas na comunicação, na lógica e no empreendedorismo. Onília Araújo, 39 anos, contadora, Bruno Bittencourt, 23 anos, administrador, e Priscila Miranda, 26 anos, marketing, são os coordenadores, voluntários, do projeto Escola Convexo, que pretende firmar e desenvolver lideranças em escolas públicas e comunidades carentes da Capital.

Foram três aulas de verbos, frações e conceitos de empreendedorismo antes de os sete alunos do 6º ano botarem a mão na massa. Inicialmente, eles foram os únicos que se interessaram pela iniciativa. Instigados a solucionar um problema com seus próprios superpoderes, denunciaram as más condições do pátio e, em poucos dias, conquistaram o apoio do Ensino Médio, da direção e também da comunidade, que ofereceu materiais para a decoração do ambiente.

Na última quarta-feira, o grupo estava multiplicado. Mais de 30 estudantes ocupavam o novo espaço para apresentar o resultado de um esforço coletivo. Gaston Cabrera, pai de uma das alunas, não havia tido tempo sequer de tirar a tinta das mãos. Mas tudo bem, a missão estava cumprida. E além da autoconfiança, da motivação e da união, os colegas ainda receberão um troféu pelo trabalho realizado. O próximo ano letivo terá início na escola com uma sala multimídia novinha em folha, montada pelo trio da Escola Convexo.

– O envolvimento com essa tarefa mudou a rotina dos alunos, trouxe os pais para a escola e despertou a atenção da comunidade. Esse projeto humanizou nossas relações – comemora a vice-diretora Evelise Trevisan.

A pequena revolução é exemplo de que algumas horas de dedicação e incentivo podem colocar grandes projetos em ação. Nesse caso, a motivação partiu de três profissionais que aparentemente não teriam nenhuma ligação com a área da educação, não fosse um questionamento em comum: o que é possível fazer para que as crianças se desenvolvam mais?

A inquietação que hoje também move Bruno e Priscila partiu de Onília. E reflete muito de seu passado. Há pouco mais de uma década, a contadora definia-se como “a sétima filha de uma família paupérrima”. Agora, tem de complementar sua apresentação:

– Sou também a primeira entre os irmãos a desviar de um caminho sutilmente imposto, o de que jovem da periferia não estuda, trabalha para sobreviver.

Onília formou-se em Ciências Contábeis na UFRGS e agora cursa Psicologia. A contadora resolveu trazer mais gente consigo. Entre elas, Priscila, que entendeu o recado:

– Queremos mostrar que qualquer criança, independentemente de onde venha, tem um mundo sem limites.

Saiba mais em www.escolaconvexo.com.br